Febre Q

PorWilliam A. Petri, Jr, MD, PhD, University of Virginia School of Medicine
Revisado/Corrigido: jan. 2024
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A febre Q está relacionada às doenças por riquétsias e é causada por Coxiella burnetii, a qual vive principalmente em ovelhas, gado bovino e cabras.

  • Algumas pessoas têm sintomas leves, mas a maioria apresenta sintomas gripais, como febre, dor de cabeça intensa, calafrios, tosse seca, fraqueza extrema e dores musculares.

  • Algumas pessoas desenvolvem febre Q crônica, uma doença grave que pode afetar o coração.

  • Se as pessoas tiverem sido eventualmente expostas a ovelhas, gado bovino ou cabras e os médicos suspeitarem de febre Q, eles poderão realizar análises de sangue e examinar uma amostra de tecido infectado para confirmar a infecção.

  • Pessoas com febre Q são tratadas com um antibiótico, geralmente por algumas semanas, mas, se houver desenvolvimento de febre Q crônica, será necessário tratamento por meses ou anos.

As bactérias que causam febre Q, como riquétsias, podem viver apenas no interior de células de outros organismos.

A febre Q ocorre mundialmente. As bactérias que causam febre Q vivem principalmente em ovelhas, rebanho de gado e cabras. Os animais infectados (que muitas vezes não exibem sintomas) expelem as bactérias no leite, na urina e nas fezes. As pessoas são infectadas ao inalarem gotículas transportadas pelo ar contendo as bactérias ou ao consumirem leite cru (não pasteurizado) contaminado. Gotículas transportadas pelo ar contendo a bactéria podem percorrer longas distâncias, afetando as pessoas que vivem a favor do vento de uma fazenda de cabras ou ovelhas infectadas. Muito raramente, a doença é transmitida de pessoa a pessoa.

Pessoas com risco de desenvolverem febre Q incluem:

  • Veterinários

  • Trabalhadores de fábricas de processamento de carne

  • Trabalhadores de abatedouros e laticínios

  • Criadores de gado

  • Pesquisadores em laboratórios onde são mantidas ovelhas

  • Pessoas que vivem no raio de vários quilômetros a sotavento (ou seja, na direção do vento) de uma fazenda com animais infectados.

As bactérias que causam febre Q sobrevivem por meses na poeira e nas fezes. Mesmo uma única bactéria pode causar infecção. Devido a essas características, essas bactérias são consideradas um potencial agente de guerra biológica.

Sintomas de febre Q

Cerca de 9 a 28 dias após a bactéria entrar no corpo, os sintomas começam de repente. Algumas pessoas não apresentam sintomas ou apenas sintomas leves. Outras pessoas apresentam sintomas semelhantes aos da gripe.

Os sintomas da febre Q incluem febre, uma dor de cabeça intensa, calafrios, fraqueza extrema, dores musculares, perda de apetite e sudorese, mas não há erupção cutânea. Muitas vezes os pulmões são afetados, causando tosse seca (sem expectoração), dor no peito e falta de ar (causada por pneumonia). Os sintomas podem ser mais graves em pessoas mais velhas e em pessoas que ficaram enfraquecidas (debilitadas) por um distúrbio.

Ocasionalmente, o fígado é afetado. Posteriormente, as pessoas sentem dor na região superior direita do abdômen e, às vezes, têm icterícia.

Mulheres que forem infectadas durante a gravidez têm maior risco de aborto ou parto prematuro.

Uma síndrome de fadiga pós-febre Q pode ocorrer em até 20% das pessoas com febre Q. As pessoas podem sentir fadiga intensa, dores musculares, dor de cabeça, sensibilidade à luz, alterações no humor e dificuldade para dormir.

A febre Q crônica é uma doença grave que ocorre em menos de 5% das pessoas infectadas. Ela pode se desenvolver entre algumas semanas e muitos anos após a infecção inicial. O risco é maior para:

  • Gestantes

  • Pessoas cujo sistema imunológico tenha sido enfraquecido por um distúrbio ou por medicamentos

  • Pessoas que tenham uma valvulopatia cardíaca

A febre Q crônica frequentemente envolve o revestimento do coração e das válvulas do coração (chamada de endocardite por febre Q). Ela, às vezes, envolve os ossos, articulações artificiais (próteses) e o fígado.

