Entubação traqueal

PorAbdulghani Sankari, MD, PhD, MS, Wayne State University
Revisado/Corrigido: jul. 2024
Visão Educação para o paciente

Pode-se tratar a maioria dos pacientes que exigem uma via respiratória artificial com entubação orotraqueal e, às vezes, com entubação nasotraqueal.

Realiza-se a entubação orotraqueal por meio de laringoscopia direta ou videolaringoscopia (ver Como realizar entubação orotraqueal utilizando videolaringoscopia). A entubação orotraqueal é preferível para os pacientes em apneia e para os pacientes graves, porque geralmente é mais rápida do que a entubação nasotraqueal.

A entubação nasotraqueal é reservada a pacientes que estão acordados e respirando espontaneamente ou para situações em que a boca deve ser evitada. Uma complicação grave da entubação nasofaríngea é a epistaxe. O sangue nas vias respiratórias pode obscurecer a visualização laringoscópica e complicar a entubação.

(Ver também Visão geral da parada respiratória e Obtenção do controle das vias respiratórias.)

Antes da entubação

Avaliação das vias respiratórias

Quando a situação clínica permitir, o médico deve realizar uma avaliação de risco das vias respiratórias e obter uma história clínica focada para identificar os potenciais fatores que podem indicar uma via respiratória difícil. Estes incluem história de entubação difícil, anatomia distorcida conhecida das vias respiratórias, ronco, apneia obstrutiva do sono, diabetes mellitus (1) e história de asfixia ou aspiração (2).

O exame físico das vias respiratórias inclui o exame das características faciais e da mandíbula (p. ex., trauma, artrite) que podem impedir a abertura da boca. Além disso, abertura estreita da boca, distâncias hipo-mentais curtas e distâncias tireoide-mentais curtas às vezes predizem entubação difícil (3).

Entretanto, avaliações anatômicas e classificações para prever laringoscopia difícil (p. ex., classificação de Mallampati) não podem ser obtidas em situações críticas ou limitadas no tempo, assim os médicos devem estar sempre preparados para utilizar uma técnica alternativa (p. ex., videolaringoscopia, vias respiratórias supraglóticas, ventilação bolsa-válvula-máscara, via respiratória cirúrgica) se for encontrada uma via respiratória difícil não prevista. Os médicos devem utilizar um algoritmo para vias respiratórias difíceis que seja apropriado ao seu contexto clínico (p. ex., centro cirúrgico, pronto atendimento, unidade de terapia intensiva) e que inclua vias respiratórias alternativas (utilizadas como vias respiratórias primárias e de resgate), bem como técnicas emergenciais de cricotireotomia/acesso frontal ao pescoço (2, 4).

Preparação para entubação

Durante parada cardíaca, deve-se minimizar as pausas para compressões torácicas durante tentativas de entubação (5). Alternativamente, pode-se inserir uma cânula supraglótica.

Manobras para criar uma via respiratória patente e para ventilar e oxigenar o paciente são sempre indicadas antes de tentar uma entubação traqueal. Uma vez tomada a decisão de entubar, as medidas preparatórias incluem os fatores a seguir

A ventilação com oxigênio a 100% desnitrogena pacientes saudáveis e prolonga significantemente o tempo apnéico seguro (o efeito é menor em pacientes com doenças cardiopulmonares graves).

Sucção deve estar prontamente disponível, com um dispositivo de sucção rígido com extremidade em tonsila, para remover secreções e outras substâncias das vias respiratórias.

Pressão anterior na cartilagem cricoidea (manobra de Sellick) era anteriormente recomendada antes e durante a entubação, para evitar regurgitação passiva. Contudo, essa manobra pode ser menos eficaz do que se pensava e pode comprometer a visão da laringe durante a laringoscopia.

Medicamentos para ajudar na entubação, incluindo sedativos, relaxantes musculares e, às vezes, parassimpaticolíticos, são tipicamente administrados a pacientes conscientes ou semiconscientes antes de laringoscopia.

Se o paciente com uma via respiratória difícil antecipada não estiver em parada respiratória iminente, deve-se considerar a entubação acordada, pois esta permite a preservação da respiração espontânea (2). Com base em diretrizes recentes, pré-oxigenação com oxigênio de alto fluxo ou pressão positiva expiratória final (PEEP) utilizando ventilação não invasiva com pressão positiva (VNIPP) é recomendada. Pacientes já em choque têm risco de colapso hemodinâmico durante a entubação, e os médicos devem antecipar a necessidade de líquidos ou vasopressores.

