Professional edition active

Lúpus eritematoso sistêmico (LES)

(Lúpus eritematoso disseminado)

PorKinanah Yaseen, MD, Cleveland Clinic
Reviewed ByKaren McKoy, MD, MPH, Harvard Medical School
Revisado/Corrigido: nov. 2024 | modificado fev. 2025
v903822_pt
Visão Educação para o paciente
O lúpus eritematoso sistêmico é um distúrbio inflamatório, crônico e multissistêmico, de provável etiologia autoimune e que ocorre predominantemente em mulheres jovens. As manifestações são artralgia e artrite, fenômeno de Raynaud, exantema malar e outros exantemas, pleurite ou pericardite, envolvimento renal ou do sistema nervoso central e citopenia autoimune. O diagnóstico requer critérios clínicos e sorológicos. O tratamento da doença grave, ativa e contínua requer corticoides e imunossupressores.

A incidência de lúpus eritematoso sistêmico (LES) é aproximadamente 10 vezes maior em mulheres (geralmente em idade fértil) do que em homens (1). O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é mais comum e grave entre pacientes negros e asiáticos do que entre pacientes brancos (2, 3). Ele pode afetar pacientes de qualquer idade, inclusive neonatos. Em alguns países, a prevalência de LES rivaliza com a de artrite reumatoide.

O LESprovavelmente é precipitado por gatilhos ambientais ainda desconhecidos, os quais produzem reações autoimunes em pessoas geneticamente predispostas. Alguns medicamentos (p. ex., hidralazina, procainamida, isoniazida, inibidores do fator de necrose tumoral [TNF]) causam uma síndrome reversível semelhante ao lúpus.

Referências gerais

  1. 1. Somers EC, Marder W, Cagnoli P, et al. Population-based incidence and prevalence of systemic lupus erythematosus: the Michigan Lupus Epidemiology and Surveillance program. Arthritis Rheumatol. 2014;66(2):369-378. doi:10.1002/art.38238

  2. 2. DeQuattro K, Trupin L, Murphy LB, et al. High Disease Severity Among Asian Patients in a US Multiethnic Cohort of Individuals With Systemic Lupus Erythematosus. Arthritis Care Res (Hoboken). 2022;74(6):896-903. doi:10.1002/acr.24544

  3. 3. Rees F, Doherty M, Grainge MJ, Lanyon P, Zhang W. The worldwide incidence and prevalence of systemic lupus erythematosus: a systematic review of epidemiological studies. Rheumatology (Oxford). 2017;56(11):1945-1961. doi:10.1093/rheumatology/kex260

Sinais e sintomas do LES

Os achados clínicos são muito variáveis. O LES pode se desenvolver abruptamente com febre e envolvimento multissistêmico ou de forma insidiosa, por meses ou anos, com episódios de artralgias e mal-estar. Podem aparecer manifestações em qualquer órgão ou sistema. Podem ocorrer também exacerbações periódicas.

Manifestações articulares

Os sintomas articulares, que variam de artralgias intermitentes a poliartrite aguda, ocorrem em cerca de 90% dos pacientes e podem preceder outras manifestações por anos. A maioria das poliartrites do lúpus não é destrutiva ou deformante. Entretanto, na doença prolongada, podem ocorrer deformidades sem erosão óssea (p. ex., as articulações metacarpofalângicas e interfalângicas podem, raramente, apresentar deformidades em pescoço de ganso ou desvio ulnar reduzível sem erosão óssea ou cartilaginosa [artrite de Jaccoud]) por causa da frouxidão ligamentar. Erosões ósseas podem ser detectadas em pacientes com sobreposição de LES e artrite reumatoide (às vezes chamada de rúpus).

Como em muitas outras doenças crônicas, a prevalência da fibromialgia está aumentando, o que pode causar confusão diagnóstica em pacientes com dor periarticular e generalizada e fadiga.

Manifestações da pele e mucosas

As lesões cutâneas incluem um eritema malar em forma de asa de borboleta (plano ou elevado) persistente, que geralmente não afeta os sulcos nasolabiais. A ausência de pápulas e pústulas e a presença de atrofia cutânea ajudam a diferenciar LES de rosácea.

Várias outras lesões eritematosas, firmes e maculopapulares podem ocorrer em qualquer lugar, inclusive em áreas expostas de face e pescoço, tórax superior e cotovelos. As ulcerações de pele e bolhas são raras, embora as úlceras recidivantes das mucosas (particularmente na porção central do palato duro, próximo à junção de palato duro e palato mole, na mucosa de boca e gengiva e no septo nasal anterior) sejam comuns; os achados às vezes podem simular necrose epidérmica tóxica.

Alopecia focal ou generalizada é comum durante as faces ativas do LES. A paniculite pode produzir lesões nodulares subcutâneas (às vezes chamada de paniculite lúpica ou profunda). As lesões vasculíticas da pele podem incluir eritema marmorizado em dedos e palmas das mãos, eritema periungueal, infartos periungueais, urticária e púrpura palpável. Podem se desenvolver petéquias secundárias a trombocitopenia. Fotossensibilidade é comum.

Lúpus eritematoso túmido é caracterizado por placas e/ou nódulos não cicatriciais róseos a violáceos, alguns anelares, em áreas expostas à luz.

O lúpus de Chilblain é caracterizado por nódulos dolorosos vermelho brilhante a azuis-avermelhados, nos dedos dos pés, dedos das mãos, nariz ou orelhas que ocorrem no clima frio. Alguns pacientes com LES também têm lesões características de líquen plano.

A síndrome de Raynaud decorrente de vasoespasmo nos dedos das mãos e dos pés provoca palidez e cianose características e pode estar associada à isquemia digital; entretanto, ao contrário da esclerose sistêmica, úlceras digitais são incomuns no LES.

