Tratamento da dor

PorJames C. Watson, MD, Mayo Clinic College of Medicine and Science
Revisado/Corrigido: jun. 2022 | modificado ago. 2023
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Analgésicos adjuvantes são medicamentos geralmente utilizados para tratar outros problemas, mas também podem aliviar a dor.

Analgésicos são os principais medicamentos usados para tratar a dor. O médico escolhe o analgésico em função do tipo e da duração da dor, ponderando os possíveis riscos e benefícios. A maioria dos analgésicos é eficaz para a dor nociceptiva (causada por lesões), mas menos eficaz para a dor neuropática (devido a lesão ou disfunção dos nervos, medula espinhal ou cérebro). Para muitos tipos de dor, em especial a dor crônica, tratamentos não farmacológicos também são importantes.

Em alguns casos, o tratamento da doença de base elimina ou minimiza a dor. Por exemplo, a imobilização de uma fratura ou o tratamento antibiótico para uma articulação infectada reduzem a dor. No entanto, mesmo quando a doença subjacente é tratada, analgésicos podem ser necessários para a rápida supressão da dor.

(Consulte também Considerações gerais sobre a dor).

Você sabia que...

  • A dor é frequentemente tratada com uma combinação de medicamentos e tratamentos não farmacológicos.

Os medicamentos usados para aliviar a dor se enquadram em três categorias:

  • Não opioides

  • Opioides (narcóticos)

  • Adjuvantes (medicamentos que são geralmente utilizados para tratar outros problemas como convulsões ou depressão, mas que também podem aliviar a dor)

Analgésicos não opioides

Há uma variedade de analgésicos não opioides disponíveis. Muitas vezes são eficazes para a dor leve a moderada e, às vezes, para dor intensa. Esses medicamentos são frequentemente preferidos no tratamento da dor. As pessoas não se tornam fisicamente dependentes desses medicamentos ou tolerantes aos efeitos de alívio da dor.

Paracetamol e aspirina estão disponíveis sem prescrição (venda livre). Vários outros analgésicos não opioides (como ibuprofeno, cetoprofeno e naproxeno) estão disponíveis sem prescrição médica, mas doses mais altas podem exigir uma prescrição.

Os analgésicos de venda livre são razoavelmente seguros para serem tomados por curtos períodos. As pessoas devem seguir as instruções no rótulo sobre a dose máxima, a frequência e a duração da administração do medicamento. Consulte o médico caso os sintomas não desapareçam ou piorem.

Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides

Muitos dos analgésicos não opioides mais comumente usados são classificados como medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). Aspirina, ibuprofeno e naproxeno são alguns exemplos. Em geral, esses medicamentos são usados para tratar dor leve a moderada. Os AINEs não só aliviam a dor como também podem reduzir a inflamação que muitas vezes acompanha e agrava a dor.

AINEs são frequentemente tomados por via oral. Alguns AINEs (cetorolaco, diclofenaco e ibuprofeno) também podem ser aplicados por injeções em uma veia (via intravenosa) ou músculo (via intramuscular). A indometacina pode ser administrada como supositório anal. Diclofenaco também está disponível como creme.

Embora amplamente usados, AINEs podem ter efeitos colaterais, por vezes sérios.

  • Problemas no trato digestivo: Todos os AINEs tendem a irritar o revestimento do estômago e causar irritação digestiva (como azia, indigestão, náusea, distensão, diarreia e dor de estômago), úlceras pépticas e sangramento no trato digestivo (hemorragia gastrointestinal). Coxibes (inibidores do COX-2), um tipo de AINE, provocam menos irritação do estômago e menos hemorragias do que AINEs. O uso dos AINEs juntamente com alimentos e antiácidos contribui para a prevenção da irritação gástrica. O medicamento misoprostol tende a ser útil na prevenção da irritação gástrica e de úlceras pépticas, mas pode causar outros problemas, como a diarreia. Os inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol, ou os bloqueadores da histamina-2 (H2), como a famotidina, que são usados no tratamento de úlceras pépticas, também podem ajudar a evitar os problemas gástricos causados pelo consumo de AINE.

  • Problemas de sangramento: Todos os AINEs interferem na tendência coagulante das plaquetas (partículas parecidas com uma célula no sangue que ajudam a parar um sangramento quando os vasos sanguíneos sofrem uma lesão). Assim, os AINEs aumentam o risco de hemorragias, sobretudo no trato digestivo, onde irritam o estômago. Os coxibes são menos propensos a causar sangramento do que outros AINEs.

