Doença de Crohn

(Ileíte granulomatosa; ileocolite granulomatosa; enterite regional)

PorAaron E. Walfish, MD, Mount Sinai Medical Center;
Rafael Antonio Ching Companioni, MD, HCA Florida Gulf Coast Hospital
Revisado/Corrigido: nov. 2023
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Fatos rápidos

A doença de Crohn é uma doença intestinal inflamatória na qual a inflamação crônica normalmente envolve a parte inferior do intestino delgado, o intestino grosso ou ambos, e pode afetar qualquer parte do trato digestivo.

  • Embora a causa exata seja desconhecida, um sistema imunológico com falha de inativação pode vir a resultar em doença de Crohn.

  • Os sintomas característicos incluem diarreia crônica (que, às vezes, apresenta sangue), cólica abdominal, febre, bem como perda de apetite e de peso.

  • O diagnóstico é baseado em uma colonoscopia, exame de cápsula endoscópica e em exames por imagens, como radiografias com ingestão de bário, tomografia computadorizada ou ressonância magnética.

  • Não existe cura para a doença de Crohn.

  • O tratamento busca aliviar os sintomas e reduzir a inflamação, e algumas pessoas precisam de cirurgia.

(consulte também Considerações gerais sobre a doença intestinal inflamatória (DII)).

Nas últimas décadas, a incidência da doença de Crohn se tornou mais comum em todo o mundo. Contudo, a doença é mais frequente entre pessoas de ascendência norte-europeia e anglo-saxã. A doença ocorre com a mesma frequência em ambos os sexos e tende a ser mais frequente em pessoas de ascendência judaica asquenaze. A maioria das pessoas manifesta a doença de Crohn antes dos 30 anos, geralmente entre os 14 e os 24 anos. Algumas pessoas têm seu primeiro ataque entre os 50 e 70 anos.

A doença de Crohn tende a surgir mais comumente na última parte do intestino delgado (íleo) e no intestino grosso, porém, pode ocorrer em qualquer parte do trato digestivo, desde a boca até o ânus, incluindo pele ao redor do ânus. A inflamação do íleo é denominada ileíte. Quando a doença de Crohn afeta o cólon, é chamada colite de Crohn. A doença de Crohn afeta

  • Apenas o intestino delgado (30% das pessoas)

  • Apenas o intestino grosso (30% das pessoas)

  • Tanto o intestino delgado como o intestino grosso (40% das pessoas)

O reto não é geralmente afetado, ao contrário da colite ulcerativa, em que o reto está sempre envolvido. Entretanto, infecções e outras complicações ao redor do ânus não são raras. A doença pode afetar alguns segmentos do trato intestinal, deixando alguns segmentos normais (áreas intercaladas) entre as áreas afetadas. Onde a doença de Crohn está ativa, geralmente, toda a espessura do intestino fica comprometida.

Como localizar o intestino delgado e o intestino grosso

Não se conhece ao certo a causa da doença de Crohn, mas muitos pesquisadores acreditam que uma disfunção do sistema imunológico faça com que o intestino reaja em excesso a um agente ambiental, alimentar ou infeccioso. Algumas pessoas podem ter uma predisposição hereditária a esta disfunção do sistema imunológico. O tabagismo também parece contribuir, tanto para o desenvolvimento como para a ocorrência periódica de exacerbações (ataques ou crises) da doença de Crohn. Contraceptivos orais podem elevar o risco da doença de Crohn.

Por motivos desconhecidos, as pessoas que apresentam um elevado nível socioeconômico podem apresentar um elevado risco de doença de Crohn.

Diversos relatos sugerem que pessoas que receberam amamentação materna talvez tenham proteção contra ter uma doença intestinal inflamatória, como a doença de Crohn ou a colite ulcerativa.

Sintomas da doença de Crohn

Os sintomas mais comuns da doença de Crohn são

  • Dor abdominal acompanhada de cólicas

  • Diarreia crônica (que, algumas vezes, é sanguinolenta quando o intestino grosso está gravemente afetado)

  • Febre

  • Perda de apetite

  • Perda de peso

Os sintomas da doença de Crohn podem durar dias ou semanas e podem se resolver sem tratamento. A recuperação completa e permanente depois de um único ataque é extremamente rara. A doença de Crohn geralmente reaparece em intervalos irregulares, ao longo de toda a vida. Essas crises podem ser leves ou graves, breves ou prolongadas. Crises graves podem provocar dor intensa e constante, febre e desidratação.