Referências sobre entubação

  1. 1. L'Hermite J, Nouvellon E, Cuvillon P, Fabbro-Peray P, Langeron O, Ripart J: The Simplified Predictive Intubation Difficulty Score: a new weighted score for difficult airway assessment. Eur J Anaesthesiol 26(12):1003–1009, 2009. doi:10.1097/EJA.0b013e32832efc71

  2. 2. Apfelbaum JL, Hagberg CA, Connis RT, et al: 2022 American Society of Anesthesiologists Practice Guidelines for Management of the Difficult Airway. Anesthesiology 136(1):31-81, 2022. doi:10.1097/ALN.0000000000004002

  3. 3. Brown III CA: Identification of the failed airway. In Brown III CA, Sakles JC, Mick NW, Mosier JM, Braude DB (Eds). Walls Manual of Emergency Airway Management, 6th ed, Wolters Kluwer, 2022.

  4. 4. Difficult Airway Society: DAS guidelines for management of unanticipated difficult intubation in adults 2015.

  5. 5. Panchal AR, Berg KM, Hirsch KG, et al: 2019 American Heart Association Focused Update on Advanced Cardiovascular Life Support: Use of Advanced Airways, Vasopressors, and Extracorporeal Cardiopulmonary Resuscitation During Cardiac Arrest: An Update to the American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation 140(24):e881–e894, 2019. doi:10.1161/CIR.0000000000000732

Seleção e preparação para entubação

A maioria dos adultos pode aceitar um tubo com diâmetro interno de 8 mm; esses tubos são preferíveis àqueles menores porque

  • Têm menor resistência respiratória (reduzindo o trabalho respiratório)

  • Facilitam a aspiração de secreções

  • Permitem a passagem de um broncoscópio

  • Podem ajudar na liberação da ventilação mecânica

Para lactentes e crianças 1 ano de idade, o tamanho do tubo sem manguito é assim calculado: (idade do paciente + 16)/4; assim, um paciente de 4 anos deverá utilizar um tubo endotraqueal de (4 + 16)/4 = 5 mm. O tamanho de tubo sugerido por essa fórmula deve ser reduzido em 0,5 (1 tamanho de tubo) se for utilizado um tubo com manguito (1). Tabelas de referência (ver tabela Guia de reanimação infantil — medidas mecânicas) ou dispositivos como a fita de emergência pediátrica de Broselow ou Pedi-Wheel podem identificar rapidamente o tamanho adequado das lâminas de laringoscópio e tubos endotraqueais para lactentes e crianças.

Para adultos (e, às vezes, crianças), um estilete rígido deve ser colocado no tubo, tomando cuidado de parar o estilete 1 a 2 cm antes da extremidade distal do tubo endotraqueal, para que a extremidade do tubo permaneça macia. Deve-se então utilizar o estilete para que o tubo permaneça reto em relação ao início do manguito distal; desse ponto, dobra-se o tubo para cima em cerca de 35° para criar uma forma de bastão de hóquei. Esse formato reto do manguito melhora a distribuição do tubo e evita o bloqueio da visão do operador em relação às pregas vocais durante a passagem do tubo. Preenchimento rotineiro do manguito distal do tubo endotraqueal com ar para verificar o balão não é necessário; se essa técnica for utilizada, será necessário o cuidado de remover todo o ar antes da inserção do tubo.

Referência sobre seleção de tubos

  1. 1. Weiss M, Dullenkopf A, Fischer JE, Keller C, Gerber AC, European Paediatric Endotracheal Intubation Study Group: Prospective randomized controlled multi-centre trial of cuffed or uncuffed endotracheal tubes in small children. Br J Anaesth 103(6):867–873, 2009. doi:10.1093/bja/aep290

Técnica de inserção para entubação

O sucesso na primeira tentativa de entubação é importante. Laringoscopia repetida ( 3 tentativas) está associada a taxas muito maiores de hipoxemia significante, aspiração e parada cardíaca. Além do posicionamento correto (ver figura Posicionamento de cabeça e pescoço para abertura das vias respiratórias), vários outros princípios gerais são críticos para o sucesso:

  • Visualização da epiglote

  • Visualização das estruturas posteriores da laringe (idealmente, as pregas vocais)

  • Não passar o tubo se a inserção traqueal não estiver assegurada

O laringoscópio convencional é projetado para ser segurado com a mão esquerda e a lâmina é inserida na boca e utilizada como retrator para deslocar a mandíbula e a língua para cima e para longe do laringoscopista, revelando a parte posterior da faringe. É importante evitar contato com os dentes incisivos e não fazer pressão indevida sobre estruturas da laringe.