(Ver também Lúpus eritematoso cutâneo subagudo)

Manifestações cutâneas do lúpus eritematoso sistêmico
Lúpus eritematoso sistêmico (exantema malar)
Lúpus eritematoso sistêmico (exantema malar)

Esse exantema eritematoso malar, elevado e agudo se manifesta nas áreas expostas claras (distribuição fotossensível). Esse padrão de "asa de borboleta" inclui a ponte do nariz, as áreas malares e as áreas expostas ao sol sobre as sobrancelhas. Vale ressaltar que os sulcos nasolabiais são poupados.

... leia mais

© Springer Science+Business Media

Lúpus eritematoso sistêmico (1)
Lúpus eritematoso sistêmico (1)

Esta foto mostra lesões edematosas tipo discoide das bochechas e lábios que são de cor vermelho-marrom.

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso sistêmico (2)
Lúpus eritematoso sistêmico (2)

Esta é uma foto de um paciente com lúpus eritematoso sistêmico que tem lesões discoides na palma e nos dedos das mãos e com placas anulares eritematosas ou hiperpigmentadas, muitas com hipopigmentação central.

... leia mais

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso discoide (dígitos)
Lúpus eritematoso discoide (dígitos)

Esta foto mostra lesões discoides com áreas centrais hipopigmentadas e áreas escamosas com eritema circundante.

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso túmido
Lúpus eritematoso túmido

Esta foto mostra placas edematosas levemente rosadas.

Photo courtesy of Kinanah Yaseen, MD.

Manifestações cardiopulmonares

Os sintomas cardiopulmonares comuns incluem pleurisia recidivante, com ou sem derrame pleural. A pneumonite é rara, embora sejam comuns lesões menores na função pulmonar. Às vezes, ocorre hemorragia alveolar difusa e está associado a um prognóstico desfavorável. Outras complicações incluem embolia pulmonar, hipertensão pulmonar e síndrome do pulmão encolhido.

As complicações cardíacas incluem pericardite (mais comum) e miocardite. Dentre as complicações raras e graves, encontram-se vasculite da artéria coronária, envolvimento valvular, incluindo endocardite de Libman-Sacks. A aterosclerose acelerada é uma causa que, cada vez mais, causa morbidade e mortalidade (1). Pode ocorrer bloqueio cardíaco congênito nos neonatos cujas mães têm os anticorpos contra Ro (SSA) e é menos comum se a mãe tiver apenas anticorpos contra La (SSB).

Tecido linfoide

Adenopatia generalizada é comum, particularmente entre crianças, adultos jovens e pacientes afro-americanos. Esplenomegalia também pode ocorrer.

Manifestações neurológicas

Os sintomas neurológicos podem resultar de envolvimento de qualquer parte do sistema nervoso central ou periférico ou das meninges. Também são comuns pequenas restrições cognitivas. Pode haver também enxaqueca, transtorno da personalidade, acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico, hemorragia subaracnoidea, convulsão, psicose, meningite asséptica, neuropatia periférica e craniana, mielite transversa, coreoatetose ou disfunção cerebelar.

A diferenciação entre psicose induzida por corticoides e lúpus neuropsiquiátrico pode ser desafiadora porque nenhuma delas está associada a anormalidades acentuadas no líquido cefalorraquidiano (LCR) ou em exames de imagem de rotina.

Manifestações renais

O envolvimento renal pode se desenvolver a qualquer tempo, podendo ser a única manifestação do SLE (ver Nefrite lúpica). Ele pode ser assintomático ou progressivo e fatal.

A gravidade da doença renal pode variar de uma glomerulite focal a uma glomerulonefrite membranoproliferativa difusa potencialmente fatal. As manifestações comuns incluem proteinúria (mais frequentemente), um sedimento urinário anormal manifestado por cilindros de eritrócitos, hipertensão e edema. A glomerulonefrite lúpica precoce pode ser diagnosticada erroneamente como infecções do trato urinário assintomática.

Manifestações obstétricas

Dentre as manifestações obstétricas incluem-se a perda fetal prematura ou tardia. Em pacientes com anticorpos antifosfolipídios, o risco de abortos tardios recorrentes é maior. A gestação pode ser bem-sucedida (ver SLE na gestação), particularmente após 6 a 12 meses de remissão, mas os surtos de LES são comuns especialmente durante a gestação e o puerpério. A gestação planejada deve ser programada para quando a doença estiver em remissão.

Durante a gestação, a paciente deve ser monitorada de perto em relação a algum surto da doença ou eventos trombóticos por uma equipe multidisciplinar com um obstetra especializado em gestação de alto risco. As mulheres que têm anticorpos anti-SSA devem fazer ultrassonografia fetal semanalmente entre a 18ª semana e a 26ª semana para avaliar bloqueio cardíaco congênito.

Manifestações hematológicas

As manifestações hematológicas são anemia (anemia de doença crônica, anemia hemolítica autoimune), leucopenia (em geral, linfopenia, neutropenia, ou ambos) e trombocitopenia (geralmente leve, mas às vezes trombocitopenia autoimune potencialmente fatal). A trombose venosa ou arterial recidivante, trombocitopenia e alta probabilidade de complicações obstétricas ocorrem em pacientes com anticorpos antifosfolipídicos. As trombosessão responsáveis por algumas das complicações do LES, incluindo as complicações obstétricas.

Síndrome de ativação macrofágica é uma complicação rara, mas potencialmente fatal, que pode ocorrer.

Manifestações gastrointestinais

As manifestações gastrointestinais podem resultar de vasculite intestinal ou diminuição da motilidade intestinal. Além disso, a pancreatite pode raramente resultar de LES.

As manifestações podem incluir dor abdominal resultante de serosite, náuseas, vômitos, sintomas de perfuração intestinal, enteropatia perdedora de proteínas, e pseudo-obstrução.

O LES raramente causa doença do parênquima hepático.

