Síndrome da aspiração de mecônio

PorArcangela Lattari Balest, MD, University of Pittsburgh, School of Medicine
Revisado/Corrigido: jul. 2023
Visão Educação para o paciente

A aspiração de mecônio intraparto pode causar pneumonite inflamatória e obstrução brônquica mecânica, produzindo uma síndrome de angústia respiratória. O quadro inclui taquipneia, roncos e sibilos e cianose ou dessaturação. Suspeita-se do diagnóstico diante de insuficiência respiratória após o parto e de líquido amniótico meconial, o qual é confirmado pela radiografia de tórax. Lactentes com desconforto respiratório costumam ser entubados e colocados sob ventilação mecânica. O tratamento dos lactentes gravemente afetados com surfactante diminui a necessidade de oxigenação por membrana extracorpórea, mas não afeta a mortalidade (1, 2). O prognóstico depende das condições fisiológicas basais.

(Ver também Visão geral dos distúrbios respiratórios perinatais.)

O nascimento é acompanhado de extensas mudanças fisiológicas, algumas vezes revelando condições que não causavam qualquer problema na vida intrauterina. Por essa razão, o especialista em reanimação neonatal deve estar presente no momento do parto. A idade gestacional e os parâmetros de crescimento ajudam a identificar o risco de patologia neonatal.

Etiologia da síndrome da aspiração de mecônio

O estresse fisiológico no momento do trabalho de parto e do parto (p. ex., por hipóxia e/ou acidose causada por compressão do cordão umbilical ou insuficiência placentária ou por infecção) pode levar o feto a eliminar mecônio dentro do líquido amniótico antes do parto. A eliminacão de mecônio também pode ser normal antes do nascimento, particularmente em recém-nascidos a termo ou pós-termo; observa-se a eliminacão de mecônio em 10 a 15% dos nascimentos. Entretanto, nunca é normal observar mecônio no parto de um recém-nascido pré-termo. É provável que, durante o trabalho de parto, cerca de 5% dos recém-nascidos tenham aspirado mecônio, desencadeando lesões pulmonares e desconforto respiratório, na denominada síndrome da aspiração de mecônio. Embora a pneumonite causada pelo mecônio contribua para o comprometimento respiratório nesses recém-nascidos, a hipertensão pulmonar persistente (HPP) causada pela acidose e/ou hipóxia pré-natal e pós-natal é igualmente, ou até mais, comprometedora.

Fisiopatologia da síndrome da aspiração de mecônio

Os mecanismos pelos quais a aspiração induz à síndrome provavelmente incluem

  • Liberação de citocinas não específicas

  • Obstrução das vias respiratórias

  • Diminuição da produção de surfactantes e inativação do surfactante

  • Pneumonite química

As condições fisiológicas basais também podem contribuir para o processo. A atelectasia pode surgir se ocorrer obstrução total do brônquio; o bloqueio parcial impede a expiração do ar, resultando em hiperexpansão dos pulmões e possível extravasamento de ar pulmonar com pneumomediastino ou pneumotórax. O risco de extravasamento de ar é ainda maior por causa da diminuição da complacência pulmonar causada pela diminuição da produção de surfactantes e inativação dos surfactantes. Hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido pode estar associada à aspiração de mecônio como uma comorbidade ou decorrente de hipóxia persistente.

Recém-nascidos também podem aspirar, durante o parto, vérnix caseoso, líquido amniótico ou sangue de origem materna ou fetal, os quais podem provocar desconforto respiratório e sinais de pneumonia por aspiração na radiografia de tórax.

Sinais e sintomas da síndrome de aspiração de mecônio

Os sinais da síndrome da aspiração de mecônio são taquipneia, batimento de asa de nariz, retrações, cianose ou dessaturação, estertores e roncos.

A coloração amarelo-esverdeada do cordão umbilical, dos leitos ungueais ou da pele indica exposição prolongada (várias horas) ao mecônio no útero. Essa coloração pode indicar sofrimento fetal prolongado e possivelmente as alterações fisiológicas que levam à síndrome da aspiração de mecônio. Manchas de mecônio podem ser vistas na orofaringe e (na entubação) na laringe e na traqueia.

Os recém-nascidos com retenção de ar podem apresentar tórax em barril e também sinais e sintomas de pneumotórax, enfisema intersticial pulmonar e pneumomediastino.

Diagnóstico da síndrome da aspiração de mecônio

  • Eliminação de mecônio

  • Desconforto respiratório

  • Radiografia com achados característicos

Suspeita-se do diagnóstico da síndrome da aspiração de mecônio quando um recém-nascido mostra desconforto respiratório no contexto do líquido amniótico contendo mecônio. A coloração não é diagnóstica.

