- Visão geral da vasculite
- Doença de Behçet
- Vasculite cutânea
- Granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA)
- Arterite de células gigantes
- Granulomatose com poliangiite (GPA)
- Vasculite associada à imunoglobulina A (IgAV)
- Poliangiite microscópica (PAM)
- Poliarterite Nodosa (PAN)
- Polimialgia reumática
- Arterite de Takayasu
Recursos do assunto
(Ver também Visão geral da vasculite.)
Granulomatose eosinofílica com poliangiite (EGPA) ocorre em até 20 pessoas/milhão, dependendo da população que está sendo estudada (1). O pico da idade de incidência é entre 40 e 50 anos.
A granulomatose eosinofílica com poliangiite é caracterizada por granulomas necrosantes extravasculares (geralmente ricos em eosinófilos), eosinofilia e infiltração tecidual por eosinófilos. Entretanto, essas anormalidades nem sempre coexistem. Tipicamente, a vasculite afeta pequenas e médias artérias. Qualquer órgão pode ser afetado, mas os mais afetados são pulmões, pele, seios paranasais, sistema cardiovascular, rins, sistema nervoso central, articulações e trato gastrointestinal (GI). Raramente, capilarite pulmonar pode causar hemorragia alveolar.
Referência geral
1. Mohammad AJ. An update on the epidemiology of ANCA-associated vasculitis. Rheumatology (Oxford) 2020;59(Suppl 3):iii42-iii50. doi:10.1093/rheumatology/keaa089
Etiologia da granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA)
A causa da granulomatose eosinofílica com poliangiite é desconhecida. Entretanto, um mecanismo alérgico, com tecido diretamente afetado por produtos de degranulação por eosinófilos e neutrófilos, pode estar envolvido. A ativação dos linfócitos T parece ajudar a manter a inflamação eosinófila. A doença ocorre em pacientes adultos com ataque de asma, rinite alérgica, polipose nasal ou uma combinação deles. Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) estão presentes em 30-40% dos casos (1).
Referência sobre etiologia
1. Moiseev S, Bossuyt X, Arimura Y, et al. International Consensus on ANCA Testing in Eosinophilic Granulomatosis with Polyangiitis. Am J Respir Crit Care Med Published online June 25, 2020. doi:10.1164/rccm.202005-1628SO
Sinais e sintomas da granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA)
A síndrome tem 3 fases que também podem se sobrepor:
Prodrômica: essa fase pode persistir por anos. Os pacientes apresentam rinite alérgica, polipose nasal, asma ou uma combinação delas.
Fase eosinofílica: eosinofilia tecidual ou sanguínea periférica é típica. A apresentação clínica, que pode ser semelhante à síndrome de Löffler, revela pneumonia eosinofílica crônica e gastroenterite eosinofílica.
Fase vasculítica: desenvolve-se vasculite potencialmente letal. Disfunção de órgão e sintomas sistêmicos (p. ex., febre, mal-estar, perda ponderal, fadiga) são comuns nessa fase.
Entretanto, as fases não acontecem consecutivamente e o intervalo de tempo entre uma e outra varia muito.
Vários órgãos e sistemas podem ser afetados:
Respiratório: asma, frequentemente com início na idade adulta, ocorre na maioria dos pacientes e tende a ser grave e dependente de corticoides. A sinusite é comum, mas não destrutiva, sem inflamação necrosante grave. Os pacientes podem ter falta de ar. Os infiltrados pulmonares transitórios são comuns.
Neurológico: manifestações neurológicas são muito comuns. Mononeuropatia múltipla (mononeurite multipla) ocorre em até três quartos dos pacientes. O envolvimento do sistema nervoso central é raro, mas pode incluir hemiparesia, confusão, ataques e coma com ou sem paralisia dos pares cranianos ou evidência de infarto cerebral.
Cutâneo: a pele é afetada em cerca de um quarto dos pacientes. Nódulos e pápulas aparecem nas superfícies extensoras das extremidades. Eles são causados por lesões granulomatosas extravasculares em paliçada com necrose central. Púrpura ou pápulas eritematosas, devido à vasculite leucocitoclástica com ou sem infiltração eosinofílica proeminente, podem se desenvolver.
Musculoesquelético: pode ocorrer artralgia, mialgia ou até mesmo artrite.
