Pode-se remover o cerume manualmente (utilizando diversos instrumentos) ou por irrigação do meato acústico.
Profissionais não otorrinolaringologistas costumam começar com o método de irrigação. Às vezes, os dois métodos são necessários. Agentes cerumenolíticos pré-procedimento podem facilitar qualquer um dos métodos, mas são rotineiramente utilizados com irrigação.
Indicações para remoção de cerume
Sintomas causados por cerume impactado, como diminuição da audição, dor local e prurido, vertigem ou sensação incômoda de obstrução da orelha
Raramente, incapacidade de visualizar a membrana timpânica em uma criança com dor de orelha e febre
O cerume ajuda a acidificar o meato acústico e hidratar sua pele. As duas funções ajudam a reduzir o risco de infecção e são importantes para a saúde do meato acústico externo. A remoção frequente do cerume é desencorajada por essa razão.
Contraindicações à remoção de cerume
Contraindicações absolutas
Irrigação e/ou uso de agentes cerumenolíticos são contraindicados se o paciente tem membrana timpânica não intacta; suspeita-se de membrana timpânica não intacta se os pacientes têm história de cirurgia do processo mastoide, história de uso de tubos na orelha e se não se sabe se o defeito da membrana timpânica cicatrizou completamente, história de drenagem da orelha e/ou história de dor de orelha quando há entrada de água
Terapia anticoagulante
Comprometimento imunitário
Diabetes mellitus
Radioterapia prévia de cabeça e pescoço
Estenose do meato acústico, ou exostoses
Cerumenolíticos são contraindicados se há alergia ao agente.
Contraindicações relativas
Paciente não cooperativo ou muito jovem para permanecer imóvel durante o procedimento
Cicatrizes ou distorção da região do meato acústico, como por cirurgia ou radioterapia prévia
Indica-se encaminhamento a um otorrinolaringologista se é necessária anestesia geral, sedação profunda ou quando a remoção é difícil.
Complicações da remoção de cerume
A remoção do cerume costuma ser feita por não otorrinolaringologistas e é uma causa comum de complicações iatrogênicas.
Trauma iatrogênico do meato acústico ou membrana timpânica, incluindo perfuração, que pode causar infecção. Ruptura da membrana timpânica pode causar infecção ou outros problemas nas orelhas média e interna, processos mastoides ou sistema nervoso central.
A estimulação calórica pode resultar em sintomas (p. ex., vertigem, bradicardia, náuseas) se a água de irrigação não for aquecida até a temperatura do corpo.
Especialmente em diabéticos, pode ocorrer otite externa necrosante.
Se água ficar presa atrás do cerume retido, pode ocorrer otite externa.
Equipamento para remoção de cerume
Tanto para irrigação como remoção manual
Otoscópio ou fonte de luz e espéculo aural
Agente cerumenolítico (p. ex., agentes de venda livre docusato de sódio, bicarbonato de sódio a 5 a 10%, peróxido de hidrogênio a 3%, peróxido de carbamida a 6,5%, trietanolamina, óleo de oliva)
Para irrigação
Bacia de êmese
Proteção absorvente, toalha ou campo estéril de barreira
Catéter de calibre 16, 18 ou 19 com tubos de comprimentos diversos (p. ex., angiocatéter plástico ou catéter borboleta com a agulha removida)
Seringa de 30 a 60 mL
Solução de irrigação: soro fisiológico ou água estéril na temperatura do corpo ou ligeiramente mais quente
Às vezes, álcool isopropílico, gotas de fluoroquinolona
Remoção manual
Abrir o otoscópio de procedimento
Cureta flexível de plástico em alça para cerume, gancho pequeno em ângulo reto, pinça jacaré
Sucção com ponta de controle pelo polegar (p. ex., Baron) calibre 5 Fr
Considerações adicionais para remoção de cerume
Pacientes assintomáticos não devem ter o cerume removido.
Gotas de anestésico não são eficazes em reduzir o desconforto da remoção de cerume, e a injeção de anestésico local é muito dolorosa, de modo que nenhuma delas é utilizada.
Aparelhos de jato dental (“irrigadores orais”) são utilizados por alguns, mas o fluxo desses aparelhos (mesmo com velocidade de fluxo mínima) pode romper a membrana timpânica.
Iluminação adequada é essencial tanto para o exame inicial do canal como para o procedimento de remoção manual do cerume.
O método de irrigação é preferido para pacientes que não conseguem permanecer imóveis.
A remoção manual pode ser preferível em adultos específicos porque pode ser mais rápida e mais eficaz para remover grandes acúmulos endurecidos. Mas frequentemente tenta-se primeiro o amolecimento com um cerumenolítico e irrigação, que podem facilitar a remoção manual.
Antes e depois de tentar remover o cerume, os médicos devem considerar fazer uma avaliação auditiva se o equipamento necessário estiver prontamente disponível.
Anatomia relevante para remoção de cerume
A membrana timpânica está a 1 a 1,5 cm de profundidade no meato acústico em crianças e a 1,5 a 2 cm de profundidade na maioria dos adultos. Evitar utilizar instrumentos na orelha com mais de 8 mm de profundidade para evitar danos à membrana timpânica.
As glândulas produtoras de cerume só estão presentes no meato acústico externo lateral e apenas na pele com pelos. Em geral, o cerume que se encontra mais profundamente na orelha foi empurrado para lá pelo paciente utilizando cotonetes ou fones de ouvido.
Posicionamento para remoção de cerume
É importante que você e o paciente se posicionem de modo que exista uma visualização ideal do meato acústico e ambos estejam à vontade.
Para irrigação, posicionar o paciente sentado ou semirreclinado, com a cabeça apoiada. Pedir que um assistente ou o paciente segure a bacia de êmese abaixo da orelha e contra o pescoço e a bochecha.
Para a remoção manual, posicionar o paciente em decúbito dorsal ou semirreclinado, com a cabeça apoiada.
Para instilação de um cerumenolítico, posicionar o paciente em decúbito dorsal, com a cabeça virada e a orelha voltada para cima de modo que a medicação permaneça no meato acústico.
Descrição passo a passo da remoção de cerume
Considerações gerais
Considerar fazer uma triagem pré-procedimento à beira do leito para avaliação da audição.
Aconselhar o paciente a não mover a cabeça, para minimizar qualquer trauma que possa resultar de movimento súbito enquanto o instrumento está no meato acústico.
Durante um exame do canal ou remoção de cerume, puxar delicadamente (ou pedir que um assistente faça isso) o pavilhão para cima e para trás (em adultos) ou para baixo e para trás (em crianças), para endireitar o meato acústico conforme necessário.
Os pacientes podem sentir algum desconforto, mas deve-se interromper o procedimento se ele se tornar doloroso e deve-se reexaminar a orelha à procura de sinais de lesão.
Uso eficaz dos instrumentos
Remove-se cerume mole de forma eficaz utilizando irrigação e/ou instrumentos em forma de colher, ou curetas.
O cerume duro é mais facilmente removido com curetas em alça e pequenos instrumentos em formato de gancho para orelha.
A remoção por sucção é útil para o cerume muito mole e pequenos fragmentos de cerume, mas não para um tampão de cerume grande, duro ou impactado.
Irrigação
Realiza-se irrigação se não há fatores de risco para perfuração.
Instilar um cerumenolítico e deixar agir por 15 a 30 minutos.
Encher a seringa com solução de irrigação.
Inserir o tubo de irrigação somente cerca de 0,5 cm no meato e não além da pele com pelos que define a junção cartilagem-osso (do crânio).
Pedir que um assistente ou o paciente segure a bacia de êmese firmemente sob a orelha para capturar o irrigante.
Direcionar um jato moderado de água em torno do cerume ou acima dele; o cerume pode então ser expelido pela água que se acumula atrás dele.
Várias tentativas podem ser necessárias.
Se a membrana timpânica está visível e intacta com algum irrigante retido, pode-se instilar algumas gotas de álcool isopropílico após a irrigação para acelerar a evaporação da água.
Remoção manual
Se não há fatores de risco de perfuração, considerar instilar um cerumenolítico e deixar agir por 15 a 30 minutos.
Utilizar instrumentos sob visualização direta; inseri-los através da cabeça do otoscópio e espéculo durante o procedimento.
Remover cerume utilizando sucção ou cureta (para cerume mole) ou cureta em alça ou gancho (para cerume duro). Se necessário, remover o cerume utilizando uma pinça jacaré.
Cuidados posteriores para remoção de cerume
Se o procedimento foi interrompido devido à dor, o paciente deve evitar água na orelha por 1 semana e receber fármacos para pingar na orelha, como ofloxacino ou uma suspensão de ciprofloxacino/corticoide para utilizar duas vezes ao dia durante 3 a 5 dias com acompanhamento para reavaliação. Evitar fármacos para pingar na orelha contendo neomicina, que causa dermatite de contato em até 20% dos pacientes.
Reexaminar a orelha para avaliar o meato acústico e a membrana timpânica.
Testar novamente a audição.
Se há retenção do líquido de irrigação e nenhuma suspeita de perfuração, instilar algumas gotas de fluoroquinolona ou ácido acético para fornecer profilaxia contra infecção, especialmente se o paciente estiver imunocomprometido.
Para suspeita de perfuração ou se durante o procedimento houve lesão iatrogênica no canal externo ou dor significativa, administrar uma suspensão de ciprofloxacino/corticoide ou outro antibiótico de fluoroquinolona e colocar o paciente sob precauções hídricas até a orelha ser reavaliada.
Alertas e erros comuns para remoção de cerume
Evitar pressão excessiva durante a irrigação.
Evitar ou interromper o procedimento se houver suspeita de perfuração ou lesão da membrana timpânica durante o procedimento. Os sintomas sugestivos de lesão decorrente do procedimento são dor intensa, vertigem, zumbido, alteração súbita na audição, perda auditiva ou sangramento atrás do cerume.
Recomendações e sugestões para remover o cerume
Iluminação adequada e conforto do paciente são importantes.