Não se sabe o motivo pelo qual os sintomas aparecerem e desaparecerem ou o que desencadeia novas crises e determina a sua gravidade. A inflamação recorrente tende a aparecer na mesma região do intestino. Ela também pode aparecer em regiões próximas de um segmento doente que foi removido cirurgicamente.

Em crianças, dor abdominal e diarreia geralmente não são os sintomas mais importantes e podem nunca se manifestar. Os sintomas principais, na verdade, podem ser crescimento lento, inflamação das articulações (artrite), febre ou fraqueza e fadiga resultantes da anemia.

Complicações da doença de Crohn

As complicações da doença de Crohn incluem

A colite tóxica é uma complicação rara que pode ocorrer quando a doença de Crohn afeta o intestino grosso (cólon). O intestino grosso interrompe suas contrações normais e se dilata, algumas vezes levando à peritonite As pessoas podem necessitar uma cirurgia.

Formação de tecido cicatricial, pois a inflamação crônica pode causar bloqueio intestinal. Úlceras profundas, que penetram pela parede do intestino, podem causar abscessos, fístulas abertas ou perfurações. As fístulas podem ligar duas partes diferentes do intestino. As fístulas também podem conectar o intestino à bexiga ou à superfície da pele, sobretudo ao redor do ânus. Apesar de as fístulas do intestino delgado serem frequentes, são pouco comuns as perfurações. As fissuras na pele do ânus são comuns.

Quando o intestino grosso é amplamente afetado pela doença de Crohn, é comum ocorrer hemorragia retal. Depois de muitos anos, o risco de ter câncer de cólon (câncer do intestino grosso) aumenta em pessoas que apresentam colite de Crohn. Cerca de um terço das pessoas com doença de Crohn apresentam problemas ao redor do ânus, em particular fístulas e fissuras no seu revestimento da membrana mucosa.

A doença de Crohn pode levar a complicações em outras partes do corpo. Essas complicações incluem

Quando a doença de Crohn provoca uma crise de sintomas gastrointestinais, a pessoa também pode apresentar o seguinte:

Mesmo quando a doença de Crohn não está causando uma crise de sintomas gastrointestinais, a pessoa ainda pode apresentar os seguintes quadros clínicos, sem nenhuma relação com a doença intestinal:

Diagnóstico da doença de Crohn

  • Exames de sangue e fezes

  • Exames de diagnóstico por imagem

  • Colonoscopia

O médico pode suspeitar da existência da doença de Crohn em uma pessoa com cólicas abdominais e diarreia recorrentes, sobretudo se houver antecedentes familiares de doença de Crohn ou antecedentes de problemas ao redor do ânus. Outros indícios para o diagnóstico podem incluir inflamações das articulações, dos olhos ou da pele ou crescimento debilitado em crianças. O médico pode, ao palpar o paciente, sentir uma massa na parte inferior do abdômen, a maioria das vezes no lado direito.

Exames de sangue e fezes

Não existem exames laboratoriais específicos para identificar a doença de Crohn, mas os exames de sangue podem revelar a presença de anemia, um número excepcionalmente alto de glóbulos brancos, níveis baixos de albumina e outros sinais de inflamação, tais como níveis elevados de velocidade de hemossedimentação ou de proteína reativa C. É possível que o médico também realize provas de função hepática.

Se houver diarreia, é possível que o médico colete amostras de fezes para descartar determinadas infecções intestinais.

Exames de diagnóstico por imagem

A pessoa com dor abdominal grave e sensibilidade frequentemente faz uma tomografia computadorizada (TC) ou imagem por ressonância magnética (RM) do abdômen. A TC ou RM pode mostrar um bloqueio, abscessos ou fístulas, bem como outras possíveis causas de inflamação abdominal (como apendicite).

As pessoas que apresentam sintomas recorrentes após algum tempo podem realizar radiografias do estômago e intestino delgado após ingerir bário líquido (um exame denominado série gastrointestinal [GI] superior com exame de trânsito do intestino delgado) ou realizar radiografias após receberem bário como um enema (um exame denominado enema de bário). Novas abordagens incluem enterografia por TC ou enterografia por ressonância magnética. Outro modo de avaliar o intestino delgado é com um exame de cápsula endoscópica.

