A otite média crônica supurativa é uma supuração persistente, crônica (> 6 semanas) através de perfuração da MT. Os sintomas incluem otorreia não dolorosa, com perda auditiva condutiva. As complicações incluem desenvolvimento de pólipos aurais, colesteatoma e outras infecções. O tratamento requer limpeza completa do meato acústico, remoção cuidadosa de tecidos de granulação e aplicação de corticoides e antibióticos tópicos. Antibióticos sistêmicos e cirurgias são reservados para casos graves.
Otite média crônica supurativa pode resultar de otite média aguda supurativa, obstrução da tuba auditiva, traumatismo mecânico, queimaduras térmicas ou químicas, lesões por explosões ou causas iatrogênicas (p. ex., após a colocação do tubo de ventilação). Os pacientes com anomalias craniofaciais [p. ex., síndrome de Down, síndrome do miado de gato, fissura labial e/ou fenda palatina, deleção 22q11.2 (também chamada síndrome velocardiofacial, síndrome de Shprintzen, síndrome de Shprintzen-Goldberg e síndrome de DiGeorge)] têm maior risco.
A otite média crônica supurativa pode se tornar exacerbada depois de infecção do trato respiratório superior ou após a entrada de água na orelha média, através de uma perfuração na membrana timpânica, durante banho ou natação. Exposição crônica à poluição do ar e higiene precária relacionada com viver em uma comunidade com poucos recursos também podem exacerbar os sintomas.
Processos infecciosos muitas vezes são causados por bacilos gram-negativos ou Staphylococcus aureus, resultando em otorreia purulenta, indolor, às vezes fétida. Otite média crônica persistente pode provocar sequelas e transformações na orelha média (como necrose do ramo longo da bigorna) ou pólipos aurais (tecido de granulação com prolapso para o meato acústico através da perfuração de membrana timpânica). Pólipos aurais são sinais graves, quase invariavelmente, sugerindo colesteatoma. Em pacientes imunocomprometidos (p. ex., pacientes com diabetes), infecções por Pseudomonas são comuns.
O colesteatoma é um crescimento de células epiteliais, que se forma em orelha média, mastoide ou epitímpano. Enzimas líticas, como colagenases, produzidas pelo colesteatoma podem destruir o osso adjacente e os tecidos moles (incluindo a membrana timpânica). O colesteatoma é também um meio propício para a infecção; labirintite purulenta, paralisia facial ou abscesso intracraniano podem se desenvolver.
Sinais e sintomas da otite média crônica supurativa
A otite média crônica supurativa geralmente se manifesta com perda auditiva condutiva e otorreia. A dor é incomum, a menos que ocorra osteíte associada do osso temporal. A membrana timpânica está perfurada com drenagem de secreção, e o canal auditivo é tomado por debris e tecido de granulação.
Um paciente com colesteatoma pode manifestar febre, vertigem e/ou otalgia. Há fragmentos brancos na orelha média, massa polipoide protruindo através da perfuração na membrana timpânica e meato auditivo externo que aparece entupido com tecido de granulação mucopurulento. Mesmo na ausência de drenagem contínua por > 6 semanas, o colesteatoma pode se manifestar com perda auditiva e episódios intermitentes de drenagem que diminuem temporariamente após cursos de fluoroquinolona tópica.
PROFESSOR TONY WRIGHT, INSTITUTE OF LARYNGOLOGY & OTOLOGY/SCIENCE PHOTO LIBRARY
Diagnóstico da otite média crônica supurativa
Avaliação clínica
O diagnóstico da otite média crônica supurativa normamente é clínico. Amostras da secreção são cultivadas.
Quando se suspeita de colesteatoma ou outras complicações (como em paciente febril ou com vertigem ou otalgia), TC ou RM é realizada. Esses exames de imagem podem revelar processos intratemporais ou intracranianos (p. ex., labirintite, erosão ossicular ou temporal, abscessos). Se os pacientes tiverem tecido de granulação persistente ou recorrente, biopsiar para excluir neoplasia.
Tratamento da otite média crônica supurativa
Gotas de antibiótico tópico
Remoção do tecido de granulação
Cirurgia para colesteatomas
São necessárias precauções para manter a orelha seca, a menos que os pacientes estejam sendo tratados com antibióticos em gotas. As precauções para manter a orelha seca incluem a oclusão do meato acústico externo (p. ex., utilizando uma bola de algodão revestida com vaselina) durante duchas e banhos, e evitar a natação.
Quatro a 5 gotas de uma solução tópica de ciprofloxacino (ou ofloxacino) são instiladas no ouvido afetado 2 vezes ao dia durante 10 a 14 dias. Colírios contendo aminoglicosídeos (p. ex., neomicina, tobramicina) ou polimixina não devem ser prescritos para pacientes com membrana timpânica perfurada ou com um tubo de timpanostomia, por causa da potencial ototoxicidade.
Quando há tecido de granulação, ele pode ser removido com microinstrumentos ou cauterizado com nitrato de prata. Ciprofloxacino e dexametasona são, então, aplicados no meato acústico, por 7 a 10 dias. Às vezes, administram-se ciprofloxacino e dexametasona por 10 a 14 dias, sem desbridamento. Quando o tecido de granulação persistir ou continuar a recidivar apesar do tratamento local adequado, biospiar para descartar neoplasia.
Exacerbações graves requerem antibioticoterapia sistêmica com amoxicilina, 250 a 500 mg por via oral a cada 8 horas, por 10 dias ou uma cefalosporina de terceira geração; se necessário, os antibióticos são subsequentemente modificados com base nos resultados da cultura e na resposta à terapia.
A timpanoplastia é indicada para pacientes com perfurações marginais ou em região do ático, e também com perfurações da membrana timpânica crônicas centrais. Cadeia ossicular desariculada também pode ser reparada durante o procedimento.
Colesteatomas devem ser removidos cirurgicamente e a orelha média deve ser reconstruída. Como a recorrência é comum, a reconstrução da orelha média é geralmente adiada até que uma 2ª cirurgia da aparência (utilizando uma abordagem de cirurgia aberta ou otoscópio de diâmetro pequeno) seja feita 6 a 12 meses mais tarde.
Pontos-chave
Otite média crônica supurativa é uma perfuração persistente da membrana timpânica com drenagem supurativa crônica.
As estruturas da orelha média costumam apresentar-se danificadas; menos comumente, as estruturas intratemporais ou intracranianas são afetadas.
Inicialmente, tratar com antibióticos.
Se os pacientes têm exacerbações graves, tratar com antibióticos sistêmicos.
A cirurgia é necessária para certos tipos de perfuração e ossículos danificados e para remover todos os colesteatomas.