Disfunção ovulatória é anormalidade, irregularidade (com ≤ 9 menstruações/ano) ou ausência de ovulação. A menstruação geralmente está ausente ou irregular. O diagnóstico normalmente é possível pela história menstrual, confirmado pela medida dos níveis hormonais ou por ultrassonografia pélvica seriada. O tratamento é indução da ovulação por clomifeno ou outros medicamentos.
(Ver também Visão geral da infertilidade.)
Etiologia da disfunção ovulatória
A disfunção ovulatória crônica em mulheres na pré-menopausa é mais comumente causada por
Mas ela tem muitas outras causas, incluindo
Hiperprolactinemia
Disfunção hipotalâmico-hipofisária (mais comumente, amenorreia hipotalâmica funcional)
Outras condições que podem causar anovulação (p. ex., diabetes, hipo- ou hipertireoidismo, depressão, certos antidepressivos, obesidade, exercício excessivo, perda ponderal excessiva, uso de medicamentos que contêm estrogênios ou progestinas)
Sinais e sintomas da disfunção ovulatória
Mulheres com disfunção ovulatória podem ter amenorreia ou sangramento uterino anormal.
Diagnóstico da disfunção ovulatória
História menstrual
Kits de teste domiciliar de ovulação
Às vezes, monitoramento da temperatura corporal basal
Ultrassonografia, medição dos hormônios séricos ou urinários
Anovulação é muitas vezes aparente com base na história menstrual.
A medição matutina diária da temperatura corporal pode ajudar a determinar se e quando a ovulação está ocorrendo. No entanto, esse método é frequentemente impreciso.
Métodos mais precisos incluem
Testes que podem ser realizados em casa, que detectam aumento na excreção urinária do hormônio luteinizante 24 a 36 horas antes da ovulação (exigindo testes diários por vários dias por volta do meio do ciclo, geralmente próximo ou 9º dia depois do ciclo)
Ultrassonografia pélvica, que é utilizada para monitorar aumentos no diâmetro e colapso do folículo ovariano (o monitoramento deve começar no final da fase folicular)
Medição dos níveis séricos de progesterona ou glicuronídeo de pregnanediol urinário (um metabólito urinário da progesterona)
Além desses métodos, níveis de progesteronasérica ≥ 3 ng/mL (≥ 9,75 nmol/L) ou níveis elevados do pregnanediol glicuronida na urina (medido, se possível, 1 semana antes do início da próxima menstruação) indicam que a ovulação acabou de ocorrer.
Ovulação intermitente ou ausente deve levar à avaliação de doenças hipofisárias, hipotalâmicas ou ovarianas (especialmente, SOPC).
Tratamento da disfunção ovulatória
Tratamento da doença subjacente
Letrozol ou clomifeno
Possivelmente metformina, se o índice de massa corporal é ≥ 35 kg/m2
Gonadotropinas, se o clomifeno mostrar-se ineficaz
Induz-se a ovulação com medicações hormonais ou metabólicas. Os tratamentos foram mais extensivamente estudados em pacientes com SOPC, uma etiologia comum da disfunção ovulatória (1).
Letrozol
O letrozol, um inibidor da aromatase, em vez do clomifeno é preferido por muitos médicos. O letrozol tem uma meia-vida muito no plasma mais curta que o clomifeno. Evidências indicam que em mulheres com obesidade e SOPC, o letrozol tem maior probabilidade de induzir ovulação do que o clomifeno, e esse efeito também pode ocorrer em mulheres com SOPC sem obesidade (2). Nenhuma evidência indica que o letrozol é mais eficaz do que o clomifeno para causas da anovulação além de SOPC, mas parece ser pelo menos tão eficaz.
Inicia-se o letrozol entre o 3º e o 5º dia após o início do sangramento menstrual. Inicialmente, as mulheres recebem 2,5 mg por via oral uma vez ao dia, durante 5 dias. Se a ovulação não ocorrer, a dose pode ser aumentada para 2,5 mg a cada ciclo até o máximo de 7,5 mg/dose.
Fadiga e tontura são os efeitos colaterais mais comuns do letrozol.
