O mesotelioma pleural, um câncer primário raro da serosa mesotelial, é causado pela exposição ao amianto na grande maioria dos casos. Os sintomas incluem tosse persistente, dispneia, dor torácica e perda ponderal sem explicação. O diagnóstico é baseado na história de exposição, exames de imagem torácicos e biópsia de tecido. O mesotelioma neoplásico difuso é quase sempre fatal.
(Ver também Visão geral das doenças relacionadas com amianto e Visão geral da doença pulmonar ambiental e ocupacional.)
O termo mesotelioma (ou mesotelioma maligno) geralmente se refere a um câncer primário maligno da serosa mesotelial que quase sempre é causado pela exposição ao amianto.
O amianto é uma família de silicatos que encontrados na natureza, cuja resistência ao calor e propriedades estruturais o tornam útil para a inclusão em materiais da construção civil e naval, freios de automóveis e alguns tecidos. Há duas classes principais de amianto: serpentina (que inclui crisotila) e anfibólio (que inclui amosita, crocidolita, antofilita, tremolita e actinolita).
O amianto causa a grande maioria dos mesoteliomas malignos. Todos os tipos de amianto podem causar mesotelioma maligno, mas alguns tipos de fibras são mais propensos a fazê-lo do que outros (fibras de anfibólio geralmente têm maior potência do que de serpentina).
O risco de mesotelioma maligno decorrente do amianto depende da dose. Entretanto, sabe-se que os casos ocorrem em baixos níveis de exposição.
Há uma longa latência, de 30 a 50 anos, a partir do momento da exposição ao amianto ao desenvolvimento do mesotelioma.
Além da exposição ocupacional, o mesotelioma maligno pode ocorrer como resultado da exposição para-ocupacional ao amianto (quando levado para casa), bem como por meio de exposições ambientais. Locais notáveis onde a exposição ambiental ao amianto natural tem sido associada ao mesotelioma incluem erionita na Capadócia, na Turquia, tremolita nas regiões mediterrâneas, crocidolita no sudoeste da China rural, antigorita na Nova Caledônia e amianto Libby em Libby, Montana.
O pó de talco contaminado com amianto é outra fonte não ocupacional de exposição ao amianto associada ao mesotelioma (1). Outras causas do mesotelioma incluem outras fibras minerais, radioterapia para linfoma e o vírus de DNA SV40. O risco é independente do tabagismo.
Historicamente, a maioria dos casos de mesotelioma ocorreu em homens, dado o trabalho industrial com forte exposição ao amianto. Como a incidência de mesotelioma em homens diminuiu ao longo do tempo, a incidência proporcional de mesotelioma maligno em mulheres aumentou (2, 3).
Até 90% dos mesoteliomas malignos surgem na pleura, com a maioria dos casos remanescentes no peritônio (4). Em casos raros, o mesotelioma pode ocorrer no pericárdio e na túnica vaginal.
Existem dois subtipos histológicos principais:
Epitelioide, responsável por aproximadamente ≥ 60% dos mesoteliomas
Sarcomatoide
Referências gerais
1. Moline J, Bevilacqua K, Alexandri M, Gordon RE. Mesothelioma Associated With the Use of Cosmetic Talc. J Occup Environ Med 2020; 62(1), 11-17. doi:10.1097/JOM.0000000000001723
2. Mazurek JM, Blackley DJ, Weissman DN. Malignant Mesothelioma Mortality in Women - United States, 1999-2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2022; 71(19), 645-649. doi:10.15585/mmwr.mm7119a1
3. Alpert N, van Gerwen M, Taioli E. Epidemiology of mesothelioma in the 21(st) century in Europe and the United States, 40 years after restricted/banned asbestos use. Transl Lung Cancer Res 2020; 9(Suppl 1), S28-S38. doi:10.21037/tlcr.2019.11.11
4. Markowitz S. Asbestos-related lung cancer and malignant mesothelioma of the pleura: selected current issues. Semin Respir Crit Care Med 2015; 36(3), 334-346. doi:10.1055/s-0035-1549449
Sinais e sintomas do mesotelioma
Com maior frequência, os pacientes desenvolvem dispneia e dor torácica não pleurítica. Derrames pleurais, geralmente unilaterais e hemorrágicos, estão presentes em até 90% dos pacientes. Os sintomas constitucionais são incomuns na vigência das manifestações clínicas iniciais.
A invasão da parede torácica e de outras estruturas adjacentes pelo tumor pode provocar dor intensa, rouquidão, disfagia, síndrome de Horner, plexopatia braquial ou ascite.
