Hepatite C, aguda

PorSonal Kumar, MD, MPH, Weill Cornell Medical College
Revisado/Corrigido: jul. 2024
Visão Educação para o paciente

A hepatite C é causada por um vírus de RNA que é muitas vezes transmitido parentericamente. Ele às vezes causa sintomas típicos de hepatite viral, incluindo anorexia, mal-estar e icterícia, mas pode ser assintomático. Hepatite fulminante e morte raramente ocorrem. Hepatite crônica se desenvolve em cerca de 75% e pode levar a cirrose e raramente a carcinoma hepatocelular. A sorologia faz o diagnóstico. O tratamento é com antivirais. Não há vacina disponível.

(Ver também Causas da hepatite, Visão geral da hepatite aguda e hepatite C crônica.)

Nos Estados Unidos, 5023 casos de hepatite C aguda foram notificados em 2021 (1). Entretanto, como muitos casos não são reconhecidos ou não são notificados, os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estimam que o número real de novas infecções foi mais de 69.800 em 2021 (1). Desde 2013, o número de casos agudos de hepatite C aumentou nos Estados Unidos.

O vírus da hepatite C (VHC) é um flavivírus de RNA de fita simples que causa hepatite viral aguda e é uma causa comum da hepatite viral crônica. Existem seis subtipos principais de VHC com sequências variáveis de aminoácidos (genótipos); esses subtipos variam em sua distribuição geográfica, virulência e resposta ao tratamento. O VHC também pode variar sua sequência de aminoácidos com o passar do tempo em um indivíduo infectado produzindo quase-espécies.

A infecção por VHC às vezes ocorre simultaneamente com doenças sistêmicas específicas, incluindo:

O mecanismo é incerto.

Até 20% dos pacientes com doença hepática alcoólica são portadores de VHC. As razões para essa alta taxa de associação são incertas, uma vez que o uso concomitante de álcool e drogas injetáveis acontece em apenas uma parte dos casos. Nesses pacientes, há uma ação sinérgica do álcool com o VHC, o que piora a inflamação e fibrose hepáticas.

Transmissão da hepatite C

A infecção é mais comumente transmitida pelo sangue, principalmente quando usuários de drogas parenterais compartilham agulhas, mas também ao compartilhar vasos para uso intranasal de droga ou por tatuagens e aplicação de piercings com equipamentos não estéreis.

A transmissão sexual e a transmissão vertical da hepatite C da mãe para o lactente são relativamente raras.

A transmissão da hepatite C pela transfusão de hemoderivados tornou-se muito rara após o advento dos testes de triagem no sangue doado.

Alguns casos esporádicos ocorrem em pacientes sem fatores de risco aparentes.

A prevalência do VHC varia de acordo com a geografia e outros fatores de risco.

Referência geral

  1. 1. Centers for Disease Control and Prevention: Viral Hepatitis Surveillance — United States. Acessado em 17 de junho de 2024.

Sinais e sintomas da hepatite C aguda

A hepatite C pode ser assintomática durante a fase de infecção aguda. A gravidade geralmente varia, algumas vezes com quadros de hepatite recrudescente e grandes flutuações nos níveis de aminotransferases, por muitos anos ou até mesmo décadas. A hepatite fulminante é extremamente rara.

O VHC tem a maior taxa de cronificação (cerca de 75%). A hepatite C crônica resultante é na maioria das vezes assintomática ou benigna, mas progride para cirrose em 20 a 30% dos pacientes; a cirrose geralmenteleva anos para se manifestar. O carcinoma hepatocelular pode ser resultado da cirrose induzida por VHC, mas raramente se desenvolve em portadores crônicos de VHC sem cirrose (diferentemente da hepatite B).

Diagnóstico da hepatite C aguda

  • Exames sorológicos

  • Medição do RNA do VHC

No diagnóstico inicial da hepatite aguda, deve-se diferenciar a hepatite viral de outras doenças que causam icterícia (ver figura Abordagem diagnóstica simplificada para suspeita de hepatite viral aguda).

Se há suspeita de hepatite viral aguda, os seguintes testes são realizados para triagem das hepatites virais A, B e C:

  • Anticorpo IgM para o vírus da hepatite A (IgM anti-VHA)

  • Antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg)

  • Anticorpo central da hepatite B (IgM anti-HBc)

  • Anticorpo contra o VHC (anti-VHC) e RNA do VHC

Se o anti-VHC for positivo, fazer a carga viral do RNA do VHC para diferenciar a infecção ativa da infecção pregressa (ver tabela Sorologia para hepatite C).