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Bello N, Meyers KJ, Workman J, Hartley L, McMahon M. Cardiovascular events and risk in patients with systemic lupus erythematosus: Systematic literature review and meta-analysis. Lupus. 2023;32(3):325-341. doi:10.1177/09612033221147471

Diagnóstico de LES

  • Critérios clínicos

  • Citopenias

  • Autoanticorpos

O LES deve ser cogitado em pacientes, particularmente mulheres jovens, com quaisquer dos sinais e sintomas. Entretanto, o LES em estágio inicial pode imitar outras doenças reumáticas sistêmicas, incluindo artrite reumatoide se os sintomas articulares predominam. A doença mista do tecido conjuntivo inclui, por definição, características do LES, bem como possivelmente características de esclerose sistêmica, poliartrite reumatoide, e miosite. As infecções (p. ex., endocardite bacteriana e histoplasmose) podem imitar o LES e podem se desenvolver como resultado da imunossupressão causada pelo tratamento. Distúrbios como sarcoidose e síndromes paraneoplásicas também podem imitar o LES.

Os testes laboratoriais podem diferenciar o LES de outras doenças reumáticas sistêmicas. Os exames laboratoriais iniciais devem incluir:

  • Anticorpos antinucleares (ANA)

  • Antígenos nucleares extraíveis (ENAs) se o teste ANA for positivo, incluindo anticorpos anti-DNA de cadeia dupla (ds), anti-dsDNA, anti-Smith, anti-U1 RNP, anti-Ro/SSA e anti-La/SSB

  • Níveis de complemento C3 e C4

  • Hemograma completo (HC)

  • Urinálise com sedimento urinário

  • Perfil químico, incluindo testes de função hepática e renal

Na prática clínica, alguns médicos contam com os critérios de classificação para LES desenvolvidos pela European League Against Rheumatism/American College of Rheumatology (EULAR/ACR; ver tabela Critérios da EULAR/ACR para a classificação do lúpus eritematoso sistêmico). Os pacientes só são elegíveis para esses critérios se têm ANA positivo ≥ 1:80. Os critérios de classificação do EULAR/ACR de 2019 incluem domínios clínicos e imunes, e cada critério recebe um peso de 2 a 10. Se a pontuação do paciente for 10 ou mais, e pelo menos 1 critério clínico for preenchido, a doença é classificada como LES. Contudo, um ANA positivo não indica um diagnóstico de lúpus. Um teste de ANA positivo na presença de fadiga e dor miofascial generalizada sem outros achados clínicos ou laboratoriais raramente é significativo (1).

Tabela
Tabela

Teste de anticorpos antinucleares (ANA)

O teste para ANA (preferencialmente por imunofluorescência indireta em vez de por ensaio em fase sólida) é um teste inicial apropriado para pacientes com suspeita de LES; um teste de ANA positivo (geralmente em título elevado: > 1:80) ocorre em > 95% das pessoas com LES (2). Mas o ANA também pode ser positivo na artrite reumatoide, em outras doenças reumáticas sistêmicas, na tireoidite autoimune, esclerose múltipla, no câncer e até mesmo na população geral. Os índices de falso-positivo variam de cerca de 3% com títulos de ANA de 1:320 a cerca de 30% com títulos de ANA de 1:40 entre controles saudáveis. Medicamentos como hidralazina, procainamida e inibidores do fator de necrose tumoral podem causar resultados positivos para ANA, bem como lúpus induzido por medicamento; os sintomas normalmente desaparecem depois que o medicamento é interrompido. Um teste de ANA positivo deve levar a testes mais específicos, como anticorpos anti-dsDNA; anti-dsDNA é altamente específico para LES (3).

Outros anticorpos ANA e anticitoplasmáticos

O teste ANA é muito sensível, mas não é específico para LES; assim, utiliza-se a evidência de outros autoanticorpos para auxiliar no diagnóstico. Os outros autoanticorpos costumam ser chamados antígenos nucleares extraíveis e incluem dsDNA, Smith (Sm), ribonucleoproteína (RNP), Ro (SSA) e La (SSB).

Ro é predominantemente citoplasmático; anticorpos anti-Ro estão ocasionalmente presentes em pacientes com LES negativos para ANA que apresentam lúpus eritematoso cutâneo subagudo. O anticorpo anti-Ro é a causa de lúpus neonatal e bloqueio cardíaco congênito.

Anticorpo anti-Sm é altamente específico para LES, mas, como os anticorpos anti-DNA de cadeia dupla, não são sensíveis.

Os anticorpos anti-RNP ocorrem em pacientes com LES, doença mista do tecido conjuntivo e, ocasionalmente, outras doenças sistêmicas reumáticas e esclerodermia.

Outros testes

Leucopenia (geralmente linfopenia e neutropenia) é comum. Pode ocorrer anemia hemolítica, mas baixas contagens de hemoglobinas e eritrócitos são mais frequentemente decorrentes de anemia de doença crônica. A trombocitopenia no LES pode ser difícil ou impossível de diferenciar da púrpura trombocitopênica idiopática, exceto que os pacientes têm outras características de LES e/ou anticorpos específicos do LES (anti-dsDNA ou anti-Sm). Exames sorológicos falso-positivos para sífilis ocorrem em 5 a 10% dos pacientes com LES. Esses resultados de testes podem estar associados a anticoagulantes lúpicos e tempo de tromboplastina parcial (TTP) prolongado. Valores anormais de 1 ou mais desses testes indicam a presença de anticorpos antifosfolipídios (p. ex., anticorpos anticardiolipina), os quais devem ser medidos diretamente pelo ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA). Os anticorpos antifosfolipídios estão associados à trombose venosa ou arterial, trombocitopenia leve e, durante a gestação, aborto espontâneo ou morte fetal tardia, mas podem estar presentes em pacientes assintomáticos.

Outros testes sanguíneos ajudam a monitorar a gravidade da doença e determinam a necessidade de tratamento. Os níveis de complemento sérico (C3 e C4) geralmente estão reduzidos na doença ativa e estão muito baixos em pacientes com nefrite ativa. A velocidade de hemossedimentação (VHS) frequentemente é elevada durante a doença ativa. Os níveis de proteína C reativa não são necessariamente elevados; níveis elevados aumentam a preocupação de infecção e/ou serosite.