Sem tratamento, apenas 1% das pessoas com febre morre. A endocardite por febre Q não tratada é quase sempre fatal, mas com tratamento antibiótico, a mortalidade é inferior a 5%.

Diagnóstico de febre Q

  • Biópsia e análises do tecido infectado

  • Exames de sangue

  • Ocasionalmente, radiografia torácica

Os sintomas de febre Q lembram os de outros distúrbios e, portanto, não ajudam os médicos a fazer o diagnóstico. Se os médicos suspeitarem de febre Q, eles perguntam se as pessoas estiveram em uma fazenda ou próximas a ela, pois a bactéria que causa febre Q vive principalmente em rebanho de gado, ovelhas e cabras.

Para confirmar o diagnóstico, os médicos podem realizar um ensaio de imunofluorescência para verificar a presença de anticorpos em amostras de sangue. No entanto, a realização do teste uma vez não é o suficiente. O teste deve ser repetido de três a seis semanas mais tarde para verificar a existência de um aumento do nível de anticorpos. Assim, os testes de anticorpos geralmente não ajudam a diagnosticar a infecção imediatamente após alguém ficar doente, mas podem ajudar a confirmar o diagnóstico posteriormente. Além disso, os médicos utilizam a técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) para possibilitar detectar as bactérias mais rapidamente.

Os médicos podem fazer biópsias de tecido infectado.

Se as pessoas tiverem tosse ou outros sintomas respiratórios, eles tiram uma radiografia do tórax.

Tratamento de febre Q

  • Antibióticos

A infecção inicial é tratada com doxiciclina (um tipo de antibiótico chamado tetraciclina), tomada por via oral. As pessoas tomam o antibiótico até melhorarem e não terem febre por cerca de 5 dias, mas precisam tomá-lo durante pelo menos 7 dias. Normalmente, é necessário fazer 2 semanas de tratamento. Pode ser necessário um ciclo de tratamento mais longo para uma doença grave.

Embora algumas tetraciclinas tomadas por mais de 10 dias possam causar manchas dentais em crianças com menos de 8 anos de idade, recomenda‑se um curto período (5 a 10 dias) de doxiciclina em crianças de todas as idades, podendo ser usada sem causar manchas dentárias nem enfraquecer o esmalte dentário (consulte também Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC): pesquisas sobre doxiciclina e manchas nos dentes).

Endocardite por febre Q

Se o coração for afetado, o tratamento será administrado por meses a anos. Normalmente, o tratamento é administrado durante pelo menos dezoito meses, mas algumas pessoas precisam ser tratadas por toda a vida. As pessoas geralmente recebem doxiciclina mais hidroxicloroquina. Ambos são tomados por via oral. Para determinar quando o tratamento pode ser interrompido, os médicos examinam periodicamente a pessoa e fazem análises de sangue.

No entanto, frequentemente o tratamento com antibióticos tem apenas eficácia parcial e muitas vezes é necessário cirurgia para substituir as válvulas cardíacas danificadas (consulte a figura Substituindo uma válvula cardíaca).

Prevenção de febre Q

As medidas para prevenir a febre Q envolvem principalmente a utilização de higienização e testes adequados (para detecção das bactérias) em instalações onde se mantêm ovelhas, reganho de gado e cabras. Consumir apenas leite e derivados de leite pasteurizados também pode ajudar.

Na Austrália, há uma vacina disponível e ela tem sido usada para prevenir a infecção em pessoas sujeitas à exposição (como funcionários de abatedouros e laticínios, criadores de gado e funcionários de laboratórios). Esta vacina não está disponível nos Estados Unidos.

Antes de aplicar a vacina nas pessoas, os médicos fazem análises de sangue e testes na pele para determinar se as pessoas já têm imunidade à febre Q. Se as pessoas já tiverem imunidade, vaciná-las pode provocar reações graves próximas ao local da injeção.

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