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A constipação nas crianças

PorDeborah M. Consolini, MD, Thomas Jefferson University Hospital
Revisado porAlicia R. Pekarsky, MD, State University of New York Upstate Medical University, Upstate Golisano Children's Hospital
Revisado/Corrigido: modificado mar. 2025
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A constipação é um atraso ou dificuldade em evacuar. As fezes ficam mais endurecidas e maiores do que o normal e pode ser difícil eliminá-las. A constipação é muito comum em crianças. Ela representa até 5% das consultas médicas das crianças.

A frequência e a consistência das evacuações (EV) varia durante a infância, e não há uma definição única do que é normal. Os recém-nascidos normalmente evacuam quatro vezes por dia ou mais. Durante o primeiro ano, os bebês têm movimentos intestinais (evacuam) duas a quatro vezes por dia. Bebês amamentados normalmente evacuam mais do que bebês alimentados com fórmulas lácteas e podem evacuar após cada amamentação. As fezes de bebês amamentados são moles, amarelas e granulosas. Após um mês ou dois, alguns bebês amamentados evacuam menos frequentemente, mas às fezes permanecem macias ou moles. Após um ano de idade, a maioria das crianças evacua uma vez ou duas por dia e produzem fezes moles, mas não diarreicas. Contudo, alguns bebês e crianças pequenas normalmente evacuam uma vez ao dia a cada três ou quatro dias.

As crianças podem ter constipação se tiverem qualquer um dos seguintes:

  • Ausência de evacuação por dois ou três dias além do costume

  • Fezes duras ou dor durante a evacuação

  • Fezes grandes que podem entupir o vaso sanitário

  • Gotas de sangue no exterior das fezes

Nos bebês, sinais de esforço e choro antes de evacuar de maneira bem-sucedida em geral não indicam constipação. Esses sinais geralmente ocorrem porque os bebês desenvolvem gradualmente os músculos necessários para ajudar nos movimentos intestinais.

Os pais com frequência se preocupam com as EVs dos seus filhos, mas a constipação em geral não tem consequências sérias. Algumas crianças com constipação regularmente apresentam sintomas de dores abdominais, especialmente após as refeições. Ocasionalmente, eliminar fezes grandes e duras pode causar uma pequena ruptura no ânus (fissura anal). Fissuras anais são dolorosas e podem resultar em listras de sangue de cor vermelha viva nas fezes ou no papel higiênico. Em casos raros, a constipação pode contribuir para problemas urinários, como infecções do trato urinário e episódios de enurese noturna.

(Consulte também Constipação em adultos.)

Causas de constipação em crianças

Causas comuns

Bebês e crianças são especialmente propensos a desenvolver constipação em três épocas:

Em 95% das crianças, a constipação resulta de

  • Problemas da dieta

  • Problemas comportamentais

A constipação resultante de problemas da dieta ou comportamentais é chamada constipação funcional.

Os problemas alimentares que causam constipação incluem uma dieta com baixo teor de líquidos e/ou fibras (fibras estão presentes em frutas, verduras e cereais integrais).

Os problemas comportamentais que podem se associar à constipação incluem estresse (como pode ser sentido quando um irmão ou irmã nasce), resistência ao treinamento no uso do banheiro e um desejo de controle. Além disso, as crianças podem adiar intencionalmente a EV (a chamada retenção das fezes) porque estão com uma fissura anal dolorosa ou porque não querem parar de brincar. O abuso sexual pode resultar em estresse ou lesão que faz com que a criança retenha as fezes.

Nas crianças que não evacuam quando a vontade natural surge, o reto acaba se distendendo para acomodar as fezes. Depois que o reto se distende, a vontade de evacuar diminui, e cada vez mais excrementos se acumulam e endurecem. Um círculo vicioso de piora da constipação pode resultar. Caso as fezes acumuladas endureçam, elas às vezes bloqueiam a passagem de fezes adicionais, o que é um quadro chamado impactação fecal. Fezes mais moles acima das fezes endurecidas podem vazar ao redor da impactação e chegar à roupa íntima da criança, resultando em incontinência fecal (encoprese). Os pais podem então achar que a criança está com diarreia, quando o problema verdadeiro é constipação.

Causas menos comuns

Em aproximadamente 5% das crianças, a constipação resulta de um problema físico, medicamento ou toxina. Distúrbios podem estar aparentes no nascimento ou se desenvolver mais tarde. A constipação que resulta de um problema físico, de um medicamento ou de uma toxina é chamada constipação orgânica e precisa ser avaliada por um médico.

Em recém-nascidos e bebês, o distúrbio mais comum causador de constipação orgânica é

Outras causas de constipação orgânica incluem

Crianças com distúrbios abdominais sérios (como apendicite ou bloqueio do intestino) com frequência não evacuam. Contudo, essas crianças geralmente apresentam outros sintomas mais proeminentes, como dor abdominal, inchaço abdominal, vômitos ou uma combinação deles. Esses sintomas normalmente levam os pais a buscar assistência médica antes de o número de EVs diminuir.

Avaliação da constipação em crianças

Os médicos primeiro tentam determinar se a constipação resulta de problemas da dieta ou comportamentais (constipação funcional) ou de um transtorno físico, toxina ou medicamento (constipação orgânica).

Sinais de alerta

Certos sintomas são causa de preocupação e devem levantar suspeita de causa orgânica para a constipação:

  • Nenhuma evacuação (EV) nas primeiras 24 a 48 horas após o nascimento

  • Perda de peso ou crescimento ruim

  • Redução do apetite

  • Sangue nas fezes

  • Febre

  • Vômitos

  • Inchaço abdominal

  • Dores abdominais (em crianças grandes o bastante para comunicar isso)

  • Nos bebês, perda do tônus muscular (o bebê parece flácido ou fraco) e redução da capacidade de sugar

  • Em crianças mais velhas, uma liberação involuntária de urina (incontinência urinária), dor nas costas, fraqueza nas pernas ou problemas para andar

Quando consultar um médico

As crianças devem ser avaliadas por um médico imediatamente caso apresentem qualquer sinal de alerta. Caso nenhum sinal de alerta esteja presente, mas a criança esteja produzindo fezes infrequentes, duras ou dolorosas, o médico deve ser chamado. Dependendo dos outros sintomas da criança (se houver), o médico poderá aconselhar tratamentos caseiros simples ou pedir aos pais que levem a criança para fazer exames.

O que o médico faz

Os médicos primeiro indagam sobre os sintomas e o histórico clínico da criança. Em seguida, o médico faz um exame físico. O que o médico descobrir durante o levantamento do histórico e o exame físico, com frequência, sugerirá a causa da constipação e os exames que precisam ser realizados (consulte a tabela Algumas causas físicas e características da constipação em bebês e crianças).

Os médicos determinam se recém-nascidos já evacuaram alguma vez (a primeira evacuação é chamada mecônio). Recém-nascidos que não evacuaram nas primeiras 24 a 48 horas após o nascimento devem passar por um exame completo para descartar a possibilidade de doença de Hirschsprung, malformações anorretais ou outros distúrbios graves.

No caso de bebês e crianças mais velhas, os médicos perguntam se a constipação começou após um evento específico, como introdução de cereais ou outros alimentos sólidos, ingestão de mel (em crianças com menos de 12 meses de idade), início do treinamento no uso do banheiro ou início da escola. Para todas as faixas etárias, os médicos perguntam sobre a dieta e sobre transtornos físicos, toxinas e medicamentos que podem causar constipação.

No caso do exame físico, os médicos avaliam os sinais gerais de doença da criança e medem sua a altura e peso para verificar sinais de atraso do crescimento. Os médicos então se concentram no abdômen, no ânus (incluindo exame do reto, usando luvas) e no funcionamento do sistema nervoso (que podem afetar o funcionamento do trato digestivo).

Exames

Se a causa da constipação parecer ser funcional, nenhum exame será necessário, a menos que o tratamento não ajude a criança. Se o tratamento não ajudar ou se os médicos suspeitarem que a causa seja outro distúrbio, uma radiografia do abdômen pode ser feita, e testes para outros distúrbios são feitos com base nos resultados do exame.

Tabela
Tabela

Tratamento da constipação em crianças

O tratamento da constipação depende da causa.

No caso da constipação orgânica, a doença, medicamento ou toxina causador é tratado, parado ou removido.

No caso de constipação funcional, as medidas incluem

  • Alteração da dieta

  • Modificação do comportamento

  • Às vezes, uso de emolientes fecais ou laxantes

Alteração da dieta

As alterações da dieta dos bebês e de crianças mais velhas incluem dar 30 a 120 mililitros (ml) de suco de ameixa, pera ou maçã todos os dias.

Bebês e crianças mais velhos devem beber mais água, comer mais frutas, verduras e cereais ricos em fibras e comer menos alimentos constipadores, como leite e queijo.

Modificação do comportamento

A modificação do comportamento pode ajudar crianças mais velhas. As medidas incluem:

  • Incentivar as crianças já treinadas no uso do banheiro a se sentarem no vaso sanitário por cinco a dez minutos depois das refeições e reconhecê-las quando elas fazem progresso (anotando o progresso em um quadro na parede, por exemplo)

  • Dar às crianças que estão sendo treinadas no uso do banheiro uma pausa no treinamento até a constipação se resolver

Sentar-se no vaso sanitário após uma refeição pode ajudar porque fazer uma refeição desencadeia o reflexo de realizar uma EV. As crianças com frequência ignoram os sinais desse reflexo e adiam uma EV. Essa técnica usa o reflexo para ajudar a treinar novamente o aparelho digestivo, estabelecer uma rotina de ida ao banheiro e incentivar evacuações mais regulares.

Emolientes fecais e laxantes

Caso a constipação não desapareça após modificações comportamentais e alterações da dieta, os médicos podem recomendar certos medicamentos para amaciar as fezes e/ou aumentar o movimento espontâneo do aparelho digestivo (laxantes). Esses medicamentos incluem polietilenoglicol, lactulose, óleo mineral, leite de magnésia (hidróxido de magnésio), sene e bisacodil. Às vezes, enemas de soro fisiológico também são usados. Muitos desses medicamentos são de venda livre. Contudo, as doses devem se basear na idade e no peso corporal da criança e também na gravidade da constipação. Assim, os pais devem consultar um médico no que se refere à dose apropriada e ao número de doses por dia antes de usar esses tratamentos. A meta do tratamento é uma evacuação com fezes moles por dia.

Caso as crianças tenham impactação fecal, as opções incluem enemas suaves e agentes (tais como óleo mineral e polietilenoglicol) tomados por via oral com grandes quantidades de líquidos. Caso esses tratamentos sejam ineficazes, as crianças podem precisar ser hospitalizadas para que a impactação seja removida.

Os bebês em geral não precisam desses tratamentos. Normalmente, um supositório de glicerina é adequado.

Para manter evacuações regulares, o médico pode recomendar que a criança use suplementos de fibras (como psílio), que podem ser obtidos sem prescrição médica. Para que esses suplementos sejam eficazes, as crianças devem beber de 1 a 2 litros de água por dia.

Pontos-chave

  • Em geral, a constipação é causada por problemas comportamentais ou de dieta (um quadro clínico denominado constipação funcional).

  • As crianças devem ser avaliadas por um médico caso o intervalo entre os movimentos intestinais tenha sido dois ou três dias maior do que o normal, caso as fezes estejam duras ou grandes, caso as fezes causem dor ou hemorragia ou caso as crianças tenham outros sintomas.

  • Caso um recém-nascido não apresente uma EV 24 a 48 horas após o nascimento, uma avaliação completa deverá ser realizada para descartar a doença de Hirschsprung ou outro distúrbio grave.

  • Adição de fibras à dieta ou modificação comportamental podem ajudar quando problemas de dieta ou comportamentais forem a causa.

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