Colonoscopia

Pessoas com pouca dor e mais diarreia realizam uma colonoscopia (um exame do intestino grosso com um tubo flexível para visualização) e uma biópsia (remoção de uma amostra de tecido para exame microscópio). Se a doença de Crohn se limitar ao intestino delgado, a colonoscopia não detectará a doença, a menos que o colonoscópio seja avançado por todo o cólon e até a última parte do intestino delgado, onde a inflamação se situa com maior frequência.

Úlcera na doença de Crohn
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Essa foto mostra uma pequena úlcera (seta) no intestino resultando da doença de Crohn.
A imagem é uma cortesia dos Drs. Aaron E. Walfish e Rafael A. Ching Companioni.

Tratamento da doença de Crohn

  • Medicamentos antidiarreicos

  • Aminossalicilatos

  • Corticosteroides

  • Medicamentos imunomoduladores

  • Agentes biológicos

  • Agentes de molécula pequena

  • Antibióticos

  • Regimes alimentares

  • Às vezes, cirurgia

Muitos tratamentos da doença de Crohn ajudam a reduzir a inflamação e a aliviar os sintomas.

Controle geral

Cólicas e diarreia podem ser aliviadas com uso de loperamida ou medicamentos que interrompem espasmos abdominais (idealmente antes das refeições). A utilização de preparados de metilcelulose ou psílio ajuda a prevenir a irritação anal em alguns casos, pois faz com que as fezes fiquem mais firmes. As pessoas devem evitar alimentar-se de fibras durante as crises ou se apresentarem bloqueios intestinais.

Medidas de manutenção da saúde rotineiras, especialmente vacinação e exames preventivos contra o câncer, são importantes.

Medicamentos antidiarreicos

Esses medicamentos, que podem aliviar cãibras e diarreia, incluem difenoxilato, loperamida, tintura de ópio desodorizado e codeína. Esses medicamentos são tomados via oral, preferencialmente antes das refeições.

Aminossalicilatos

Os aminossalicilatos são medicamentos utilizados para tratar inflamação causada pela doença de Crohn. A sulfassalazina e medicamentos relacionados, tais como a mesalamina, a olsalazina e a balsalazida, são tipos de aminossalicilatos. Esses medicamentos podem suprimir os sintomas quando estes aparecem e reduzir a inflamação, sobretudo no intestino grosso. Esses medicamentos são geralmente tomados por via oral. A mesalamina também está disponível como supositório ou enema. Esses medicamentos não funcionam tão bem para aliviar exacerbações graves.

Corticosteroides

Corticosteroides, tais como a metilprednisolona, que são administrados por via intravenosa (pela veia) podem reduzir drasticamente a febre e a diarreia, aliviar a dor e a sensibilidade abdominais e melhorar o apetite e a sensação de bem-estar das pessoas hospitalizadas. No entanto, o uso prolongado de corticosteroides causa efeitos colaterais (consulte a barra lateral Corticosteroides: usos e efeitos colaterais). Geralmente, altas doses são tomadas inicialmente para aliviar a inflamação e sintomas intensos causados pelas crises súbitas. A dose é, então, reduzida, e o medicamento é interrompido assim que possível.

Outro corticosteroide, chamado budesonida, tem menos efeitos colaterais do que a prednisona, apesar de não ser tão rapidamente eficaz e, geralmente, não prevenir as reincidências depois de seis meses. Budesonida pode ser administrada por via oral ou como um enema.

Assim como ocorre com corticosteroides orais, a dose de corticosteroides administrados em enemas ou em forma de espuma (como hidrocortisona) também é reduzida e gradualmente interrompida.

Se a doença se agravar, a pessoa é hospitalizada e são administrados corticosteroides pela veia (via intravenosa).

O médico administra vitamina D e suplementos de cálcio para todas as pessoas que tomam corticosteroides.

Medicamentos imunomoduladores

A azatioprina e a mercaptopurina são medicamentos que diminuem as ações do sistema imunológico. São eficazes para as pessoas com doença de Crohn que não respondem a outros medicamentos, sendo particularmente úteis para manter longos períodos de remissão (períodos sem sintomas). Eles melhoram significativamente o quadro clínico geral da pessoa, diminuem a necessidade de corticosteroides e, frequentemente, curam as fístulas. No entanto, esses medicamentos podem não trazer benefícios antes de um a três meses e podem ter efeitos colaterais potencialmente graves.