Cardíaco: o comprometimento cardíaco, uma das principais causas de mortalidade, compreende a insuficiência cardíaca por miocardite e fibrose endomiocárdica, vasculite da artéria coronária (possivelmente com infarto do miocárdio), valvopatias e pericardite. O achado histopatológico predominante é miocardite eosinofílica.
Gastrointestinal: até um terço dos pacientes tem sintomas gastrointestinais (p. ex., dor abdominal, diarreia e sangramento, colecistite acalculosa) em decorrência de gastroenterite eosinofílica ou isquemia mesentérica decorrente de vasculite.
Renal: os rins são afetados com menos frequência do que em outros distúrbios vasculíticos associados a anticorpos anticitoplasma de neutrófilos. Tipicamente, está presente pauci-imune (poucos complexos imunitários, se existirem), glomerulonefrite necrosante segmentar focal com crescente formação; a inflamação eosinofílica ou granulomatosa dos rins é rara.
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O envolvimento renal, cardíaco ou neurológico indica um prognóstico pior.
Diagnóstico da granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA)
Critérios clínicos
Teste de laboratório rotineiros
Ecocardiografia
Biópsia
A Chapel Hill Consensus Conference de 2012 (1) definiu a granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA) como sendo uma inflamação granulomatosa e necrosante rica em eosinófilos, comprometendo o trato respiratório com vasculite necrosante dos pequenos e médios vasos associada a asma e eosinofilia. Os critérios de classificação foram revisados em 2022 pelo American College of Rheumatology/European Alliance of Associations for Rheumatology (EULAR) e consistem no seguinte (2):
Asma (+ 3 pontos)
Pólipos nasais (+ 3 pontos)
Mononeurite múltipla ou polineuropatia (+ 1 ponto)
Eosinofilia de > 10% no sangue periférico (+ 5 pontos)
Evidência histológica de vasculite com eosinófilos travasculares (+ 2 pontos)
Níveis elevados de anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (cANCA) ou anticorpo anti-proteinase 3 (menos 3 pontos)
Hematúria (menos 1 ponto)
Um escore ≥ 6 tem sensibilidade de 85% e especificidade de 99%.
O exame visa definir o diagnóstico e a extensão do comprometimento do órgão e diferenciar a GEPA de outras doenças eosinofílicas (p. ex., infecções parasitárias, reações medicamentosas, pneumonia eosinofílica grave, pneumonia eosinofílica crônica, aspergilose broncopulmonar alérgica, síndrome hipereosinofilica). O diagnóstico da granulomatose eosinofílica com poliangiite é sugerido por achados clínicos e resultados de testes de laboratório rotineiros, mas geralmente deve ser confirmado por meio da biópsia de pulmão ou outro tecido afetado.
São realizados exames de sangue e radiografia do tórax, mas os resultados não são diagnósticos. É feito hemograma completo com diferencial para verificar se há eosinofilia que, em alguns pacientes, também pode ser um marcador de atividade da doença. Os exames de IgE e proteína C reativa e velocidade de hemossedimentação (VHS) são feitos periodicamente para avaliar a atividade inflamatória. A urinálise com sedimento urinário e a dosagem de creatinina são feitas para rastrear doença renal e monitorar sua gravidade. Os níveis de eletrólito são medidos.
O teste sorológico é feito e detecta anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) em até 35% dos pacientes; se ANCA é detectada, o teste de imunofluorescência e ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA) é feito para detectar anticorpos específicos. ANCA perinuclear (p-ANCA) com anticorpos contra a mieloperoxidase é o resultado mais comum, mas o ANCA não é um teste sensível específico para GEPA.
Embora utilizados como marcadores de atividade da doença, os níveis de eosinofilia, IgE, ANCA, VHS e proteína C reativa só atingem esta meta e indicam crises com muitas limitações.
A radiografia de tórax frequentemente mostra infiltrados pulmonares transitórios.
Fazer ecocardiograma 2D em todos os pacientes no início e repetir periodicamente em caso de aparecimento sinais e sintomas de insuficiência cardíaca.
Se possível, a biópsia do tecido afetado mais acessível deve ser feita.
