Divertículos são extrusões da mucosa em forma de saco a partir de uma estrutura tubular (ver também Definição da doença diverticular).
Divertículos raramente envolvem o estômago, mas estão presentes no duodeno em cerca de 22% das pessoas (1). A maioria dos divertículos duodenais é solitária e ocorre na segunda porção do duodeno, adjacente ou envolvendo a ampola hepatopancreática (periampular). No restante do intestino delgado (jejuno e íleo) divertículos ocorrem em cerca de 5% dos pacientes, mais comumente no jejuno e são mais frequentes em pacientes com distúrbios da motilidade intestinal. Divertículo de Meckel ocorre no meio do íleo distal.
A maioria dos divertículos do estômago e intestino delgado é assintomática e detectada incidentalmente. Complicações dos divertículos incluem sangramento, perfuração e diarreia com má absorção resultante do supercrescimento bacteriano. Divertículos assintomáticos não exigem tratamento.
Deve-se ter cautela ao recomendar cirurgia para pacientes com um divertículo e sintomas gastrointestinais (GI) vagos (p. ex., dispepsia) porque o divertículo pode não ser a causa dos sintomas.
Referência
1. Thorson CM, Paz Ruiz PS, Roeder RA, Sleeman D, Casillas VJ. The perforated duodenal diverticulum. Arch Surg. 2012;147(1):81-88. doi:10.1001/archsurg.2011.821
Divertículos gástricos
Divertículos gástricos são tipicamente descobertos como achados incidentais durante endoscopia ou exames de imagem (p. ex., exames do trato gastrointestinal superior com bário, TC com contraste). A localização predominante é a porção proximal do estômago ao longo da curvatura maior. O tamanho do divertículo varia de 1 a 3 cm de diâmetro.
Divertículos gástricos são formados por uma projeção da mucosa do estômago através do músculo, mas não através de toda a parede do estômago (talvez devido à espessura das camadas musculares do estômago) e são, portanto, chamados divertículos intramurais ou parciais.
Divertículos gástricos geralmente são assintomáticos, mas alguns pacientes relatam uma sensação vaga de plenitude gástrica e dispepsia. Complicações como sangramento, perfuração e câncer são incomuns.
Nenhum tratamento específico é necessário para um divertículo assintomático; o tratamento depende da gravidade dos sintomas. Inibidores da bomba de prótons durante várias semanas podem aliviar a dispepsia em alguns pacientes (1).
Referência sobre divertículos gástricos
1. Shah J, Patel K, Sunkara T, Papafragkakis C, Shahidullah A. Gastric Diverticulum: A Comprehensive Review. Inflamm Intest Dis. 2019;3(4):161-166. doi:10.1159/000495463
Divertículos duodenais
Divertículos duodenais podem ser
Extraluminais (que se projetam para fora da parede duodenal)
Intraluminais (que se projetam no lúmen duodenal)
Divertículos extraluminais do duodeno são comuns e são vistos em aproximadamente 22% das pessoas e frequentemente são periampulares (1, 2). Um divertículo que surge dentro de 2 a 3 cm da ampola é chamado divertículo justapapilar. Os pacientes permanecem assintomáticos ou apresentam sintomas abdominais inespecíficos.
Complicações dos divertículos extraluminais incluem sangramento, diverticulite e perfuração. Diarreia e má absorção decorrentes de supercrescimento bacteriano podem ocorrer se múltiplos divertículos estiverem presentes. Obstrução duodenal é extremamente rara. Divertículos justapapilares podem causar complicações como colangite, pancreatite recorrente, coledocolitíase (mesmo após colecistectomia) e disfunção da ampola hepatopancreática.
Divertículos intraluminais ou divertículos em forma de saco são divertículos que ocorrem inteiramente dentro do lúmen. São raros e ocorrem por causa de uma anomalia de desenvolvimento que resulta em um diafragma ou membrana ao longo do lúmen. Com o passar do tempo, o peristaltismo pode puxar a membrana e a parede intestinal à qual está fixada no lúmen. A parede intestinal invaginada é na verdade uma bolsa intraluminal ou divertículo.