  • Retenção de líquidos e problemas renais: Os AINEs algumas vezes causam retenção de líquidos e inchaço. O consumo frequente de AINEs também aumenta o risco de sofrer doenças renais, que podem provocar insuficiência renal (doença designada nefropatia por analgésicos).

  • Risco elevado de distúrbios do coração e dos vasos sanguíneos: Estudos indicam que todos os AINEs, exceto a aspirina, podem aumentar o risco de ataque cardíaco, de acidente vascular cerebral e de coágulos sanguíneos nas pernas. O risco parece ser mais alto com doses mais altas e uso mais prolongado do medicamento. O risco também é mais alto com certos AINEs do que com outros. Esses problemas podem estar diretamente relacionados ao efeito do medicamento sobre a coagulação ou indiretamente a um aumento pequeno, mas persistente, da pressão arterial causada pelo medicamento.

Se as pessoas tomarem AINEs por um longo período, a probabilidade desses eventos ocorrerem aumenta. Essas pessoas precisam realizar consultas regulares com o médico para verificar a presença de hipertensão arterial, insuficiência renal e úlceras ou sangramento no trato digestivo e para avaliar o risco de doença cardíaca e acidente vascular cerebral. O uso de um AINE por pouco tempo reduz a chance de problemas sérios.

O risco de efeitos colaterais pode ser aumentado para alguns grupos de pessoas, como os seguintes:

  • Pessoas mais velhas

  • Pessoas que consomem bebidas alcoólicas regularmente

  • Pessoas com doença arterial coronária, outras doenças cardíacas e dos vasos sanguíneos (cardiovasculares) ou fatores de risco para essas doenças

Pessoas mais velhas ou com insuficiência cardíaca, hipertensão arterial ou portadoras de doenças renais ou hepáticas precisam de supervisão médica no uso de AINEs. Alguns medicamentos prescritos para o coração e a hipertensão arterial não agem normalmente se combinados a AINEs.

Você sabia que...

  • Se forem tomados por muito tempo, os AINEs, incluindo aqueles disponíveis sem prescrição, podem ter efeitos colaterais sérios.

Existem diversos AINEs disponíveis que diferem na rapidez e duração da ação para alívio da dor. Embora todos os AINEs sejam igualmente eficazes, as pessoas respondem de forma diferentemente a eles. Um indivíduo pode observar que determinado medicamento é mais eficaz ou tem menos efeitos colaterais do que outro.

Aspirina

A aspirina (ácido acetilsalicílico) tem sido usada há cerca de 100 anos. Aspirina é tomada por via oral e fornece 4 a 6 horas de alívio da dor moderada.

Como a aspirina pode irritar o estômago, ela pode ser combinada com um antiácido (chamado tamponado) ou revestido, de modo que passe rapidamente pelo estômago e se dissolva quando chega ao intestino delgado (chamado com revestimento entérico). Esses produtos destinam-se a reduzir a irritação gástrica. No entanto, a aspirina com revestimento entérico ainda pode irritar o estômago, porque aspirina também reduz a produção de substâncias que ajudam a proteger o revestimento gástrico. Essas substâncias são chamadas prostaglandinas.

Aspirina aumenta o risco de hemorragia em todo o corpo, porque torna as plaquetas menos capazes de funcionar. Plaquetas são fragmentos celulares no sangue que ajudam o sangue a coagular. Qualquer pessoa que tenha uma tendência aumentada ao sangramento (um distúrbio hemorrágico, como a hemofilia) ou pressão alta não controlada não deve tomar aspirina, exceto sob a supervisão de um médico. Pessoas que tomam aspirina e anticoagulantes (medicamentos que diminuem a probabilidade de o sangue coagular), como a varfarina, são atentamente monitoradas para evitar hemorragias, que podem ser fatais. Em geral, a aspirina não deve ser administrada na semana que antecede uma cirurgia programada.

A aspirina pode agravar a asma. Pacientes com pólipos nasais são propensos a apresentar sibilos se tomarem aspirina. Algumas pessoas, que são sensíveis (alérgicas) à aspirina, podem ter uma reação alérgica grave (anafilaxia), levando a erupção cutânea, coceira, problemas respiratórios graves ou choque. Caso ocorra um choque, procure assistência médica imediatamente.

Com doses muito elevadas, a aspirina pode causar reações adversas graves, como respiração anômala, febre ou confusão. Um dos primeiros sinais de superdosagem pode ser zumbido nos ouvidos (acúfeno).

A maioria das crianças e adolescentes não deve tomar aspirina pelo risco de desenvolverem a síndrome de Reye se houver suspeita ou confirmação de infecção pelo vírus da gripe ou catapora. Embora pouco frequente, essa síndrome pode ter graves consequências, podendo provocar a morte.

