Gestação ectópica

(Gestação de local desconhecido)

PorAparna Sridhar, MD, UCLA Health
Revisado/Corrigido: out. 2023
Visão Educação para o paciente

Gestação ectópica é a implantação do saco gestacional em outro local que não o endométrio da cavidade uterina — isto é, nas tubas uterinas, nos cornos uterinos, no colo do útero, no ovário, ou na cavidade pélvica ou abdominal. A gestação ectópica é uma condição com risco de morte para uma mulher grávida; essas gestações não podem ser levadas a termo e acabam causando ruptura tubária ou involuem. Os sinais e sintomas iniciais são dor pélvica e hemorragia vaginal. Choque hemorrágico pode ocorrer com a ruptura. O diagnóstico é feito por mensuração da subunidade beta da gonadotropina coriônica humana e ultrassonografia. O tratamento é feito com ressecção por laparoscopia ou cirurgia aberta, ou com metotrexato.

A gestação ectópica pode causar hemorragia potencialmente fatal; se houver suspeita desta condição, deve-se avaliar e tratar a paciente o mais rápido possível. A incidência de gestação ectópica é de aproximadamente 2/100 nas gestações diagnosticadas (1). Pacientes com possível gravidez ectópica ou outra causa de problemas no início da gestação geralmente apresentam sintomas cedo na gestação, quando a ultrassonografia não é capaz de confirmar a localização anatômica ou a viabilidade da gravidez. Portanto, essas gestações são chamadas de gestação de local desconhecido.

Referência geral

  1. 1. Van Den Eeden SK, Shan J, Bruce C, Glasser M: Ectopic pregnancy rate and treatment utilization in a large managed care organization. Obstet Gynecol 105 (5 Pt 1):1052–1057, 2015. doi: 10.1097/01.AOG.0000158860.26939.2d

Etiologia da gestação ectópica

A maioria das gestações ectópicas localiza-se na tuba uterina e qualquer história de infecção ou cirurgia que aumenta o risco de aderências tubárias ou outras anormalidades aumenta o risco de gestação ectópica.

Fatores que particularmente aumentam o risco de gestação ectópica são

  • Gestação ectópica prévia

  • Cirurgia abdominal prévia ou cirurgia pélvica, em particular, cirurgia tubária, incluindo esterilização tubária

  • Anormalidades ou lesões tubárias (p. ex., decorrentes de uma infecção ascendente ou cirurgia)

  • Tecnologias de reprodução assistida utilizadas na gestação atual, particularmente no caso de história de infertilidade tubária ou transferência de múltiplos embriões

Outros fatores de risco para gestação ectópica incluem

No geral, engravidar é muito menos provável em pacientes que fizeram esterilização tubária ou que possuem um dispositivo intrauterino (DIU); entretanto, quando ocorre gravidez nessas pacientes, o risco de gestação ectópica aumenta (por exemplo, aproximadamente 53% das gestações de usuárias atuais de DIU) (1).

Referência sobre etiologia

  1. 1. Backman T, Rauramo I, Huhtala S, Koskenvuo M: Pregnancy during the use of levonorgestrel intrauterine system. Am J Obstet Gynecol 190(1):50-54, 2004. doi:10.1016/j.ajog.2003.07.021

Fisiopatologia da gestação ectópica

O local mais frequente da implantação ectópica é a tuba uterina, seguida pelos cornos uterinos (denominada gestação cornal ou intersticial). Gestações implantadas no colo do útero, cicatriz de cesárea, ovário ou abdome são raras.

A gestação heterotópica (ectópica e intrauterina, simultaneamente) ocorre em apenas 1/10.000 a 30.000 gestações, mas podem ser mais comuns em mulheres que tiveram ovulação induzida ou utilizaram tecnologias de reprodução assistida, como a fertilização in vitro e transferência intratubária de gametas; nessas mulheres, a taxa relatada de gestação ectópica é 1-2% (1).

