A decisão de tratar uma arritmia depende dos seus sintomas e da sua potencial gravidade. O tratamento é direcionado às causas. Se necessário, utiliza-se terapia antiarrítmica direta, incluindo antiarrítmicos, cardioversão-desfibrilação, cardioversores desfibriladores implantáveis (CDIs), marca-passos (e uma forma especial de estimulação, terapia de ressincronização cardíaca), ablação com catéter, cirurgia ou uma combinação desses procedimentos.
Se a taquiarritmia depender de uma via específica ou de um local ectópico de automatismo, o local pode ser intencionalmente destruído (por ablação) visando a cura (1). Os métodos de ablação são
Ablação por radiofrequência
Crioablação
Ablação a laser
Ablação por campo elétrico pulsado
Geralmente realiza-se a ablação por radiofrequência utilizando energia de radiofrequência (RF) elétrica de baixa voltagem e alta frequência (300 a 750 MHz) fornecida por catéter transvenoso. Essa energia aquece e necrosa uma área < 1 cm de diâmetro e de até 1 cm de profundidade.
A crioablação utiliza o congelamento de tecidos (a -70° C) para causar destruição tecidual. Outros sistemas de entrega foram desenvolvidos para uso intraoperatório.
Energia a laser pode ser administrada utilizando um catéter transvenoso para ablação de uma área-alvo.
A ablação por campo elétrico pulsado utiliza uma mira de alta voltagem, impulsos elétricos de curta duração que matam miócitos cardíacos por um método não térmico. A corrente elétrica faz com que sejam desenvolvidos poros na membrana celular, destruindo a célula. Os miócitos são mais sensíveis a esse estímulo do que muitas outras células, de modo que as estruturas colaterais podem experimentar menos danos. Essa técnica de ablação é bastante dolorosa e requer anestesia geral.
Antes que a energia possa ser aplicada, o local ou os locais alvo devem ser identificados por estudo eletrofisiológico.
[A taxa de sucesso é > 90% para as taquicardias supraventriculares por reentrada (via o nó atrioventricular [AV] ou via acessória), taquicardia atrial focal e flutter atrial, e taquicardia ventricular idiopática focal (taquicardia ventricular por reentrada na via de saída do ventrículo direito, ou taquicardia ventricular por reentrada no septo esquerdo ou no ramo do feixe) (2, 3).
Como fibrilação atrial (FA) geralmente se origina ou é mantida em um local arritmogênico nas veias pulmonares, essa origem pode ser isolada eletricamente por ablações na junção entre a veia pulmonar e átrio esquerdo ou no átrio esquerdo. De forma alternativa, para os pacientes com fibrilação atrial refratária e frequências ventriculares elevadas, o nó AV pode ser submetido à ablação, após a implantação de marca-passo permanente. Às vezes, a ablação é bem-sucedida em pacientes com cardiopatia isquêmica e TV refratária a fármacos particularmente quando doença cardíaca isquêmica está presente.
A ablação transcatéter é segura. As complicações principais incluem lesão vascular, lesão valvar, estenose ou oclusão da veia pulmonar (se utilizada para tratamento de fibrilação atrial), acidente vascular encefálico ou outra embolia, perfuração cardíaca, tamponamento e ablação não intencional do nó atrioventriculares. As taxas de complicações maiores variam de 0,5 a 1% em ablações supraventriculares simples e chegam a aproximadamente 5% nas ablações complexas de TV (4, 5). As taxas de mortalidade variam de 0,02 a 0,04% em ablações supraventriculares simples a 0,5% em ablações complexas de taquicardia ventricular (4, 5).
Referências
1. Andrade JG, Rivard L, Macle L. The past, the present, and the future of cardiac arrhythmia ablation. Can J Cardiol 2014;30(12 Suppl):S431-S441. doi:10.1016/j.cjca.2014.07.731
2. Page RL, Joglar JA, Caldwell MA, et al. 2015 ACC/AHA/HRS guideline for the management of adult patients with supraventricular tachycardia: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society. Heart Rhythm 2016;13(4):e136-e221. doi:10.1016/j.hrthm.2015.09.019
3. Al-Khatib SM, Stevenson WG, Ackerman MJ, et al. 2017 AHA/ACC/HRS Guideline for Management of Patients With Ventricular Arrhythmias and the Prevention of Sudden Cardiac Death: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society [published correction appears in Circulation 2018 Sep 25;138(13):e419-e420. doi: 10.1161/CIR.0000000000000614.]. Circulation 2018;138(13):e272-e391. doi:10.1161/CIR.0000000000000549
4. Doldi F, Geßler N, Anwar O, et al. In-hospital mortality and major complications related to radiofrequency catheter ablations of over 10 000 supraventricular arrhythmias from 2005 to 2020: individualized case analysis of multicentric administrative data. Europace 2023;25(1):130-136. doi:10.1093/europace/euac146
5. Eckardt L, Doldi F, Anwar O, et al. Major in-hospital complications after catheter ablation of cardiac arrhythmias: individual case analysis of 43 031 procedures. Europace 2023;26(1):euad361. doi:10.1093/europace/euad361