Estomatite aftosa recorrente (EAR) é uma condição comum em que úlceras arredondadas ou ovais dolorosas reaparecem na mucosa bucal. A etiologia não é clara. O diagnóstico é clínico. O tratamento é sintomático e mais frequentemente inclui corticoides tópicos.
(Ver também Estomatite e Avaliação do paciente odontológico.)
Estomatite aftosa recorrente afeta 20% dos adultos e uma maior percentagem de crianças em algum momento da vida (1).
Referência
1. Akintoye SO, Greenberg MS: Recurrent aphthous stomatitis. Dent Clin North Am 58(2):281-297, 2014. doi: 10.1016/j.cden.2013.12.002
Etiologia da estomatite aftosa recorrente
A etiologia não é clara, mas a EAR tende a ocorrer em famílias. O dano é predominantemente mediado por células T. Citocinas como IL-2, IL-10 e, especialmente, TNF alfa, desempenham algum papel.
Fatores predisponentes incluem
Trauma bucal
Estresse
Alguns pacientes com alergia alimentar também podem ter EAR e certos alimentos podem exacerbar os sintomas (p. ex., chocolate, amendoim, ovos). Mas não há estudos ligando diretamente a alergia alimentar como a causa da EAR.
Sinais e sintomas de estomatite aftosa recorrente
Os sinais e sintomas geralmente começam na infância (a maioria dos pacientes têm < 30 anos) e diminuem de frequência e gravidade com o envelhecimento. Os sintomas podem incluir uma única úlcera 2 a 4 vezes/ano ou doença quase contínua, com novas úlceras se formando à medida que as antigas se cicatrizam. Um pródromo da dor ou ardor durante 1 a 2 dias precede as úlceras, mas não há vesículas ou bolhas antecedentes. Dor severa, desproporcional em relação ao tamanho da lesão, pode durar de 4 a 7 dias.
Úlceras aftosas são bem demarcadas, superficiais, ovais ou arredondadas e têm um centro necrótico com uma pseudomembrana amarelo-acinzentada, uma auréola vermelha e margens vermelhas ligeiramente proeminentes.
Úlceras aftosas menores são responsáveis por 85% dos casos (1). Elas ocorrem no assoalho da boca, língua lateral e ventral, mucosa bucal e faringe; têm < 8 mm (tipicamente 2 a 3 mm); e cicatrizam em 10 dias sem deixar marcas.
Úlceras aftosas maiores (doença de Sutton, periadenite de mucosa necrótica recurrente) constituem 10% dos casos. Aparecendo após a puberdade, o pródromo é mais intenso e as úlceras são mais profundas, maiores (> 1 cm) e de maior duração (semanas a meses) do que aftas menores. Elas aparecem nos lábios, palato mole e garganta. Pode ocorrer febre, disfagia, mal-estar e cicatrizes.
Úlceras aftosas herpetiformes (morfologicamente semelhantes, mas sem relação com o vírus do herpes) são responsáveis por 5% dos casos. Elas começam como uma série de agrupamentos (até 100) de úlceras pequenas (1 a 3 mm) e dolorosas em uma base eritematosa. Elas se aglutinam para formar úlceras maiores que duram 2 semanas. Tendem a ocorrer em mulheres e ter início em uma idade mais tardia do que outras formas de estomatite aftosa recorrente.
Referência sobre sinais e sintomas
1. Akintoye SO, Greenberg MS: Recurrent aphthous stomatitis. Dent Clin North Am 58(2):281-297, 2014. doi: 10.1016/j.cden.2013.12.002
Diagnóstico da estomatite aftosa recorrente
Avaliação clínica
A avaliação é feita como descrito anteriormente em estomatite. O diagnóstico baseia-se na aparência e exclusão porque não existem características histológicas ou exames laboratoriais definitivos.
Herpes simplex bucal primário pode imitar a EAR recorrente, mas geralmente ocorre em crianças mais novas, sempre envolve a gengiva e pode afetar qualquer mucosa queratinizada (palato duro, gengiva inserida, dorso da língua) e está associado com sintomas sistêmicos. Cultura viral pode ser obtida para identificar herpes simples. Lesões herpéticas recorrentes são geralmente unilaterais.
Episódios recorrentes semelhantes, frequentemente com múltiplas úlceras, podem ocorrer com a doença de Behçet, doença inflamatória intestinal, doença celíaca, infecção por HIV, febre periódica com estomatite aftosa, faringite e síndrome de adenite (PFAPA) e deficiências nutricionais; essas condições geralmente têm sinais sintomas sistêmicos. Úlceras bucais recorrentes isoladas podem ocorrer com a infecção por herpes, HIV e, raramente, deficiência nutricional (p. ex., zinco, ferro, várias vitaminas do complexo B). Testes virais e exames séricos podem identificar essas condições.
As reações medicamentosas podem imitar a EAR, mas costumam estar temporalmente relacionadas com a ingestão. Mas reações a alimentos ou produtos odontológicos podem ser difíceis de identificar; eliminação sequencial pode ser necessária.
Tratamento da estomatite aftosa recorrente
Clorexidina e corticoides tópicos
Tratamentos gerais para a estomatite podem ajudar os pacientes com EAR.
Enxaguatório bucal com gliconato de clorexidina e corticoides tópicos, os principais pilares da terapia, devem ser utilizados durante o pródromo, se possível. O corticoide pode ser dexametasona, 0,5 mg/5 mL 3 vezes ao dia utilizada como um exanguante e então 0,05% de clobetasol expectorado ou na forma de unguento, ou 0,05% de fluocinonida na forma de unguento em pasta protetiva da mucosa com carboximetilcelulose (1:1) aplicada 3 vezes ao dia. Os pacientes que utilizam esses corticoides devem ser monitorados para candidíase. Se corticoides tópicos são ineficazes, prednisona (p. ex., 40 mg por via oral uma vez ao dia) podem ser necessários por ≤ 5 dias.
Tratamento sintomático com anestésicos tópicos (p. ex., benzocaína com instruções para evitar toxicidade) e/ou protetores de superfície (p. ex., sucralfato) são eficazes para aliviar o desconforto, mas esses medicamentos apenas fornecem alívio da dor e/ou uma camada protetora para os tecidos e não são terapêuticos.
A EAR contínua ou particularmente grave é mais adequadamente tratada por um especialista em medicina bucal. O tratamento pode exigir o uso prolongado de corticoides sistêmicos, azatioprina ou outros imunossupressores, pentoxifilina, ou talidomida. Injeções intralesionais podem ser aplicadas com betametasona, dexametasona, ou triamcinolona. Suplementação de B1, B2, B6, B12, folato ou ferro diminui a EAR em alguns pacientes.