Tumores hepáticos benignos são relativamente comuns. A maioria é assintomática, mas alguns causam hepatomegalia, desconforto no hipocôndrio direito do abdome ou, ainda, hemorragia intraperitoneal. A maioria é detectada incidentalmente na ultrassonografia ou em outros exames (ver Exames de imagem do fígado e da vesícula biliar). Testes hepáticosa são habitualmente normais ou apenas ligeiramente anormais. O diagnóstico é geralmente possível com exames de imagem, mas biópsia pode ser necessária. O tratamento é necessário apenas em algumas poucas circunstâncias específicas.
Adenoma hepatocelular
É o mais importante tumor benigno a ser reconhecido. Ocorre principalmente em mulheres em idade fértil, particularmente naquelas que fazem uso de contraceptivos orais, possivelmente via os efeitos do estrogênio (1).
A maioria dos adenomas é assintomática, mas os maiores podem causar desconforto no hipocôndrio direito do abdome. Adenomas maiores (tipicamente > 5 cm) podem se manifestar com peritonite e choque decorrentes de ruptura e hemorragia intraperitoneal. Raramente, adenomas sofrem transformação maligna (1).
Com frequência, suspeita-se do diagnóstico com base na ultrassonografia ou na TC, mas, frequentemente, é necessária a biópsia para confirmação. A RM com gadoxetato, que permite a avaliação funcional do sistema hepatobiliar, é mais sensível que a TC e pode diferenciar subtipos de adenoma com maior risco de progredir para neoplasia (2). O reconhecimento do subtipo de beta-catenina é particularmente importante porque este subtipo tem um risco de aproximadamente 10% de transformação maligna e deve ser ressecado (1).
Adenomas decorrentes do uso de contraceptivos podem regredir se o fármaco for interrompido. Se o adenoma não regredir, ou se for subcapsular, > 5 cm, ou identificado em um paciente masculino, a ressecção cirúrgica é frequentemente recomendada (1).
Referências sobre adenoma hepatocelular
1. Frenette C, Mendiratta-Lala M, Salgia R, Wong RJ, Sauer BG, Pillai A . ACG Clinical Guideline: Focal Liver Lesions. Am J Gastroenterol. 2024;119(7):1235-1271. doi:10.14309/ajg.0000000000002857. doi:10.14309/ajg.0000000000002857
2. Bieze M , van den Esschert JW , Nio CY, et al: Diagnostic accuracy of MRI in differentiating hepatocellular adenoma from focal nodular hyperplasia: Prospective study of the additional value of gadoxetate disodium. AJR Am J Roentgenol. 199:26– 34, 2012. doi: 10.2214/AJR.11.7750
Hiperplasia nodular focal
Essa massa hepática benigna é a segunda lesão hepática sólida mais comum (1). Em geral, o diagnóstico baseia-se em RM ou TC com contraste hepatobiliar; a aparência clássica é uma lesão com cicatriz central. Mas a biópsia pode ser necessária para a confirmação. O tratamento raramente é necessário, a menos que sintomático.
Referência sobre hiperplasia nodular focal
1. Vilgrain V, Uzan F, Brancatelli G, Federle MP, Zappa M, Menu Y. Prevalence of hepatic hemangioma in patients with focal nodular hyperplasia: MR imaging analysis. Radiology. 2003;229(1):75-79. doi:10.1148/radiol.2291021284
Hemangiomas
Os hemangiomas são geralmente pequenos e assintomáticos; ocorrem em até 20% dos adultos e com maior frequência em mulheres (1). Os sinais e sintomas são mais prováveis se tiverem > 4 cm; os sinais e sintomas são desconforto, edema e, menos frequentemente, anorexia, náuseas, saciedade precoce e dor secundária ao sangramento ou trombose. Esses tumores geralmente têm uma aparência vascular altamente característica. Hemangiomas são encontrados incidentalmente durante ultrassonografia, TC ou RM. TC tipicamente mostra uma massa hipodensa bem demarcada; quando contraste é utilizado, há um realce periférico inicial, seguido por um realce centrífugo posterior. A biópsia geralmente não é necessária e o tratamento geralmente não é indicado. Ressecção pode ser considerada se os sintomas são incômodos ou se um hemangioma estiver se alargando rapidamente.
Em crianças, hemangiomas podem frequentemente regredir. Entretanto, os grandes hemangiomas hepáticos podem, ocasionalmente, causar derivação arteriovenosa suficiente para produzir insuficiência cardíaca e, por vezes, coagulopatia de consumo. O tratamento pode incluir betabloqueadores, corticoides sistêmicos e outra terapia imunomoduladora, tratamento médico da insuficiência cardíaca quando necessário, remoção cirúrgica, embolização seletiva da artéria hepática e, raramente, transplante de fígado (2).
Referências sobre hemangiomas
1. Frenette C, Mendiratta-Lala M, Salgia R, Wong RJ, Sauer BG, Pillai A . ACG Clinical Guideline: Focal Liver Lesions. Am J Gastroenterol. 2024;119(7):1235-1271. doi:10.14309/ajg.0000000000002857. doi:10.14309/ajg.0000000000002857
2. Northup PG, Garcia-Pagan JC, Garcia-Tsao G, et al. Vascular Liver Disorders, Portal Vein Thrombosis, and Procedural Bleeding in Patients With Liver Disease: 2020 Practice Guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021;73(1):366-413. doi:10.1002/hep.31646
Outros tumores benignos
Lipomas (em geral, assintomáticos) e tumores fibrosos localizados (p. ex., fibromas) raramente ocorrem no fígado.
Os adenomas benignos do ducto biliar são raros, irrelevantes e geralmente detectados incidentalmente. Às vezes, são confundidos com câncer metastático.