Espirometria completa e eletrocardiograma são recomendados para pacientes com sintomas respiratórios.

Envolvimento renal

O rastreamento de envolvimento renal começa com urinálise com sedimento urinário. Contagem do número de eritrócitos e/ou hemograma sugere nefrite ativa. Deve-se realizar urinálise em intervalos regulares (p. ex., a cada 3 a 6 meses), mesmo em pacientes com remissão aparente e sem envolvimento renal prévio, porque a doença renal costuma ser assintomática. Pode-se estimar a proteinúria pela proporção de proteína/creatinina urinária ou pode-se medi-la em um exame de urina de 24 horas.

Indica-se biópsia renal para pacientes cuja excreção de proteínas é > 500 mg/dia e que têm hematúria (supostamente glomerular) ou cilindros hemáticos e é útil para avaliar o estado da doença renal (isto é, inflamação ativa versus alterações crônicas) e para orientar a terapia. A classificação da nefrite lúpica baseia-se nos achados histológicos na biópsia renal (ver tabela Classificação da nefrite lúpica). Biópsia renal repetida deve ser considerada em alguns pacientes porque a mudança de uma classe de nefrite lúpica para outra é comum em pacientes com LES.

Os pacientes com insuficiência renal crônica e com a maioria dos glomérulos esclerotizados não tendem a se beneficiar com a terapia imunossupressora agressiva.

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. Nashi RA, Shmerling RH. Antinuclear Antibody Testing for the Diagnosis of Systemic Lupus Erythematosus. Med Clin North Am. 2021;105(2):387-396. doi:10.1016/j.mcna.2020.10.003

  2. 2. Tan EM, Feltkamp TE, Smolen JS, et al. Range of antinuclear antibodies in "healthy" individuals. Arthritis Rheum. 1997;40(9):1601-1611. doi:10.1002/art.1780400909

  3. 3. Kavanaugh AF, Solomon DH; American College of Rheumatology Ad Hoc Committee on Immunologic Testing Guidelines. Guidelines for immunologic laboratory testing in the rheumatic diseases: anti-DNA antibody tests. Arthritis Rheum. 2002;47(5):546-555. doi:10.1002/art.10558

Tratamento do LES

  • Hidroxicloroquina (um antimalárico) para todos os pacientes com LES

  • Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) conforme necessário, além de antimaláricos para a doença leve

  • Corticoides, outros imunossupressores e antimaláricos para a doença grave

Para orientar a terapia, o LES deve ser classificado como leve a moderado (p. ex., febre, artrite, pleurisia, pericardite, exantema cutâneo) ou grave (p. ex., anemia hemolítica, púrpura trombocitopênica grave, envolvimento pleural e pericárdico maciço, pneumonite ou hemorragia alveolar difusa, nefrite, vasculite aguda das extremidades ou do trato gastrointestinal, grande envolvimento do sistema nervoso central).

Indica-se o antimalárico hidroxicloroquina a todos os pacientes com LES, independentemente da gravidade da doença, porque o fármaco diminui a quantidade de episódios da doença e reduz a mortalidade (1, 2). Hidroxicloroquina também pode reduzir eventos trombóticos, especialmente em pacientes com síndrome antifosfolipídica. Deve ser evitado se houver contraindicação absoluta por causa de eventos adversos (p. ex., toxicidade ocular). Além disso, deve ser utilizado com cautela se houver história de deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) (3).

Os pacientes necessitam de monitoramento de rotina durante o tratamento para avaliar a atividade da doença e a resposta à terapia. Além do acompanhamento clínico, a atividade da doença pode ser avaliada com o Índice de Atividade de Doença de Lúpus Eritematoso Sistêmico 2000 (SLEDAI-2K) (4) e pelo índice do Grupo de Avaliação de Lúpus das Ilhas Britânicas (BILAG) (5).

Doença leve a moderada

As artralgias geralmente são controladas com anti-inflamatórios não esteroidais. Mas desencoraja-se o uso crônico de AINEs por causa dos efeitos adversos gastrointestinais (p. ex., úlcera péptica) e potencial toxicidade coronariana e renal (p. ex., nefrite intersticial, necrose papilar). Pode-se utilizar agentes tópicos (p. ex., corticoides, tacrolimo) para doenças de pele, geralmente sob a orientação de um dermatologista.

Antimaláricos, como a hidroxicloroquina, são úteis para manifestações articulares e cutâneas. A hidroxicloroquina reduz a frequência dos surtos de LES e diminui a mortalidade e é, portanto, utilizada em praticamente todos os pacientes com LES. A dose é 5 mg/kg do peso corporal real por via oral uma vez ao dia com uma dose máxima de 400 mg/dia. Deve-se realizar um exame oftalmológico antes do início do tratamento a fim de excluir retinopatia porque o uso crônico de hidroxicloroquina aumenta o risco de retinopatia tóxica. Deve-se fazer o rastreamento oftalmológico anual para avaliar a toxicidade retiniana. A hidroxicloroquina raramente pode causar toxicidade óssea ou do músculo cardíaco. Alternativas incluem a cloroquina oral 250 mg uma vez ao dia, e a quinacrina oral 50 a 100 mg uma vez ao dia (6).

Pode-se adicionar metotrexato (15 a 20 mg por via oral ou subcutânea 1 vez/semana), azatioprina (2 mg/kg por via oral uma vez ao dia) ou micofenolato de mofetil (1 a 1,5 g por via oral, duas vezes ao dia) à hidroxicloroquina em pacientes com doença leve a moderada não controlada que, de outra maneira, seriam candidatos a um curso de corticoides. O objetivo final é manter a remissão da doença sem o uso de corticoides ou utilizando-os na menor dose possível.