Na hepatite C, anti-VHC sérico representa infecção crônica, aguda ou passada; o anticorpo não é protetor. Quando os casos não forem claros ou quando a suspeita de hepatite C for alta, quantificar o RNA do VHC. O anti-VHC geralmente surge por volta de 2 semanas após a infecção aguda, mas, algumas vezes, pode aparecer mais tardiamente, entretanto, o RNA-VHC é positivo mais precocemente.

Tabela
Tabela

Outros testes

Testes hepáticos são necessários se ainda não tiverem sido feitos; incluem níveis séricos de alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e fosfatase alcalina.

Deve-se realizar outros testes para avaliar a função hepática e gravidade da doença; incluem níveis séricos de albumina, bilirrubina, contagem de plaquetas e tempo de protrombina (TP)/razão normalizada internacional (RNI).

Tratamento da hepatite C aguda

  • Terapia antiviral

Há alguns antivirais de ação direta muito eficazes contra a hepatite C crônica que podem diminuir a probabilidade de infecção crônica. AADs também ajudam a prevenir a transmissão a outros. As recomendações atuais são iniciar o tratamento após o diagnóstico inicial da VHC aguda, sem esperar a resolução espontânea.

Álcool e medicamentos hepatotóxicos (p. ex., paracetamol) devem ser evitados porque podem aumentar a lesão hepática. Não existem evidências científicas que apoiem o uso de restrições dietéticas ou de atividades, incluindo o repouso no leito habitualmente prescrito.

Deve-se relatar a ocorrência de hepatite viral às autoridades de saúde locais.

Referência sobre tratamento

  1. 1. American Association for the Study of Liver Diseases (AASLD)–Infectious Diseases Society of America (IDSA): HCV Guidance: Recommendations for Testing, Managing, and Treating Hepatitis C: Management of Acute HCV Infection. Acessado em 8 de maio de 2024.

Prevenção da hepatite C aguda

Os pacientes devem ser aconselhados a evitar comportamentos de alto risco (p. ex., compartilhar agulhas para injetar fármacos, fazer tatuagens e piercings no corpo).

Sangue e outros líquidos orgânicos (p. ex., saliva, sêmen) são considerados infecciosos. O risco de infecção após uma única exposição por picada de agulha é cerca de 1,8% (1). Recomenda-se proteção de contato, mas o isolamento não tem valor para prevenir hepatite C.

O risco de transmissão por equipe médica infectada por VHC parece baixo, e não há recomendações do CDC para restringir os profissionais de saúde com infecção por hepatite C.

A transmissão por hemoderivados pode ser minimizada evitando-se qualquer transfusão desnecessária e testando-se todos os doadores para a presença de hepatite B e C. O rastreamento diminuiu a incidência das hepatites B e C pós-transfusão, que agora são extremamente raras nos Estados Unidos.

Não existe nenhum produto para imunoprofilaxia do VHC. A propensão do VHC em mudar seu genoma dificulta o desenvolvimento de uma vacina.

Profilaxia pré ou pós-exposição com terapia antiviral não é recomendada.

Referência sobre prevenção

  1. 1. Centers for Disease Control and Prevention: Updated U.S. public health service guidelines for the management of occupational exposures to HBV, HCV, and HIV and recommendations for postexposure prophylaxis. MMWR Recommen Rep 50(RR11):1-42, 2001. PMID: 11442229

Pontos-chave

  • A hepatite C geralmente é transmitida por contato parenteral com sangue contaminado; a transmissão pelo contato da mucosa com outros líquidos corporais e a transmissão perinatal de mães infectadas são raras.

  • Cerca de 75% dos pacientes com hepatite C aguda desenvolvem hepatite C crônica, que leva à cirrose em 20 a 30%; alguns pacientes com cirrose desenvolvem carcinoma hepatocelular.

  • Diagnosticar testando à procura de anticorpos contra o VHC e o RNA do VHC.

  • Tratar com antivirais após o diagnóstico inicial da hepatite C, sem esperar pela resolução espontânea.

  • Não há vacina para hepatite C.

Informações adicionais

O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. Bhattacharya D, Aronsohn A, Price J, et al: Hepatitis C Guidance 2023 Update: American Association for the Study of Liver Diseases– Infectious Diseases Society of America Recommendations for testing, managing, and treating hepatitis C virus infection. Clin Infectious Dis 2023. https://doi.org/10.1093/cid/ciad319

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