O diagnóstico é confirmado pela radiografia de tórax, que demonstra hiperinflação com várias áreas de atelectasia e achatamento do diafragma. Os achados radiológicos iniciais podem ser confundidos com os achados da taquipneia transitória do recém-nascido (TTR); entretanto, o que muitas vezes separa lactentes com a síndrome da aspiração de mecônio daqueles com TTR é a hipoxemia significativa presente com a HPP concomitante. O líquido pode ser visto nas fissuras pulmonares ou nos espaços pleurais; o ar, nos tecidos moles ou no mediastino.

Como o mecônio pode propiciar o crescimento de bactérias e como é difícil diferenciar o diagnóstico de síndrome da aspiração meconial de pneumonia bacteriana, deve-se coletar amostras para hemocultura.

Tratamento da síndrome da aspiração de mecônio

  • Entubação endotraqueal e ventilação mecânica conforme necessário

  • Suplementação de oxigênio conforme necessário para manter a PaO2 alta e relaxar a vasculatura pulmonar nos casos de HPP

  • Surfactante

  • Antibióticos IV

  • Óxido nítrico inalável nos casos graves de HPP

  • Oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) se não responsivo às terapias acima

Não foi demonstrado que a aspiração profunda de rotina (isto é, entubação para aspiração abaixo das pregas vocais) em neonatos nascidos com mecônio no líquido amniótico melhora o desfecho, assim a entubação para sucção de um recém-nascido comprometido com mecônio no líquido amniótico não é mais recomendada. Entretanto, se a respiração do recém-nascido parece obstruída, faz-se aspiração com um tubo endotraqueal ligado ao aspirador de mecônio. Indica-se entubação ou pressão positiva contínua das vias respiratórias por via nasal (CPAP) para desconforto respiratório, seguida de ventilação mecânica e internação na unidade de terapia intensiva neonatal conforme necessário. Uma vez que a ventilação com pressão positiva aumenta o risco da síndrome de extravasamento de ar pulmonar, torna-se importante a reavaliação regular (incluindo exame físico e radiografia do tórax) para detectar essas complicações, que devem ser imediatamente investigadas em qualquer recém-nascido entubado e que subitamente apresente piora da pressão arterial, perfusão ou saturação de oxigênio. Ver Síndromes de extravasamento de ar pulmonar para tratamento.

Deve-se considerar surfactantes para neonatos sob ventilação mecânica com altos requisitos de oxigênio; pode diminuir a necessidade de ECMO (1, 2), mas não diminui a mortalidade.

Às vezes, administra-se antibióticos (geralmente ampicilina e um aminoglicosídeo—como utilizado para o tratamento padrão da doença bacteriana grave em um recém-nascido enfermo). No entanto, estudos mostraram que o uso de antibióticos em recém-nascidos com aspiração de mecônio não reduz significativamente a mortalidade, a incidência de sepse, o tempo de internação ou a duração da necessidade de suporte respiratório (2).

Óxido nítrico inalável a até 20 ppm e ventilação de alta frequência (ver Ventilação mecânica) são outras terapias utilizadas no caso de desenvolvimento de hipoxemia refratária; também podem diminuir a necessidade de ECMO.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. El Shahed AI, Dargaville PA, Ohlsson A, Soll R: Surfactant for meconium aspiration syndrome in term and late preterm infants. Cochrane Database Syst Rev 12(CD002054):1–36, 2014. doi: 10.1002/14651858.CD002054.pub3

  2. 2. Natarajan CK, Sankar MJ, Jain K, et al: Surfactant therapy and antibiotics in neonates with meconium aspiration syndrome: A systematic review and meta-analysis. J Perinatol 36(Suppl 1):S49–S54, 2016. doi: 10.1038/jp.2016.32

Prognóstico para síndrome da aspiração de mecônio

O prognóstico é geralmente bom, embora varie com a fisiopatologia de base; a mortalidade geral é maior.

Recém-nascidos portadores da síndrome da aspiração de mecônio estão sob o risco de apresentarem doença asmática futuramente.

Pontos-chave

  • Cerca de 5% dos neonatos com passagem de mecônio o aspiram, desencadeando lesão pulmonar e desconforto respiratório, ou têm fisiologia pré e pós-natal que os predispõem à hipertensão pulmonar persistente, que pode complicar a síndrome da aspiração de mecônio.

  • Os recém-nascidos podem ter taquipneia, batimento das asas de nariz, retrações, cianose ou dessaturação, estertores, roncos e manhas visíveis de mecônio na orofaringe.

  • Suspeitar do diagnóstico quando ocorre desconforto respiratório em recém-nascidos que têm líquido amniótico manchado por mecônio.

  • Fazer radiografia de tórax e hemoculturas para excluir pneumonia e sepse bacteriana.

  • Após o parto, fazer aspiração em recém-nascidos com sinais de obstrução respiratória com um tubo endotraqueal ligado a um aspirador de mecônio.

  • Casos graves exigem ventilação mecânica e, às vezes, antibióticos, óxido nítrico inalável ou oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO).

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