Deve-se considerar o uso de belimumabe (10 mg/kg IV a cada 2 semanas por 3 doses, então 10 mg/kg IV 1 vez/mês ou 200 mg por via subcutânea 1 vez/semana) se os pacientes têm doença não controlada ou crises frequentes, particularmente no caso de manifestações articulares, renales, cutâneas ou hematológicas não graves (2). Pode-se utilizá-lo em associação à hidroxicloroquina e em combinação com outros medicamentos, dependendo do sistema de órgãos específico envolvido e da gravidade da doença. O rastreamento e o monitoramento da depressão são necessários ao iniciar a terapia com belimumabe devido a um possível risco de início ou agravamento recente da depressão e ideação suicida.

Doença grave

O tratamento é feito com terapia de indução para controlar as manifestações agudas graves, seguida de terapia de manutenção. Corticoides são o tratamento de primeira linha. Tipicamente, utiliza-se uma combinação de corticoides e outros imunossupressores na doença grave ativa (isto é, nefrite lúpica com comprometimento da função renal, miocardite, ou envolvimento do SNC).

A complicação para a qual há evidências mais fortes da eficácia do tratamento é a nefrite lúpica. Metilprednisolona, 1 g, por infusão lenta (1 hora) em 3 dias sucessivos é frequentemente o tratamento inicial, embora não haja evidências dos ensaios clínicos para essa pulsoterapia com corticoides. Então, inicia-se prednisona oral administrada em doses de 0,5 a 1 mg/kg, uma vez ao dia (em geral, 40 a 60 mg, uma vez ao dia) e ajusta-se a dose de acordo com a manifestação do LES. Deve-se reduzir a dose de corticoides assim que permitido pela doença, geralmente dentro de 6 meses, para limitar os efeitos adversos. Também utiliza-se ciclofosfamida (ver tabela Protocolos IV da ciclofosfamida para lúpus eritematoso sistêmico) ou micofenolato de mofetil (em até 3 g por dia por via oral em 2 doses) para terapia de indução junto com corticoides. O controle de natalidade eficaz (um dispositivo intrauterino é normalmente preferido a abordagens hormonais) é necessário ao usar micofenolato de mofetila e ciclofosfamida devido ao risco de malformações congênitas.

Foi demonstrado que a adição de belimumabe (em uma dose mensal de 10 mg/kg IV) aos corticoides e micofenolato ou corticoides e ciclofosfamida leva a uma melhor resposta renal e a uma resposta renal completa em 6 meses em comparação com o uso de corticoides e micofenolato ou corticoides e ciclofosfamida, especialmente se as manifestações extrarrenais estiverem ativas (7) A vocloscorina, em uma dose de 23,7 mg por via oral 2 vezes ao dia, em combinação com micofenolato de mofetil e um curso de redução rápida dos corticoides demonstrou levar a melhores desfechos renais em 1 ano do que o uso de corticoides e micofenolato de mofetil (8). Tanto o belimumabe como a voclosporina estão sendo frequentemente utilizados utilizado em combinação com micofenolato para tratar a nefrite lúpica (classes III, IV, e V), mas ainda não há diretrizes claras para seu uso (9).

Desencoraja-se o uso de ciclofosfamida por mais de 6 meses por causa das potenciais toxicidades, incluindo infertilidade e maior risco de câncer. Depois de alcançar o controle da doença, os pacientes passam a tomar micofenolato de mofetil (1 a 1,5 g por via oral 2 vezes ao dia) ou azatioprina (0,5 a 1,5 mg/kg por via oral duas vezes ao dia) para manutenção. Deve-se informar as mulheres em idade fértil para as quais considera-se a ciclofosfamida sobre o risco de toxicidade gonadal e oferecer uma consulta com especialista em fertilidade para proteção ovariana ou para coleta de óvulos, quando possível.

Tabela
Tabela

No lúpus neuropsiquiátrico, como na mielite transversa, as recomendações de tratamento baseiam-se em indícios casuais e as opções incluem ciclofosfamida IV ou rituximabe IV (p. ex., 1 g no dia 1 e no dia 15 administrado em intervalos de 6 meses) além de um corticoide.

O tratamento de primeira linha para trombocitopenia e anemia hemolítica consiste em corticoides em doses moderadas ou altas (tipicamente prednisona, 1 mg/kg por via oral, uma vez ao dia, máximo de 80 mg/dia) juntamente com um imunossupressor (azatioprina, 2 mg/kg, por via oral, uma vez ao dia, ou micofenolato de mofetil, 1 g, por via oral, a cada 12 horas). Imunoglobulina IV 400 mg/kg uma vez ao dia durante 5 dias consecutivos ou 1 g/kg uma vez ao dia por 2 dias pode ser útil, particularmente se doses altas de corticoides são contraindicadas (p. ex., em pacientes com infecção ativa). Rituximabe é uma alternativa para casos refratários (2).

Pacientes com estágio final de doença renal podem fazer transplante de rim, como uma alternativa para diálise, com resultado bem-sucedido, especialmente se a doença estiver em remissão.

A melhora do LES grave leva, geralmente, de 4 a 12 semanas. A trombose ou a embolia dos vasos pulmonares, cerebrais ou placentários exige tratamento de curto prazo com heparina e tratamento mais prolongado com varfarina. Se o diagnóstico de síndrome antifosfolipídica é confirmado, geralmente indica-se terapia (normalmente com varfarina) por toda a vida. A razão alvo normalizada inicial normalmente é de 2 para 3.

Pode-se adicionar anifrolumabe (anticorpo monoclonal IgG1κ para a subunidade 1 do receptor de interferon), na dose de 300 mg IV a cada 4 semanas, à terapia padrão para o tratamento do lúpus eritematoso sistêmico moderado a grave, particularmente naqueles com doença cutânea grave. No entanto, pacientes com doença neuropsiquiátrica ou renal ativa e grave não foram incluídos no estudo principal (10).

O uso da terapia com células T do receptor quimérico de antígeno (CAR) direcionadas ao CD19 para o tratamento do LES refratário mostra-se promissor (11).