Letrozol não deve ser administrado a gestantes porque, teoricamente, pode causar defeitos genitais de nascimento.
Clomifeno
A anovulação crônica não decorrente de hiperprolactinemia também pode ser tratada com o antiestrogênio citrato de clomifeno.
Clomifeno é mais eficaz quando a causa é a SOPC. Inicia-se o clomifeno, 50 mg por via oral uma vez ao dia, entre o 3º e o 5º dia após o início do sangramento, o sangramento pode ter ocorrido espontaneamente ou ter sido induzido (p. ex., pela interrupção de progestina). O clomifeno é mantido por 5 dias. A ovulação geralmente ocorre em 5 a 10 dias (em média, 7) depois do último dia do clomifeno; ocorrendo a ovulação, a menstruação seguinte será 35 dias depois do episódio de sangramento.
Se a menstruação não ocorrer, realiza-se teste de gravidez. Se a mulher não é gestante, repete-se o ciclo de tratamento. A dose diária pode ser aumentada em 50 mg a cada ciclo até no máximo 200 mg/dose, conforme necessário para induzir a ovulação. O tratamento é mantido, conforme o necessário, por até 4 ciclos ovulatórios. A maioria das mulheres que quer engravidar o faz no quarto ciclo em que ocorre a ovulação. A ovulação ocorre em 75 a 80% das mulheres tratadas com clomifeno, mas a taxa de gravidez é de no máximo 40 a 50% (3).
Os efeitos adversos do clomifeno incluem rubor vasomotor (10%), distensão abdominal (6%), mastalgia (2%), náuseas (3%), sintomas visuais (1 a 2%) e cefaleias (1 a 2%). A gestação múltipla (principalmente gêmeos) ocorre em cerca de 5% dos casos e a síndrome da hiperestimulação ovariana em ≤ 1%. Cistos ovarianos são comuns. A associação anteriormente sugerida entre o clomifeno administrado por > 12 ciclos e o câncer de ovário ainda não foi confirmada.
Clomifeno não deve ser administrado a gestantes porque, teoricamente, pode causar defeitos genitais de nascimento.
Metformina
Para mulheres com SOPC, a metformina, 750 mg a 1000 mg por via oral duas vezes ao dia, pode ser um adjuvante na indução da ovulação, particularmente se forem resistentes à insulina, como ocorre com muitas pacientes com SOPC. Entretanto, o clomifeno sozinho é mais eficaz que a metformina isolada e igualmente eficaz quanto metformina e clomifeno juntos (4). A metformina não é a terapia de primeira linha para mulheres com SOPC e que querem engravidar.
Gonadotropinas exógenas
Para todas as mulheres com disfunção ovulatória e não responsivas ao letrozol ou clomifeno, pode-se utilizar gonadotropinas humanas (isto é, preparações que contêm hormônio foliculoestimulante [FSH] puro ou recombinado e quantidades variáveis de hormônio luteinizante [LH]). Muitas preparações IM ou por via subcutânea com eficácias similares estão disponíveis; tipicamente, contêm 75 UI de FSH ativo com ou sem HL ativo. Elas normalmente são dadas uma vez ao dia, a partir do 3º ao 5º dia após sangramento induzido ou espontâneo; idealmente, eles estimulam a maturação de 1 a 3 folículos, determinado por ultrassonografia, em 7 a 14 dias.
A ovulação é tipicamente desencadeada com gonadotropina coriônica humana (hCG), 5.000 a 10.000 UI IM depois da maturação folicular; os critérios para uso de hCG podem variar, mas geralmente pelo menos um folículo deve ter > 16 mm de diâmetro. Por outro lado, pode-se utilizar um agonista do hormônio liberador de gonadotropina (GnRH) para desencadear a ovulação, especialmente em mulheres com alto risco da síndrome de hiperestimulação ovariana.
