Hiperêmese gravídica

PorAntonette T. Dulay, MD, Main Line Health System
Revisado/Corrigido: mar. 2024
Visão Educação para o paciente

Hiperêmese gravídica consiste em náuseas e vômitos graves durante a gestação que resultam em desidratação, perda ponderal e cetose. O diagnóstico é clínico e pela aferição de cetona urinária, eletrólitos séricos e função renal. O tratamento é a suspensão temporária da ingestão oral e administração de líquidos IV antieméticos, se necessário, bem como de vitaminas e reposição de eletrólitos.

(Ver também Náuseas e vômitos durante a gestação precoce.)

A gestação geralmente causa náuseas e vômitos; a causa parece ser a rápida elevação dos níveis de estrogênios ou da subunidade beta da gonadotropina coriônica humana (beta-hCG). Os vômitos normalmente se desenvolvem em aproximadamente 5 semanas de gestação, com picos em aproximadamente 9 semanas, e desaparecem com cerca de 16 a 18 semanas. É frequentemente chamada doença matinal, mas pode ocorrer a qualquer hora do dia. Em geral, mulheres com náuseas e vômitos normais durante a gestação continuam a ganhar peso e não se tornam desidratadas.

A hiperêmese gravídica é uma forma extrema comum de náuseas e vômitos durante a gestação. Pode ser diferenciada por causar o seguinte:

  • Perda ponderal (> 5% do peso)

  • Desidratação

  • Cetose

  • Anormalidades eletrolíticas (em muitas mulheres)

À medida que a desidratação avança, pode causar taquicardia e hipotensão.

A hiperêmese gravídica pode causar hipertireoidismo leve transitório. A hiperemese gravídica que persiste após 16 a 18 semanas é incomum, mas pode danificar seriamente o fígado, causando necrose centrolobular ou degeneração gordurosa generalizada, além de encefalopatia de Wernicke ou ruptura esofágica.

Diagnóstico da hiperêmese gravídica

  • Às vezes, medições seriadas do peso

  • Cetona urinária

  • Testes séricos de eletrólitos e função renal

Os médicos suspeitam de hiperemese gravídica com base nos sintomas (p. ex., início, duração e frequência dos vômitos; fatores que exacerbam e aliviam; tipo e quantidade de êmese). Medições seriais do peso podem dar suporte ao diagnóstico.

Se houver suspeita de hiperemese gravídica, mensuram-se cetonas urinárias, hormônio tireoestimulante, eletrólitos séricos, nitrogênio da ureia sanguínea, creatinina, aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), magnésio e fósforo. Deve-se fazer ultrassonografia obstétrica para descartar mola hidatiforme e verificar gestação múltipla.

Diagnóstico diferencial

Outros distúrbios que podem causar vômitos precisam ser excluídos: gastroenterite, hepatite, apendicite, colecistite, outros distúrbios do trato biliar, úlcera péptica, obstrução intestinal, hipertireoidismo não causado por hiperêmese gravídica (p. ex., causado por doença de Graves), doença trofoblástica gestacional, nefrolitíase, pielonefrite, cetoacidose ou gastroparesia diabética, hipertensão intracraniana benigna e enxaqueca.

Sintomas proeminentes, mais náuseas e vômitos, sugerem outra causa.

Testes para esses distúrbios são realizados com base nos achados clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos.

Tratamento da hiperêmese gravídica

  • Suspensão temporária da ingestão oral, seguida por retomada gradual

  • Líquidos, tiamina, multivitamínicos e eletrólitos, conforme a necessidade

  • Antieméticos, se necessário

  • Raramente, nutrição parenteral total

Em primeiro lugar, nada é administrado pela boca para as pacientes. O tratamento inicial é a reposição volêmica IV, que começa com 2 L de Ringer lactato infundido durante 3 horas para manter uma produção de urina > 100 mL/hora (1). Se a dextrose for administrada, a tiamina 100 mg IV deve ser dada antes, para prevenir contra a encefalopatia de Wernicke. Essa dose de tiamina deve ser administrada diariamente por 3 dias.