Terapia de manutenção

A doença crônica deve ser tratada com a menor dose de corticoides (p. ex., prednisona ≤ 7,5 mg uma vez ao dia ou seu equivalente) e outros medicamentos que controlam a inflamação [p. ex., antimaláricos, imunossupressores (micofenolato de mofetil ou azatioprina)] a fim de manter a remissão (2). O tratamento deve ser primariamente orientado pelo quadro clínico, embora também seja possível considerar os títulos de anticorpos anti-DNA de cadeia dupla ou níveis séricos complementares, especialmente se já tiveram correlação com a atividade da doença. No entanto, os títulos de anticorpos anti-dsDNA ou os níveis de complemento sérico podem não ser paralelos aos surtos de doenças não renais. Outros exames de sangue e urina pertinentes devem ser utilizados para avaliar o envolvimento específico de um órgão.

Deve-se considerar o tratamento com cálcio, vitamina D e bifosfonados (ver prevenção da osteoporose) para os pacientes em uso regular de corticoides.

Se for utilizada terapia imunossupressora combinada, os pacientes devem receber profilaxia para infecções oportunistas, como Pneumocystis jirovecii (ver prevenção de pneumonia por Pneumocystis jirovecii), e vacinas contra infecções comuns (p. ex., pneumonia estreptocócica, papilomavírus humano, influenza, covid-19).

Fotoproteção também é uma medida importante para ajudar a prevenir crises. Recomenda-se fotoprotetores com fator de proteção solar (FPS) > 50 que bloqueiam os raios UVA e UVB.

Gestação e doenças concomitantes

Deve-se monitorar todos os pacientes para aterosclerose, e a redução do risco cardiovascular é uma parte fundamental do tratamento (ver prevenção da aterosclerose). A anticoagulação a longo prazo é vital em pacientes que também têm síndrome antifosfolipídica e história de trombose (ver também Anticoagulantes).

O tratamento com hidroxicloroquina deve ser mantido para gestantes durante toda a gestação e também recomenda-se uma dose baixa de ácido acetilsalicílico. Quando houver síndrome clínica antifosfolipídica, com história de eventos trombóticos, aconselha-se a terapia de anticoagulação plena com heparina de baixo peso molecular ou heparina não fracionada. Se a gestante tiver anticorpos antifosfolipídios positivos e história de perda fetal tardia ou abortos recorrentes no 1º trimestre, pode-se considerar a profilaxia com heparina de baixo peso molecular ou não fracionada durante a gestação e 6 semanas após o parto. Quando a paciente tem sorologias positivas, mas não há eventos obstétricos ou trombóticos prévios, as recomendações são menos claras. Deve-se considerar o tratamento em conjunto com um hematologista, um obstetra que se especializa em gestações de alto risco, e um reumatologista ao tratar esses pacientes.

O micofenolato de mofetila é teratogênico. Por causa dessa teratogenicidade e dos desfechos ruins conhecidos relacionados com o LES ativo durante a gestação, as mulheres devem, de modo ideal, conceber após a doença estar em remissão por 6 meses ou mais. Se o paciente precisa permanecer sob imunossupressão (p. ex., terapia de manutenção contínua para nefrite lúpica), o micofenolato de mofetil geralmente é substituído pela azatioprina pelo menos 6 meses antes da concepção. Azatioprina e tacrolimo são considerados seguros durante a gestação.

A escolha do método contraceptivo geralmente baseia-se em múltiplos fatores, incluindo atividade da doença, risco de trombose e preferência do paciente (12).

Referências sobre tratamento

  1. 1. Alarcón GS, McGwin G, Bertoli AM, et al. Effect of hydroxychloroquine on the survival of patients with systemic lupus erythematosus: Data from LUMINA, a multiethnic US cohort (LUMINA L). Ann Rheum Dis. 2007;66(9):1168–1172. doi:10.1136/ard.2006.068676

  2. 2. Fanouriakis A, Kostopoulou M, Alunno A, et al. 2019 update of the EULAR recommendations for the management of systemic lupus erythematosus. Ann Rheum Dis. 2019;78(6):736-745. doi:10.1136/annrheumdis-2019-215089

  3. 3. Kane M. Hydroxychloroquine Therapy and G6PD Genotype. In: Pratt VM, Scott SA, Pirmohamed M, Esquivel B, Kattman BL, Malheiro AJ, eds. Medical Genetics Summaries. Bethesda (MD): National Center for Biotechnology Information (US); May 2, 2023.

  4. 4. Touma Z, Urowitz MB, Gladman DD. SLEDAI-2K for a 30-day window. Lupus. 2010;19(1):49-51. doi:10.1177/0961203309346505

  5. 5. Romero-Diaz J, Isenberg D, Ramsey-Goldman R. Measures of adult systemic lupus erythematosus: updated version of British Isles Lupus Assessment Group (BILAG 2004), European Consensus Lupus Activity Measurements (ECLAM), Systemic Lupus Activity Measure, Revised (SLAM-R), Systemic Lupus Activity Questionnaire for Population Studies (SLAQ), Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index 2000 (SLEDAI-2K), and Systemic Lupus International Collaborating Clinics/American College of Rheumatology Damage Index (SDI). Arthritis Care Res (Hoboken). 2011;63 Suppl 11(0 11):S37-S46. doi:10.1002/acr.20572

  6. 6. Marmor MF, Kellner U, Lai TY, Melles RB, Mieler WF; American Academy of Ophthalmology. Recommendations on Screening for Chloroquine and Hydroxychloroquine Retinopathy (2016 Revision). Ophthalmology. 2016;123(6):1386-1394. doi:10.1016/j.ophtha.2016.01.058

  7. 7. Furie R, Rovin BH, Houssiau F, et al: Two-year, randomized, controlled trial of belimumab in lupus nephritis. N Engl J Med 383(12):1117-1128, 2020. doi:10.1056/NEJMoa2001180

  8. 8. Rovin BH, Teng YKO, Ginzler EM, et al: Efficacy and safety of voclosporin versus placebo for lupus nephritis (AURORA 1): a double-blind, randomised, multicentre, placebo-controlled, phase 3 trial.Lancet 397(10289):2070-2080, 2021. doi:10.1016/S0140-6736(21)00578-X. Erratum in: Lancet 397(10289):2048, 2021.