Embora o risco da síndrome de hiperestimulação ovariana em mulheres de alto risco seja menor quando um agonista de GnRH é utilizado para desencadear a ovulação, é mais seguro não desencadear a ovulação se as mulheres têm alto risco da síndrome de hiperestimulação ovariana ou gestação multifetal. Os fatores de risco de esses problemas incluem
Presença de > 3 folículos > 16 mm de diâmetro
Níveis de estradiol sérico pré-ovulatório acima de 1.500 pg/mL (ou, possivelmente, acima de 1.000 pg/mL) em mulheres com diversos folículos ovarianos pequenos
Quando as gonadotropinas exógenas são utilizadas de maneira apropriada, > 95% das mulheres tratadas com elas ovulam, mas a taxa de gestação é de apenas 50% (5).
Após a terapia com gonadotropina, 10 a 30% das gestações bem-sucedidas são múltiplas.
A síndrome de hiperestimulação ovariana ocorre em 10 a 20% das pacientes (6); os ovários podem tornar-se maciçamente aumentados e o volume de líquido intravascular pode se deslocar para o espaço peritoneal, causando um potencial risco de ascite e de hipovolemia, que podem causar risco à vida. (Ver também the American Society for Reproductive Medicine: Prevention and treatment of moderate and severe ovarian hyperstimulation syndrome: A guideline (2016).)
Tratamento da doença subjacente
As doenças subjacentes (p. ex., hiperprolactinemia) são tratadas.
Se a causa é amenorreia hipotalâmica funcional, acetato de gonadorelina, um agonista de GnRH sintético, administrado em infusões IV pulsáteis, pode induzir a ovulação. Doses de 2,5 a 5,0 mcg em bolus (dose de pulso), regularmente de 60 a 90 minutos, são mais efetivas. O acetato de gonadorelina dificilmente causa gestação múltipla.
Como a gonadorelina não está mais disponível nos Estados Unidos, o letrozol ou o clomifeno são os primeiros medicamentos utilizados para tratar a amenorreia hipotalâmica funcional, seguidos pelas gonadotropinas exógenas, se a indução da ovulação com qualquer agente oral não for bem-sucedida.
Referências sobre tratamento
1. Teede HJ, Tay CT, Laven JJE, et al. Recommendations From the 2023 International Evidence-based Guideline for the Assessment and Management of Polycystic Ovary Syndrome. J Clin Endocrinol Metab. 2023;108(10):2447-2469. doi:10.1210/clinem/dgad463
2. Legro RS, Brzyski RG, Diamond MP, et al: Letrozole versus clomiphene for infertility in the polycystic ovary syndrome. N Engl J Med 371:119-129, 2014. doi:10.1056/NEJMoa1313517
3. Gysler M, March CM, Mishell DR Jr, Bailey EJ: A decade's experience with an individualized clomiphene treatment regimen including its effect on the postcoital test. Fertil Steril 37(2):161-167, 1982. doi:10.1016/s0015-0282(16)46033-4
4. Legro RS, Barnhart HX, Schlaff WD, et al: Clomiphene, metformin, or both for infertility in the polycystic ovary syndrome. N Engl J Med 356 (6):551–566, 2007. doi: 10.1056/NEJMoa063971
5. White DM, Polson DW, Kiddy D, et al. Induction of ovulation with low-dose gonadotropins in polycystic ovary syndrome: an analysis of 109 pregnancies in 225 women. J Clin Endocrinol Metab. 1996;81(11):3821-3824. doi:10.1210/jcem.81.11.8923819
6. Schirmer DA 3rd, Kulkarni AD, Zhang Y, Kawwass JF, Boulet SL, Kissin DM. Ovarian hyperstimulation syndrome after assisted reproductive technologies: trends, predictors, and pregnancy outcomes. Fertil Steril. 2020;114(3):567-578. doi:10.1016/j.fertnstert.2020.04.004
Pontos-chave
A causa mais comum de disfunção ovulatória em mulheres na pré-menopausa é a SOPC; outras causas incluem disfunção hipotalâmica e pituitária.
Diagnosticar a disfunção ovulatória com base na história menstrual, resultados de ultrassonografia pélvica e/ou medição da progesterona sérica e do glicuronídeo de pregnanodiol urinário.
Induzir a ovulação na maioria das mulheres, geralmente com letrozol ou clomifeno.