Transtorno do espectro autista

PorStephen Brian Sulkes, MD, Golisano Children’s Hospital at Strong, University of Rochester School of Medicine and Dentistry
Revisado/Corrigido: abr. 2024
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Fatos rápidos

O transtorno do espectro autista é um quadro clínico no qual as pessoas têm dificuldade em desenvolver relacionamentos sociais normais, usam linguagem de maneira anormal ou não a usam em absoluto e apresentam comportamentos restritos ou repetitivos.

  • As pessoas afetadas têm dificuldades para se comunicar e se relacionar com terceiros.

  • Pessoas com um transtorno do espectro autista também têm padrões de comportamento, interesses e/ou atividades restritas e com frequência seguem rotinas rígidas.

  • O diagnóstico é feito com base na observação, relatos dos pais e outros cuidadores, e testes de triagem padronizados específicos para o autismo.

  • A maioria das pessoas responde melhor a intervenções comportamentais altamente estruturadas.

Transtorno do espectro autista (TEA) é um quatro clínico neurodesenvolvimental.

Anteriormente, os transtornos do espectro autista eram subclassificados em autismo clássico, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância e transtorno global do desenvolvimento não especificado. Contudo, existe tanta sobreposição que a distinção se torna difícil; portanto, os médicos não usam mais essa terminologia e consideram todos esses como TEAs (exceto pela síndrome de Rett, que é um distúrbio genético distinto). TEAs são diferentes da síndrome de Rett, ainda que muitas pessoas com TEA tenham ambos. O sistema de classificação enfatiza que, dentro desse amplo espectro, diferentes características podem ocorrer de maneira mais ou menos intensa em um dado indivíduo.

Esses transtornos ocorrem em cerca de 1 em cada 36 pessoas nos Estados Unidos e são quatro vezes mais comuns em meninos do que em meninas. O número estimado de pessoas identificadas com transtorno do espectro autista aumentou porque médicos e cuidadores aprenderam mais sobre os sintomas do transtorno.

Causas do transtorno do espectro autista

As causas específicas do transtorno do espectro autista não são completamente compreendidas, embora estejam frequentemente relacionadas a fatores genéticos. No caso de pais com um filho com um TEA, o risco de ter outro filho com um TEA fica em torno de 3% a 10%. Diversas anomalias genéticas, como a síndrome do X frágil e o complexo da esclerose tuberosa e a síndrome de Down, podem estar associados a um TEA.

Infecções pré-natais, por exemplo, infecções virais como a rubéola ou o citomegalovírus, podem ter alguma participação. O nascimento prematuro (prematuridade) também pode ser um fator de risco: quanto maior o nível de prematuridade, maior o risco de um TEA.

Algumas crianças com TEA apresentam diferenças em como o seu cérebro é formado e como funciona.

No entanto, está claro que um TEA não é causado por má educação, condições adversas na infância ou por vacinas (consulte também A vacina tríplice viral e preocupações com autismo).

Você sabia que...

  • O transtorno do espectro autista não é causado por vacinação.

Sintomas do transtorno do espectro autista

Os sintomas de um transtorno do espectro autista podem aparecer nos primeiros dois anos de vida, mas em formas mais leves, os sintomas podem não ser detectados até à idade escolar.

Crianças com transtorno do espectro autista desenvolvem sintomas nas seguintes áreas:

  • Comunicação e interações sociais

  • Padrões de comportamento restritos e repetitivos

Os sintomas de um TEA variam de leves a graves, mas a maioria das pessoas requer algum nível de apoio em ambas as áreas. Existe uma ampla variação na capacidade de pessoas com um TEA funcionarem independentemente na escola ou na sociedade e em relação à sua necessidade de receber apoio. Além disso, cerca de 20% das crianças com um TEA, sobretudo aquelas com um QI inferior a 50, desenvolvem convulsões antes da adolescência. Em cerca de 25% das crianças afetadas, ocorre a perda de habilidades previamente adquiridas (regressão do desenvolvimento) por volta da época do diagnóstico, o que pode ser o indicador inicial de um transtorno.

Comunicação e interações sociais

Com frequência, bebês com um TEA se aninham e fazem contato visual de formas atípicas. Apesar de alguns bebês afetados ficarem perturbados quando são separados dos pais, podem não procurar seus pais em busca de segurança como as outras crianças. As crianças mais velhas muitas vezes preferem brincar sozinhas e não estabelecem relações pessoais íntimas, especialmente fora da família. Quando interagem com outras crianças, podem não fazer contato visual nem usar expressões faciais para estabelecer contato social e têm dificuldade de interpretar o humor e as expressões dos outros. Elas podem ter dificuldade para saber como e quando falar em uma conversa e dificuldade em reconhecer falas impróprias ou causadoras de mágoa. Esses fatores podem fazer com que os outros as vejam como estranhas ou excêntricas, o que leva a isolamento social.

