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Regurgitação mitral

(Insuficiência mitral)

PorGuy P. Armstrong, MD, Waitemata District Health Board and Waitemata Cardiology, Auckland
Revisado porJonathan G. Howlett, MD, Cumming School of Medicine, University of Calgary
Revisado/Corrigido: nov. 2023 | modificado dez. 2023
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Fatos rápidos
A regurgitação mitral é o refluxo de sangue que vaza pela válvula mitral cada vez que o ventrículo esquerdo se contrai.

Recursos do assunto

  • Distúrbios que afetam a válvula mitral diretamente e ataques cardíacos são as causas mais comuns da regurgitação mitral, exceto em locais onde não há antibióticos disponíveis prontamente para tratar infecções por estreptococos e prevenir febre reumática.

  • Quando a regurgitação é grave, as pessoas podem sentir falta de ar.

  • A regurgitação leve pode não precisar de tratamento, mas as pessoas com insuficiência mais grave podem necessitar de cirurgia para substituir a válvula cardíaca danificada.

(Consulte também Considerações gerais sobre valvulopatias e o vídeo O coração.)

A válvula mitral situa-se na abertura entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo. A válvula mitral se abre para permitir que o sangue do átrio esquerdo encha o ventrículo esquerdo e se fecha enquanto o ventrículo esquerdo se contrai para bombear sangue somente para dentro da aorta sem voltar para o átrio esquerdo. Quando a válvula mitral não se fecha completamente, há refluxo de parte do sangue para o átrio esquerdo, o que é chamado regurgitação (Veja também o vídeo Regurgitação valvar.)

Complicações

A regurgitação da válvula mitral aumenta a quantidade de sangue (volume de sangue) e a pressão no átrio esquerdo. O aumento da pressão arterial no átrio esquerdo aumenta a pressão do sangue nas veias que vão dos pulmões para o coração (veias pulmonares) e faz com que o átrio esquerdo aumente para acomodar o sangue extra que vaza do ventrículo como refluxo. Um átrio aumentado muitas vezes bate rapidamente e com um padrão irregular (um quadro clínico chamado fibrilação atrial), o que reduz a eficiência de bombeamento do coração, pois o átrio com fibrilação vibra em vez de bombear sangue. Consequentemente, o sangue não flui livremente através do átrio e coágulos de sangue podem formar no interior da câmara. Se um coágulo se desprender (tornando-se um êmbolo), ele é bombeado para fora do coração e pode bloquear uma artéria e, possivelmente, causar um acidente vascular cerebral ou outro dano.

A regurgitação grave pode resultar em insuficiência cardíaca, um quadro clínico em que o aumento da pressão no átrio faz com que haja acúmulo de líquido (congestão) nos pulmões ou em que a redução do fluxo de sangue do ventrículo para o corpo priva os órgãos da quantidade adequada de sangue. O ventrículo esquerdo pode aumentar gradualmente e enfraquecer, piorando ainda mais a insuficiência cardíaca.

Causas de regurgitação mitral

A regurgitação da válvula mitral pode surgir repentinamente em decorrência de endocardite infecciosa, uma infecção da válvula, ou por causa de lesão na válvula ou em suas estruturas de apoio. A válvula ou suas estruturas de apoio podem ser danificadas por um ataque cardíaco, doença arterial coronariana ou fraqueza nos tecidos dessas estruturas (degeneração mixomatosa).

Mais frequentemente, no entanto, a regurgitação mitral surge lentamente em decorrência da deterioração gradual da válvula (causada por prolapso da válvula mitral ou cardiopatia reumática) ou aumento do ventrículo esquerdo, o que faz a válvula se abrir e a impede de se fechar adequadamente. Este aumento é causado por um ataque cardíaco ou outro distúrbio que enfraqueça o músculo cardíaco (como uma cardiomiopatia).

A febre reumática – uma doença infantil que pode ocorrer após infecções de garganta ou escarlatina não tratadas – costumava ser a causa mais comum de regurgitação mitral. Porém, atualmente, a febre reumática é rara na América do Norte, Europa Ocidental e em outras regiões onde antibióticos são amplamente utilizados no tratamento de infecções, tais como infecções de garganta. Nessas regiões, a febre reumática é uma causa comum de regurgitação mitral somente entre idosos que não tiveram o benefício do acesso a antibióticos durante sua juventude e entre pessoas que se deslocaram de regiões onde antibióticos não são utilizados amplamente. Nessas regiões, a febre reumática ainda é comum e ainda causa estenose ou insuficiência mitral comumente, às vezes 10 anos ou mais após a infecção inicial. Repetidos ataques de febre reumática aceleram a deterioração da válvula.