Os efeitos colaterais mais comuns da azatioprina e mercaptopurina são náusea, vômito e sensação geral de indisposição (mal-estar). O médico monitora rigorosamente a pessoa quanto a outros efeitos colaterais como reações alergias, supressão da medula óssea (monitorada pela medição regular da contagem de leucócitos), inflamação do pâncreas (pancreatite), e, às vezes, problemas do fígado. As pessoas que tomam esses medicamentos apresentam um elevado risco de desenvolvimento de linfoma, um câncer de leucócitos e alguns tipos de câncer de pele (monitorados pelos exames de pele de rotina).

Exames de sangue que detectam variações em uma das enzimas que metabolizam azatioprina e mercaptopurina e que medem diretamente os níveis de metabólitos frequentemente ajudam o médico a garantir que as doses do medicamento sejam seguras e eficazes.

Metotrexato administrado semanalmente por injeção ou tomado por via oral ajuda algumas pessoas que não apresentam resposta aos corticosteroides, à azatioprina ou à mercaptopurina ou que não conseguem tolerá-los. Os efeitos colaterais incluem náusea, vômito, queda de cabelo, problemas hepáticos, insuficiência renal e, raramente, problemas pulmonares. Uma baixa contagem de leucócitos pode também ocorrer e, portanto, as pessoas tomando metotrexato são suscetíveis à infecção. O metotrexato é teratogênico (nocivo ao feto) e, dessa forma, não é utilizado na gravidez. Tanto mulheres como homens tomando metotrexato devem garantir que a parceira utiliza um método contraceptivo eficaz (método anticoncepcional) como, por exemplo, um dispositivo intrauterino (DIU), um implante contraceptivo ou um contraceptivo oral. Métodos contraceptivos menos eficazes como, por exemplo, preservativos, espermicidas, diafragmas, capuzes cervicais e abstinência periódica não são recomendados. O médico receita ácido fólico para diminuir os efeitos colaterais do metotrexato.

Ciclosporina é administrada em altas doses em injeção. Esse medicamento pode ajudar a curar fístulas causadas pela doença de Crohn, mas não pode ser usado com segurança por muito tempo devido aos efeitos colaterais, como problemas renais, infecções e convulsões.

Tacrolimo é administrado por via oral. Esse medicamento ajuda a curar as fístulas causadas pela doença de Crohn. Os efeitos colaterais são semelhantes àqueles da ciclosporina.

Agentes biológicos

O infliximabe, um agente biológico, é outro modificador das ações do sistema imunológico. Ele é derivado de anticorpos monoclonais contra o fator de necrose tumoral (um agente denominado inibidor do fator de necrose tumoral ou inibidor do TNF). O infliximabe é administrado através de uma série de infusões por via intravenosa. Esse medicamento pode ser usado para tratar pessoas com doença de Crohn moderada a grave que não apresentam resposta a outros medicamentos, bem como para tratar pessoas com fístulas e para manutenção da resposta quando for difícil controlar a doença.

Os efeitos colaterais que podem ocorrer com o infliximabe incluem a piora de uma infecção bacteriana existente sem controle, reativação de tuberculose ou hepatite B e uma elevação no risco de alguns tipos de câncer. Algumas pessoas têm reações como febre, calafrios, náusea, dor de cabeça, coceira ou erupções cutâneas durante a infusão (chamadas reações à infusão). Antes de iniciar o tratamento com infliximabe (ou outros agentes biológicos, tais como o adalimumabe, o certolizumabe, o vedolizumabe e o ustequinumabe), as pessoas devem fazer exames para tuberculose e hepatite B.

O adalimumabe também é um inibidor do TNF. Ele é administrado por meio de uma série de injeções subcutâneas e, portanto, não provoca as possíveis reações à infusão de um medicamento administrado por via intravenosa, tal como o infliximabe. As pessoas podem ter dor e coceira no local da injeção.

O certolizumabe é outro inibidor do TNF. Ele é administrado por meio de injeções subcutâneas mensais. Esse medicamento funciona de modo similar ao infliximabe e adalimumabe e causa efeitos colaterais semelhantes.

