As doenças de cadeia pesada são neoplasias plasmocitárias caracterizadas pela superprodução de cadeias pesadas de imunoglobulinas monoclonais. Sintomas, diagnósticos e tratamentos variam de acordo com o distúrbio específico.
(Ver também Visão geral dos doenças plasmocitárias.)
As doenças de cadeia pesada são doenças plasmocitárias tipicamente malignas. Na maioria das doenças plasmocitárias, as proteínas M (proteína imunoglobulina monoclonal) são estruturalmente similares às moléculas dos anticorpos normais. Por outro lado, nas doenças de cadeia pesada, as imunoglobulinas monoclonais incompletas (paraproteínas verdadeiras) são produzidas. Elas consistem apenas em componentes das cadeias pesadas (alfa [α], gama [γ], mu [μ] ou delta [δ]) sem cadeias leves. A doença da cadeia pesada Epsilon (ε) não foi descrita.
A maior parte das proteínas de cadeias pesadas é de fragmentos dos seus correspondentes normais com deleções internas de extensão variável; essas deleções parecem resultar de mutações genéticas estruturais. O quadro clínico se parece mais com linfoma do que com mieloma múltiplo. As doenças de cadeia pesada são consideradas em pacientes com manifestações clínicas que sugiram distúrbios linfoproliferativos.
Doença de cadeia pesada da imunoglobulina A (doença da cadeia alfa)
A doença da cadeia pesada IgA normalmente aparece entre as idades de 10 e 30 anos e sua concentração geográfica é no Oriente Médio. A causa pode ser a resposta imunológica aberrante a um parasita ou outro microrganismo.
Atrofia dos vilos e infiltração plasmocitária da mucosa jejunal quase sempre ocorre e, algumas vezes, em linfonodos mesentéricos. Linfonodos periféricos, medula óssea, fígado e baço normalmente não estão envolvidos. A forma da doença no trato respiratório raramente é relatada.
Manifestações comuns incluem febre, anemia leve, dificuldade de deglutição (disfagia), infecções recorrentes nas infecções do trato respiratório superior e aumento do fígado e do baço. Lesões osteolíticas não ocorrem.
Quase todos os pacientes apresentam linfoma abdominal difuso e má absorção. O hemograma completo (HC) pode mostrar anemia, leucopenia, trombocitopenia, eosinofilia, linfócitos ou plasmócitos circulantes atípicos.
A eletroforese de proteínas séricas é normal em metade dos casos; com frequência, há aumento das frações alfa-2 e beta ou decréscimo da fração gama. O diagnóstico requer a detecção da cadeia alfa monoclonal na eletroforese de imunofixação. Essa cadeia é encontrada algumas vezes na urina concentrada. Se essa cadeia alfa monoclonal não puder ser encontrada no soro ou na urina, é necessária biópsia intestinal. A proteína anormal pode, às vezes, ser detectada em secreções intestinais. A infiltração celular intestinal pode ser pleomórfica e não necessariamente maligna. A proteinúria de Bence Jones está ausente.
O tratamento é feito com corticoides, medicamentos citotóxicos e antibióticos de amplo espectro.
O curso é altamente variável. Alguns pacientes morrem em 1 a 2 anos, ao passo que outros manifestam remissões que podem durar anos, em particular após tratamento.
Doença de cadeia pesada da IgG (doença da cadeia gama)
A doença de cadeia pesada da IgG ocorre primariamente em homens idosos, mas pode se manifestar em crianças. Associados aos distúrbios crônicos, estão artrite reumatoide, síndrome de Sjögren, lúpus eritematoso sistêmico, tuberculose, miastenia grave, síndrome hipereosinofílica, anemia hemolítica autoimune e tireoidite. Ocorrem reduções em níveis normais de imunoglobulina. Lesões ósseas líticas são incomuns. A amiloidose se desenvolve algumas vezes.
Manifestações comuns incluem linfadenopatia e hepatosplenomegalia, febre e infecções recorrentes. Edema palatal ocorre em alguns pacientes.
O hemograma pode mostrar anemia, leucopenia, trombocitopenia, eosinofilia, linfócitos ou plasmócitos circulantes atípicos.
O diagnóstico requer demonstração pela imunofixação de fragmentos livres de cadeia pesada monoclonal de IgG no soro e na urina. Entre os pacientes afetados, há muitos componentes monoclonais séricos > 1 g/dL (> 10 g/L), que costumam ser amplos e heterogêneos, e metade tem proteinúria > 1 g/24 horas. Embora as proteínas de cadeias pesadas possam envolver qualquer subclasse de IgG, a subclasse G3 é especialmente comum. As biópsias dos linfonodos e da medula óssea, realizadas quando outros testes não fornecem o diagnóstico, revelam histopatologia variável.
Agentes alquilantes, vincristina ou corticoides e radioterapia podem causar remissões transitórias.
A sobrevida média varia. Morte costuma resultar de infecção bacteriana ou neoplasia progressiva.
Doença de cadeia pesada da IgM (doença da cadeia mu)
A doença da cadeia pesada IgM afeta, com mais frequência, adultos > 50 anos de idade. O envolvimento de órgãos viscerais (baço, fígado, linfonodos abdominais) é comum, mas a linfadenopatia periférica extensa não é. As fraturas patológicas e a amiloidose podem ocorrer.
Em geral, a eletroforese de proteínas séricas é normal e mostra hipogamaglobulinemia. A proteinúria de Bence Jones (tipo capa [κ]) se evidencia em 10 a 15% dos pacientes. O diagnóstico inclui a detecção da cadeia mu monoclonal na eletroforese de imunofixação. O hemograma pode mostrar anemia, leucopenia, trombocitopenia, eosinofilia, linfócitos ou plasmócitos circulantes atípicos.
O diagnóstico, geralmente, requer exame da medula óssea; há plasmócitos vacuolados em dois terços dos pacientes e são praticamente patognomônicos.
O tratamento depende das condições do paciente, mas pode consistir em agentes alquilantes mais corticoides ou pode ser similar ao tratamento do distúrbio linfoproliferativo que for mais parecido.
A morte pode se dar em poucos meses ou alguns anos. Quase sempre a causa da morte é a proliferação incontrolável das células da leucemia linfocítica crônica.