Divertículos intraluminais ocorrem tipicamente na segunda porção do duodeno, a maioria ocorre próximo à ampola hepatopancreática. Podem envolver toda a circunferência ou somente uma parte da parede do duodeno e podem projetar-se distalmente até a quarta porção do duodeno. Muitas vezes há uma segunda abertura localizada excentricamente no divertículo. Costumam ser assintomáticos, mas alguns pacientes desenvolvem obstrução duodenal incompleta, perfuração ou sangramento.
Podem-se diagnosticar esses divertículos por meio de estudos com bário do trato GI superior, mas tomografia computadorizada espiral multiplanar (TCEM) e endoscopia digestiva alta também podem ser utilizadas (3). Durante a endoscopia digestiva alta, um divertículo pode ser incorretamente interpretado como lúmen duodenal ou um pólipo grande.
As opções de tratamento incluem ressecção cirúrgica quando ocorre obstrução ou sangramento.
Referências sobre divertículos duodenais
1. Thorson CM, Paz Ruiz PS, Roeder RA, Sleeman D, Casillas VJ. The perforated duodenal diverticulum. Arch Surg. 2012;147(1):81-88. doi:10.1001/archsurg.2011.821
2. Egawa N, Anjiki H, Takuma K, Kamisawa T. Juxtapapillary duodenal diverticula and pancreatobiliary disease. Dig Surg. 2010;27(2):105-109. doi:10.1159/000286520
3. Li Z, Wang D, Hu J, Zhang G, Sun J. Multi-slice spiral computed tomography diagnosis of juxta-papillary duodenal diverticulum and its relationship with biliopancreatic diseases. Technol Health Care. 2024;32(1):1-8. doi:10.3233/THC-220742
Divertículos jejunais e divertículos ileais
Esses divertículos do intestino delgado são incomuns e podem surgir no jejuno (80%), íleo (15%) ou ambos (5%) (1). Em geral, eles são múltiplos, e seus tamanhos variam de apenas alguns milímetros até 10 cm de diâmetro. Divertículos do intestino delgado não possuem uma parede muscular verdadeira e geralmente estão localizados na borda mesentérica. Esses divertículos podem ser causados por distúrbios da motilidade intestinal.
Muitos pacientes são assintomáticos ou relatam sintomas inespecíficos, como dor abdominal recorrente, saciedade precoce, meteorismo, borborigmos audíveis e diarreia intermitente.
Complicações incluem sangramento, diverticulite e perfuração. Alguns pacientes podem desenvolver supercrescimento bacteriano e subsequente má absorção ou vólvulo do intestino delgado que pode causar obstrução.
Divertículos no intestino delgado geralmente são diagnosticados por enteroscopia (anterógrada ou retrógrada), radiografias seriadas do intestino delgado com bário, enterografia por TC, enterografia por RM ou endoscopia por cápsula.
Costuma-se recomendar tratamento conservador para a maioria dos pacientes assintomáticos. Pode-se prescrever antibióticos para supercrescimento bacteriano no intestino delgado. Cirurgia pode ser necessária para pacientes com perfuração ou diverticulite. Geralmente evita-se a cirurgia em pacientes com pseudo-obstrução intestinal crônica.
Referência sobre divertículos jejunais e divertículos ileais
1. Ghrissi R, Harbi H, Elghali MA, Belhajkhlifa MH, Letaief MR. Jejunal diverticulosis: a rare case of intestinal obstruction. J Surg Case Rep. 2016;2016(2):rjv176. Publicado em 1º de fevereiro de 2016. doi:10.1093/jscr/rjv176
Pontos-chave
Divertículos raramente envolvem o estômago, mas são comuns no duodeno e intestino delgado.
A maioria dos divertículos é assintomática é detectada incidentalmente.
Complicações incluem sangramento, perfuração e má absorção resultantes de supercrescimento bacteriano.
Divertículos assintomáticos não exigem tratamento.
Deve-se ter cautela ao recomendar cirurgia para pacientes com um divertículo e sintomas gastrointestinais vagos (p. ex., dispepsia).