O vedolizumabe e o natalizumabe são medicamentos para pessoas que (1) têm doença de Crohn moderada a grave que não apresentaram resposta a outros medicamentos imunomoduladores ou (2) que não conseguem tolerar esses medicamentos. O efeito colateral mais sério causado é infecção. O natalizumabe está atualmente disponível apenas através de um programa de uso restrito uma vez que aumenta o risco de uma infecção cerebral fatal chamada leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP). O vedolizumabe apresenta um risco teórico de causar LMP, pois faz parte da mesma classe de medicamentos que o natalizumabe.

O ustequinumabe é outro tipo de agente biológico. A primeira dose é administrada por via intravenosa, e posteriormente as doses serão administradas por meio de injeções sob a pele a cada oito semanas. Os efeitos colaterais incluem reações no local da injeção (dor, vermelhidão, inchaço), sintomas gripais, calafrios e dor de cabeça.

O risanquizumabe é usado para tratar doença de Crohn moderada a grave. Os efeitos colaterais mais comuns são dores de cabeça, fadiga, resfriado e infecções raras por cândida (candidíase). Reações alérgicas graves são muito raras, mas reações cutâneas podem ocorrer no local da injeção.

O upadacitinibe é um inibidor da Janus quinase (JAK) tomado por via oral, que é usado para tratar a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Os efeitos colaterais mais comuns desse medicamento são acne, foliculite (infecção nos folículos pilosos), infecção das vias aéreas superiores, reações de hipersensibilidade, náusea e dor abdominal. Ele também aumenta o risco de apresentar coágulos sanguíneos, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral.

Os biossimilares são medicamentos biológicos que são muito semelhantes a um produto biológico de referência. Alguns biossimilares estão disponíveis no mercado.

Tabela
Tabela

Antibióticos e probióticos de amplo espectro

Muitas vezes são receitados antibióticos que são eficazes contra muitos tipos de bactérias. O antibiótico metronidazol é a escolha mais frequente para o tratamento de abscessos e fístulas perianais. O metronidazol também pode ajudar a aliviar os sintomas não infecciosos da doença de Crohn, como diarreia e cólicas abdominais. No entanto, quando administrado em longo prazo, o metronidazol pode danificar nervos, resultando em sensações de formigamento nos braços e nas pernas. Esse efeito colateral geralmente desaparece quando o medicamento é suspenso, mas recidivas da doença de Crohn são frequentes após a suspensão do metronidazol.

As pessoas devem evitar o consumo de bebidas alcoólicas ou produtos contendo propilenoglicol enquanto estiverem tomando metronidazol e devem continuar a evitar essas substâncias por pelo menos três dias após o tratamento com o metronidazol ser concluído.

Podem ser utilizados outros antibióticos para substituir o metronidazol ou em combinação com ele, como ciprofloxacino ou levofloxacino. Rifaximina, um antibiótico não absorvente, também é usado no tratamento da doença de Crohn ativa em algumas situações.

Algumas bactérias são naturalmente encontradas no corpo e promovem o crescimento de bactérias benignas (probióticas). O uso diário de probióticos, como lactobacillus (geralmente presente no iogurte), pode ser eficaz na prevenção da pouchite (inflamação de um reservatório criado durante a remoção cirúrgica do intestino grosso e reto).

Regimes alimentares

Embora algumas pessoas aleguem que certas dietas ajudaram a melhorar a doença de Crohn, dietas não têm mostrado ser eficazes em estudos clínicos. A terapia nutricional pode ajudar crianças a crescerem mais do que cresceriam de outra forma, especialmente quando administrada à noite através de uma sonda. Às vezes, são administrados nutrientes concentrados por via intravenosa para compensar a absorção deficiente de nutrientes característica da doença de Crohn.

Cirurgia

A maioria das pessoas com doença de Crohn necessita de cirurgia em algum momento ao longo da evolução de sua doença. A cirurgia é necessária quando o intestino fica obstruído ou quando os abscessos ou fístulas não cicatrizam. Uma cirurgia para extrair as zonas afetadas do intestino pode aliviar os sintomas por um período indefinido, mas não cura a doença. A doença de Crohn tende a recorrer na região em que o restante do intestino delgado é religado, embora vários tratamentos medicamentosos iniciados após a cirurgia reduzam essa tendência.

Cerca de metade das pessoas precisam de uma segunda cirurgia. Assim, a cirurgia é realizada apenas nos casos em que há complicações específicas ou quando a falha do tratamento medicamentoso a torna necessária. Contudo, a maioria das pessoas submetidas a uma cirurgia consideram que a sua qualidade de vida melhora após o procedimento.