A estrutura anatômica que contém o feto normalmente se rompe após cerca de 6 a 16 semanas. A ruptura resulta em sangramento, que pode ser gradual ou rápido o suficiente para causar choque hemorrágico. Quanto mais tarde ocorre a ruptura na gestação, mais rapidamente o sangue é perdido e maior o risco de morte.

Referência sobre fisiopatologia

  1. 1. Perkins KM, Boulet SL, Kissin DM, et al: Risk of ectopic pregnancy associated with assisted reproductive technology in the United States, 2001-2011. Obstet Gynecol 125 (1):70–78, 2015. doi: 10.1097/AOG.0000000000000584

Sinais e sintomas da gestação ectópica

Os sintomas da gestão ectópica variam e podem estar ausentes até a ruptura ocorrer.

A maioria das pacientes tem dor pélvica (que pode ser prolongada e indistinta, aguda ou cólicas), hemorragia vaginal ou ambos. Pacientes que têm menstruações irregulares podem não estar cientes de que estão grávidas.

A ruptura pode ser anunciada por dor intensa súbita, seguida de síncope ou sinais e sintomas de choque hemorrágico ou peritonite. A rápida hemorragia é mais característica nas rupturas das gestações em cornos uterinos.

Dores a movimentação do colo do útero, unilateral, bilateral anexial ou uma massa anexial podem estar presentes. Deve-se fazer um exame pélvico cuidadoso porque a pressão excessiva pode interromper a gestação. O útero pode estar levemente aumentado (mas, geralmente, menos que o previsto com base na data do último período menstrual).

Diagnóstico da gestação ectópica

  • Nível sérico quantitativo de beta–gonadotropina coriônica humana (beta-hCG)

  • Ultrassonografia pélvica

  • Algumas vezes, laparoscopia

Suspeita-se de gestação ectópica em qualquer mulher em idade reprodutiva com dor pélvica, sangramento vaginal, síncope inexplicada ou choque hemorrágico inexplicado, independentemente da história sexual, contraceptiva e menstrual. Os resultados dos exames físicos (incluindo o pélvico) não são sensíveis nem específicos.

Uma gestação ectópica rompida é uma emergência cirúrgica porque causa hemorragia materna e risco de morte; o diagnóstico imediato é essencial.

Dicas e conselhos

  • Suspeitar de gestação ectópica em qualquer mulher em idade reprodutiva com dor pélvica, sangramento vaginal, síncope inexplicada ou choque hemorrágico inexplicado, independentemente da história sexual, contraceptivo e menstrual e resultados de exames.

O primeiro passo no diagnóstico é fazer com a urina um teste de gravidez, cuja eficácia é de aproximadamente 99% na detecção de gestação (ectópica ou não). Se a beta-hCG urinária for negativa e os resultados clínicos não sugerirem com segurança uma gestação ectópica, mais avaliações serão desnecessárias, a menos que os sintomas se tornem recorrentes ou piorem. Se a beta-hCG urinária é positiva ou se os achados clínicos sugerem fortemente gestação ectópica e a gestação pode ser muito precoce para ser detectada com base na beta-hCG urinária, deve-se fazer um exame quantitativo da beta-hCG sérica e uma ultrassonografia pélvica.

Se a ultrassonografia detectar gestação intrauterina, a gestação ectópica concorrente (gestação heterotópica) é extremamente improvável, exceto em mulheres que utilizaram tecnologias de reprodução assistida (que aumentam o risco de gestação heterotópica, embora ainda seja rara nessas pacientes). Contudo, gestações cornuais e intersticiais podem parecer gestações intrauterinas ou ultrassom.

Os achados ultrassonográficos diagnósticos de uma gestação intrauterina são um saco gestacional com saco vitelino ou um embrião (com ou sem batimento cardíaco) no interior da cavidade uterina. Além da ausência de gestação intrauterina, os achados ultrassonográficos que sugerem gestação ectópica são massa pélvica complexa (sólida e cística mista), particularmente nos anexos, e líquido livre ecogênico no fundo de saco.