AINEs tópicos

Alguns AINEs estão disponíveis na forma de cremes ou géis que são aplicados diretamente na pele na área dolorida. Por exemplo, o diclofenaco gel pode ser aplicado em uma articulação para aliviar a dor da osteoartrite e ajudar a melhorar o movimento. Diclofenaco também está disponível em adesivo, que pode ser utilizado para aliviar dores agudas causadas por pequenos entorses, luxações e contusões.

Ibuprofeno, cetoprofeno e naproxeno

AINEs como ibuprofeno, cetoprofeno e naproxeno são menos agressivos para o estômago do que a aspirina, embora poucos estudos tenham comparado esses medicamentos. Assim como o ácido acetilsalicílico, esses medicamentos também podem causar problemas gástricos, úlceras e hemorragia gastrointestinal. Eles podem piorar a asma e elevar a pressão arterial. Tomar um desses medicamentos pode ligeiramente elevar o risco de acidente vascular cerebral, ataque cardíaco e coágulos sanguíneos nas artérias das pernas. O risco pode ser menor com o naproxeno do que com outros AINEs. Portanto, naproxeno pode ser uma escolha melhor quando pessoas com alto risco desses distúrbios necessitam de AINEs.

Embora ibuprofeno, cetoprofeno e naproxeno costumem interferir menos com a coagulação do que a aspirina, as pessoas não devem tomar estes medicamentos com anticoagulantes (como a varfarina), exceto sob rigorosa supervisão médica.

Pessoas alérgicas à aspirina também podem ser alérgicas ao ibuprofeno, cetoprofeno e naproxeno. Se surgir erupção cutânea, coceira, problemas respiratórios ou choque, procure assistência médica imediatamente.

Coxibes (inibidores de COX-2)

Coxibes, como celecoxibe, são um grupo de medicamentos que diferem de outros AINEs. Outros AINEs bloqueiam as duas seguintes enzimas:

  • COX 1, envolvida na produção de prostaglandinas que protegem o estômago e tem um papel importante na coagulação do sangue

  • COX 2, envolvida na produção de prostaglandinas que promovem a inflamação

Os coxibes tendem a bloquear apenas as enzimas COX-2. Assim, os coxibes são tão eficazes como outros AINEs no tratamento da inflamação e da dor. Entretanto, não são tão propensos a prejudicar o estômago e causar náuseas, inchaço, pirose, hemorragias e úlceras pépticas. Também interferem menos na coagulação do que os outros AINEs.

Devido a essas diferenças, os coxibes são úteis para pessoas que não toleram outros AINEs e que estão sob risco elevado de certas complicações (como hemorragia gastrointestinal) ao usar AINEs. Essas pessoas incluem as seguintes:

  • Pessoas mais velhas

  • Pessoas tomando anticoagulantes

  • Pessoas com histórico de úlceras

  • Pessoas que tomam um analgésico por um longo período

No entanto, os coxibes, assim como outros AINEs, parecem aumentar o risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e coágulos nas pernas. Como resultado, antes que as pessoas com certos quadros clínicos tomem um coxibe, elas são informadas sobre o risco e a necessidade de serem cuidadosamente monitoradas. Estes quadros clínicos incluem

  • Doenças cardiovasculares (como a doença arterial coronária)

  • Acidentes vasculares cerebrais

  • Fatores de risco para estas doenças

Coxibes, como outros AINEs, não são apropriados para pessoas com insuficiência cardíaca ou sob risco elevado de insuficiência cardíaca (como aquelas que tiveram um ataque cardíaco).

Como medicamentos anti-inflamatórios não esteroides funcionam

Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) funcionam de duas formas:

  • Reduzem a sensação de dor.

  • Em doses mais altas, reduzem a inflamação que muitas vezes acompanha e piora a dor.

Os AINEs provocam esses efeitos porque diminuem a produção de algumas substâncias semelhantes aos hormônios, denominadas prostaglandinas. Diferentes prostaglandinas apresentam diferentes funções, tais como fazer com que os neurônios tenham uma maior probabilidade de responder aos sinais de dor e fazer com que os vasos sanguíneos se alarguem (dilatem).

A maioria dos AINEs diminui a produção de prostaglandinas bloqueando as enzimas cicloxigenases (COX-1 e COX-2), fundamentais para a síntese de prostaglandinas. Um tipo de AINE, os coxibes (inibidores de COX-2) tendem a bloquear principalmente enzimas COX-2.

