Hemorragia alveolar difusa

PorJoyce Lee, MD, MAS, University of Colorado School of Medicine
Revisado/Corrigido: out. 2023
Visão Educação para o paciente

A hemorragia alveolar difusa é uma hemorragia pulmonar persistente ou recorrente que se origina do parênquima pulmonar (isto é, os alvéolos) em oposição às vias aéreas. Há diversas causas, mas doenças autoimunes são as mais comuns. A maioria dos pacientes apresenta dispneia, tosse, hemoptise e infiltrados alveolares na imagiologia do tórax. Os testes diagnósticos são direcionados para a causa suspeita. O tratamento é com imunossupressores para os pacientes com doença de causas autoimunes e suporte respiratório, se necessário.

A hemorragia alveolar difusa não é uma doença específica, mas uma síndrome que tem diagnóstico diferencial específico e uma sequência específica de exames. Algumas doenças que podem causar hemorragia alveolar difusa estão associadas à glomerulonefrite; nesses casos, a doença é definida como síndrome pulmonar-renal.

Fisiopatologia da hemorragia alveolar difusa

A hemorragia alveolar difusa é decorrente de danos nos pequenos vasos pulmonares, provocando acúmulo de sangue no interior dos alvéolos. Se uma quantidade suficiente de alvéolos é afetada, as trocas gasosas são interrompidas. A fisiopatologia específica e as manifestações variam dependendo da causa. Por exemplo, a capilarite pulmonar pauci-imune isolada é uma vasculite de pequenos vasos limitada aos pulmões em que a única manifestação é a hemorragia alveolar que costuma comprometer indivíduos na faixa etária dos 18 aos 35 anos.

Etiologia da hemorragia alveolar difusa

Muitos distúrbios podem causar hemorragia alveolar, incluindo

Sinais e sintomas da hemorragia alveolar difusa

Sinais e sintomas da hemorragia alveolar difusa suave são dispneia, tosse e febre. Hemoptise é comum, mas pode estar ausente em até um terço dos pacientes. A maioria dos pacientes tem anemia e sangramento contínuo, levando a queda do hematócrito. Muitos pacientes apresentam insuficiência respiratória aguda que, às vezes, leva à morte.

Dicas e conselhos

  • Hemoptise pode estar ausente em até um terço dos pacientes com hemorragia alveolar difusa.

Não há achados específicos de exame físico.

Outras manifestações dependem do distúrbio subjacente (p. ex., sopro diastólico em pacientes com estenose mitral).

Diagnóstico da hemorragia alveolar difusa

  • Radiografia de tórax

  • Lavado broncoalveolar

  • Testes sorológicos e outros testes para diagnosticar a causa

O diagnóstico é sugerido pelo quadro de dispneia, tosse e hemoptise acompanhadas por achados radiográficos de infiltrados alveolares difusos bilaterais e suspeita de sangramento alveolar difuso.

Recomenda-se veementemente broncoscopia com lavado broncoalveolar (BLA) para confirmar o diagnóstico, especialmente quando as manifestações são atípicas ou não foi excluída uma fonte de hemorragia de vias respiratórias. As amostras revelam sangue com numerosos eritrócitos e siderófagos; o líquido do lavado normalmente permanece hemorrágico, mesmo depois de amostragem sequencial, ou torna-se progressivamente hemorrágico depois de amostragem sequencial.

Avaliação da causa

Devem ser realizados exames adicionais. Indica-se urinálise para excluir glomerulonefrite e síndrome pulmonar-renal; também é necessário medir a ureia e a creatinina séricas.

Outros testes de rotina incluem

  • Hemograma completo (HC)

  • Estudos de coagulação

  • Contagem de plaquetas

  • Testes sorológicos (anticorpos antinucleares, anti-DNA de dupla cadeia [anti-dsDNA], anticorpos da membrana glomerular basal [anti-GBM], anticorpos anticitoplasma de neutrófilos [ANCA], anticorpo antifosfolípide, níveis de complemento)

Fazem-se testes sorológicos para procurar doenças subjacentes. Títulos de ANCA perinuclear (p-ANCA) são elevados em alguns casos de capilarite pulmonar pauci-imune isolada.

Outros exames dependem do contexto clínico. Quando os pacientes estão estáveis, podem ser feitos testes de função pulmonar para documentar a função dos pulmões. Eles podem mostrar aumento da capacidade de difusão do monóxido de carbono (DLCO) decorrente do aumento da captação do monóxido de carbono pela hemoglobina intra-alveolar; mas esse resultado, consistente com hemorragia, não ajuda a estabelecer um diagnóstico específico.

Pode-se indicar ecocardiografia para excluir estenose mitral.

Biópsia pulmonar ou, se a urinálise estiver anormal, biópsia renal pode ser necessária quando a causa subjacente permanece obscura ou a progressão da doença é rápida demais para aguardar os resultados dos testes sorológicos.

Tratamento da hemorragia alveolar difusa

  • Corticoides

  • Às vezes, ciclofosfamida, rituximab ou troca plasmática

  • Medidas de suporte

O tratamento envolve a correção da causa. As recomendações de tratamento baseiam-se no tipo e gravidade da doença (1).

Corticoides e, possivelmente, ciclofosfamida são utilizados para tratar vasculites, distúrbios reumáticos sistêmcios e síndrome de Goodpasture. Estudou-se o uso de rituximabe na vasculite associada ao ANCA, que mostrou ser não inferior à ciclofosfamida para o tratamento de indução (2) e superior à azatioprina para o tratamento de remissão (3). O rituximabe também foi utilizado para tratar a hemorragia alveolar relacionada com o lúpus eritematoso sistêmico, a síndrome de Goodpasture e a síndrome antifosfolipídica.

A troca plasmática pode ser utilizada para tratar a síndrome do Goodpasture.

Vários estudos relataram o uso bem-sucedido de fator VII ativado humano recombinante no tratamento da hemorragia alveolar, mas essa terapia é controversa por causa da possibilidade de complicações trombóticas.

Outras medidas possíveis de tratamento incluem suplementação de oxigênio, broncodilatadores, reversão de qualquer coagulopatia e entubação com estratégias de proteção como para a síndrome desconforto respiratório agudo (SDRA) e ventilação mecânica.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Chung SA, Langford CA, Maz M, et al: 2021 American College of Rheumatology/Vasculitis Foundation Guideline for the Management of Antineutrophil Cytoplasmic Antibody-Associated Vasculitis. Arthritis Rheumatol 73(8):1366–1383, 2021. doi:10.1002/art.41773

  2. 2. Specks U, Merkel PA, Seo P, et al: Efficacy of remission-induction regimens for ANCA-associated vasculitis. N Engl J Med 369:417–427, 2013.  doi: 10.1056/NEJMoa1213277

  3. 3. Guillevin L, Pagnoux C, Karras A, et al: Rituximab versus azathioprine for maintenance in ANCA-associated vasculitis. New Engl J Med 371:1771–1780. 2014. doi: 10.1056/NEJMoa1404231

Prognóstico para hemorragia alveolar difusa

Os pacientes podem necessitar de ventilação mecânica e até mesmo morrer em decorrência da hemorragia associada à insuficiência respiratória.

A hemorragia alveolar recorrente causa fibrose e hemossiderose pulmonar, que se desenvolvem quando a ferritina se agrega dentro dos alvéolos e exerce efeitos tóxicos. Enfisema pode ocorrer em alguns pacientes com hemorragia alveolar difusa recorrente secundária a poliangite microscópica.

Pontos-chave

  • Embora a hemorragia alveolar difusa possa ter várias causas (p. ex., infecção, toxinas, fármacos, doenças hematológicas ou cardíacas), as doenças autoimunes são as causas mais comuns.

  • Sintomas, sinais e achados da radiografia de tórax não são específicos.

  • Confirmar a hemorragia alveolar difusa fazendo um lavado broncoalveolar para mostrar se há hemorragia persistente em amostras sequenciais do lavado.

  • Busque a causa com exames laboratoriais de rotina, testes para autoanticorpos e, às vezes, outros testes.

  • Tratar a causa (p. ex., com corticoides, ciclofosfamida, rituximabe, troca plasmática).

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