Paralisia cerebral (PC)

PorM. Cristina Victorio, MD, Akron Children's Hospital
Revisado/Corrigido: mar. 2023
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Fatos rápidos

A paralisia cerebral se refere a um grupo de doenças que engloba dificuldade de movimentação e rigidez muscular (espasticidade). Ela resulta de malformações cerebrais que ocorrem antes do nascimento durante a época em que o cérebro está se desenvolvendo ou de danos cerebrais que ocorrem antes, durante ou logo após o nascimento.

  • Causas de paralisia cerebral incluem danos cerebrais que podem ser provocados por falta de oxigênio ou de infecções e malformações cerebrais.

  • Os sintomas variam desde uma falta de coordenação motora quase imperceptível a uma dificuldade significativa em movimentar um ou mais membros, até paralisia e articulações tão rígidas que elas não conseguem ser movimentadas de forma alguma.

  • Algumas crianças com paralisia cerebral também têm deficiência intelectual, problemas comportamentais, dificuldade para ver ou ouvir e/ou transtornos convulsivos.

  • O diagnóstico é suspeitado quando as crianças demoram para aprender a andar ou a desenvolver outras habilidades motoras ou quando os músculos da criança são rígidos ou fracos.

  • Não há cura para a paralisia cerebral, mas fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia e, às vezes, medicamentos e/ou cirurgia podem ajudar as crianças a alcançarem seu potencial máximo.

  • A maioria das crianças com paralisia cerebral sobrevive até a idade adulta.

A paralisia cerebral (PC) afeta cerca de 2 a 3 em cada 1.000 bebês, especialmente bebês prematuros com menos de 28 semanas de gestação.

A paralisia cerebral não é uma doença. Ela é, na verdade, um conjunto de sintomas resultantes de malformações cerebrais ou danos às partes do cérebro que controlam os movimentos musculares (áreas motoras). Algumas vezes, as crianças com paralisia cerebral também apresentam anomalias em outras partes do cérebro. Os danos cerebrais que resultam na paralisia cerebral podem ocorrer durante a gestação, durante o nascimento, depois do nascimento ou na primeira infância. Uma vez ocorridos os danos cerebrais, eles não pioram, embora os sintomas possam mudar à medida que a criança cresce e amadurece. Se a disfunção muscular resultar de danos cerebrais após os dois anos de idade, esta não é considerada paralisia cerebral.

Você sabia que...

  • Paralisia cerebral não é uma doença, mas um grupo de sintomas relacionados com muitas causas diferentes envolvendo malformações cerebrais ou lesão nas partes do cérebro que controlam os movimentos musculares.

Causas de paralisia cerebral

Muitos tipos diferentes de malformações cerebrais e danos ao cérebro podem causar paralisia cerebral e, algumas vezes, ocorre o envolvimento de mais de uma causa.

Os problemas que ocorrem logo antes, durante e logo após o nascimento causam 15 a 20% dos casos. Esses problemas incluem a falta de oxigênio durante o parto, infecções e lesões cerebrais.

Infecções como a rubéola, toxoplasmose, infecção pelo vírus Zika ou infecção por citomegalovírus durante a gestação ocasionalmente resultam em paralisia cerebral. Algumas vezes, as malformações cerebrais que causam a paralisia cerebral resultam de anomalias genéticas.

Bebês prematuros são particularmente vulneráveis, possivelmente em parte porque os vasos sanguíneos em uma certa área do cérebro são finos e sangram com facilidade. Concentrações elevadas de bilirrubina no sangue podem dar origem a uma forma de lesão cerebral denominada querníctero, que pode causar paralisia cerebral.

Durante os primeiros dois anos de vida, doenças graves, como a inflamação dos tecidos que revestem o cérebro (meningite), infecção grave na corrente sanguínea (sepse), lesões e desidratação grave podem causar lesões cerebrais e resultar em paralisia cerebral.

Você sabia que...

  • Depois dos dois anos de idade, a disfunção muscular resultante de danos cerebrais não é considerada paralisia cerebral.

Sintomas de paralisia cerebral

Os sintomas da paralisia cerebral podem variar desde ser desajeitado a espasticidade grave, que contrai os braços e as pernas da criança e exige aparelhos de mobilidade como próteses, muletas e cadeiras de roda. Uma vez que outras partes do cérebro também podem ser afetadas pelo problema que causou a paralisia cerebral, muitas crianças com paralisia cerebral têm outras deficiências, como incapacidade intelectual, problemas de comportamento, dificuldade em ver ou ouvir e transtornos convulsivos.

Existem quatro principais tipos de paralisia cerebral:

  • Espástica

  • Atetoide (ou discinética)

  • Atáxica

  • Mista

Em todas as formas de paralisia cerebral, a fala pode ser difícil de compreender porque a criança tem dificuldade para controlar os músculos envolvidos na fala.

