A infertilidade é uma doença definida pela incapacidade de engravidar e/ou pela necessidade de intervenção médica para fazê-lo. Em pacientes que não engravidaram depois de manter relações sexuais desprotegidas regularmente, a avaliação deve ser iniciada aos 12 meses se a parceira tem < 35 anos e aos 6 meses se a parceira tem ≥ 35 anos.
Infertilidade é definida pela American Society of Reproductive Medicine (ASRM; ver Definition of Infertility: A Committee Opinion [2023]) como uma doença, condição ou status caracterizado por algum dos seguintes:
Incapacidade de engravidar de acordo com a história clínica, sexual e reprodutiva, idade, achados físicos, testes diagnósticos ou qualquer combinação desses fatores.
Necessidade de intervenção médica, incluindo, entre outros, o uso de gametas ou embriões de doadores para alcançar uma gestação bem-sucedida, quer sozinha ou com um parceiro.
Em pacientes que têm relações sexuais desprotegidas regularmente e em que nenhum dos parceiros tem qualquer etiologia conhecida sugestiva de prejuízo na capacidade reprodutiva, a avaliação deve ser iniciada aos 12 meses quando a parceira tem < 35 anos de idade, e aos 6 meses quando a parceira tem ≥ 35 anos.
Em geral, as relações sexuais frequentes e desprotegidas resultam em concepção para 70% dos casais em 3 meses, para 80% em 6 meses e para 90% em 1 ano (1).
A infertilidade é causada por um ou mais fatores, com as seguintes prevalências aproximadas (2, 3):
Alterações espermáticas (24 a 35%)
Disfunção ovulatória (21-25%)
Diminuição da reserva ovariana (aumenta com a idade)
Endometriose (6 a 40%)
Infertilidade tubária (11 a 67%)
Anormalidades uterinas ou outras anormalidades pélvicas (≥ 2%) (4)
Infertilidade inexplicada (15-28%)
A incapacidade de conceber muitas vezes leva a sentimentos de ansiedade, tristeza, frustração, raiva, culpa, ressentimento e inadequação.
Os casais que desejam conceber são encorajados a ter relações sexuais frequentes quando a concepção é mais provável— durante 6 dias, e particularmente 3 dias antes da ovulação. É mais provável que a ovulação ocorra cerca de 14 dias antes do início do próximo período menstrual.
Aferições diárias, matutinas, da temperatura corporal basal (TCB) podem ajudar a determinar quando a ovulação ocorre em mulheres com ciclos menstruais regulares. Uma diminuição sugere ovulação iminente; um aumento de ≥ 0,5° C sugere que a ovulação acabou de ocorrer. Entretanto, kits de testes preditivos de hormônio luteinizante (LH) comercialmente disponíveis, que identificam o pico do LH no meio do ciclo, são provavelmente a melhor maneira para as mulheres determinarem a ocorrência da ovulação e são menos demorados do que medir a temperatura corporal basal (TCB). A TCB pode ser útil se as mulheres não podem pagar ou não tem acesso a kits de previsão de LH. Não há evidências de que qualquer teste que determina quando ocorre a ovulação aumente a probabilidade de gestação em casais que têm relações sexuais regulares.
O uso excessivo de cafeína ou álcool e qualquer uso de tabaco, todos os quais podem prejudicar a fertilidade, são desencorajados.
Há cada vez mais evidências de que homens > 45 são menos férteis do que homens mais jovens, independentemente da idade da parceira.
Embora a infertilidade não abranja perda gestacional recorrente, as consequências são as mesmas.
Referências gerais
1. Gnoth C, Godehardt D, Godehardt E, Frank-Herrmann P, Freundl G: Time to pregnancy: results of the German prospective study and impact on the management of infertility. Hum Reprod 18(9):1959-1966, 2003. doi:10.1093/humrep/deg366
2. Hull MG, Glazener CM, Kelly NJ, et al. Population study of causes, treatment, and outcome of infertility. Br Med J (Clin Res Ed). 1985;291(6510):1693-1697. doi:10.1136/bmj.291.6510.1693
3. Carson SA, Kallen AN. Diagnosis and Management of Infertility: A Review. JAMA. 2021;326(1):65-76. doi:10.1001/jama.2021.4788
4. Donnez J, Jadoul P. What are the implications of myomas on fertility? A need for a debate?. Hum Reprod. 2002;17(6):1424-1430. doi:10.1093/humrep/17.6.1424
Avaliação da infertilidade
Exames dependem da causa suspeita:
Se as tentativas de engravidar não resultarem em gestação depois de ≥ 1 ano, deve-se avaliar ambos os parceiros. A avaliação começa com história, exame físico e aconselhamento. Os homens são avaliados quanto a alterações espermáticas e as mulheres são avaliadas quanto a alterações ovulatórias e tubárias e lpatologia pélvica.