Somente enzimas COX-2 estão envolvidas na produção de prostaglandinas, promovendo inflamação e a dor consequente. As prostaglandinas são liberadas em resposta a um trauma — queimadura, fratura, entorse, estiramento ou invasão por um micro-organismo. O resultado é a inflamação, uma resposta protetora. O aporte de sangue à zona lesionada aumenta, introduzindo líquidos e glóbulos brancos para cercar o tecido lesionado e eliminar qualquer micro-organismo invasor.

As prostaglandinas, produzidas pela ação das enzimas COX-1, ajudam a proteger o aparelho digestivo do efeito do ácido gástrico e desempenham um papel fundamental na coagulação do sangue. Uma vez que a maioria dos AINEs bloqueia enzimas COX-1 e, assim, reduz a produção dessas prostaglandinas, eles podem irritar o revestimento do estômago. Tal irritação pode causar problemas digestivos, úlceras pépticas e hemorragias no trato digestivo.

Como os coxibes bloqueiam principalmente enzimas COX-2, eles têm menor probabilidade de causar problemas devido à irritação gástrica. Contudo, os coxibes bloqueiam algumas enzimas COX-1, e por isso até os coxibes podem elevar ligeiramente o risco desses problemas.

Tabela
Tabela

Paracetamol

O paracetamol é comparável com a aspirina no potencial para aliviar a dor e baixar a febre.

Contudo, ao contrário dos AINEs, o paracetamol apresenta as seguintes características:

  • Não tem praticamente nenhuma atividade anti-inflamatória útil

  • Não afeta a coagulação sanguínea

  • Não tem reações adversas no estômago

Não se sabe com certeza como o paracetamol age.

O paracetamol é administrado por via oral ou por supositório inserido no reto, e sua ação dura, em geral, de 4 a 6 horas.

O paracetamol parece ser um medicamento muito seguro. Contudo, doses elevadas podem provocar lesões hepáticas que podem ser irreversíveis (consulte Intoxicação por paracetamol). Pessoas com doenças do fígado devem consumir doses mais baixas do que as doses normais. Não se sabe se doses mais baixas administradas por um longo período podem comprometer o fígado. Pessoas que consomem regularmente quantidades elevadas de álcool têm alto risco de sofrer uma lesão hepática se também usarem paracetamol em doses elevadas. Pessoas que tomam paracetamol e deixam de comer por causa de uma gripe forte, resfriado ou outro motivo, podem estar mais vulneráveis a lesões hepáticas.

Analgésicos opioides

Analgésicos opioides - algumas vezes chamados narcóticos - são eficazes para muitos tipos diferentes de dor. Geralmente, são os analgésicos mais fortes.

Os opioides são quimicamente relacionados à morfina, uma substância natural extraída da papoula. Alguns opioides são extraídos de outras plantas e outros são produzidos em laboratório.

Opioides são frequentemente receitados por alguns dias para tratar dor intensa que provavelmente diminuirá rapidamente (como dor causada por uma lesão ou após cirurgia). Os médicos geralmente passam as pessoas para analgésicos não opioides assim que possível, pois os opioides podem ter efeitos colaterais e existe o risco de mau uso ou vício. Em geral, opioides não são recomendados para tratar pessoas com dor crônica.

Às vezes, os médicos receitam opioides por períodos mais longos para pessoas com dor intensa devido a câncer ou doença terminal, especialmente como parte dos cuidados no final da vida, incluindo cuidados paliativos. Nessas situações, os efeitos colaterais geralmente podem ser prevenidos ou controlados, e o mau uso ou dependência é menos preocupante.

Antes de prescrever opioides para qualquer tipo de dor crônica, os médicos consideram

  • Qual é a abordagem habitual de tratamento

  • Se outros tratamentos poderiam ser usados

  • Se a pessoa tem alto risco de efeitos colaterais com um opioide

  • Se a pessoa corre risco de mau uso ou abuso de um opioide ou se é provável que ela use o medicamento para outros fins (por exemplo, para vendê-lo)

Os médicos podem encaminhar o indivíduo para um especialista em dor ou a um psiquiatra especializado em abuso de substâncias se o risco de apresentar um problema for elevado. Por exemplo, os indivíduos que apresentam uma dependência geralmente necessitam de um encaminhamento.

Quando os opioides são receitados para dor crônica, os médicos explicam a natureza do distúrbio da pessoa (se conhecido) e os riscos e benefícios de outros possíveis tratamentos, incluindo medicamentos não opioides e nenhum tratamento. Os médicos perguntam às pessoas sobre seus objetivos e expectativas. Eles geralmente dão à pessoa informações por escrito que descrevem os riscos de tomar opioides. Depois que as pessoas discutem essas informações com seu médico e as entendem, elas devem assinar um termo de consentimento livre e esclarecido.

