A síndrome de DiGeorge é uma hipoplasia ou aplasia do timo e das paratireoides, causando principalmente imunodeficiência das células T e hipoparatireoidismo. Recém-nascidos com síndrome de DiGeorge apresentam inserção baixa de orelhas, lábio leporino, atrofia e retração da mandíbula, hipertelorismo, filtro nasolabial curto, retardo de desenvolvimento e cardiopatias congênitas. O diagnóstico baseia-se nos achados clínicos e inclui uma avaliação da função imune e da paratireoide e análise cromossômica. O tratamento inclui medidas de suporte e, se grave, transplante de células-tronco ou tímico.
(Ver também Visão geral das imunodeficiências e Abordagem ao paciente com distúrbios de imunodeficiência.)
A síndrome de DiGeorge é um imunodeficiência primária que envolve defeitos nas células T. Ela resulta de deleções na região cromossômica de DiGeorge no 22q11, de mutações em genes no cromossomo 10p13 e de mutações em outros genes não conhecidos, que causam desembriogênese das estruturas que se desenvolvem a partir das bolsas faríngeas durante a 8ª semana de gestação. A maioria dos casos é esporádica; meninos e meninas são igualmente afetados. Quando herdada, a herança é autossômica dominante.
A síndrome de DiGeorge pode ser
Parcial: existe alguma função das células T
Completa: ausência de função das células T
Os pacientes podem apresentar cardiopatias congênitas (p. ex., coartação da aorta, tronco arterioso, tetralogia de Fallot, defeitos do septo atrial ou ventricular). Também têm hipoplasia ou aplasia do timo e das paratireoides, causando deficiência de células T e hipoparatireoidismo.
Sinais e sintomas da síndrome de DiGeorge
Lactentes com a síndrome de DiGeorge têm inserção baixa de orelhas, lábio leporino, atrofia e retração da mandíbula, hipertelorismo, filtro nasolabial curto, retardo de desenvolvimento e manifestações de cardiopatias congênitas (p. ex., sopro cardíaco, taquicardia, taquipneia, dispneia durante alimentação). O hipoparatireoidismo pode causar hipocalcemia sintomática; a tetania hipocalcêmica ocorre depois de 24 a 48 horas do nascimento.
As infecções recorrentes iniciam-se cedo após o nascimento, mas o grau de imunodeficiência varia de maneira considerável e as funções das células T podem melhorar espontaneamente.
Muitas vezes, o prognóstico depende da gravidade do distúrbio cardíaco.
Diagnóstico da síndrome de DiGeorge
Avaliação da função imunitária com níveis de imunoglobulina (Ig), títulos de vacina e contagens dos subconjuntos de linfócitos
Análise cromossômica
O diagnóstico da síndrome de DiGeorge baseia-se nos achados clínicos.
É feita a contagem absoluta de linfócitos, seguida da contagem dos subconjuntos de células B e T se houver linfopenia. Realizam-se exames de sangue para avaliar a função das células T e da paratireoide. Medem-se os níveis de Ig e títulos de vacina. Se houver suspeita de síndrome de DiGeorge completa, o teste do círculo de excisão do receptor de células T (TREC) também deve ser feito.
Avalia-se a função da paratireoide medindo-se os níveis de cálcio e hormônio paratireoideo. Concentrações baixas ou mesmo baixas-normais de PTH em pacientes com hipocalcemia são inapropriadas e sugerem hipoparatireoidismo.
A radiografia lateral do tórax é realizada para avaliar a sombra do timo.
FISH pode detectar a deleção na região do cromossomo 22q11; testes cromossômicos padronizados para verificar outras anormalidades também podem ser feitos.
Se houver suspeita de síndrome de DiGeorge ou os pacientes tiverem manifestações de defeitos cardíacos congênitos, realiza-se ecocardiografia. Cateterismo cardíaco pode ser necessário se os pacientes manifestarem cianose.
Como a maioria dos casos é esporádica, o rastreamento de parentes não é necessário.
Tratamento da síndrome de DiGeorge
Síndrome parcial: suplementação de cálcio e vitamina D
Síndrome completa: transplante de tecido tímico cultivado ou de células-tronco hematopoiéticas
Na síndrome de DiGeorge parcial, o hipoparatireoidismo é tratado com suplementos de cálcio e vitamina D; a sobrevida a longo prazo não é afetada.
Já a síndrome completa de DiGeorge é fatal, se o tratamento não for instituído, consistindo no transplante de cultura de tecido tímico ou transplante de células-tronco hematopoiéticas. Uma revisão do transplante de timo mostrou resultados relativamente bons, com reconstituição de células T em 5 a 6 meses (1).
Referência sobre o tratamento
1. Davies EG, Cheung M, Gilmour K, et al: Thymus transplantation for complete DiGeorge syndrome: European experience. J Allergy Clin Immunol140: 1660–1670.e16, 2017.