Diagnóstico do mesotelioma
Exames de imagens do tórax (radiografia, TC)
Citologia do líquido pleural ou biópsia pleural
O diagnóstico de mesotelioma pleural maligno pode ser desafiador.
Exames de imagem do tórax são fundamentais para diagnóstico e estadiamento. Os achados típicos na radiografia de tórax são espessamento pleural nodular, derrame pleural e perda do volume torácico. A TC de tórax possibilita uma melhor visualização das alterações pleurais e da extensão da doença. PET-CT e RM podem ajudar a identificar doenças mais extensas.
Geralmente é necessária biópsia da pleura, pois a citologia do líquido pleural normalmente não é diagnóstica. O diagnóstico de mesotelioma maligno é baseado na aparência histológica e coloração imuno-histoquímica. Entretanto, a histologia pode dificultar a distinção entre mesotelioma e outros tumores.
By permission of the publisher. From Huggins J, Sahn S. In Bone's Atlas of Pulmonary and Critical Care Medicine. Edited by J Crapo. Philadelphia, Current Medicine, 2005.
O estadiamento é feito com TC e RM do tórax. A RM é útil para caracterizar a extensão do tumor.
Não há rastreamento definitivo recomendações para mesotelioma a fim de detectar doença em estágio inicial em populações expostas ao amianto.
Tratamento do mesotelioma
Cuidados de suporte, incluindo toracentese, pleurodese e controle da dor
Quimioterapia e imunoterapia
O mesotelioma pleural maligno em geral não é ressecável no momento do diagnóstico. O foco principal do tratamento é sintomático, visando o alívio da dor e da dispneia.
A ressecção cirúrgica pode ser considerada em pacientes com doença em estágio inicial. Nas doenças mais avançadas, têm-se utilizado abordagens cirúrgicas para diminuir ou tentar ressecar toda a parte macroscópica da doença; o benefício dessas abordagens na sobrevida não está claro.
Pode-se utilizar radioterapia para reduzir o volume do tumor e como uma medida paliativa para aliviar os sintomas.
A quimioterapia (p. ex., agentes de platina mais antimetabólitos de folato) mostrou benefício limitado, com pouco impacto na sobrevida a longo prazo. A imunoterapia (p. ex., inibidores do checkpoint imunológico, como tremelimumabe, pembrolizumabe, nivolumabe, ipilimumabe) ou a combinação de quimioterapia e imunoterapia mostrou alguma promessa em desacelerar a progressão e melhorar a sobrevida a curto prazo, mas tiveram impacto limitado na sobrevida a longo prazo (1, 2).
O tratamento de suporte inclui toracentese, pleurodese e controle da dor. O tratamento dos derrames pleurais malignos, que são comuns, pode melhorar os sintomas e a qualidade de vida. Cuidados paliativos voltados a controlar a dor e melhorar a qualidade de vida são uma prioridade.
Referências sobre tratamento
1. Banna GL, Signori A, Curioni-Fontecedro A, et al. Systemic therapy for pre-treated malignant mesothelioma: A systematic review, meta-analysis and network meta-analysis of randomised controlled trials. Eur J Cancer 2022; 166, 287-299. doi:10.1016/j.ejca.2022.02.030
2. Fennell DA, Dulloo S, Harber J. Immunotherapy approaches for malignant pleural mesothelioma. Nat Rev Clin Oncol 2022; 19(9), 573-584. doi:10.1038/s41571-022-00649-7
Prognóstico do mesotelioma
O prognóstico permanece desfavaroável, apesar das novas abordagens terapêuticas, como a imunoterapia. A mediana da sobrevida é de aproximadamente 6 a 18 meses, dependendo do estágio e da histologia (1). O mesotelioma epitelioide, o subtipo histológico mais comum, está associado à sobrevida média mais longa do que o mesotelioma sarcomatoide.
Além do subtipo histológico, os indicadores prognósticos e os biomarcadores têm valor prognóstico limitado.
Referência sobre prognóstico
1. Alpert N, van Gerwen M, Taioli E. Epidemiology of mesothelioma in the 21(st) century in Europe and the United States, 40 years after restricted/banned asbestos use. Transl Lung Cancer Res 2020; 9(Suppl 1), S28-S38. doi:10.21037/tlcr.2019.11.11
Pontos-chave
O mesotelioma maligno é um câncer raro, agressivo e quase sempre fatal, com taxa de sobrevida em 5 anos de cerca de 10%.
A grande maioria dos mesoteliomas malignos está relacionada com a exposição ao amianto, que pode ser ocupacional, para-ocupacional ou de fontes ambientais.
O tratamento é focado no cuidado de suporte. Embora a imunoterapia tenha se mostrado promissora, o prognóstico permanece ruim.