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Delírio

PorJuebin Huang, MD, PhD, Department of Neurology, University of Mississippi Medical Center
Revisado porMichael C. Levin, MD, College of Medicine, University of Saskatchewan
Revisado/Corrigido: fev. 2025
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O delírio é uma perturbação súbita, flutuante, e geralmente reversível da função mental. É caracterizado por uma incapacidade de prestar atenção, desorientação, incapacidade de pensar com clareza e flutuações do nível de alerta (consciência).

Recursos do assunto

  • Muitas doenças, medicamentos, drogas recreativas ou ilícitas e venenos podem causar delírio.

  • Os médicos baseiam o diagnóstico nos sintomas e resultados de um exame físico, e eles utilizam exames de sangue, urina e de imagem para identificar a causa.

  • A correção ou o tratamento imediato do quadro clínico que causa o delirium geralmente faz com que o mesmo seja curado.

(Consulte também Considerações gerais sobre delirium e demência).

O delirium é um estado mental anômalo, não uma doença. Apesar de o termo ter uma definição médica exata, utiliza-se, muitas vezes, para descrever qualquer tipo de confusão.

Embora o delirium e a demência afetem o pensamento, eles são diferentes.

  • O delirium afeta principalmente a atenção, e a demência afeta principalmente a memória.

  • O delirium inicia-se repentinamente e frequentemente apresenta um início definitivo. A demência normalmente apresenta início gradual e não tem um ponto de início definitivo (consulte a tabela Comparação entre delirium e demência).

O delírio nunca é normal e muitas vezes indica um grave problema, geralmente recém-desenvolvido, especialmente em adultos mais velhos. As pessoas que têm delirium precisam de cuidados médicos imediatos. Se a causa do delirium for identificada e corrigida rapidamente, geralmente é possível curar o delirium.

É difícil determinar quantas pessoas sofrem de delirium, devido ao caráter transitório desse quadro. O delírio pode afetar 15% a 50% das pessoas em algum momento durante a hospitalização e também é comum entre residentes de casas de repouso.

O delírio pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum entre adultos mais velhos. Quando ocorre o delirium em pessoas mais jovens, geralmente é devido ao uso de alguma substância (medicamento prescrito ou de venda livre ou droga recreativa) ou a uma doença com risco à vida.

O que é confusão?

O termo confusão tem diferentes significados, mas os médicos utilizam-no para descrever o estado daquelas pessoas que não conseguem processar as informações normalmente.

As pessoas confusas não conseguem

  • Acompanhar uma conversa

  • Responder adequadamente às perguntas

  • Saber onde se encontram

  • Estabelecer juízos críticos que afetem a sua segurança

  • Recordar fatos importantes

A confusão tem muitas causas diferentes, incluindo o consumo de certas substâncias (medicamentos prescritos ou de venda livre e drogas recreativas ou ilícitas) e uma ampla variedade de doenças. Tanto o delirium quanto a demência, apesar de serem quadros muito diferentes, provocam confusão.

Quando uma pessoa está confusa, o médico trata de identificar a causa e, acima de tudo, de estabelecer se trata-se de delirium ou de demência.

Quando a confusão aparece ou piora repentinamente, a causa pode ser delirium. Nesses casos, é necessária assistência médica imediata, já que o delirium pode ser originado de uma doença grave. Além do mais, o tratamento da causa, uma vez identificada, procura controlar, com frequência, o delirium.

Se a confusão se desenvolve com lentidão, a causa pode ser uma demência. É necessária assistência médica, mas não urgente. O tratamento pode retardar a deterioração mental nas pessoas com demência, mas não vai restabelecer e, em geral, não pode interromper a deterioração.

Causas de delirium

A evolução ou deterioração de quase todas as doenças pode gerar delirium. Qualquer pessoa pode apresentar delirium quando está extremamente doente ou usa medicamentos ou drogas que afetam a função cerebral (medicamentos ou drogas psicoativos).

De um modo geral, as causas mais comuns de delirium são as seguintes:

Outras causas incluem hospitalização, cirurgia, abstinência de um medicamento que foi tomado por um longo período, venenos e alguns outros quadros clínicos. O delirium frequentemente se desenvolve durante a hospitalização em pessoas com demência.