Linguagem

As crianças afetadas mais gravemente nunca aprendem a falar. Aquelas que o fazem aprendem muito mais tarde do que o normal e utilizam as palavras de forma estranha. Elas frequentemente repetem palavras ditas a elas (ecolalia), usam falas memorizadas em vez de linguagem mais espontânea ou invertem o uso normal dos pronomes, especialmente usando você em vez de eu ou mim quando se referem a elas mesmas. Sua conversa pode não ser interativa e, quando presente, é usada mais para rotular ou solicitar do que para compartilhar ideias ou sentimentos. Pessoas com um TEA podem falar com um ritmo e tom incomuns.

Comportamento, interesses e atividades

Com frequência, pessoas com TEA são muito resistentes a mudanças, como novos alimentos, brinquedos, organização dos móveis e roupas. Elas podem ficar excessivamente apegadas a objetos inanimados específicos. Elas com frequência fazem coisas repetidamente. Crianças mais novas e/ou mais gravemente afetadas com frequência repetem certos atos, tais como se balançar, agitar as mãos ou girar objetos. Algumas podem se ferir por meio de comportamentos repetitivos como bater a cabeça ou se morder. As pessoas menos gravemente afetadas podem assistir aos mesmos vídeos múltiplas vezes ou insistir em comer a mesma comida em todas as refeições. Frequentemente, pessoas com um TEA têm interesses muito especializados e com frequência, incomuns. Uma criança pode, por exemplo, se interessar por aspiradores de pó.

Pessoas com TEA frequentemente têm reações exageradas ou insuficientes a sensações. Elas podem sentir repulsa extrema a certos odores, gostos ou texturas ou reagir a sensações de dor, calor ou frio de maneiras incomuns que outras pessoas consideram perturbadoras. Elas podem ignorar alguns sons e ser extremamente perturbadas por outros.

Inteligência

Muitas pessoas com TEA têm algum grau de deficiência intelectual (QI abaixo de 70). Seu desempenho é desigual. Elas em geral se saem melhor em testes de habilidades motoras e espaciais do que em testes verbais. Algumas pessoas com TEA têm capacidades idiossincráticas ou “fragmentadas”, como a aptidão para realizar operações aritméticas complexas mentalmente ou ter habilidades musicais avançadas. Infelizmente, essas pessoas com frequência não conseguem usar essas habilidades de maneira produtiva ou que levam a interações sociais.

Sinais de transtorno do espectro autista

Nem todos os sinais precisam estar presentes para um diagnóstico de um transtorno do espectro autista, mas as crianças precisam ter dificuldades tanto em A quanto em B. Os sinais podem variar amplamente em gravidade, mas devem prejudicar o desempenho das crianças.

A. Dificuldades nas comunicações sociais e na interação social:

  • Dificuldade para interagir com terceiros e compartilhar pensamentos e sentimentos

  • Dificuldades com a comunicação não verbal (como fazer contato visual, compreender e usar linguagem corporal e expressões faciais)

  • Dificuldades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos interpessoais

B. Padrões de comportamento, atividades e/ou interesses restritos e repetitivos:

  • Movimentos ou fala repetitiva

  • Aderência inflexível a rotinas e resistência a mudanças

  • Interesses muito restritos e intensos

  • Resposta a sensações físicas, tais como gostos, cheiros e texturas, muito aumentada ou diminuída

Diagnóstico de transtorno do espectro autista

  • Avaliação médica

  • Relatos dos pais e outros cuidadores

  • Testes padronizados para triagem do espectro autista

O diagnóstico de um transtorno do espectro autista é feito mediante observação cuidadosa da criança em uma sala de brincar e mediante cuidadoso questionamento dos pais e professores. Testes de triagem padronizados específicos para autismo, como o Questionário de Comunicação Social (Social Communication Questionnaire) para crianças mais velhas e a Lista de Verificação Modificada para o Autismo em Bebês, revisada com acompanhamento (Modified Checklist for Autism in Toddlers, Revised, with Follow-Up (M-CHAT-R/F) podem ajudar a identificar crianças que precisam de testes mais aprofundados. Psicólogos e outros especialistas podem usar os Cronogramas de observação para o diagnóstico de autismo (Autism Diagnostic Observation Schedules) e outras ferramentas.

Além dos testes padronizados, os médicos fazem determinados exames de sangue ou genéticos para detectar distúrbios de saúde tratáveis ou hereditários primários, como distúrbios metabólicos hereditários e a síndrome do cromossomo X frágil.