Paralisia cerebral espástica

Espasticidade é a rigidez muscular que impede o movimento normal.

A paralisia cerebral espástica é o tipo mais comum e ocorre em 80% das crianças com paralisia cerebral.

Nesse tipo, os músculos são rígidos (espásticos) e fracos. A rigidez pode afetar várias partes do corpo:

  • Os dois braços e as duas pernas (quadriplegia)

  • As pernas mais que os braços (diplegia)

  • Às vezes, apenas o braço ou a perna em um dos lados (hemiplegia)

  • Em casos raros, apenas as pernas e a parte inferior do corpo (paraplegia)

As pernas e os braços afetados são pouco desenvolvidos, bem como são rígidos e fracos. Algumas crianças podem andar em um movimento cruzado no qual uma perna se desloca à frente da outra (marcha em tesoura) e algumas podem andar apoiadas nos dedos dos pés.

Estrabismo, vesguice ou olho preguiçoso (estrabismo) e outros problemas da visão podem ocorrer.

As crianças com tetraplegia espástica são as mais gravemente afetadas. Elas com frequência apresentam deficiência intelectual (por vezes grave), juntamente com convulsões e dificuldades para engolir. As crianças que têm dificuldades para engolir podem se engasgar com as secreções da boca e do estômago e inalar (aspirar) essas secreções. A aspiração dá origem a inflamação nos pulmões e causa dificuldades respiratórias. A aspiração repetida pode danificar permanentemente os pulmões.

Muitas crianças com diplegia ou hemiplegia espástica têm inteligência normal e são menos propensas a ter convulsões. Crianças com quadriplegia espástica podem ter deficiência intelectual grave.

Paralisia cerebral atetoide

Atetose são movimentos contorcidos involuntários.

A paralisia cerebral atetoide é o segundo tipo mais comum e ocorre em cerca de 15% das crianças com paralisia cerebral.

Nesse tipo, os braços, as pernas e o corpo se movem lentamente de forma espontânea e involuntária. Os movimentos também podem ser contorcidos, abruptos e espasmódicos. Emoções fortes agravam os movimentos e o sono faz com que eles desapareçam.

As crianças, em geral, têm uma inteligência normal e raramente têm convulsões.

Dificuldades na articulação das palavras de maneira clara são comuns e frequentemente graves. Se a causa for querníctero, as crianças afetadas são frequentemente surdas e têm dificuldade em olhar para cima.

Paralisia cerebral atáxica

Ataxia é dificuldade em controlar e coordenar os movimentos corporais, principalmente ao caminhar.

Paralisia cerebral atáxica é rara.

Nesse tipo, a coordenação é ruim e os músculos são fracos. Os movimentos ficam tremidos quando as crianças tentam alcançar um objeto (um tipo de tremor). As crianças têm dificuldade quando tentam se mover rapidamente ou fazer coisas que precisam de coordenação fina. Elas cambaleiam ao caminhar, com suas pernas bem abertas.

Paralisia cerebral mista

No tipo misto, dois dos tipos acima se combinam, mais frequentemente o espástico e o atetoide. Esse tipo ocorre em muitas crianças com paralisia cerebral.

Crianças com tipos mistos podem apresentar deficiência intelectual grave.

Diagnóstico de paralisia cerebral

  • Exame de diagnóstico por imagem do cérebro

  • Exames de sangue e, às vezes, exames da função nervosa e muscular

A paralisia cerebral é difícil de ser diagnosticada durante a primeira infância. Conforme o bebê amadurece, a demora em aprender a andar e a desenvolver outras habilidades motoras (desenvolvimento motor), espasticidade ou a falta de coordenação se tornam mais perceptíveis. O tipo específico de paralisia cerebral com frequência não pode ser distinguido antes de a criança atingir os dois anos de idade.

Se o médico suspeitar de paralisia cerebral, um exame de imagem é feito, normalmente a ressonância magnética (RM). Ela normalmente consegue detectar anomalias que podem estar causando o sintoma.

O médico também faz perguntas sobre problemas durante a gestação ou parto e sobre como o desenvolvimento da criança está progredindo. Essas informações podem ajudar a identificar a causa.

Embora exames de laboratório não consigam identificar a paralisia cerebral, o médico pode fazer exames de sangue para identificar uma causa e para procurar por outros distúrbios.

Se a causa ainda permanecer incerta, ou se os problemas musculares parecerem estar piorando ou forem diferentes daqueles que costumam ser causados pela paralisia cerebral, os médicos podem recomendar outros exames, como estudos elétricos dos nervos (estudos de condução nervosa) e dos músculos (eletromiografia) e exames genéticos.