A avaliação é feita antes de 1 ano se
A mulher tem > 35 anos.
Sabe-se que a mulher tem uma reserva ovariana reduzida (p. ex., porque tem apenas um ovário).
A mulher tem menstruação pouco frequente.
A mulher tem uma anormalidade conhecida do útero, trompas uterinas ou ovários.
O homem é conhecido por ser subfértil ou tem risco de subfertilidade.
Os exames são realizados de acordo com a causa suspeita (p. ex., para diminuição da reserva ovariana, medição do hormônio foliculoestimulante, e hormônio antimülleriano e contagem de folículos antrais, determinados por ultrassonografia transvaginal; para doenças espermáticas, análise do sêmen).
Tratamento da infertilidade
Tratamento da causa primária
Às vezes, medicações para induzir a ovulação ou a espermatogênese
Às vezes, técnicas de reprodução assistida
Se possível, trata-se a causa primária da infertilidade masculina ou feminina. Por exemplo, pode-se tratar as anormalidades estruturais (p. ex., varicocele testicular, leiomiomas uterinos) ou endócrinas (p. ex., adenoma hipofisário, doenças da tireoide) do trato reprodutivo. Deve-se incentivar as pacientes a fazer alterações para minimizar os fatores de risco modificáveis. Por exemplo, recomenda-se cessação do tabagismo para fumantes, perda ponderal para pacientes com sobrepeso, consumo moderado ou nenhum de álcool e consumo de uma dieta balanceada (com vitaminas, se necessário).
Em geral, o tratamento é voltado a melhorar a probabilidade de concepção, aumentando a disponibilidade de oócitos de alta qualidade (p. ex., indução de ovulação, doação de óvulos) ou espermatozoides (p. ex., gonadotropinas para induzir a espermatogênese, doação de esperma) e realizando procedimentos para facilitar o contato entre o oócito e o espermatozoide a fim de alcançar a fertilização (p. ex., inseminação intrauterina, fertilização in vitro).
Pessoas com infertilidade podem experimentar tristeza, ansiedade, frustração, estresse emocional, sentimentos de inadequação, culpa ou raiva. Esses sentimentos podem levar a distúrbios do sono ou alimentares, ansiedade clínica ou depressão. Se necessário, deve-se oferecer aconselhamento e suporte comportamental à saúde.
É útil fornecer aos dois parceiros informações sobre o processo de tratamento. Essas informações incluem
Quais são as probabilidades de sucesso
O que o processo envolve, incluindo tempo e custos
Quando terminar o tratamento
Quando considerar a adoção
Grupos de apoio para pessoas inférteis (p. ex., Family Equality, RESOLVE) podem ajudar. O médico deve discutir a adoção se a probabilidade de conceber é baixa (geralmente confirmada após 3 anos de infertilidade, mesmo em mulheres < 35, ou após 2 anos de tratamento).
Informações adicionais
Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que O Manual não é responsável pelo conteúdo destes recursos.
Family Equality: informações sobre o processo de engravidar (incluindo custos) e sobre adoção, paternidade e questõ es legais que dizem respeito à comunidade LGBTQ.
RESOLVE: The National Infertility Association: informações gerais sobre infertilidade, possíveis tratamentos e soluções (como adotar ou utilizar uma "barriga de aluguel") e questões financeiras, bem como links para grupos de apoio, maneiras de controlar o estresse, conselhos para amigos e familiares, e recursos para ajudar as pessoas LGBTQ+ a terem filhos.
World Health Organization (WHO): Infertility: informação sobre a definição de infertilidade e taxas globais de prevalência estimadas