Se a beta-hCG sérica estiver acima de um certo nível (chamada zona discriminatória), a ultrassonografia deve ser capaz de detectar um saco gestacional; a presença de um saco vitelino confirma uma gestação intrauterina. O limiar apropriado de hCG para a zona discriminatória para mulheres com suspeita de gestação ectópica foi reavaliado. Para minimizar o sobrediagnóstico de gestação ectópica e preservar as gestações intrauterinas desejadas, o limiar recomendado foi aumentado para 3.500 mUI/mL) (1).

Se o nível de beta-hCG estiver abaixo da área discriminatória e a ultrassonografia não for notável, as pacientes podem ter uma gestação intrauterina prematura ou ectópica. Se a avaliação clínica sugerir gestação ectópica com hemorragia ativa ou ruptura (p. ex., sinais de hemorragia significativa ou irritação peritoneal), laparoscopia diagnóstica pode ser necessária para o diagnóstico e o tratamento.

Se a gestação ectópica não foi confirmada e a paciente está estável, medem-se os níveis séricos de beta-hCG em série em um regime ambulatorial (tipicamente a cada 2 dias). Normalmente, os níveis dobram a cada 1,4 a 2,1 dias até 41 dias; na gestação ectópica (e em potenciais abortos espontâneos), os níveis podem ficar abaixo do esperado em relação às datas e, em gral, não dobram tão rapidamente. Se os níveis de beta-hCG não aumentam como o esperado ou se eles diminuem, é provável o diagnóstico de aborto espontâneo ou gestação ectópica.

Diagnóstico diferencial

Sangramento é comum no início da gestação (ver tabela Algumas causas de sangramento vaginal no início da gestação para diagnóstico diferencial).

Tabela
Tabela

Dor ou pressão pélvica também são sintomas comuns da gestação (ver tabela Algumas causas de dor pélvica no início da gestação para diagnóstico diferencial).

Tabela
Tabela

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. Doubilet PM, Benson CB, Bourne T, et al: Diagnostic criteria for nonviable pregnancy early in the first trimester. N Engl J Med 369(15):1443-1451, 2013. doi:10.1056/NEJMra1302417

Tratamento da gestação ectópica

  • Em geral, metotrexato para gestações ectópicas pequenas e não rompidas

  • Ressecção cirúrgica se houver suspeita de ruptura ou se os critérios para o tratamento com metotrexato não forem atendidos

  • Imunoglobulina Rho(D) se a gestante for Rh-negativa

Metotrexato

The American College of Obstetricians and Gynecologists aconselha que pacientes com gestação tubária podem ser tratadas com metotrexato se nenhuma das seguintes contraindicações absolutas estiverem presentes:

  • Gestação intrauterina

  • Gestação ectópica rota

  • Hemodinamicamente instável

  • Sensibilidade ao metotrexato

  • Evidência de imunodeficiência

  • Anemia moderada a grave, leucopenia ou trombocitopenia

  • Doença pulmonar ativa ou úlcera péptica

  • Disfunção hepática ou renal clinicamente importante

  • Aleitamento materno

  • Incapaz de participar do acompanhamento

Além disso, deve-se considerar as seguintes contraindicações relativas:

  • Atividade cardíaca embrionária detectada por ultrassonografia transvaginal

  • Alta concentração inicial de hCG

  • Gravidez ectópica > 4 cm de tamanho (conforme visualizado na ultrassonografia transvaginal)

  • Recusa em aceitar doação de sangue

Em um protocolo comumente utilizado, medem-se os níveis de beta-hCG no dia 1, e a paciente recebe uma dose única de 50 mg/m2 de metotrexato IM. Repete-se a medição de beta-hCG no 4º e 7º dias. Se os níveis séricos de beta-hCG não caírem em 15% do 4º ao 7º dia, é necessária uma 2ª dose de metotrexato ou cirurgia. Também podem ser utilizados, como alternativa, outros protocolos.