Os subsequentes requisitos de líquidos variam com a reação da paciente, mas podem chegar a 1 L a cada 4 horas ou então em até 3 dias.

Tratam-se as deficiências eletrolíticas; potássio, magnésio e fósforo são repostos conforme necessário. Deve-se tomar cuidado para não repor rapidamente os baixos níveis de sódio porque isso pode causar a síndrome de desmielinização osmótica.

Tratam-se vômitos que persistem após a reposição inicial de líquidos e eletrólitos com antieméticos e outros medicamentos tomados conforme necessário:

  • Vitamina B6 10 a 25 mg por via oral, a cada 8 horas ou a cada 6 horas

  • Doxilaminna, 12,5 mg por via oral a cada 6 ou 8 horas (pode ser tomada em acréscimo à vitamina B6)

  • Prometazina 12,5 a 25 mg por via oral, IM ou retal, a cada 4 a 8 horas

  • Metoclopramida 5 a 10 mg IV ou por via oral, a cada 6-8 horas

  • Ondansetrona, 8 mg, por via oral ou IM, a cada 12 horas (para uso antes de 10 semanas de gestação, deve-se considerar os potenciais riscos de defeitos congênitos)

  • Proclorperazina, 5 a 10 mg, por via oral, IV ou IM a cada 6 horas OU 25 mg por via retal 2 vezes ao dia, conforme necessário

Após a resolução dos vômitos e da desidratação, pequenas quantidades de líquidos por via oral são dadas. As pacientes que não conseguem tolerar líquidos orais após a reidratação intravenosa e antieméticos podem necessitar de manutenção da internação ou terapia IV em casa e nenhuma administração oral por longos períodos (algumas vezes, dias ou mais). À medida que as pacientes passam a tolerar líquidos, podem iniciar a ingestão de pequenas quantidades de alimentos e refeições brandas, expandindo-se a dieta à medida que é tolerada. A terapia com vitaminas intravenosas é necessária inicialmente, até que possam ser ingeridas por via oral.

Se o tratamento é ineficaz, pode-se tentar corticoides; p. ex., metilprednisolona 16 mg, a cada 8 horas, por via oral ou IV pode ser administrada durante 3 dias, então reduzida ao longo de 2 semanas até a menor dose efetiva. Os corticoides devem ser menos utilizados por < 6 semanas e com extremo cuidado. Não devem ser utilizados durante a organogênese fetal (entre 20 e 56 dias após a fertilização); o uso desses fármacos durante o 1º trimestre é fracamente associado às fissuras faciais. O mecanismo do efeito dos corticoides sobre náuseas não é claro. Nos casos extremos, a nutrição parental total (NPT) tem sido utilizada, embora seu uso geralmente seja desencorajado.

Raramente, podem ocorrer perda ponderal progressiva, icterícia ou taquicardia persistente, apesar do tratamento. Nesses casos, pode-se oferecer a interrupção da gestação, se disponível.

Referência sobre o tratamento

  1. 1. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG): Committee on Practice Bulletins-Obstetrics. ACOG Practice Bulletin No. 189: Nausea And Vomiting Of Pregnancy. Obstet Gynecol. 2018;131(1):e15-e30. doi:10.1097/AOG.0000000000002456

Pontos-chave

  • Hiperêmese gravídica consiste em náuseas e vômitos graves durante a gestação que, ao contrário da doença matinal, pode causar perda ponderal, cetose, desidratação e, às vezes, anormalidades eletrolíticas.

  • Excluir outros distúrbios que podem provocar vômitos com base nos sintomas da mulher.

  • Determinar a gravidade medindo eletrólitos séricos, cetonas na urina, ureia, creatinina e peso corporal.

  • Suspender inicialmente a ingestão oral, dar líquidos e nutrientes IV restaurar a ingestão oral de forma gradual e administrar antieméticos conforme necessário.

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