Sintomas de regurgitação mitral

A regurgitação mitral leve pode não causar nenhum sintoma. Quando a regurgitação é mais grave, ou quando há fibrilação atrial, as pessoas podem sentir palpitações (sensação de que o seu batimento cardíaco mudou de ritmo) ou falta de ar. Pessoas com insuficiência cardíaca podem ter tosse, falta de ar durante o esforço ou em repouso, bem como inchaço nas pernas.

Diagnóstico de regurgitação mitral

  • Exame físico

  • Ecocardiograma

Em geral, suspeita-se de regurgitação mitral com base nas características do sopro cardíaco (som cardíaco anormal) ouvido através do estetoscópio. O sopro é um som característico produzido pelo refluxo de sangue que vaza para o átrio esquerdo quando o ventrículo esquerdo se contrai. Às vezes, esse distúrbio é diagnosticado quando um médico ouve o sopro durante um exame físico de rotina.

Os médicos fazem um ecocardiograma, o qual usa ondas de ultrassom para produzir uma imagem das estruturas cardíacas e do fluxo de sangue. O ecocardiograma fornece a maioria das informações sobre o tamanho do átrio e do ventrículo e sobre a quantidade de sangue que está vazando para que se possa determinar a gravidade da regurgitação.

O eletrocardiograma (ECG) e as radiografias torácicas indicam que o ventrículo esquerdo está aumentado. Se a regurgitação mitral for grave, a radiografia torácica também pode mostrar acúmulo de líquido nos pulmões.

O cateterismo cardíaco é feito frequentemente quando se planeja uma cirurgia para reparar ou substituir uma válvula mitral. Desta forma, os médicos podem identificar alguma doença arterial coronariana que também poderia ser tratada durante a cirurgia cardíaca.

Tratamento de regurgitação mitral

  • Às vezes reparo ou substituição da válvula

Se a regurgitação mitral for leve, pode não ser necessário nenhum tratamento específico. Entretanto, a regurgitação pode piorar aos poucos; portanto, faz-se um ecocardiograma periodicamente para ajudar a determinar se será necessária uma cirurgia. A cirurgia deve ser feita antes que o músculo cardíaco fique permanentemente enfraquecido.

Quando uma regurgitação mais grave causa insuficiência cardíaca em pessoas que não podem se submeter a cirurgia, essas pessoas recebem certos medicamentos para insuficiência cardíaca, como sacubitril/valsartana, espironolactona e carvedilol. Pessoas com fibrilação atrial recebem anticoagulantes como a varfarina.

A cirurgia pode envolver

  • Reparação da válvula

  • Sua substituição por uma válvula artificial (prótese)

O reparo tradicional da válvula mitral é realizado durante uma cirurgia de coração aberto em que os médicos inserem um anel que reduz o tamanho da abertura da válvula. Outro método de reparo é o reparo transcateter de borda a borda (transcatheter edge-to-edge repair, TEER). No TEER, que é menos invasivo do que o reparo tradicional da válvula mitral, a válvula é reparada inserindo um clipe que diminui o tamanho da abertura da válvula. O clipe é inserido através de um cateter introduzido até o coração a partir de uma veia na virilha (veia femoral).

A substituição da válvula mitral por uma válvula mecânica ou uma bioprostética é feita através de cirurgia cardíaca aberta.

A reparação ou substituição da válvula (por meio de cirurgia tradicional de coração aberto) elimina a regurgitação ou a reduz o suficiente para que os sintomas fiquem toleráveis e para evitar danos ao coração. Quando possível, a reparação da válvula com um anel é preferível à sua substituição, pois uma válvula reparada geralmente funciona melhor do que uma válvula mecânica ou bioprostética, e a pessoa não necessita tratamento com anticoagulantes por toda a vida. O TEER não é tão eficaz quanto o reparo ou substituição tradicional. O TEER é recomendado somente para pacientes com regurgitação mitral grave que estão muito frágeis para a cirurgia de coração aberto.

Válvulas cardíacas prostéticas são suscetíveis a infecções graves (endocardite infecciosa). Pessoas com uma válvula artificial devem tomar antibióticos antes de procedimentos cirúrgicos, odontológicos ou médicos (consulte a tabela Exemplos de procedimentos que requerem antibióticos preventivos) para reduzir o risco de infecção em uma válvula, mesmo que esse risco seja pequeno.

Fibrilação atrial, se presente, pode necessitar de tratamento, incluindo o uso de anticoagulantes para prevenir a formação de coágulos de sangue.

Prognóstico de regurgitação mitral

O prognóstico de regurgitação mitral varia de acordo com a duração, gravidade e causa. Algumas regurgitações mitrais pioram e acabam se tornando graves. Uma vez que se torna grave, cerca de 10% das pessoas sem sintomas desenvolvem sintomas a cada ano depois disso.

Mais informações

O seguinte recurso em inglês pode ser útil. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. Associação Americana do Coração: Doença de válvula cardíaca: fornece informações completas sobre diagnóstico e tratamento de doenças das válvulas cardíacas

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