Mede-se o nível de beta-hCG semanalmente até se tornar indetectável. Taxas de sucesso com metotrexato são de aproximadamente 90%; 9% das mulheres têm complicações que requerem hospitalização (1).

Em geral, pode-se utilizar o metotrexato, mas indica-se cirurgia quando há suspeita de ruptura, quando a paciente não é capaz de participar do acompanhamento pós-tratamento com metotrexato ou quando o metotrexato é ineficaz.

Ressecção cirúrgica

As pacientes hemodinamicamente instáveis requerem laparotomia imediata e tratamento do choque hemorrágico.

Para as pacientes estáveis, o tratamento cirúrgico geralmente é a cirurgia por laparoscopia; algumas vezes, a laparotomia é necessária. Se possível, realiza-se salpingotomia para preservar a tuba e remove-se a gestação ectópica.

A salpingectomia é indicada em qualquer um dos casos seguintes:

  • A gestação ectópica se rompeu.

  • A hemorragia continua após a salpingotomia.

  • A tuba foi reconstruída.

  • A gestação ectópica representa falha de um procedimento anterior de esterilização, particularmente se a gestação está no segmento distal cego em mulheres que passaram por uma salpingectomia parcial prévia.

Apenas a parte irreversivelmente danificada da tuba uterina é removida, maximizando a possibilidade de reparação das tubas, e com isso a restauração da fertilidade. A tuba uterina pode, ou não, ser reparada. Depois de uma gestação nos cornos uterinos, a tuba e o ovário envolvido podem ser recuperados, mas ocasionalmente a reparação é impossível, tornando necessária a histerectomia.

Todas as pacientes Rh-negativas tratadas com metotrexato ou cirurgia recebem imunoglobulina Rho (D).

Referência sobre tratamento

  1. 1. Barnhart KT, Gosman G, Ashby R, Sammel M: The medical management of ectopic pregnancy: a meta-analysis comparing "single dose" and "multidose" regimens. Obstet Gynecol 101(4):778-784, 2003. doi:10.1016/s0029-7844(02)03158-7

Prognóstico para gestação ectópica

A gestação ectópica é fatal para o feto, mas, se o tratamento ocorrer antes da ruptura, a morte materna é rara. Nos Estados Unidos, em 2018, a taxa de mortalidade por gravidez ectópica foi de 0,8 mortes por 100.0000 nascidos vivos (1).

Referência sobre prognóstico

  1. 1. Hoyert DL, Miniño AM: Maternal mortality in the United States. Changes in coding, publication, and data release, 2018. National Vital Statistics Reports; vol 69 no 2. Hyattsville, MD: National Center for Health Statistics. 2020.

Pontos-chave

  • Gestação ectópica é a implantação de uma gestação em um local diferente do revestimento endometrial da cavidade uterina; o local mais comum para gestações ectópicas é a tuba uterina.

  • Os sintomas podem incluir dor pélvica e hemorragia vaginal em uma gestante, mas a mulher pode não saber que está grávida e os sintomas podem estar ausentes até a ruptura ocorrer, às vezes com resultados catastróficos.

  • Suspeitar de gestação ectópica em qualquer mulher em idade reprodutiva com dor pélvica, sangramento vaginal ou inexplicada síncope ou choque hemorrágico.

  • Se um teste urinário para gestação é positivo ou os resultados clínicos sugerem gestação ectópica, determinar a beta-hCG sérica quantitativa e fazer ultrassonografia pélvica.

  • Em geral, o tratamento envolve metotrexato, mas realiza-se ressecção cirúrgica se há suspeita de ruptura ou os critérios não são atendidos para o tratamento com metotrexato.

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