O delírio pode ser consequência de doenças menos graves em adultos mais velhos ou em pessoas cujo cérebro tenha sido afetado por um acidente vascular cerebral, demência, doença de Parkinson ou dano cerebral devido a outra doença. Quadros clínicos menos graves que podem desencadear o delírio incluem:

  • Doenças não graves (como uma infecção do trato urinário)

  • Constipação intensa

  • Dor

  • Uso de cateter de bexiga (um tubo fino utilizado para drenar a urina da bexiga)

  • Privação do sono prolongado

  • Privação sensorial (inclusive ficar socialmente isolado e não ter acesso a óculos ou suportes auditivos necessários)

Em algumas pessoas não é possível identificar nenhuma causa.

Hospitalização

Estar em ambiente desconhecido, como um hospital, especialmente em uma unidade de terapia intensiva (UTI), pode contribuir ou até mesmo desencadear o delirium.

Nas UTIs, as pessoas são isoladas em uma sala que normalmente não tem janelas ou relógios. Assim, as pessoas são privadas de estímulo sensorial normal e podem ficar desorientadas. O sono é perturbado pelos membros da equipe que despertam as pessoas durante a noite para monitorá-las e tratá-las e por meio de monitores com alto sinal sonoro, interfones, vozes no corredor e alarmes. Além disso, as pessoas nas UTIs, em sua maioria, têm doenças graves e eventualmente são tratadas com medicamentos que podem desencadear o delirium.

Cirurgia

O delirium é muito frequente depois dos procedimentos cirúrgicos, provavelmente induzido pelo estresse da cirurgia, pelos anestésicos usados durante o procedimento e pelos analgésicos prescritos após a cirurgia.

O delírio pode também se desenvolver quando pessoas que estão prestes a realizar uma cirurgia não têm acesso a uma substância que estavam utilizando, como drogas ilícitas, álcool ou tabaco. Quando as pessoas interrompem o uso de tais substâncias, podem apresentar sintomas de abstinência, incluindo delirium.

Uso de drogas

A causa reversível mais frequente de delírio é o uso de medicamentos e drogas recreativas ou ilícitas. Em pessoas mais jovens, o uso de drogas recreativas ou ilícitas e a intoxicação aguda com álcool são causas comuns. Em adultos mais velhos, a causa mais frequente costuma ser medicamentos prescritos.

Os medicamentos psicoativos afetam diretamente as células nervosas no cérebro, às vezes causando delirium. Eles incluem os seguintes:

Muitos outros medicamentos também podem causar delirium. A seguir, alguns exemplos:

  • Medicamentos com efeitos anticolinérgicos, incluindo muitos anti-histamínicos de venda livre

  • Anfetaminas e cocaína, que são estimulantes

  • Cimetidina

  • Medicamentos que reduzem a pressão arterial (anti-hipertensivos, incluindo betabloqueadores)

  • Corticosteroides

  • Digoxina e determinados medicamentos utilizados para tratar doenças cardíacas

  • Levodopa

  • Relaxantes musculares

Abstinência

O delirium também pode resultar da interrupção súbita de um medicamento que foi tomado por um longo período – por exemplo, um sedativo (como um benzodiazepínico ou barbitúrico) ou um analgésico opioide.

O delírio surge, normalmente, em pessoas com transtorno relacionado ao consumo de álcool que, de forma abrupta, param de consumir álcool (chamado delirium tremens) e em pessoas com transtorno relacionado ao uso de opioides que interrompem subitamente o consumo de heroína, fentanil ou metadona.

Doenças

Os níveis anômalos de alguns eletrólitos no sangue, como o cálcio, o sódio ou o magnésio podem afetar a atividade metabólica das células nervosas e levar ao delírio. O consumo de um diurético, a desidratação ou doenças, como a insuficiência renal e o câncer generalizado, podem causar níveis anômalos de eletrólitos.

Níveis de açúcar no sangue extremamente elevados (hiperglicemia) ou baixos (hipoglicemia) comumente causam delirium.

Uma glândula tireoide hipoativa (hipotireoidismo) causa delirium com falta de energia (letargia). Uma glândula tireoide hiperativa (hipertireoidismo) causa delirium com hiperatividade.

Se ocorrer insuficiência hepática ou insuficiência renal e a mesma não for diagnosticada, um medicamento que a pessoa já vem tomando por um longo período pode causar o delirium, mesmo se não causou problemas anteriormente. Nessas doenças, o fígado ou os rins não processam e eliminam os medicamentos normalmente. Como resultado, os medicamentos podem acumular-se no sangue e chegar ao cérebro, causando o delirium.

Em pessoas mais jovens (uma vez que as drogas e o álcool são excluídos), a causa do delirium é geralmente

  • Uma condição que diretamente afeta o cérebro — por exemplo, uma infecção cerebral, como meningite ou encefalite

Em adultos mais velhos, a causa é frequentemente

Essas infecções podem afetar o cérebro indiretamente.

A encefalopatia de Wernicke, resultado de uma deficiência grave de vitamina B, a tiamina, mais frequentemente associada ao consumo crônico intenso de álcool, pode causar confusão e delírio. Se não for tratada, a Encefalopatia de Wernicke pode causar graves danos cerebrais, o coma ou a morte.

Alguns distúrbios (tais como acidentes vasculares cerebrais, tumores cerebrais ou abscessos cerebrais) causam sintomas de delirium ao danificarem diretamente o cérebro.

O delírio pode ser o primeiro sintoma em pessoas idosas com uma doença viral, como COVID-19 ou gripe.

Envenenamento

Em pessoas mais jovens, uma causa comum de delirium é a ingestão de venenos, como álcool ou anticongelante.

Destaque no envelhecimento: Delírio

O delírio é mais comum entre adultos mais velhos. É um motivo comum entre os familiares de adultos mais velhos para procurar o auxílio de um médico ou de um hospital. Cerca de 15% a 50% dos adultos mais velhos passam por um quadro de delírio em algum momento durante uma internação hospitalar.

Causas

Em adultos mais velhos, o delírio pode resultar de qualquer quadro clínico que o cause em pessoas mais jovens. Mas também pode resultar de quadros clínicos menos graves, como os apresentados a seguir:

Determinadas alterações relacionadas à idade fazem com que adultos mais velhos fiquem mais suscetíveis a desenvolver o delírio. Essas alterações incluem

  • Um aumento da sensibilidade a medicamentos ou drogas

  • Alterações no cérebro

  • Presença de quadros clínicos que aumentam o risco de delírio (veja a seguir)

Medicamentos: Adultos mais velhos são muito mais sensíveis aos efeitos de muitos medicamentos e drogas. Em adultos mais velhos, os medicamentos que afetam a maneira como o cérebro trabalha, como sedativos, são a causa mais comum de delírio. No entanto, os medicamentos que normalmente não afetam o funcionamento do cérebro, incluindo muitos medicamentos de venda livre (especialmente anti-histamínicos), também podem causar o delírio. Adultos mais velhos são mais sensíveis aos efeitos anticolinérgicos que muitos desses medicamentos têm. Um desses efeitos é a confusão.

Mudanças no cérebro relacionadas à idade: O delírio ocorre mais frequentemente em adultos mais velhos, em parte porque algumas mudanças relacionadas à idade no cérebro os tornam mais suscetíveis. Por exemplo, adultos mais velhos tendem a ter menos células cerebrais e níveis mais baixos de acetilcolina, uma substância que permite que as células do cérebro se comuniquem umas com as outras. Qualquer estresse (devido a um medicamento, doença ou situação) que faça com que o nível de acetilcolina diminua ainda mais pode dificultar ainda mais o funcionamento do cérebro. Assim, em adultos mais velhos, esses estresses são particularmente propensos a causar delírio.

Outros quadros clínicos: Adultos mais velhos também são mais propensos a ter outros quadros clínicos que as tornam mais suscetíveis ao delírio, como:

  • Acidente vascular cerebral

  • Demência

  • Doença de Parkinson

  • Outras doenças que causam a degeneração dos nervos

  • Uso de três ou mais medicamentos

  • Desidratação

  • Desnutrição

  • Imobilidade

O delirium é muitas vezes o primeiro sinal de outra doença e por vezes, uma doença grave. Por exemplo, o primeiro sintoma em adultos mais velhos com COVID-19 pode ser delírio, por vezes sem outros sintomas de COVID-19.

Sintomas

O delírio tende a durar mais tempo em adultos mais velhos em comparação com pessoas mais jovens.

A confusão, o sintoma mais óbvio, pode ser mais difícil de ser reconhecida em adultos mais velhos. As pessoas mais jovens com delirium podem estar agitadas, mas as pessoas muito idosas tendem a ficar quietas e retraídas. Nesses casos, fica ainda mais difícil fazer o reconhecimento do delirium.

Ter delírio também aumenta o risco de que adultos mais velhos com infecção tenham que ser internados em uma unidade de tratamento intensivo (UTI), ir para uma instalação de reabilitação depois de receber alta do hospital e/ou morram.

Se ocorrer o desenvolvimento de comportamento psicótico em adultos mais velhos, isso normalmente indica delírio ou demência. Uma psicose devido a um problema psiquiátrico raramente se inicia na velhice.

Os adultos mais velhos são mais propensos a ter demência, o que dificulta a identificação do delírio. Ambas causam confusão. Os médicos tentam distinguir as duas coisas, determinando a rapidez com que a confusão se desenvolveu e qual era o funcionamento mental da pessoa anteriormente. Os médicos também fazem uma série de perguntas para a pessoa, as quais testam vários aspectos do pensamento (exame do estado mental). Por conseguinte, os médicos tratam as pessoas cuja função mental se agrava de repente, mesmo quando têm demência, como se sofressem de delirium, até que se demonstre o contrário. Ter demência aumenta o risco de desenvolver delirium, e algumas pessoas têm ambos.

Tratamento

O delirium e a hospitalização que geralmente é exigida podem causar muitos outros problemas, como desnutrição, desidratação e úlceras de decúbito. Esses problemas podem ter consequências graves em adultos mais velhos. Assim, adultos mais velhos podem se beneficiar do tratamento gerido por uma equipe interdisciplinar que inclua um médico, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais.

Prevenção

Para ajudar a evitar o delírio em um adulto mais velho durante sua hospitalização, os familiares podem solicitar ajuda à equipe do hospital realizando o seguinte:

  • Incentivando a pessoa a se deslocar regularmente

  • Colocando um relógio e um calendário no quarto

  • Minimizando as interrupções e os ruídos durante a noite

  • Certificando-se de que a pessoa come e bebe o suficiente

Os familiares podem visitar e falar com a pessoa e, assim, ajudar a manter a pessoa orientada. As pessoas com delirium podem ter medo, e a voz familiar de um membro da família pode ter um efeito calmante.

Sintomas de delirium

Em geral, o delirium começa de repente e progride durante horas ou dias. O comportamento das pessoas com delirium varia, embora se assemelhe ao de uma pessoa que esteja cada vez mais intoxicada.

A característica principal do delirium é

  • Uma incapacidade de prestar atenção

As pessoas com delirium não conseguem concentrar-se, razão pela qual é difícil processar qualquer informação nova, e não conseguem recordar fatos recentes. Desta forma, não entendem o que está acontecendo ao seu redor. Ficam desorientadas. A confusão súbita sobre o tempo e, em menor grau, o espaço (onde estão) pode ser um sinal precoce de delirium. Quando o delirium for grave, pode acontecer de a pessoa não saber quem é nem quem os outros são. O pensamento é confuso e as pessoas vagueiam em suas falas, tornando-se, por vezes, incoerentes.

Seu nível de percepção (consciência) pode flutuar. Ou seja, as pessoas podem ser muito alertas em um momento e sonolentas e lentas logo em seguida. Os sintomas apresentam uma variação frequente de um momento para o outro e tendem a agravar-se no final do dia (um fenômeno chamado de confusão vespertina).

Pessoas com delirium costumam ter um sono inquieto ou invertem os ciclos de sono-vigília, dormindo durante o dia e permanecendo acordadas durante a noite.

Pessoas podem ter alucinações visuais extravagantes e aterrorizadoras, vendo coisas ou pessoas irreais. Algumas desenvolvem paranoias (sentimentos de perseguição injustificados) ou têm delírios (falsas crenças, devido a uma má interpretação das percepções ou das experiências).

O estado de ânimo e a personalidade podem ficar alterados. Algumas pessoas tornam-se tão silenciosas e retraídas que ninguém percebe seu estado de delirium. Outras ficam agitadas e inquietas, movimentando-se incessantemente e podem andar de um lado para outro. Os pacientes que apresentam delirium, depois de tomarem sedativos, são propensos a ficar retraídos e sonolentos. Aqueles que tomaram anfetaminas ou que interromperam o consumo de sedativos podem tornar-se hiperativos e agressivos. Algumas pessoas alternam entre os dois comportamentos.

O delirium pode durar horas, dias ou mais, dependendo da gravidade e da causa. Se a origem não for identificada e tratada com rapidez, a pessoa pode ficar sonolenta e sem resposta, necessitando de um estímulo forte para despertar (um estado que se denomina estupor). O estupor pode conduzir ao coma e à morte.

Você sabia que...

  • O comportamento psicótico que se inicia durante a velhice geralmente indica delirium ou demência.

Diagnóstico de delirium

  • Avaliação médica

  • Teste do estado mental

  • Sangue, urina e exames de imagem para verificar possíveis causas

Os médicos suspeitam do delirium com base nos sintomas, especialmente quando as pessoas não conseguem prestar atenção e quando a sua capacidade de prestar atenção flutua de um momento para o outro. No entanto, o delirium leve pode ser difícil de reconhecer. Os médicos talvez não reconheçam o delírio em pessoas hospitalizadas.

A maioria das pessoas que foram diagnosticadas com delirium são hospitalizadas para avaliação e protegidas para que não machuquem a si próprias ou os outros. Os procedimentos diagnósticos podem ser realizados de forma rápida e segura no hospital, e qualquer doença detectada pode ser tratada de imediato.

Levando em conta que o delirium pode ser causado por uma doença grave (e, portanto, rapidamente mortal), o médico procura identificar a causa o quanto antes. Uma vez identificada e tratada a causa, o delirium pode ser revertido.

Os médicos primeiramente tentam diferenciar o delirium de outros problemas que afetam a função mental. Os médicos fazem isso através da coleta do máximo de informações sobre o histórico médico da pessoa, o mais rápido possível, ao fazer um exame físico e alguns testes.

Histórico clínico

Perguntas são feitas aos amigos, familiares ou outros observadores para obtenção de informações, pois pessoas com delirium geralmente são incapazes de responder. As perguntas incluem o seguinte:

  • Como a confusão começou (de repente ou gradualmente)

  • O quão rapidamente ela progrediu

  • Como tem sido a saúde física e mental da pessoa

  • Quais medicamentos, incluindo medicamentos de venda livre, álcool e drogas recreativas ou ilícitas (especialmente se a pessoa for mais jovem) e suplementos alimentares (incluindo ervas medicinais), a pessoa usa

  • Se houve o início ou a parada do uso de algum medicamento recentemente

A informação pode provir, também, do processo clínico, da polícia, dos funcionários médicos das emergências ou de certas provas, como documentos ou caixas de medicamentos. Certos documentos, como os da carteira, cartas recentes, contas não pagas ou compromissos não cumpridos, podem indicar uma alteração da função mental.

Se o delirium for acompanhado de agitação, alucinações, ilusões ou paranoia, deve-se distinguir de uma psicose devido a um problema psiquiátrico, como a doença maníaco-depressiva ou a esquizofrenia. Habitualmente, pessoas com psicose devido a um problema psiquiátrico não apresentam confusão ou perda de memória, e o seu nível de consciência não é oscilante. O comportamento psicótico que se inicia durante a velhice geralmente indica delirium ou demência.

Tabela
Tabela

Exame físico

Durante o exame físico, o médico verifica se há sinais de doenças que podem causar o delírio, como uma infecção e desidratação. Também é realizado um exame neurológico.

Teste do estado mental

As pessoas que podem ter delirium recebem um teste de estado mental. Primeiro, são realizadas perguntas para determinar se o problema principal é a falta de capacidade para prestar atenção. Por exemplo, é feita a leitura de uma lista curta e solicitado que ela seja repetida. Os médicos devem determinar se as pessoas notam (registram) o que é lido. As pessoas com delirium não conseguem fazê-lo. O teste de estado mental também inclui outras questões e tarefas, como testes de memória de curto e longo prazo, nomear objetos, escrever frases e copiar formas. As pessoas com delirium podem estar excessivamente confusas, agitadas ou retraídas para responder a esse teste.

Exames

Geralmente são coletadas e analisadas amostras de sangue e urina para verificar se há doenças que os médicos acreditam estar causando o delirium. Por exemplo, são causas comuns de delirium alterações nos níveis de eletrólitos e de açúcar no sangue e doenças hepáticas e renais. Assim, os médicos costumam fazer exames de sangue para medir os níveis de eletrólitos e de açúcar no sangue e avaliam o quão bom é o funcionamento do fígado e dos rins. Se os médicos suspeitarem de uma doença da tiroide, podem ser realizados testes para avaliar o quão bom é o trabalho da tireoide. Ou, se os médicos suspeitarem que a causa provém de certos medicamentos, esses podem fazer testes para medir os níveis de medicamento no sangue. Estes testes podem ajudar a determinar se os níveis de medicamento são altos o suficiente para terem efeitos nocivos e se a pessoa teve uma superdosagem.

Culturas de amostras de urina ou sangue podem ser feitas para procurar infecções. Um raio-x do tórax pode ser realizado para determinar se a pneumonia pode ser a causa do delírio, especialmente em adultos mais velhos que estão respirando rapidamente, quer tenham ou não febre ou tosse.

Normalmente é feita a tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) do cérebro.

Por vezes, é realizado um teste que registra a atividade elétrica do cérebro (eletroencefalografia ou EEG) para determinar se o delirium é causado por uma doença que cause convulsão.

Pode ser utilizado o eletrocardiograma (ECG), a oximetria de pulso (utilizando um sensor que mede os níveis de oxigênio no sangue) e uma radiografia do tórax para avaliar o quão bem o coração e os pulmões estão funcionando.

Em pessoas com febre ou cefaleia, pode ser feita uma punção lombar para obter o líquido cefalorraquidiano para análise. Essa análise ajuda os médicos a descartarem infecção ou sangramento ao redor do cérebro e da medula espinhal como possíveis causas.

Tratamento de delirium

  • Tratamento da causa

  • Medidas gerais

  • Medidas para controlar a agitação

A maior parte das pessoas com delirium são hospitalizadas. No entanto, quando a causa do delirium pode ser facilmente corrigida (por exemplo, quando a causa é a baixa quantidade de açúcar no sangue), as pessoas são observadas por um curto período de tempo no departamento de emergência e podem, então, voltar para casa.

Tratamento da causa

Logo que a causa é identificada, essa é prontamente corrigida ou tratada. O médico, por exemplo, combate as infecções com antibióticos, corrige a desidratação com líquidos e eletrólitos administrados por via intravenosa e trata o delirium devido à abstinência de álcool com benzodiazepínicos (sem esquecer as medidas para interromper o consumo do álcool).

Geralmente o tratamento imediato da doença causando o delirium evita danos permanentes ao cérebro e pode resultar em uma recuperação completa.

Se possível, são suspensos quaisquer medicamentos que possam fazer com que o delirium piore.

Medidas gerais

Os procedimentos gerais são, igualmente, muito importantes.

O ambiente deve ser mantido tão tranquilo quanto possível. Deve ser bem iluminado para permitir que as pessoas reconheçam o que e quem está em seu quarto e onde elas estão. Colocar relógios, calendários e fotografias dos familiares no quarto pode ajudar com a orientação. Em todas as oportunidades, os funcionários e membros da família devem tranquilizar as pessoas e lembrá-las do horário e do local. Os procedimentos devem ser explicados antes e ao serem realizados. As pessoas que precisam de óculos ou aparelhos auditivos devem ter acesso a isso.

Pessoas com delirium são propensas a apresentar vários problemas, como desidratação, desnutrição, incontinência, quedas e úlceras de decúbito. É necessário muito cuidado da parte de todos para evitar essas complicações. Desta forma, as pessoas, particularmente os adultos mais velhos, podem se beneficiar do tratamento gerido por uma equipe interdisciplinar, que inclui um médico, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais.

Controle de agitação

Devem ser tomadas medidas especiais a fim de que as pessoas muito agitadas ou com alucinações não causem lesões a si próprias ou aos seus cuidadores. As seguintes medidas podem ajudar a evitar essas lesões:

  • Os membros da família são incentivados a ficar com a pessoa.

  • A pessoa é colocada em uma sala perto da sala das enfermeiras.

  • O hospital pode fornecer um atendente para ficar com a pessoa.

  • O regime medicamentoso da pessoa é simplificado ao máximo possível.

  • Não são utilizados dispositivos, como linhas intravenosas, cateteres urinários ou apoios almofadados, se possível, pois podem confundir e perturbar a pessoa, aumentando o risco de lesão.

No entanto, durante a hospitalização por vezes é necessário o uso de restrições acolchoadas para evitar, por exemplo, que o paciente retire os cateteres de líquidos intravenosos e para evitar quedas. Essas restrições são aplicadas com cuidado por um membro da equipe treinado para seu uso, e são desapertadas com frequência, sendo retiradas assim que possível, porque podem desorientar a pessoa e agravar a sua agitação.

Medicamentos são usados para controlar a agitação quando outras medidas não surtem efeito. Geralmente são utilizados ​​dois tipos de medicamentos para controlar a agitação, mas nenhum deles é o ideal:

  • Medicamentos antipsicóticos são utilizados com maior frequência. No entanto, eles podem prolongar ou piorar a agitação, e alguns têm efeitos anticolinérgicos, incluindo confusão, visão turva, constipação, boca seca, tontura, dificuldade para iniciar e continuar a urinar e a perda de controle da bexiga. Antipsicóticos, como a risperidona, olanzapina e quetiapina têm menos efeitos colaterais do que os antipsicóticos de primeira geração (mais antigos), como o haloperidol.

  • As benzodiazepinas (um tipo de sedativo), como o lorazepam, são utilizadas apenas quando o delírio é devido à abstinência por um sedativo ou álcool. As benzodiazepinas não são utilizadas ​​para tratar o delirium causado por outros quadros clínicos, pois elas podem fazer com que as pessoas, principalmente os adultos mais velhos, fiquem mais confusas, sonolentas ou as duas coisas.

O médico é cauteloso na prescrição desses medicamentos, em especial para adultos mais velhos. Eles utilizam a menor dose possível e param o uso do medicamento assim que possível.

Prognóstico de delirium

A maior parte das pessoas com delirium recupera-se totalmente se a causa do delirium for identificada e tratada com prontidão. Qualquer atraso diminui muito a possibilidade de uma recuperação total. Apesar de o delirium estar sendo tratado, alguns sintomas poderão persistir durante semanas ou meses, e a melhora pode ser lenta. Em algumas pessoas, o delirium evolui progressivamente para a disfunção crônica do cérebro, semelhante à demência.

Os pacientes hospitalizados com delírio têm mais probabilidade de apresentar complicações (incluindo a morte) durante a internação do que os que não apresentam delírio. Cerca de 30% a 50% das pessoas com delírio enquanto estão em um hospital morrem em um ano, mas a causa de morte é frequentemente outra doença grave, não o delírio em si.

As pessoas hospitalizadas com delírio, sobretudo os adultos mais velhos, permanecem no hospital por mais tempo e demoram mais tempo para se recuperar depois de saírem do hospital.

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