O trabalho de parto (contrações uterinas regulares resultando em alteração do colo do útero) que inicia antes de 37 semanas é considerado pré-termo. Os fatores de risco incluem ruptura pré-trabalho das membranas, anormalidades uterinas, infecção, parto pré-termo prévio, gestação múltipla e anormalidades fetais ou placentárias. O diagnóstico é clínico. As causas são identificáveis e tratadas, se possível. O tratamento, caracteristicamente, é feito por repouso ao leito, tocolíticos (se o trabalho de parto persistir), corticoides (p. ex., se a idade gestacional for < 34 semanas, ver abaixo) e possivelmente sulfato de magnésio (se a idade gestacional for < 32 semanas). Antibióticos antiestreptocócicos são administrados enquanto se aguardam os resultados negativos da cultura anovaginal para estreptococos do grupo B.
O trabalho de parto prematuro pode ser desencadeado por
Infecção intra-amniótica (corioamnionite)
Outra infecção uterina ascendente (geralmente devido a estreptococos do grupo B)
Anormalidades fetais ou placentárias
Alterações uterinas
Pielonefrite
Algumas infecções sexualmente transmissíveis
A causa pode não ser evidente.
Prévio parto prematuro ou insuficiência do colo do útero podem aumentar o risco do parto pré-termo.
O trabalho de parto prematuro pode aumentar o risco de hemorragia intraventricular em recém-nascidos; hemorragia intraventricular pode resultar em deficiência de desenvolvimento neurológico (p. ex., paralisia cerebral).
Diagnóstico do trabalho de parto prematuro
História e exame físico
O diagnóstico do trabalho de parto prematuro baseia-se em sinais de trabalho de parto e duração da gestação.
Culturas anovaginais para estreptococos do grupo B são realizadas e profilaxia antibiótica é iniciada (e então descontinuada se as culturas forem negativas). Urinálise e cultura de urina são feitos para verificar cistite e pielonefrite. Culturas do colo do útero são feitas para verificar ISTs se sugeridas por fatores de risco e se a paciente não foi testado recentemente.
Muitas mulheres com contrações pré-termo não estão em trabalho de parto e algumas mulheres diagnosticadas com trabalho de parto prematuro não progridem para o parto.
Tratamento do trabalho de parto prematuro
Antibióticos para estreptococos do grupo B
Às vezes, tocolíticos
Corticoides (p. ex., entre 23 e 34 semanas)
Sulfato de magnésio para neuroproteção
O tratamento do trabalho de parto prematuro inclui antibióticos (se houver suspeita ou diagnóstico de infecção), tocolíticos e corticoides (1).
Antibióticos
Antibióticos efetivos para estreptococos do grupo B são administrados, caso esteja pendente o resultado negativo da cultura anovaginal (2). A escolha dos antibióticos inclui:
Para mulheres sem alergia à penicilina: penicilina G 5 milhões de unidades IV seguida por 2,5 milhões de unidades, a cada 4 horas, ou ampicilina 2 g IV seguida por 1 g, a cada 4 horas
Para mulheres com alergia à penicilina, mas baixo risco de anafilaxia (p. ex., exantema maculopapular com um uso anterior): cefazolina 2 g IV seguida por 1 g, a cada 8 horas
Para mulheres alérgicas à penicilina e maior risco de anafilaxia (p. ex., broncoespasmo, edema angineurótico ou hipotensão em uso anterior, particularmente no prazo de 30 minutos de exposição): clindamicina 900 mg IV a cada 8 horas, se as culturas do colo do útero mostrarem suscetibilidade; mas se estas documentarem resistência ou os resultados forem inúteis, vancomicina 20 mg/kg IV a cada 8 horas (dose máxima de 2 g)
Infecções do trato urinário e ISTs são tratadas, se diagnosticadas.
Tocolíticos
Se o colo do útero se dilatar, agentes tocolíticos (fármacos que podem interromper as contrações uterinas) podem retardar o trabalho de parto por, pelo menos, 48 horas, de modo que podem ser ministrados corticoides para reduzir os riscos ao feto. Tocolíticos incluem
Bloqueador dos canais de cálcio
Inibidores da prostaglandina
Nenhum tocolítico é claramente uma escolha de primeira linha; a escolha deve ser individualizada para minimizar os efeitos adversos.
Os inibidores de prostaglandina podem causar oligoidrâmnio transitório e lesão renal fetal se utilizada por mais de 48 horas consecutivas. São contraindicados após 32 semanas de gestação, pois podem causar estreitamento ou fechamento prematuro dos canais arteriais.
Sulfato de magnésio
Sulfato de magnésio IV deve ser considerado em gestações < 32 semanas para fins de neuroproteção. A exposição in utero ao fármaco parece reduzir o risco de disfunção neurológica grave (p. ex., devido à hemorragia intraventricular), incluindo paralisia cerebral, em recém-nascidos.