Como o tabagismo aumenta o risco de recorrência, especialmente em mulheres, o médico incentiva a pessoa a parar de fumar.

Controle geral

A pessoa que apresentar doença grave pode ser hospitalizada e fluidoterapia intravenosa é administrada para restaurar e manter os líquidos corporais (hidratação). Algumas pessoas que apresentam hemorragia retal intensa podem necessitar transfusões de sangue. Pessoas cuja anemia é mais crônica podem precisar de suplementos de ferro tomados por via oral ou administrados por via intravenosa.

Gravidade dos sintomas

A mesalamina é geralmente o medicamento preferido para pessoas com sintomas leves a moderados. Alguns médicos administram antibióticos em vez de mesalamina ou a pessoas que não respondem à mesalamina.

No caso de pessoas com sintomas moderados a graves, são administrados corticosteroides (por exemplo, prednisona ou budesonida) por via oral ou intravenosa, por curtos períodos.

Pessoas que não apresentam resposta a corticosteroides recebem outros medicamentos, como, por exemplo, azatioprina, mercaptopurina, metotrexato, infliximabe, adalimumabe, certolizumabe, vedolizumabe, risanquizumabe, upadacitinibe ou ustequinumabe. Uma combinação desses medicamentos pode ser administrada. Esses medicamentos ajudam a maioria das pessoas.

Se a pessoa tiver um bloqueio, o médico realiza uma sucção nasogástrica e administra líquidos pela veia. Na sucção nasogástrica, um tubo é inserido pelo nariz até o estômago ou intestino delgado e é aplicada uma sucção no tubo para aliviar o inchaço abdominal (distensão).

Para pessoas com sintomas que se desenvolveram repentinamente ou para as que têm abscessos, são administrados líquidos e antibióticos pela veia no hospital. O médico drena o abscesso cirurgicamente ou inserindo uma agulha sob a pele e retirando o líquido.

Fístulas

Pessoas com fístulas ao redor do ânus (fístulas perianais) recebem metronidazol e ciprofloxacino. Se os medicamentos não tiverem ajudado a pessoa depois de três a quatro semanas, o médico pode administrar azatioprina, mercaptopurina ou agentes biológicos. Ciclosporina é uma alternativa, mas as fístulas geralmente retornam após o tratamento. Tacrolimo pode ajudar a curar as fístulas causadas pela doença de Crohn. As pessoas podem precisar de uma cirurgia definitiva para evitar o retorno das fístulas.

Regimes de manutenção

Para evitar que os sintomas retornem (ou seja, para permanecer em remissão), as pessoas que precisam apenas de um aminossalicilato ou antibiótico para alcançar a remissão podem continuar a tomar esses medicamentos. As pessoas que são tratadas com uma combinação de medicamentos tais como a azatioprina, a mercaptopurina, o metotrexato, o infliximabe, o adalimumabe, o certolizumabe, o vedolizumabe, o risanquizumabe, o upadacitinibe e/ou o ustequinumabe precisam tomar esses medicamentos de forma contínua para permanecer em remissão. As pessoas sendo tratadas com corticosteroides devem ter suas doses gradualmente reduzidas. Para poder permanecer em remissão, elas precisam de uma combinação dos medicamentos mencionados.

Durante a remissão, o médico monitora os sintomas da pessoa e realiza exames de sangue. Radiografias e colonoscopia de rotina não precisam ser realizadas (exceto em pessoas que apresentaram doença de Crohn por 7 ou 8 anos ou mais).

Prognóstico para doença de Crohn

A doença de Crohn não tem cura conhecida e é caracterizada por crises intermitentes de sintomas. As crises podem ser leves ou graves, raras ou frequentes. Com o tratamento adequado, a maioria das pessoas continuam a levar vidas produtivas. No entanto, aproximadamente 10% das pessoas com doença de Crohn ficam incapacitadas pela doença e suas complicações.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Crohn's and Colitis Foundation of America: Informações gerais sobre a doença de Crohn e a colite ulcerativa, incluindo acesso a serviços de apoio

  2. National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK)—Crohn’s Disease: Informações gerais sobre a doença de Crohn, incluindo informações sobre pesquisa e estudos clínicos

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