Professional edition active

Dor de garganta

PorMarvin P. Fried, MD, Montefiore Medical Center, The University Hospital of Albert Einstein College of Medicine
Reviewed ByLawrence R. Lustig, MD, Columbia University Medical Center and New York Presbyterian Hospital
Revisado/Corrigido: modificado mar. 2025
v946255_pt
Visão Educação para o paciente
Dor de garganta é a dor na faringe posterior que ocorre com ou sem a deglutição. A dor pode ser grave; muitos pacientes ficam impedidos de se alimentar.

Recursos do assunto

Etiologia da dor de garganta

A dor de garganta resulta de infecção; a causa mais comum é

  • Faringotonsilite

Menos comumente, a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e o gotejamento pós-nasal da rinite alérgica ou da rinossinusite crônica podem levar a dor de garganta. As infecções anaeróbicas também são menos comuns, no entanto, podem causar a síndrome de Lemierre, que é uma causa de dor de garganta aguda, particularmente aquelas que são recorrentes. Ainda mais raramente, abscesso ou epiglotite estão envolvidos; embora incomuns, esses distúrbios são de particular preocupação, pois podem comprometer as vias respiratórias.

Tabela
Tabela

Faringotonsilite

É predominantemente uma infecção viral; menor número de casos é provocado por bactérias.

O vírus respiratórios (rinovírus, adenovírus, vírus da influenza, coronavírus, vírus sincicial respiratório) são as causas virais mais comuns, mas ocasionalmente o vírus Epstein-Barr (a causa da mononucleose), o vírus da herpes simples, o citomegalovírus, o HIV (como uma infecção primária) ou o SARS-CoV-2 do coronavírus (a causa da covid-19) está envolvido.

A principal causa bacteriana da dor de garganta é o estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBHGA), principalmente a espécie Streptococcus pyogenes, que, embora as estimativas variem, causa talvez de 10 a 25% de todas as dores de garganta em adultos e um pouco mais em crianças. EBHGA é uma preocupação porque pode deixar sequelas pós-estreptocócicas graves (p. ex., febre reumática, glomerulonefrite, abscesso, transtornos neuropsiquiátricos autoimunes pediátricos associados a infecções estreptocócicas [PANDAS]).

A infecção anaeróbica obrigatória causada por espécies de Fusobacterium também é uma causa comum de dores de garganta recorrentes.

Causas bacterianas pouco frequentes incluem gonorreia, difteria, micoplasma e infecção por clamídia.

Abscesso

Abscesso na região da faringe (peritonsilar, parafaríngeo e, em crianças, retrofaríngeo) é pouco comum, mas causa dor de garganta significativa. O microrganismo causador habitualmente é o EBHGA.

Epiglotite

Epiglotite, talvez chamada mais apropriadamente supraglotite, costumava ocorrer principalmente em crianças e era causada por Haemophilus influenzae tipo B (HiB). Agora, por causa da vacinação infantil generalizada contra HiB, a supraglotite/epiglotite foi quase erradicada em crianças; mais casos ocorrem em adultos. Microrganismos causadores em crianças e adultos incluem Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus, H. influenzae não tipável, Haemophilus parainfluenzae, Streptococcus beta-hemolítico, Moraxella catarrhalis e Klebsiella pneumoniae. HiB ainda é uma causa em adultos e crianças não vacinadas.

Avaliação da dor de garganta

História

A história da doença atual deve observar duração e gravidade da dor de garganta.

A revisão dos sistemas deve buscar importantes sintomas associados, tais como febre, rinorreia, tosse e dificuldade para engolir, falar ou respirar. A presença e a duração de qualquer fraqueza e mal-estar anterior (sugerindo mononucleose) são notadas.

A história clínica deve procurar dados anteriores de mononucleose documentada (recorrência é altamente improvável). A história social deve informar sobre o contato próximo com pessoas com infecção conhecida por EBHGA, fatores de risco de a transmissão de gonorreia (p. ex., contato orogenital sexual recente), e fatores de risco de aquisição do HIV (p. ex., relações sexuais sem proteção, múltiplos parceiros sexuais, abuso de drogas intravenosos).

Exame físico

Exame geral deve observar febre e sinais de desconforto respiratório, como taquipneia, dispneia, estridor e, em crianças, a posição do tripé (sentado, inclinado para frente com apoio, pescoço hiperestendido e mandíbula para frente).

