As infecções por Campylobacter geralmente causam diarreia autolimitada e ocasionalmente bacteremia, com consequente endocardite, osteomielite ou artrite séptica. O diagnóstico é por cultura, geralmente de fezes. Quando necessário, o tratamento inclui azitromicina.
Campylobacter spp psão bacilos Gram-negativos móveis, curvos e microaerófilos que normalmente habitam o trato gastrointestinal de muitos animais domésticos e aves.
Várias espécies são patogênicas para seres humanos. Os principais patógenos são C. jejuni, C. coli, e C. fetus.
C. jejuni é um patógeno transmitido por alimentos que afeta pessoas saudáveis e pessoas imunocomprometidas. Provoca diarreia em todas as faixas etárias, embora o pico de incidência pareça ser entre 1 a 5 anos de idade. Em alguns anos, C. jejuni é responsável por mais casos de diarreia nos Estados Unidos do que Salmonella ou Shigella combinadas. C. jejuni pode causar meningites em lactentes.
C. fetus e vários outras espécies de Campylobacter (p. ex., C. coli, C. lari) tipicamente causam bacteremia e manifestações sistêmicas em adultos, mais frequentemente quando há doenças predisponentes subjacentes, como diabetes, cirrose, câncer ou HIV/aids. C. fetus é muito menos comum do que C. jejuni e geralmente é um patógeno oportunista que afeta pessoas com doença subjacente, idosos e gestantes. Em gestantes, a taxa de perda fetal pode ser tão alta quanto 70%. Infecções por C. fetus em hospedeiros saudáveis ocorrem naqueles com exposição ocupacional a animais infectados. Em pacientes com deficiências de imunoglobulina, esses microrganismos, incluindo o C. jejuni, podem causar infecções recorrentes de difícil tratamento. Hipocloridria e acloridria são fatores predisponentes porque espécies Campylobacter são sensíveis ao ácido gástrico.
Os seguintes foram implicados em epidemias
Contato com animais infectados (p. ex., cachorrinhos)
Contato com alimentos ou água contaminados (p. ex., manipulação de alimento contaminado)
Ingestão de alimentos contaminados (especialmente aves mal cozidas), água ou leite cru não pasteurizado
A transmissão de uma pessoa para outra também pode ocorrer pelo contato fecal-oral e sexual, mas é incomum por causa da grande quantidade de organismos Campylobacter necessários para causar infecção. A transmissão da infecção por Campylobacterocorre entre homens que fazem sexo com homens. Porém, para casos esporádicos, a fonte do microrganismo infectante está frequentemente obscura.
Complicações
Doença diarreica por C. jejuni está associada ao desenvolvimento subsequente da síndrome de Guillain-Barré por causa da reação cruzada entre os anticorpos para C. jejuni e gangliosídios humanos (1). Embora a estimativa seja de que apenas 1 caso da SGB ocorra a cada 1000 infecções por C. jejuni nos Estados Unidos (2), cerca de 20 a 50% dos pacientes que desenvolvem SGB tiveram uma infecção prévia por C. jejuni (3, 4).
Pode ocorrer artrite pós-infecciosa (reativa) nos pacientes HLA (human leukocyte antigen)-B27-positivos (espondilite anquilosante) após alguns dias ou várias semanas de um episódio de diarreia por C. jejuni. Outras complicações pós-infecção incluem uveíte, anemia hemolítica, síndrome hemolítico-urêmica, miopericardite, doença do intestino delgado imunoproliferativa, aborto séptico e encefalopatia.
Infecções extraintestinais focais (p. ex., endocardite, meningite, artrite infecciosa aguda) raramente ocorrem com C. jejuni, mas são mais comuns com C. fetus.
Referências
1. Nachamkin I, Allos BM, Ho T. Campylobacter species and Guillain-Barré syndrome. Clin Microbiol Rev. 1998;11(3):555-567. doi:10.1128/CMR.11.3.555
2. Centers for Disease Control and Prevention: Guillain-Barré Syndrome. Acessado em 15/04/2024.
3. Rees JH, Soudain SE, Gregson NA, Hughes RA. Campylobacter jejuni infection and Guillain-Barré syndrome. N Engl J Med. 1995;333(21):1374-1379. doi:10.1056/NEJM199511233332102
4. Mishu B, Blaser MJ. Role of infection due to Campylobacter jejuni in the initiation of Guillain-Barré syndrome. Clin Infect Dis. 1993;17(1):104-108. doi:10.1093/clinids/17.1.104
Sinais e sintomas de Campylobacter e infecções relacionadas
A manifestação mais comum da infecção por Campylobacter é a doença gastrointestinal autolimitada aguda caracterizada por diarreia aquosa e, às vezes, sanguinolenta.
Febre (38 a 40° C), que se segue a uma recidiva ou curso intermitente, é a única característica constante de infecção sistêmica por Campylobacter, embora dor abdominal (geralmente no quadrante inferior direito), cefaleia e mialgias sejam frequentes.
A infecção também pode se apresentar como endocardite bacteriana subaguda (mais frequentemente por causa de C. fetus), artrite séptica, meningites, ou como uma febre de origem desconhecida insidiosa em vez de doença diarreica. O envolvimento em conjunto com artrite reativa geralmente é monoarticular, acometendo os joelhos, e os sintomas desaparecem espontaneamente no prazo de 1 semana a alguns meses.
Diagnóstico de infecções por Campylobacter e infecções relacionadas
Cultura de fezes ou teste de amplificação de ácido nucleico (NAAT)
Às vezes, hemocultura
O diagnóstico, em particular para diferenciação entre infecção por Campylobacter e colite ulcerativa, requer avaliação microbiológica. Devem-se obter cultura de fezes e hemoculturas para pacientes com sinais de infecção focal ou doença sistêmica grave. Leucócitos estão presentes em amostras de fezes coradas.
Também estão disponíveis testes moleculares rápidos (painéis NAAT de patógenos entéricos múltiplos) e testes de fezes com antígeno.
Tratamento de infecções por Campylobacter e infecções relacionadas
Algumas vezes, azitromicina
A maioria das infecções enterais causadas por C. jejuni desaparece espontaneamente; se não desaparecerem, azitromicina pode ser útil. Esse antibiótico também é comumente administrado a pacientes com alto risco de doença grave ou complicada, como pacientes imunocomprometidos.
Como a resistência ao ciprofloxacino está aumentando, este só deve ser utilizado quando tiver sido determinada a suscetibilidade, mas mesmo assim relatou-se surgimento de resistência durante o tratamento com fluoroquinolona.
Para pacientes com infecções extraintestinais por Campylobacter, deve ser realizado tratamento com antibiótico (p. ex., imipeném, gentamicina, ampicilina, eritromicina), durante 2 a 4 semanas, a fim de prevenir recidivas.