Quando os médicos receitam um opioide para dor crônica, eles explicam os riscos e efeitos colaterais dos opioides. As pessoas são aconselhadas a

  • Não ingerir bebidas alcoólicas ou tomar medicamentos ansiolíticos ou soníferos quando estiverem tomando o opioide

  • Tomar a dose recomendada no horário recomendado e não alterar a dose

  • Armazenar o opioide em um local seguro

  • Não compartilhar o opioide com ninguém

  • Entrar em contato com o médico se o medicamento as tornar sonolentas ou se apresentarem quaisquer outros efeitos colaterais (como confusão, constipação ou náuseas)

  • Eliminar os comprimidos não utilizados, conforme indicado

  • Manter naloxona (um antídoto dos opioides) à mão e aprender e ensinar aos familiares como administrá-la se ocorrer uma superdosagem de opioide

Se um opioide for receitado, os médicos têm práticas habituais para garantir a segurança da pessoa. Os médicos normalmente pedem à pessoa para receber prescrições de opioides de apenas um médico e retirar os medicamentos na mesma farmácia todas as vezes. Eles consultam a pessoa com frequência para consultas de acompanhamento e monitoram o uso do medicamento para garantir que ele seja seguro e eficaz. Por exemplo, os médicos podem examinar periodicamente a urina da pessoa para determinar se o medicamento está sendo tomado corretamente. Eles também solicitam ao indivíduo que assine um acordo que especifica as condições necessárias para o uso de opioides, incluindo qualquer monitoramento que possa ser necessário. Para evitar mau uso por outros, as pessoas devem manter os opioides em local seguro e descartar quaisquer medicamentos não usados, devolvendo-os para a farmácia.

Efeitos colaterais aos opioides

Os opioides apresentam muitos efeitos colaterais. Os efeitos colaterais têm maior probabilidade de ocorrer em pessoas com certas doenças: insuficiência renal, doença hepática, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), apneia do sono não tratada, demência ou outro transtorno cerebral.

Os seguintes efeitos comumente ocorrem quando os opioides são usados:

  • Sonolência

  • Confusão mental

  • Náusea e vômito

  • Constipação intestinal

Os efeitos colaterais menos comuns de opioides incluem:

  • Retenção de urina

  • Contração involuntária dos músculos (chamada mioclonia)

  • Prurido

  • Redução grave da respiração

  • Morte

Sonolência é um efeito colateral comum de opioides. Para algumas pessoas que recebem opioides, a sonolência desaparece ou diminui em alguns dias. Se as pessoas continuarem a sentir sonolência, pode-se tentar utilizar um opioide diferente uma vez que graus de sonolência causados por diferentes opioides podem variar. Antes de um evento importante que requeira estado de alerta, as pessoas podem receber um medicamento estimulante (tal como metilfenidato ou modafinila) para compensar a sonolência. Para algumas pessoas, consumir bebida com cafeína ajuda a compensar a sonolência. Ao sentir sonolência após tomar um opioide, deve-se evitar dirigir veículos e ter cuidado extra para evitar acidentes com quedas.

Confusão também pode ser resultado do uso de opioides, especialmente se as pessoas são mais velhas. Os opioides aumentam o risco de quedas em pessoas mais velhas.

Por vezes, náuseas ocorrem em pessoas que sentem dor, e os analgésicos opioides podem aumentar essa sensação. Medicamentos antieméticos, administrados na forma de comprimidos, supositórios ou injeções, podem ajudar a prevenir ou aliviar náuseas. Metoclopramida, hidroxizina e proclorperacina são alguns dos antieméticos mais consumidos.

Essa coceira causada pelo uso de opioides pode ser aliviada por um anti-histamínico, tal como difenidramina, tomado por via oral ou dado por via intravenosa.

Frequentemente ocorre constipação, sobretudo em idosos. Os laxantes, como a senna, previnem e aliviam a constipação intestinal. O aumento da ingestão de líquidos também pode ajudar a aliviar esse sintoma. Agentes osmóticos, como polietilenoglicol, também podem ser úteis. Esses agentes atraem grandes quantidades de água para o intestino grosso para estimular a evacuação. Algumas pessoas podem precisar de enemas. Quando essas medidas não são eficazes, os médicos podem prescrever um medicamento (tal como metilnaltrexona) que bloqueia apenas os efeitos dos opioides no estômago e intestino e não diminuem o alívio da dor.