Durante o exame faríngeo direto, eritema, exsudato e quaisquer sinais de edema das tonsilas ou área retrofaríngea devem ser observados. A posição da úvula, seja na linha média ou desviada para um lados, também deve ser notada.

Se houver suspeita de supraglotite ou epiglotite, especialmente em pacientes pediátricos com estridor, é crucial realizar um exame faríngeo com cautela, porque a inserção de um abaixador de língua durante o exame pode provocar obstrução completa das vias respiratórias. Idealmente, o exame deve ser feito em uma sala de cirurgia e com um laringoscópio flexível de fibra óptica. Adultos sem dificuldade respiratória podem ser examinados, mas também com cuidado.

O pescoço é examinado para verificar linfonodos aumentados e sensíveis. O abdome é palpado para verificar esplenomegalia, o que pode ocorrer em pacientes com mononucleose ou HIV.

Sinais de alerta

Os seguintes achados em pacientes com dor de garganta são particularmente preocupantes:

  • Estridor ou outro sinal de desconforto respiratório

  • Sialorreia

  • Voz abafada, “batata quente”

  • Abaulamento visível na faringe

Interpretação dos achados

Supraglotite/epiglotite e abscesso faríngeo representam ameaça para as vias respiratórias e devem ser diferenciados da faringotonsilite simples, que é desconfortável, mas não profundamente perigosa. Os achados clínicos ajudam a fazer essa distinção.

Com supraglotite/epiglotite, dor de garganta grave e disfagia começam abruptamente, geralmente sem sintomas de infecção do trato respiratório superior (ITRS). As crianças muitas vezes babam e apresentam sinais de toxicidade. Às vezes (mais frequentemente em crianças), os pacientes podem apresentar manifestações respiratórias, como taquipneia, dispneia, estridor e o paciente fica na posição de tripé. Na inspeção, a faringe quase sempre aparece normal.

Abscesso faríngeo e faringotonsilite podem provocar eritema da faringe, exsudado, ou ambos. Entretanto, é mais provável que alguns achados ocorram em uma condição ou em outra:

  • Abscesso faríngeo: voz abafada, de “batata quente” (falando como se estivesse com um objeto quente na boca); edema focal visível na parede posterior da faringe (muitas vezes com desvio da úvula)

  • Faringotonsilite: frequentemente sintomas de ITRS (p. ex., coriza, tosse)

Embora a faringotonsilite seja reconhecida, com facilidade, clinicamente, a sua causa não é. Manifestações da infecção viral e do EBHGA se sobrepõem significativamente, apesar de os sintomas de ITRS serem mais comuns nos casos virais. Em adultos, os critérios Centor que aumentam a suspeita de EBHGA como causa incluem

  • Exsudato tonsilar

  • Linfadenopatia dolorosa

  • Febre ou história de febre

  • Ausência de tosse

Pode-se razoavelmente presumir que adultos com 1 ou nenhum critério tenha doença viral. Se ≥ 2 critérios estão presentes, a probabilidade de EBHGA é elevada o suficiente para garantir testes (1), mas provavelmente não elevada o suficiente para o uso de antibióticos; porém, mas essa decisão precisa ser específica para cada paciente (isto é, o limiar para o teste e tratamento pode ser menor em pessoas em risco por causa da diabetes ou imunossupressão). Em crianças, costuma-se realizar exames e iniciar tratamento empírico para prevenir complicações pós-estreptocócicas graves. Embora essa abordagem seja razoável, nem todos os especialistas concordam com o momento de testar para EBHGA e quando o tratamento com antibióticos é indicado.

Causas mais raras da faringotonsilite devem ser consideradas quando os seguintes fatores estão presentes:

  • Adenopatia cervical posterior ou generalizada, hepatoesplenomegalia, e fadiga e mal-estar estão presentes por > 1 semana: mononucleose infecciosa

  • Sem sintomas de ITRS, mas possível contato oral-genital recente: gonorreia faríngea

  • Uma membrana cinza, espessa e rígida na faringe posterior que sangra se removida: difteria (rara nos Estados Unidos)