  9. 9. Bajema IM, Wilhelmus S, Alpers CE, et al. Revision of the International Society of Nephrology/Renal Pathology Society classification for lupus nephritis: clarification of definitions, and modified National Institutes of Health activity and chronicity indices. Kidney Int 93(4):789-796, 2018. doi:10.1016/j.kint.2017.11.023

  10. 10. Morand EF, Furie R, Tanaka Y, et al: Trial of anifrolumab in active systemic lupus erythematosus. N Engl J Med 382(3):211-221, 2020. doi:10.1056/NEJMoa1912196

  11. 11. Müller F, Taubmann J, Bucci L, et al. CD19 CAR T-Cell Therapy in Autoimmune Disease - A Case Series with Follow-up. N Engl J Med. 2024;390(8):687-700. doi:10.1056/NEJMoa2308917

  12. 12. Sammaritano LR. Contraception in patients with systemic lupus erythematosus and antiphospholipid syndrome. Lupus. 2014;23(12):1242-1245. doi:10.1177/0961203314528062

Prognóstico do LES (LES)

O curso da doença é geralmente crônico, recidivante e imprevisível. As remissões podem durar anos. Se a fase aguda inicial for controlada, mesmo que seja grave (p. ex., com trombose cerebral ou nefrite grave), o prognóstico a longo prazo geralmente é bom.

A sobrevida em 10 anos na maioria dos países com altos recursos é de quase 90% (1). A melhora no prognóstico é provocada, em parte, pelo diagnóstico precoce e por terapias mais eficazes. No entanto, apesar da terapia avançada e da melhoria da taxa de mortalidade, a sobrevida ainda é considerada inferior à da população geral devido a doença cardiovascular prematura, atividade da doença, doença renal terminal e infecção (2).

Referências sobre prognóstico

  1. 1. Tektonidou MG, Lewandowski LB, Hu J, Dasgupta A, Ward MM. Survival in adults and children with systemic lupus erythematosus: a systematic review and Bayesian meta-analysis of studies from 1950 to 2016 [published correction appears in Ann Rheum Dis. 2018 Mar;77(3):472. doi: 10.1136/annrheumdis-2017-211663corr1]. Ann Rheum Dis. 2017;76(12):2009-2016. doi:10.1136/annrheumdis-2017-211663

  2. 2. Yen EY, Shaheen M, Woo JMP, et al. 46-Year Trends in Systemic Lupus Erythematosus Mortality in the United States, 1968 to 2013: A Nationwide Population-Based Study. Ann Intern Med. 2017;167(11):777-785. doi:10.7326/M17-0102

Pontos-chave

  • As manifestações articulares e cutâneas são comuns no LES, mas a doença também pode afetar vários sistemas de órgãos, como coração, pulmões, tecido linfoide e rins, bem como os sistemas digestivo, hematológico, reprodutor e nervoso.

  • Pode-se utilizar os critérios do European League Against Rheumatism/American College of Rheumatology (EULAR/ACR) para apoiar o diagnóstico de LES.

  • Entre os testes, usar o ANA, que é altamente sensível para rastreamento, mas usar achados clínicos e outros testes laboratoriais (p. ex., anti-DNA de cadeia dupla, anti-Sm) para ajudar a apoiar o diagnóstico.

  • Avaliar comprometimento renal em todos os pacientes.

  • Tratar todos os pacientes com hidroxicloroquina e, na doença leve, AINEs, conforme necessário.

  • Utilizar corticoides para lúpus eritematoso sistêmico moderada ou grave e um imunossupressor adicional para nefrite lúpica ativa, lúpus neuropsiquiátrico, manifestações cutâneas que não respondem à hidroxicloroquina, hemorragia alveolar difusa, vasculite, serosite recorrente ou manifestações cardíacas.

  • Usar corticoides na dose mais baixa possível e usar outros medicamentos para manter a remissão.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. American Academy of Ophthalmology: Recommendations on Screening for Chloroquine and Hydroxychloroquine Retinopathy (2016 Revision)

  2. European League Against Rheumatism (EULAR) and the American College of Rheumatology (ACR): 2019 European League Against Rheumatism/American College of Rheumatology Classification Criteria for Systemic Lupus Erythematosus

Lúpus eritematoso cutâneo

Lúpus eritematoso discoide (LED)

O lúpus eritematoso discoide é um tipo de lúpus eritematoso cutâneo crônico. Caracteriza-se por um conjunto de alterações cutâneas que podem ocorrer isoladamente ou como parte do lúpus eritematoso sistêmico (LES).

As lesões da pele começam como placas eritematosas e evoluem para cicatrizes atróficas. Elas aparecem em áreas expostas da pele, como face, couro cabeludo e orelhas. Se não forem tratadas, as lesões se estendem e desenvolvem atrofia e cicatrizes centrais. Pode haver alopecia cicatricial extensa. O envolvimento das mucosas pode ser proeminente, especialmente na boca. Algumas vezes as lesões são hipertróficas e podem imitar o líquen plano (chamado lúpus hipertrófico ou verrucoso).

Manifestações do lúpus eritematoso discoide
Lúpus eritematoso discoide (couro cabeludo)
Lúpus eritematoso discoide (couro cabeludo)

Esta foto mostra placas eritematosas discoides que causam cicatriz atrófica e a resultante alopecia no couro cabeludo.

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso discoide crônico
Lúpus eritematoso discoide crônico

Esta foto mostra o lúpus eritematoso discoide crônico com placas hiperceratóticas e eritematosas características.