A retenção de urina pode ser resultado do uso de opioides, especialmente em homens com a próstata aumentada. Tentar urinar uma segunda vez após uma pausa breve (dupla micção) ou aplicar pressão suave na parte mais baixa do abdômen (área sobre a bexiga) durante a micção pode ajudar. Às vezes, são usados medicamentos que relaxam os músculos da bexiga (como tansulosina).

Para a maior parte das pessoas, a náusea e a coceira desaparecem ou diminuem em alguns dias. Já a retenção urinária e a constipação geralmente desaparecem muito mais lentamente, se tanto.

Efeitos colaterais sérios podem ocorrer quando as pessoas fazem muito uso de um opioide. Esses efeitos colaterais incluem uma redução grave da respiração (depressão respiratória), coma e até mesmo morte. O risco de desenvolver depressão respiratória e morte por parada respiratória aumenta nos seguintes casos:

  • A presença de certos quadros clínicos (como distúrbios hepáticos, renais, respiratórios ou mentais)

  • Um transtorno de abuso de substâncias

  • Ingestão de outros medicamentos que causam sonolência (como benzodiazepínicos)

  • Consumo de álcool

Alguns desses efeitos colaterais podem ser revertidos com naloxona, um antídoto geralmente aplicado por via intravenosa ou por borrifo no nariz.

Para pessoas com risco maior de efeitos colaterais de opioides (incluindo depressão respiratória), os médicos podem prescrever naloxona quando prescreverem o opioide. Enfermeiros e familiares ou cuidadores devem ficar atentos a efeitos colaterais sérios de opioides e, se estes ocorrerem, estar preparados para aplicar naloxona por injeção ou borrifada no nariz da pessoa. Os médicos ou farmacêuticos geralmente ensinam a pessoa como tomar o opioide e os familiares ou cuidadores como administrar a naloxona.

Tolerância ocorre em algumas pessoas que tomam opioides repetidamente ao longo do tempo. Elas necessitam de doses mais elevadas uma vez que seu organismo se adapta ao medicamento e, portanto, responde de forma menos adequada ao mesmo. No entanto, para a maioria das pessoas, a mesma dose de opioide continua a ser eficaz por muito tempo. Frequentemente, a necessidade de uma dose mais alta indica que a doença está piorando, e não o desenvolvimento de tolerância.

Dependência física geralmente se desenvolve em pessoas que tomam opioides por um longo período. Isso significa que apresentam sintomas de abstinência se o medicamento for suspenso. Os sintomas de abstinência incluem calafrios, cãibras abdominais, diarreia, dificuldade para dormir e uma sensação de tremor. Quando se pretende suspender os opioides, depois de os ter consumido durante um longo período, a dose deve ser diminuída de forma progressiva para minimizar o desenvolvimento dos sintomas.

Dependência física não é o mesmo que transtorno de abuso de opioides (vício). Dependência é caracterizada por uma ânsia por medicamento e uso compulsório e incontrolado do medicamento, apesar dos danos causados ao usuário ou a outras pessoas. A maioria das pessoas que tomam opioides para controlar a dor, e não apresentavam previamente problemas com abuso de drogas, não se tornam viciadas em opioides. No entanto, os médicos regularmente monitoram quaisquer sinais de vício em pessoas que tomam analgésicos opioides.

Administração de opioides

Sempre que possível, os opioides são administrados pela boca (via oral). Quando os opioides são tomados por via oral, a dose e o horário podem ser ajustados mais facilmente. Quando precisam ser administrados por muito tempo, podem ser tomados por via oral ou aplicados por um adesivo na pele (via transdérmica). Opioides são aplicados por injeção (em um músculo ou veia) quando a dor aparece repentinamente ou quando as pessoas não podem tomá-los oralmente, nem por um adesivo na pele.

Algumas pessoas que precisam tomar opioides por um longo período e que são beneficiadas por um opioide tomado por via oral não conseguem tolerar seus efeitos colaterais. Para essas pessoas, um opioide pode ser injetado diretamente no espaço ao redor da medula espinhal através de uma bomba (intratecalmente).

Problemas com o uso de opioides

Atualmente os opioides são a principal causa de morte acidental e superdosagem fatal por medicamentos nos Estados Unidos. Os problemas com o uso de opioides incluem mau uso, desvio e abuso de opioides.

O mau uso de opioides pode ser intencional ou não intencional. Ele inclui qualquer uso que difere do que é prescrito.

O desvio envolve a venda ou fornecimento de um medicamento sob receita a outras pessoas.