Tratamento de transtorno do espectro autista

  • Análise comportamental aplicada

  • Programas educacionais

  • Fonoaudiologia

  • Às vezes, terapia medicamentosa

A análise comportamental aplicada (applied behavior analysis, ABA) é uma abordagem terapêutica na qual as crianças aprendem habilidades cognitivas, sociais ou comportamentais específicas de maneira gradual. Pequenas melhorias são reforçadas e desenvolvidas progressivamente para melhorar, mudar ou desenvolver comportamentos específicos em crianças com um TEA. Esses comportamentos incluem habilidades sociais, habilidades de linguagem e comunicação, de leitura e acadêmicas bem como de autocuidado (por exemplo, tomar banho e se arrumar), habilidades da vida diária, pontualidade e competência no trabalho. Essa terapia também é usada para ajudar as crianças a minimizar comportamentos (por exemplo, agressão) que podem interferir no seu progresso. A terapia da análise comportamental aplicada (ABA) é adaptada para atender às necessidades de cada criança e é normalmente projetada e supervisionada por profissionais certificados em análise comportamental (como um analista do comportamento certificado pelo conselho [BCBA]). Nos Estados Unidos, a ABA pode estar disponível como parte de um plano educacional individualizado (Individualized Educational Plan, IEP) por meio da escola e, em muitos estados, é coberta pelo seguro de saúde. Outra intervenção comportamental intensiva é o modelo de desenvolvimento, diferenças individuais e baseado em relacionamento (Developmental, Individual-differences, and Relationship-based, DIR®), também chamado Floortime. A DIR® recorre aos interesses e atividades preferidas da criança para ajudar a desenvolver habilidades de interação social e outras habilidades. Atualmente, há menos evidências para apoiar a DIR/Floortime® do que a ABA, mas ambas as terapias podem ser eficazes.

Programas educacionais para crianças em idade escolar com um TEA devem abordar o desenvolvimento de habilidades sociais e atrasos no desenvolvimento da fala e linguagem e ajudar a preparar as crianças para a educação após o ensino médio ou para trabalhar.

A lei federal dos EUA sobre educação para indivíduos com deficiências (Individuals with Disabilities Education Act, IDEA) exige que as escolas públicas ofereçam educação gratuita e apropriada para crianças e adolescentes com TEA. A educação deve ser fornecida no ambiente menos restritivo e mais inclusivo possível, ou seja, em um ambiente no qual a criança tenha todas as oportunidades para interagir com outras crianças não afetadas e tenha igual acesso aos recursos da comunidade. A Americans with Disability Act e a Seção 504 da Rehabilitation Act também fornecem acomodações em escolas e outros ambientes públicos.

A terapia medicamentosa não consegue alterar o transtorno subjacente. No entanto, os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS), como fluoxetina, paroxetina e fluvoxamina, produzem resultados positivos na redução dos comportamentos ritualísticos de pessoas com TEA. Medicamentos antipsicóticos, como a risperidona, podem ser usados para reduzir o comportamento autoagressivo, ainda que o risco de efeitos colaterais (como ganho de peso e distúrbios motores) deva ser considerado. Estabilizadores do humor e psicoestimulantes podem ser úteis no caso de pessoas desatentas, impulsivas ou com hiperatividade.

Embora alguns pais tentem dietas especiais, terapias gastrointestinais ou terapias imunológicas, não existem atualmente evidências concretas de que alguma dessas terapias ajude crianças com TEA. A eficácia de outras terapias complementares, tais como comunicação facilitada, terapia quelante, treinamento de integração auditiva, terapia com oxigênio hiperbárico, ainda não foi comprovada. Ao considerar tais tratamentos, as famílias devem consultar o pediatra da criança no que se refere a riscos e benefícios.

Prognóstico do transtorno do espectro autista

Os sintomas do TEA normalmente persistem durante toda a vida. O prognóstico é fortemente influenciado pela quantidade de linguagem utilizável que a criança adquiriu até a idade escolar. Crianças com TEA apresentando uma medição inferior da inteligência, por exemplo, aquelas com um QI padrão abaixo de 50, provavelmente necessitarão de apoio mais intensivo quando forem adultas.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Lei federal sobre educação para indivíduos com deficiências (Individuals with Disabilities Education Act, IDEA): Uma lei dos Estados Unidos que disponibiliza educação pública gratuita apropriada para crianças elegíveis com deficiência e assegura educação especial e serviços relacionados para essas crianças

  2. Americans with Disability Act: Uma lei dos Estados Unidos que proíbe a discriminação com base na deficiência

  3. Seção 504 da Rehabilitation Act: Uma lei dos Estados Unidos que garante certos direitos a pessoas com deficiência

Essas organizações oferecem recursos de apoio, comunitários e educacionais para pessoas com autismo e cuidadores de pessoas com transtorno do espectro autista:

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