Corticoides
Se o feto estiver entre 24 e 34 semanas, as mulheres recebem corticoides a menos que o parto seja iminente. Pode-se considerar novamente o uso de corticoides se todos os seguintes estão presentes:
Também deve-se considerar o uso de corticoides nas seguintes circunstâncias
Em 34 0/7 semanas a 36 6/7 semanas de gestação se as mulheres têm risco de parto em 7 dias e nenhum corticoide prévio foi administrado (2, 3)
Iniciar com 23 0/7 semanas de gestação se houver risco de parto prematuro em 7 dias (2, 3).
Entre 22 0/7 e 22 e 22 6/7 semanas e gestação, caso esteja planejada a reanimação neonatal e após aconselhamento adequado aos pais (4)
Pode-se utilizar um destes corticoides:
Betametasona, 12 mg, IM a cada 24 horas, para 2 doses
Dexametasona, 6 mg, IM a cada 12 horas, para 4 doses
Esses corticoides aceleram a maturação dos pulmões fetais e diminuem o risco de síndrome da angústia respiratória neonatal, sangramento intracraniano e mortalidade.
Progestinas
Uma progestina injetável não é mais recomendada para mulheres com história de parto prematuro para reduzir o risco de recorrência. Embora previamente recomendado, evidências de suporte foram refutadas e a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA suspendeu a aprovação do 17-alfa hidroxiprogesterona caproato (17-OHPC) para essa indicação em abril de 2023 (5).
A Society for Maternal Fetal Medicine (SMFM) também desencoraja a prescrição contínua de 17-OHPC, inclusive por meio de farmácias de manipulação (6). Contudo, a SMFM recomenda que seja razoável oferecer cerclagem ou progesterona vaginal para pacientes com história de parto prematuro e que são diagnosticadas com um colo curto (< 25 mm) antes de 24 semanas de gestação. A SMFM incentiva um processo compartilhado de tomada de decisão sobre o uso de progesterona vaginal para prevenção primária de parto prematuro recorrente se o comprimento do colo do útero for ≥ 25 mm, especialmente para pacientes que foram tratadas com uma formulação de progesterona para prevenção de nascimento prematuro em uma gestação anterior. Além disso, a SMFM não recomenda alterar as indicações para cerclagem ou as advertências contra a restrição da atividade.
Referências sobre tratamento
1. American College of Obstetricians and Gynecologists’ Committee on Practice Bulletins—Obstetrics: Practice Bulletin No. 171: Management of Preterm Labor. Obstet Gynecol 128(4):e155-64. doi: 10.1097/AOG.0000000000001711
2. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): ACOG Committee Opinion, Number 797: Prevention of group B streptococcal early-onset disease in newborns. Obstet Gynecol 135 (2):e51–e72, 2020. Reafirmado em 2022.
3. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): ACOG Committee Opinion No. 713 Summary: Antenatal corticosteroid therapy for fetal maturation. Obstet Gynecol 130(2):493–494, 2017. doi: 10.1097/AOG.0000000000002231. Reafirmado em 2024.
4. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): ACOG Practice Advisory: Use of Antenatal Corticosteroids at 22 Weeks of Gestation, September 2021. Reafirmado em outubro de 2022.
5. Conde-Agudelo A, Romero R: Does vaginal progesterone prevent recurrent preterm birth in women with a singleton gestation and a history of spontaneous preterm birth? Evidence from a systematic review and meta-analysis. Am J Obstet Gynecol 227(3):440-461.e2, 2022. doi:10.1016/j.ajog.2022.04.023
6. Society for Maternal-Fetal Medicine (SMFM): Electronic address: pubs@smfm.org; SMFM Publications Committee. Society for Maternal-Fetal Medicine Statement: Response to the Food and Drug Administration's withdrawal of 17-alpha hydroxyprogesterone caproate. Am J Obstet Gynecol 229(1):B2-B6, 2023. doi:10.1016/j.ajog.2023.04.012
Pontos-chave
Fazer culturas anovaginais para estreptococos do grupo B e culturas para verificar infecções clinicamente suspeitas que podem ter desencadeado o trabalho de parto prematuro (p. ex., pielonefrite, infecções sexualmente transmissíveis).
Tratar com antibióticos eficazes contra estreptococos do grupo B dependendo dos resultados da cultura.
Se o colo do útero dilatar, considerar tocólise com um bloqueador dos canais de cálcio ou, se o feto tem ≤ 32 semanas, um inibidor de prostaglandina.
Administrar corticoides se o feto tiver ≥ 24 e < 34 semanas (em alguns casos < 37 semanas).
Considerar administrar corticoides a partir de 23 semanas de idade gestacional se há risco de parto prematuro em 7 dias.
Considerar sulfato de magnésio se o feto tem < 32 semanas.