O abuso refere-se ao uso recreativo do medicamento. Ou seja, os medicamentos são tomados pelas sensações ou sentimentos de prazer que produzem, e não para tratar dor ou outro problema de saúde.

Até um terço das pessoas que tomam opioides por um longo período para tratar a dor crônica fazem mau uso deles.

Transtorno de abuso de opioides é o termo preferencial para descrever o que era antes chamado de dependência de opioides. Ele se refere ao uso compulsivo de opioides apesar dos problemas causados por tomá-los. Além disso, as pessoas que apresentam esse distúrbio podem precisar de doses cada vez maiores para alcançar os mesmos efeitos e podem sofrer sintomas de abstinência ao parar de tomar o opioide. Elas podem tentar parar de tomar opioides ou reduzir a quantidade que estão tomando, mas não conseguem. Tomar doses elevadas de opioides por um longo período aumenta o risco de desenvolvimento de transtorno do uso de opioides.

Analgésicos adjuvantes

Acredita-se que os analgésicos adjuvantes funcionem alterando a forma com que os nervos processam a dor.

Um analgésico adjuvante é o primeiro e único medicamento utilizado para tratar dores causadas por lesão dos nervos (dor neuropática) e quadros clínicos como fibromialgia.

Os analgésicos adjuvantes mais comumente utilizados para as dores são

Antidepressivos

Os antidepressivos podem muitas vezes aliviar as dores em pessoas, mesmo quando elas não apresentam depressão. Antidepressivos tricíclicos (como a amitriptilina, nortriptilina e desipramina) podem ser mais eficazes para esta finalidade do que outros antidepressivos, mas antidepressivos mais novos, como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) e inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSNs, incluindo a duloxetina, venlafaxina e milnaciprana) podem apresentar menos dos efeitos colaterais que limitam as doses do medicamento.

Os antidepressivos tricíclicos são eficazes para dor neuropática, cefaleias, fibromialgia e síndromes de hipersensibilidade visceral (dos órgãos) (como dor abdominal ou pélvica crônica). As doses de antidepressivos tricíclicos usados para tratar a dor são em geral muito baixas para tratar depressão ou ansiedade. Assim, se forem usados antidepressivos tricíclicos para tratar a dor, serão geralmente necessários medicamentos adicionais para tratar a depressão ou ansiedade, se presentes.

A duloxetina parece ser eficaz para a dor neuropática causada pelo diabetes (chamada neuropatia diabética), fibromialgia, dores lombares crônicas, dores musculoesqueléticas crônicas e dores em nervos devido à quimioterapia. As doses de duloxetina usadas para tratar a dor também são adequadas para tratar depressão ou ansiedade, se presentes. A venlafaxina tem efeitos semelhantes. Milnaciprana é eficaz para fibromialgia.

As pessoas podem responder a um antidepressivo e não a outros, de modo que, às vezes, os médicos tentam alguns medicamentos até encontrar um antidepressivo eficaz.

Medicamentos anticonvulsivantes

Medicamentos anticonvulsivantes podem ser usados para aliviar a dor neuropática. A gabapentina e pregabalina são utilizadas comumente, mas muitos outros, incluindo carbamazepina, clonazepam, lacosamida, lamotrigina, oxcarbazepina, fenitoína, topiramato e zonisamida, ajudam a aliviar a dor em algumas pessoas.

A gabapentina pode ser usada para tratar a dor que pode resultar de herpes zóster (neuralgia pós-herpética) e muitos outros tipos de dor neuropática.

A pregabalina pode ser usada para aliviar a dor causada pela fibromialgia ou pela lesão nervosa causada pelo diabetes (neuropatia diabética), neuralgia pós-herpética ou dor neuropática devido a um problema no cérebro ou na medula espinhal.

Medicamentos anticonvulsivantes, como topiramato, podem evitar enxaquecas.

Anestésicos

Um anestésico local, como a lidocaína, pode ser injetado na pele para controlar a dor causada por uma lesão ou até mesmo dor neuropática. Anestésicos locais também podem ser injetados em nervos para bloquear a dor — um procedimento chamado de bloqueio de nervo. É frequentemente utilizado para tratar a dor causada pela lesão a algum determinado nervo extenso. Por exemplo, o bloqueio de um nervo simpático envolve a injeção de um anestésico local ao redor de um grupo de nervos próximos à coluna — no pescoço para dor na parte superior do corpo ou na região lombar em caso de dor na parte inferior do corpo. (Um bloqueio do nervo simpático pode aliviar a dor causada pela hiperatividade do sistema nervoso simpático, que prepara o corpo para situações estressantes ou de emergência.)