  • Fatores de risco de infecção por HIV: infecção por HIV

Exames

Se supraglotite/epiglotite for considerada possível após a avaliação, exames específicos são necessários. Os pacientes que não apresentam quadro grave e não têm sintomas respiratórios podem realizar radiografias laterais simples do pescoço para detectar edema da epiglote. Contudo, essas radiografias estão sujeitas a interpretação falso-positiva porque o posicionamento do paciente pode ser imperfeito (uma incidência não perfeitamente lateral) ou a radiografia é feita durante a expiração. Além disso, uma criança que parece gravemente enferma ou que tenha estridor ou qualquer outro sintoma respiratório não deve ser transportada para o setor de radiologia. Tais pacientes (e aqueles com sinais radiográficos sugestivos ou indeterminados) quase sempre devem realizar nasofibrolaringoscópica flexível. (ATENÇÃO: o exame de faringe e laringe pode precipitar obstrução respiratória completa em crianças, e a faringe e a laringe não devem ser examinadas diretamente, exceto na sala de cirurgia, onde a intervenção avançada das vias respiratórias é mais disponível.)

Dicas e conselhos

  • Se epiglotite é considerada, examinar diretamente a faringe de uma criança somente na sala de cirurgia para minimizar o risco de obstrução completa das vias respíratórias.

Muitos abscessos são conduzidos clinicamente, mas caso a localização e a extensão não sejam claras, a TC imediata do pescoço deve ser realizada.

Nas faringotonsilites, a cultura da garganta é a maneira mais confiável para diferenciar infecção viral do EBHGA. Para equilibrar a prontidão do diagnóstico, custo e precisão, uma estratégia em crianças é fazer uma triagem rápida para estreptococos (teste rápido de detecção de antígeno) na clínica e tratar empiricamente se positivo, e se negativo, enviar uma cultura formal para um laboratório para testes. Em adultos, uma vez que outras bactérias podem estar envolvidas, a cultura da garganta para todos os patógenos bacterianos é adequada, para os casos que reúnem os critérios clínicos descritos anteriormente (exsudato tonsilar, linfadenomegalia dolorosa, febre ou história de febre, ausência de tosse).

Testes para mononucleose, gonorreia ou infecção por HIV, são feitos apenas quando clinicamente suspeitos.

Referência

  1. 1. Fine AM, Nizet V, Mandl KD: Large-scale validation of the Centor and McIsaac scores to predict group A streptococcal pharyngitis. Arch Intern Med 172 (11):847–852, 2012. doi:10.1001/archinternmed.2012.950

Tratamento da dor de garganta

Doenças específicas são tratadas. Pode-se administrar para os pacientes com sintomas graves de faringotonsilite antibióticos de amplo espectro (p. ex., amoxicilina/ácido clavulânico, dose baseada na idade e indicação) enquanto se espera os resultados da cultura.

Os tratamentos sintomáticos, como gargarejos de água salgada quente e anestésicos tópicos (p. ex., benzocaína, lidocaína, diclonina) podem ajudar a aliviar temporariamente a dor, mas os pacientes devem ser instruídos a evitar doses de anestésicos tópicos que resultam em toxicidade. Os pacientes com dor grave (até mesmo nas faringotonsilites) podem exigir a utilização de opioides em curto prazo, de preferência em preparações líquidas.

Corticoides (p. ex., dexametasona, 10 mg por via oral) são utilizados ocasionalmente para reduzir inflamação e dor de garganta—por exemplo, para faringotonsilite que parece representar um risco de obstrução das vias respiratórias (p. ex., devido à mononucleose) ou sintomas muito graves de faringotonsilite. Os corticoides são eficazes para proporcionar a resolução completa da dor de garganta dentro de 48 horas após o início no contexto da faringotonsilite, particularmente quando utilizados como um adjuvante a antibióticos e analgesia, ou mesmo como um tratamento independente em certos casos (1).

Referência sobre tratamento

  1. 1. Sadeghirad B, Siemieniuk RAC, Brignardello-Petersen R, et al. Corticosteroids for treatment of sore throat: systematic review and meta-analysis of randomised trials. BMJ. 2017;358:j3887. Published 2017 Sep 20. doi:10.1136/bmj.j3887

Pontos-chave

  • A maioria das dores de garganta é provocada por faringotonsilite viral.

  • É difícil distinguir clinicamente as faringotonsilites de causas virais, das bacterianas.

  • Abscessos (parafaríngeo, retrofaríngeo, peritonsilar) e epiglotite são causas raras, mas graves.

  • Suspeitar de epiglotite se os pacientes têm intensa dor de garganta e faringe com aparência normal.

Test your KnowledgeTake a Quiz!
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS