Dor abdominal crônica e dor abdominal recorrente

PorJonathan Gotfried, MD, Lewis Katz School of Medicine at Temple University
Revisado/Corrigido: mai. 2024
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A dor abdominal crônica é a dor presente há mais de três meses. Ela pode ser constante (crônica) ou intermitente (recorrente). A dor abdominal crônica pode ocorrer em qualquer momento em crianças após os 5 anos de idade. Algumas crianças com idade ente 5 e 16 anos, sobretudo aquelas entre 8 e 12 anos, têm dor abdominal crônica ou recorrente. De certa forma, ela é mais comum em garotas. A dor abdominal crônica também é comum nos adultos e afeta mulheres com mais frequência que homens.

Pessoas com dor abdominal crônica podem ter também outros sintomas, dependendo da causa.

Causas da dor abdominal crônica ou recorrente

Geralmente, quando a dor abdominal chega a durar 3 meses ou mais, as pessoas já foram avaliadas por um médico e os distúrbios típicos que causam dor abdominal já foram identificados. Se a pessoa tiver sido avaliada e a causa ainda não tiver sido identificada, apenas uma minoria tem um distúrbio físico específico (consulte a tabela Causas físicas e características da dor abdominal crônica). A maioria apresenta a síndrome da dor abdominal mediada centralmente (antigamente denominada dor abdominal funcional).

A síndrome da dor abdominal mediada centralmente causa uma dor verdadeira que vem ocorrendo há mais de seis meses e que ocorre sem evidência de um distúrbio físico específico ou de outro problema gastrointestinal (por exemplo, uma úlcera péptica). Ela também não está relacionada a um medicamento ou toxina e não causa alterações aos hábitos intestinais (por exemplo, constipação ou diarreia). (Quando a dor abdominal ocorre em pessoas cujos hábitos intestinais estão alterados, ela é denominada síndrome do intestino irritável [SII].) A dor pode ser grave e costuma interferir na vida da pessoa. Não se sabe exatamente o que causa essa dor. Porém, os nervos do trato digestivo e o eixo intestino-cérebro podem se tornar hipersensíveis a sensações (por exemplo, movimentos normais do trato digestivo) que não incomodam a maioria das pessoas. Fatores genéticos, o estresse cotidiano, a personalidade, situações sociais e doenças mentais de base (por exemplo, depressão ou ansiedade) também podem contribuir para a dor. A dor abdominal crônica em crianças pode estar relacionada à necessidade de atenção (por exemplo, quando um irmão nasce ou a família se muda), o estresse de começar a escola, intolerância à lactose ou, às vezes, abuso infantil.

Causas físicas comuns

Muitos distúrbios físicos causam dor abdominal crônica (consulte a tabela Causas físicas e características da dor abdominal crônica). As causas mais comuns variam conforme a idade.

Em crianças, as causas mais comuns são

Em jovens adultos, as causas comuns incluem

Em idosos, a ocorrência de câncer (por exemplo, câncer de estômago, de pâncreas, de cólon ou de ovário) se torna mais comum.

Avaliação da dor abdominal crônica ou recorrente

Os médicos primeiro se concentram em identificar se a dor é funcional ou causada por um distúrbio, medicamento ou toxina. Fazer essa distinção pode ser difícil. Entretanto, se houver sinais de alerta, a dor funcional é improvável (mas não impossível).

Sinais de alerta

Os sintomas a seguir devem ser considerados preocupantes:

  • Febre

  • Perda de apetite e peso

  • Dor que desperta a pessoa do sono

  • Sangue em vômito, fezes ou urina

  • Vômito grave ou frequente

  • Icterícia (amarelamento da pele e da parte branca dos olhos)

  • Inchaço do abdômen e/ou pernas

Quando consultar um médico

Se a pessoa com dor abdominal crônica apresentar sinais de alerta, ela deve consultar um médico imediatamente, a menos que os únicos sinais de alerta sejam inapetência, icterícia e/ou inchaço.

As pessoas com inapetência, icterícia e/ou inchaço ou dor constante e que piora, devem consultar um médico dentro de alguns dias.

Quando os sinais de alerta ocorrem, é muito provável que a causa seja física.

Pessoas sem sinais de alerta devem consultar um médico em algum momento, mas esperar alguns dias não é tão prejudicial.

O que o médico faz

Primeiro, os médicos fazem perguntas sobre os sintomas e o histórico médico. Em seguida, o médico faz um exame físico. Os achados identificados durante a anamnese e no exame físico costumam indicar uma causa para a dor e os exames que talvez precisem ser realizados (consulte a tabela Causas físicas e características da dor abdominal crônica).

Os médicos perguntam particularmente sobre atividades (como comer, urinar ou defecar) que melhoram ou intensificam a dor. É importante saber se a dor ou outro incômodo digestivo ocorre após comer ou beber laticínios, pois a intolerância à lactose é comum, especialmente em pessoas da etnia negra, hispânica, asiática (especialmente dos países do leste asiático) e indígena americana. Os médicos também podem perguntar sobre outros sintomas (como vômito, diarreia ou constipação intestinal), sobre a dieta e sobre qualquer cirurgia envolvendo o abdômen, medicamentos usados, exames e tratamentos para a dor anteriores. Também é importante saber se algum membro da família tem distúrbios que causam dor abdominal.

O médico também faz perguntas sobre a dieta da pessoa, uma vez que o consumo de grandes quantidades de refrigerantes, sucos de fruta (que podem conter quantidades significativas dos açúcares frutose e sorbitol) ou alimentos produtores de gases (por exemplo, feijão, cebola, repolho e couve-flor) às vezes podem ser a causa da dor abdominal sem causa aparente.

O exame físico se concentra sobretudo no abdômen para identificar áreas de sensibilidade, massas ou órgãos expandidos. Geralmente, é realizado um exame retal e o médico faz exames fecais quanto à presença de sangue. Um exame pélvico também é realizado em mulheres.

Os médicos observam se a pele está amarelada (icterícia) e se as pessoas têm eritema ou inchaço nas pernas.

Entre a primeira consulta e as consultas de acompanhamento, geralmente é pedido que as pessoas registrem informações sobre dor, defecação, dieta, quaisquer atividades que pareçam causar dor, bem como medicamentos utilizados e seus efeitos.

Tabela
Tabela

Exames

Geralmente, os médicos realizam alguns exames. Esses exames incluem urinálise, hemograma completo e exames de sangue para avaliar o funcionamento do fígado, rins e do pâncreas. Geralmente, uma colonoscopia também é recomendada se a pessoa tiver mais de 45 anos de idade ou fatores de risco para câncer de cólon (por exemplo, histórico familiar da doença) e ainda não tiver realizado exames preventivos para câncer de cólon. Alguns médicos recomendam uma tomografia computadorizada (TC) do abdômen para pessoas com menos de 45 anos, mas outros médicos esperam que sintomas específicos se desenvolvam. Outros exames são realizados dependendo dos resultados do histórico e do exame físico (consulte a tabela Causas físicas e características da dor abdominal crônica).

Exames adicionais são realizados se o resultado de algum exame for alterado, se as pessoas desenvolverem novos sintomas ou se novas alterações forem detectadas durante o exame.

Tratamento da dor abdominal crônica ou recorrente

O tratamento da dor abdominal depende da causa e dos sintomas. Por exemplo, se as pessoas têm intolerância à lactose, uma dieta sem lactose (sem leite e outros laticínios) pode ajudar. Se as pessoas têm constipação, usar um laxante por alguns dias e adicionar fibra à dieta pode ajudar.

Síndrome da dor abdominal mediada centralmente

O tratamento da síndrome da dor abdominal mediada centralmente depende dos sintomas e dá enfoque a ajudar a pessoa a retornar às atividades diárias normais e reduzir o desconforto. Geralmente, o tratamento envolve uma combinação de estratégias. Várias consultas ao médico podem ser necessárias para desenvolver a melhor combinação. Os médicos costumam agendar consultas de acompanhamento dependendo da necessidade da pessoa. As consultas continuam até bem depois da resolução do problema.

Depois que a síndrome da dor abdominal mediada centralmente é diagnosticada, o médico enfatiza que a dor, embora seja verdadeira, geralmente não tem uma causa grave e que fatores emocionais (por exemplo, estresse, ansiedade, depressão) podem desencadear ou piorar um episódio de dor. Os médicos tentam evitar a repetição de exames depois que um exame detalhado não tenha conseguido indicar uma causa física para os sintomas.

Embora não haja tratamento para curar esse tipo de dor abdominal crônica, muitas medidas úteis estão disponíveis. Essas medidas dependem de um relacionamento de confiança e compreensão entre o médico, a pessoa e seus familiares. Os médicos explicam como os resultados laboratoriais e de outros exames mostram que a pessoa não está em perigo. Os médicos incentivam as pessoas a participarem de atividades profissionais, escolares e sociais. Tal participação não piora o quadro clínico; ao contrário, ele incentiva a independência e a autoconfiança. As pessoas que abandonam as atividades diárias correm o risco de deixar que os sintomas controlem sua vida.

Fazer mudanças na dieta e consumir uma dieta rica em fibras ou suplementos de fibras ajuda algumas pessoas. É possível que a pessoa precise evitar consumir alimentos que desencadeiam a dor. Por exemplo, algumas pessoas devem evitar comer uma grande quantidade de alimentos que são difíceis de digerir e produzem uma grande quantidade de gás e evitar tomar bebidas que são ricas em açúcar.

Muitos medicamentos foram avaliados com diferentes graus de sucesso. Eles incluem medicamentos que diminuem ou param os espasmos musculares no trato digestivo (antiespasmódicos) e óleo de menta.

As fontes de tensão ou de ansiedade são minimizadas ao máximo possível. Os pais e outros familiares devem evitar reforçar a dor ao dar muita atenção a ela. Se a pessoa continuar a se sentir ansiosa ou deprimida e isso parece estar relacionado com a dor, o médico pode receitar antidepressivos ou medicamentos para reduzir a ansiedade. As terapias que ajudam as pessoas a modificarem seu comportamento, tais como treinamento para relaxamento, biofeedback e hipnose, também podem ajudar a reduzir a ansiedade e ajudam as pessoas a tolerarem melhor suas dores.

Para crianças, a ajuda dos pais é essencial. Aconselha-se aos pais que incentivem a criança a se tornar independente e a cumprir suas responsabilidades normais, particularmente frequentar a escola. Permitir que a criança evite as atividades pode realmente aumentar sua ansiedade. Os pais podem ajudar a criança a controlar a dor durante as atividades diárias com elogios e recompensas pelos comportamentos independentes e responsáveis da criança. Por exemplo, os pais poderiam recompensar a criança passando mais tempo com ela ou fazendo um passeio especial. O envolvimento dos funcionários da escola pode ajudar. Podem ser adotadas estratégias para deixar a criança descansar brevemente na enfermaria e voltar para a aula depois de 15 a 30 minutos durante o dia escolar. A enfermeira pode, às vezes, permitir que a criança ligue para um de seus pais, que deve incentivá-la a permanecer na escola.

Pontos-chave

  • Geralmente, a dor abdominal crônica ou recorrente é a mediada centralmente (ou seja, a pessoa tem dor mas não tem nenhum distúrbio físico específico ou outro problema gastrointestinal).

  • Os sintomas que exigem atenção médica imediata incluem febre alta, inapetência ou perda de peso, dor que desperta a pessoa, sangue no vômito, nas fezes ou na urina, icterícia, náusea e vômitos graves e inchaço das pernas e/ou do abdômen.

  • Geralmente, são realizados exames de sangue e urina para identificar distúrbios que possam causar a dor.

  • Exames adicionais são necessários apenas se as pessoas têm resultados de exames anormais, sinais de alerta ou sintomas de um distúrbio específico.

  • No caso da dor mediada centralmente, o tratamento envolve aprender a minimizar o estresse ou a ansiedade, participar de atividades diárias normais, experimentar usar suplementos de fibra alimentar e/ou alimentos ricos em fibras, tomar medicamentos que reduzem os espasmos musculares no trato digestivo, às vezes tomar medicamentos ou usar terapias de modificação comportamental para aliviar a ansiedade e, às vezes, fazer modificações na dieta.

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