Para controlar a dor, em determinadas circunstâncias, anestésicos tópicos, como a lidocaína em loção, pomada ou emplastro, podem ser aplicados sobre a pele.

A mexiletina, usada para tratar arritmias cardíacas, também é usada para tratar a dor neuropática.

Em geral, esses anestésicos são consumidos por curtos períodos. Por exemplo, o enxágue com poucas quantidades de um enxaguante bucal anestésico, limitado a algumas vezes por dia, pode aliviar a dor devido a feridas bucais. No entanto, algumas pessoas podem se beneficiar do uso de anestésicos tópicos durante longos períodos de tempo para aliviar a dor crônica. Por exemplo, um adesivo ou gel de lidocaína pode ajudar a aliviar a neuralgia pós-herpética.

Outros medicamentos

Corticosteroides, tais como prednisona e dexametasona, podem ser tomados por via oral se uma dor intensa for causada por inflamação (tal como ocorre na gota).

Algumas evidências sugerem que o baclofeno (um relaxante muscular) pode ajudar a aliviar a dor neuropática causada pela neuralgia do trigêmeo.

O pamidronato (utilizado para tratar certas doenças ósseas) pode ajudar a aliviar a dor neuropática causada pela síndrome da dor regional complexa.

Baixas doses de cetamina (um anestésico) são, às vezes, administradas por via intravenosa em um hospital a pessoas que têm síndrome de dor regional complexa quando outros tratamentos forem ineficazes.

A tizanidina (um relaxante muscular), tomado por via oral, e a clonidina (usada para tratar pressão arterial elevada), tomada por via oral ou aplicada à pele como um adesivo, podem ajudar a aliviar a dor neuropática ou prevenir enxaquecas.

Capsaicina de alta potência (uma substância encontrada em pimentas picantes), aplicada com um adesivo, ajuda a aliviar a dor neuropática devido à neuralgia pós-herpética. Um creme de capsaicina de baixa potência também pode ajudar a reduzir a dor causada pela neuralgia pós-herpética e por outras doenças como a osteoartrite. O creme é muitas vezes usado por pessoas com dor localizada devido à artrite. O creme é aplicado várias vezes ao dia.

Tratamento da dor sem medicamentos

Além dos medicamentos, existem muitos outros tratamentos para alívio da dor.

Aplicar compressas frias ou quentes diretamente na área dolorida pode ajudar (veja Tratamento da dor e inflamação).

Métodos de neuromodulação usam a estimulação elétrica para alterar a forma como os nervos processam a dor. Essas técnicas incluem:

  • estimulação elétrica transcutânea dos nervos (TENS)

  • estimulação da medula espinhal

  • estimulação de nervos periféricos

Fisioterapia e terapia ocupacional podem ser usadas para aliviar a dor crônica e ajudar as pessoas a funcionarem melhor. Algumas vezes, a realização de exercícios ou o aumento dos níveis de atividade ajudam. Por exemplo, caminhar regularmente pode ajudar a aliviar dores na região lombar de forma mais eficaz ao invés de ficar em repouso na cama.

A medicina complementar e integrativa pode ser usada para tratar a dor crônica. Por exemplo, os médicos podem sugerir um ou mais dos seguintes:

Acupuntura envolve a inserção de agulhas muito pequenas em áreas específicas do corpo. Sabe-se pouco sobre como a acupuntura funciona e alguns especialistas ainda duvidam de sua eficácia. Algumas pessoas encontram um alívio substancial com a acupuntura, ao menos durante algum tempo.

Biofeedback e outras técnicas cognitivas (como os métodos de relaxamento, hipnose e técnicas de meditação) podem ajudar as pessoas a controlarem, reduzirem ou suportarem a dor, alterando o centro da sua atenção. Numa técnica de meditação, as pessoas podem aprender a se imaginar num ambiente tranquilo e reconfortante (como num sofá ou numa praia) quando sentem dor.

A terapia cognitivo-comportamental pode reduzir a dor e a incapacidade relacionada à dor e ajudar as pessoas a lidar com ela. Esse tipo de terapia inclui aconselhamento para ajudar as pessoas a se concentrarem em lidar com a dor, em vez de seus efeitos e limitações. Ela pode incluir aconselhamento para ajudar as pessoas e sua família a trabalharem juntos para controlar a dor.

A importância do apoio psicológico às pessoas que sofrem de dor não deve ser subestimada. Amigos e familiares devem estar cientes de que as pessoas com dor sofrem, precisam de apoio e podem desenvolver depressão ou ansiedade, que exigem apoio psicológico.

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