Referências sobre diagnóstico
1. Jennette JC, Falk RJ, Bacon PA, et al: 2012 Revised International Chapel Hill Consensus Conference Nomenclature of Vasculitides. Arthritis Rheum 65(1):1-11, 2013. doi: 10.1002/art.37715
2. Grayson PC, Ponte C, Suppiah R, et al: 2022 American College of Rheumatology/European Alliance of Associations for Rheumatology Classification Criteria for Eosinophilic Granulomatosis with Polyangiitis. Ann Rheum Dis 81(3):309–314, 2022. doi:10.1136/annrheumdis-2021-221794
Tratamento da granulomatose eosinofílica com poliangiite
Corticoides
Outros imunossupressores (p. ex., rituximabe, ciclofosfamida, mepolizumabe)
Corticoides sistêmicos mais um imunossupressor são a base do tratamento da granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA) porque o uso isolado de corticoides não costuma sustentar a remissão, mesmo se não há fatores prognósticos ruins. Outros imunossupressores (p. ex., ciclofosfamida, rituximabe, metotrexato, azatioprina) são adicionados. A escolha do imunossupressor depende da gravidade e do tipo de envolvimento do órgão, utilizando os mesmos critérios gerais para o tratamento da granulomatose com poliangiite ou poliangiite microscópica. Em um estudo retrospectivo com 41 pacientes com granulomatose eosinofílica com poliangiitetratados com rituximabe, 49% estavam em remissão aos 12 meses e o rituximabe reduziu a necessidade de corticoides (1). Esses resultados podem ser favoravelmente comparados com outros tratamentos.
A ciclofosfamida é preferida para o tratamento do envolvimento cardíaco (2). O envolvimento cardíaco, manifestado por miocardite com insuficiência cardíaca, é a principal causa de morte na GEPA.
Mepolizumabe, um anticorpo monoclonal anti-IL-5, demonstrou diminuir a taxa de recidiva em pacientes com GEPA que não apresentam manifestações orgânicas ou com risco de vida (3). O benefício se deu predominantemente no trato respiratório superior e inferior, incluindo na asma brônquica ativa. O efeito do mepolizumabe é desconhecido em pacientes com manifestações graves, incluindo doença cardíaca. O benralizumabe, outro anticorpo monoclonal anti-receptor de IL-5, demonstrou ser não inferior ao mepolizumabe nas taxas de remissão da doença e reduz o uso crônico de corticoides (4).
Referências sobre tratamento
1. Mohammad AJ, Hot A, Arndt F, et al: Rituximab for the treatment of eosinophilic granulomatosis with polyangiitis (Churg-Strauss). Ann Rheum Dis 75(2):396-401, 2016. doi:10.1136/annrheumdis-2014-206095
2. Chung SA, Langford CA, Maz M, et al: 2021 American College of Rheumatology/Vasculitis Foundation Guideline for the Management of Antineutrophil Cytoplasmic Antibody-Associated Vasculitis. Arthritis Rheumatol 73(8):1366-1383, 2021. doi:10.1002/art.41773
3. Wechsler ME, Akuthota P, Jayne D, et al: Mepolizumab or placebo for eosinophilic granulomatosis with polyangiitis. N Engl J Med 376(20):1921-1932, 2017. doi:10.1056/NEJMoa1702079
4. Wechsler ME, Nair P, Terrier B, et al: Benralizumab versus Mepolizumab for Eosinophilic Granulomatosis with Polyangiitis. N Engl J Med 390(10):911-921, 2024. doi:10.1056/NEJMoa2311155
Pontos-chave
A granulomatose eosinofílica com poliangiite é uma vasculite rara de pequenos e médios vasos.
Suas fases compreendem sintomas das vias respiratórias superiores e sibilos, pneumonia eosinofílica e gastroenterite e vasculite potencialmente letal.
As fases podem ocorrer sem ordem específica e podem se sobrepor.
Envolvimento cardíaco ou neurológico pode ocorrer e indica um prognóstico desfavorável.
Diagnosticar por critérios clínicos, fazer testes laboratoriais de rotina e às vezes biópsia.
Fazer ecocardiograma 2D em todos os pacientes.
Tratar com corticoides e outros imunossupressores, com base na gravidade da doença, e utilizar os mesmos critérios de tratamento da granulomatose com poliangiite ou poliangiite microscópica.
Considerar o tratamento com rituximabe pelas suas possíveis taxas altas de resposta e redução da necessidade de corticoides.
Considerar o uso de agentes anti-interleucina (IL)-5 ou anti-receptor de IL-5 (p. ex., mepolizumabe, benralizumabe) em pacientes com manifestações primárias do trato respiratório superior e/ou inferior, mas sem manifestações que ameacem órgãos.