Tratamento de paralisia cerebral

  • Fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia

  • Aparelho ortodôntico

  • Toxina botulínica e outros medicamentos para reduzir a espasticidade

  • Às vezes, cirurgia

A paralisia cerebral não tem cura e seus problemas duram toda a vida. No entanto, os sintomas da paralisia cerebral podem ser tratados e muito pode ser feito para melhorar a mobilidade e a independência da criança. A meta é permitir que as crianças se tornem o mais independentes o possível.

Fisioterapia, terapia ocupacional e aparelhos ortopédicos podem melhorar o controle muscular e a marcha, principalmente quando a reabilitação é iniciada o quanto antes. A fonoaudiologia pode tornar a fala muito mais clara e ajudar também com os problemas de deglutição.

A terapia do movimento induzido pela restrição pode ajudar quando o distúrbio não afeta todos os membros. Neste tipo de terapia, o membro não afetado é restrito durante o horário em que a criança está acordada, exceto durante atividades específicas para que ela seja forçada a usar o membro afetado para executar as tarefas. Assim, novas vias para os impulsos nervosos podem ser formadas no cérebro, permitindo que a criança use melhor seu membro afetado.

Os terapeutas ocupacionais podem ajudar algumas crianças a aprender maneiras de compensar seus problemas musculares e, com isso, fazer as atividades diárias (como tomar banho, comer e vestir-se) por si mesmas. Os terapeutas podem ainda ensinar às crianças a usar dispositivos que as ajudam a realizar essas atividades.

Certos medicamentos podem ajudar. Quando a toxina botulínica é injetada nos músculos, eles têm menos capacidade de movimentar as articulações de maneira desigual e têm menos propensão de ficarem permanentemente repuxados (um quadro clínico denominado contraturas). Toxina botulínica, a toxina bacteriana que causa o botulismo, funciona paralisando os músculos injetados. É o mesmo medicamento vendido como Botox que é usado para tratar rugas. Outro medicamento pode ser injetado nos nervos que estimula os músculos afetados. Este medicamento causa um ligeiro dano aos nervos, diminuindo a tração do músculo na articulação.

Outros medicamentos usados para diminuir a espasticidade incluem baclofeno, benzodiazepínicos (como diazepam), tizanidina e, às vezes, dantroleno, todos eles tomados por via oral. Algumas crianças com espasticidade grave se beneficiam de uma bomba implantável que proporciona uma infusão contínua de baclofeno no líquido ao redor da medula espinhal.

Cirurgias podem ser realizadas para cortar ou alongar os tendões dos músculos rígidos que limitam o movimento. Além disso, o cirurgião pode conectar os tendões a uma parte diferente da articulação para equilibrar a movimentação da articulação. Algumas vezes, cortar certas raízes nervosas oriundas da medula espinhal (rizotomia dorsal) reduz a espasticidade e pode ajudar algumas crianças, especialmente aquelas que nasceram prematuras, desde que a espasticidade afete principalmente as pernas e o desenvolvimento mental seja bom.

Muitas crianças com paralisia cerebral crescem normalmente e podem frequentar de modo regular a escola, caso não apresentem incapacidades intelectuais graves. Outras precisam de fisioterapia intensiva, ensino especial e sofrem muitas limitações nas atividades diárias, de modo que necessitam de algum tipo de cuidado e assistência durante toda a vida. Contudo, mesmo crianças gravemente afetadas podem se beneficiar de ensino e treinamento, que aumentam sua independência e autoestima e reduzem bastante o ônus para os familiares ou outros cuidadores.

Informações e aconselhamento estão disponíveis para os pais, com o intuito de ajudá-los a entender o quadro clínico e o potencial da criança e os apoiar nos problemas à medida que eles surgirem. O cuidado carinhoso dos pais, juntamente com a assistência de instituições públicas e privadas, tais como instituições de saúde, organizações de saúde, como a United Cerebral Palsy [Associação Unida de Paralisia Cerebral], e organizações de reabilitação, podem ajudar a criança a atingir seu maior potencial.

Prognóstico de paralisia cerebral

O prognóstico depende em geral do tipo de paralisia cerebral e da sua gravidade. A maioria das crianças com paralisia cerebral sobrevive até a idade adulta. Somente as crianças mais gravemente afetadas – aquelas incapazes de qualquer tipo de cuidados pessoais ou de alimentar-se pela boca – têm uma expectativa de vida substancialmente mais curta.

Com tratamento e treinamento adequados, muitas crianças, especialmente aquelas com hemiplegia ou diplegia espástica, podem ter uma vida normal.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. United Cerebral Palsy: Muitos recursos para pais e familiares, incluindo educação, tecnologia de apoio, segurança, viagens e transporte

  2. Miller, F and Bachrach, SJ: Cerebral palsy: A complete guide for caregiving, ed. 3. Baltimore, John Hopkins University Press, 2017.

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