© Springer Science+Business Media

Lúpus eritematoso discoide da face (1)
Lúpus eritematoso discoide da face (1)

Esta foto mostra placas descamativas eritematosas discoides e cicatriz atrófica na face resultantes do lúpus eritematoso discoide.

... leia mais

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso discoide da face (2)
Lúpus eritematoso discoide da face (2)

Esta foto mostra placas escamosas eritematosas na face resultantes do lúpus eritematoso discoide.

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso discoide (1)
Lúpus eritematoso discoide (1)

Esta foto mostra placas descamativas eritematosas e hiperpigmentadas com alguma cicatrização atrófica central no dorso.

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso discoide (2)
Lúpus eritematoso discoide (2)

Esta foto mostra múltiplas placas anulares, hiperpigmentadas, descamativas e levemente eritematosas da face e dos lábios.

... leia mais

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso discoide (3)
Lúpus eritematoso discoide (3)

Esta foto mostra múltiplas placas anulares, hiperpigmentadas, descamativas e cicatrizes centrais deprimidas.

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Lúpus eritematoso discoide (4)
Lúpus eritematoso discoide (4)

Esta foto mostra múltiplas placas hiperpigmentadas, algumas com discreta proeminência folicular e descamação, localizadas no rosto e pescoço. O envolvimento da orelha é comum.

... leia mais

Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Deve-se avaliar lúpus eritematoso sistêmico (LES) em pacientes que apresentam lesões discoides típicas. Anticorpos anti-DNA de cadeia dupla quase sempre estão ausentes no lúpus eritematoso discoide. A biópsia, embora não diferencie lúpus eritematoso discoide de LES, pode descartar outros distúrbios (p. ex., linfoma, sarcoidose). A biópsia deve ser feita a partir da margem de uma lesão cutânea ativa.

O tratamento precoce do lúpus eritematoso discoide pode evitar a atrofia permanente. A exposição à luz do sol ou à luz ultravioleta deve ser minimizada (p. ex., utilizando protetores potentes em áreas externas).

Para a doença limitada, as pomadas com corticoides de uso tópico (particularmente para pele seca) ou cremes (menos gordurosos que as pomadas) utilizadas 3 ou 4 vezes ao dia (p. ex., acetonida de triancinolona, 0,1 ou 0,5%; fluocinolona, 0,025 ou 0,2%; flurandrenolida, 0,05%; valerato de betametasona, 0,1%; e, particularmente, dipropionato de betametasona, 0,05%) geralmente causam involução de pequenas lesões; elas não devem ser utilizadas excessivamente nem na face (onde causam atrofia da pele). As lesões resistentes devem ser cobertas com curativos adesivos que contenham flurandrenolida. Uma alternativa é a infiltração intradérmica com acetonida de triancinolona em suspensão a 0,1% (< 0,1 mL por local), que pode resolver as lesões, mas frequentemente ocorrem atrofias secundárias. Um inibidor tópico da calcineurina (p. ex., tacrolimo) pode ser utilizado para áreas como a face ou para lesões resistentes a corticoides tópicos.

Para doença mais extensa ou lesões que não respondem a corticoides tópicos ou intralesionais, antimaláricos (p. ex., hidroxicloroquina oral, 5 mg/kg, 1 vez/dia) são recomendados, inclusive para lesões faciais.

Se a terapia de primeira linha falhar, usa-se a terapia combinada com hidroxicloroquina 200 mg/dia mais quinacrina oral 50 a 100 mg uma vez ao dia ou hidroxicloroquina mais dapsona, metotrexato, micofenolato de mofetil ou azatioprina.

Lúpus eritematoso cutâneo subagudo (LECS)

Pacientes com lúpus eritematoso cutâneo subagudo desenvolvem exantemas extensos e recidivantes. Lesões anulares e papuloescamosas (lesões psoriasiformes) podem se desenvolver na face, braços e tronco. As lesões são geralmente fotossensíveis e podem desenvolver hipopigmentação, mas raramente cicatriz. O lúpus eritematoso cutâneo subagudo pode ser induzido por fármacos, por exemplo, desencadeado por anti-hipertensivos (p. ex., diuréticos, bloqueadores dos canais de cálcio, betabloqueadores), inibidores da bomba de prótons (p. ex., omeprazol, pantoprazol), agentes biológicos inibidores do fator de necrose tumoral (TNF) (p. ex., adalimumabe) e antifúngicos (p. ex., terbinafina).

Pacientes podem ter anticorpo antinuclear (ANA) positivo ou negativo. Os pacientes geralmente têm anticorpos anti-Ro (SSA). Recém-nascidos cuja mãe tem anticorpos Ro podem ter lúpus eritematoso cutâneo subagudo congênito ou bloqueio cardíaco congênito.

Uma minoria significativa de pacientes com LECS pode desenvolver LES, com um estudo relatando quase 10% dos pacientes (1). Assim, os pacientes com LECS devem ser monitorados periodicamente para envolvimento sistêmico.

O lúpus eritematoso cutâneo subagudo é tratado de forma similar ao lúpus eritematoso discoide.

Lúpus eritematoso cutâneo subagudo
Ocultar detalhes
Esta foto mostra exantema eritematoso difuso em áreas expostas ao sol.
Photo courtesy of Kinanah Yaseen, MD.
Lúpus eritematoso cutâneo subagudo
Ocultar detalhes
Esta foto mostra lesões papuloescamosas típicas de lúpus eritematoso cutâneo subagudo.
Photo courtesy of Karen McKoy, MD.

Referência sobre LECS

  1. 1. Alniemi DT, Gutierrez A Jr, Drage LA, Wetter DA. Subacute Cutaneous Lupus Erythematosus: Clinical Characteristics, Disease Associations, Treatments, and Outcomes in a Series of 90 Patients at Mayo Clinic, 1996-2011. Mayo Clin Proc. 2017;92(3):406-414. doi:10.1016/j.mayocp.2016.10.030

Test your KnowledgeTake a Quiz!
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS