Visão geral do baço

PorHarry S. Jacob, MD, DHC, University of Minnesota Medical School
Revisado/Corrigido: mar. 2023
Visão Educação para o paciente

    Considerando sua estrutura e função, o baço é essencialmente dois órgãos:

    • A polpa branca, composta de bainhas linfáticas periarteriais e centros germinativos, funciona como um órgão imune.

    • A polpa vermelha, constituída por macrófagos e granulócitos que revestem os espaços vasculares (os cordões e os sinusóides), atua como um órgão fagocítico.

    A polpa branca é o local de produção e maturação das células B e células T. As células B no baço geram anticorpos humorais protetores; em certos distúrbios autoimunes (p. ex., trombocitopenia imunitária, anemias hemolíticas imunes com teste de Coombs positivo), autoanticorpos inapropriados para elementos sanguíneos circulantes também podem ser sintetizados.

    A polpa vermelha remove bactérias revestidas por anticorpos, eritrócitos senescentes ou defeituosos e células sanguíneas revestidas por anticorpos (como pode ocorrer em citopenias imunes, como em ITP, anemias hemolíticas imunes, teste de Coombs positivo, e algumas neutropenias). A polpa vermelha também serve como reservatório para elementos sanguíneos, em especial leucócitos e plaquetas. Macrófagos derivados de monócitos sanguíneos e macrófagos residentes produzidos durante o desenvolvimento embrionário podem ser ativados para aumentar o controle da infecção, mas podem produzir substâncias que induzem inflamação excessiva indesejável.

    Em alguns animais, o baço pode se contrair nos momentos de anemia grave e ocorre uma "autotransfusão" de eritrócitos; não está claro se essa "autotransfusão" acontece nos seres humanos. Durante essa seleção e captação de eritrócitos, o baço remove corpos de inclusão, como corpúsculos de Heinz (precipitados de globulina insolúvel), corpos de Howell-Jolly (fragmentos nucleares), núcleos inteiros e eritrócitos malformados; assim, após a esplenectomia ou no estado funcionalmente hipoesplênico, eritrócitos com essas inclusões e acantócitos (um tipo de eritrócitos malformados) aparecem na circulação periférica. Pode haver hematopoiese extramedular se a lesão na medula óssea (p. ex., por fibrose ou metástases tumorais) permitir que as células-tronco hematopoiéticas circulem e repovoem o baço adulto, ou se estimuladas por terapia com fatores de crescimento hematopoiéticos (ver também Mielofibrose primária e Síndrome mielodisplásica).

    Evidências acumuladas sugerem que há comunicação entre o encéfalo e o baço, o que foi denominado eixo encéfalo-baço. A sinalização aferente e eferente do nervo vago contribui para essa comunicação. Demonstrou-se que o estresse crônico produz esplenomegalia em roedores, que pode ser bloqueada pelo antidepressivo arcetamina. O baço pode afetar a resposta imune humoral nos neurônios relacionados com a corticotrofina em algumas áreas do encéfalo. A esplenectomia ou a denervação esplênica demonstraram prevenir a depressão relacionada com o estresse em animais de laboratório (1).

    Asplenia

    Asplenia é a perda da função esplênica decorrente de

    • Ausência congênita do baço

    • Ausência funcional do baço

    • Remoção cirúrgica do baço (esplenectomia)

    Asplenia congênita é uma doença rara. Lactentes com essa doença frequentemente também têm cardiopatia congênita como dextrocardia.

    Asplenia funcional é a perda da função esplênica decorrente de uma variedade de doenças sistêmicas. Causas comuns são doença falciforme, doença celíaca e doença hepática por alcoolismo. A asplenia funcional também pode ocorrer após lesões vasculares diretas (p. ex., infartos esplênicos ou trombose esplênica).

    Asplenia cirúrgica é a ausência física do baço. Pode ocorrer em pacientes saudáveis que exigem esplenectomia após trauma ou em pacientes com doenças imunitárias ou hematológicas que precisam fazer esplenectomia (p. ex., trombocitopenia imunitária, hiperesplenismo, esferocitose hereditária). Lesão esplênica após trauma abdominal contuso é comum, especialmente em praticantes de esportes de contato. Sem tratamento cirúrgico adequado, pode ocorrer hemorragia grave e, às vezes, letal.

    Devido ao papel importante do baço na imunidade humoral bem como na remoção de bactérias revestidas por anticorpos, a asplenia por qualquer causa aumenta significativamente o risco de infecção. Pacientes asplênicos são particularmente suscetíveis à sepse grave por microorganismos encapsulados, primariamente o Streptococcus pneumoniae (pneumococo), mas algumas vezes também o Haemophilus influenzae tipo b (Hib) ou a Neisseria meningitidis (meningococo). Pacientes asplênicos também têm maior risco de babesiose.

    Por causa do risco dessas infecções, a imunização é importante. Os pacientes devem receber a vacina antipneumocócica; a vacina antimeningocócica e a vacina anti-Haemophilus influenzae. Os pacientes também devem receber a vacina contra influenza, a vacina contra covid-19, e outras vacinas de acordo com seus quadros clínicos. Os pacientes também costumam receber profilaxia diária com antibióticos como penicilina ou amoxicilina, sobretudo quando têm contato regular com crianças. A duração apropriada do uso profilático de antibióticos não está clara porque o fígado pode assumir a função de limpeza microbiana do baço com o tempo. Pacientes com asplenia que apresentam febre costumam receber antibioticoterapia empírica enquanto investigam a origem da febre.

    Referência geral

    1. 1. Wei Y, Wang T, Liao L, et al: Brain-spleen axis in health and diseases: A review and future perspective. Brain Res Bull 182:130–140, 2022. doi:10.1016/j.brainresbull.2022.02.008

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