A importância de identificar a epiglote nunca é exagerada. A identificação da epiglote permite ao operador reconhecer pontos de referência críticos das vias respiratórias e posicionar corretamente a lâmina do laringoscópio. A epiglote pode repousar contra a parede posterior da faringe, onde se confunde visualmente com as outras mucosas rosadas ou se perde no acúmulo de secreções que invariavelmente ocorre nas vias respiratórias do paciente com parada cardíaca.

Depois de identificar a epiglote, o médico pode utilizar 1 de 2 técnicas para deslocar:

  • Com lâmina reta: o médico toca a epiglote com a ponta da lâmina do laringoscópio

  • Abordagem típica com lâmina curva: o operador eleva indiretamente a epiglote e a desloca para fora da linha de visão avançando a lâmina até a valécula e pressionando contra o ligamento hioepiglótico

O sucesso com a lâmina curva depende do posicionamento adequado da ponta da lâmina na valécula e da direção da força de alavanca (ver figura Laringoscopia bimanual). A elevação da epiglote utilizando qualquer dessas técnicas revela as estruturas posteriores da laringe (cartilagens aritenoideas, incisura inter-aritenoidea), glote e pregas vocais. Se a extremidade da lâmina estiver demasiadamente profunda, pontos de referência laríngeos podem ser totalmente ultrapassados e o orifício escuro e circular do esôfago pode ser confundido com a rima da glote.

Se for difícil identificar as estruturas, manipular a laringe com a mão direita posicionada na parte anterior do pescoço (enquanto o laringoscópio é mantido na mão esquerda) pode otimizar a visualização da laringe (ver figura Laringoscopia bimanual). Um auxiliar também pode ajudar a manipular a laringe. Outra técnica envolve elevar mais a cabeça (no occipúcio, não por extensão atlanto-occipital), o que desvia a mandíbula e melhora a linha de visão. Elevação da cabeça é desaconselhável em pacientes com potencial lesão da região cervical da coluna vertebral e é difícil em pacientes com obesidade extrema (que precisam ser estabilizados em uma posição inclinada ou com a cabeça elevada).

Em uma visão ótima, as pregas vocais são claramente avistadas. Se as pregas vocais não são vistas, minimamente os pontos de referência da parte posterior da laringe precisam ser visualizados e a extremidade do tubo precisa ser vista passando acima da incisura interaritenoidea e das cartilagens posteriores. Os operadores devem identificar claramente os pontos de referência laríngeos para evitar a entubação esofágica potencialmente fatal. Se os operadores não tiverem certeza de que o tubo está entrando na traqueia, o tubo não deve ser inserido.

Uma vez obtida uma visualização ótima, a mão direita insere o tubo através da laringe até a traqueia (se os operadores estavam aplicando pressão laríngea anterior com a mão direita, um assistente deverá continuar aplicando essa pressão). Se o tubo não passar facilmente, girá-lo 90° no sentido horário poderá ajudá-lo a passar mais suavemente sobre os anéis cartilagíneos da parte anterior da traqueia. Após o manguito do tubo endotraqueal ter passado 1 a 2 cm além das pregas vocais, o balão deve ser inflado e o estilete removido. Antes de retirar o laringoscópio, os operadores deverão confirmar se o tubo está passando entre as pregas da laringe. A profundidade adequada do tubo é, habitualmente, 21 a 23 cm em adultos e 3 vezes o tamanho do tubo endotraqueal em crianças (para um tubo endotraqueal de 4,0 mm, 12 cm; para um tubo endotraqueal de 5,5 mm, 16,5 cm). Em adultos, o tubo, se inadvertidamente avançado, tipicamente migra para o brônquio-fonte direito.

A entubação não é bem-sucedida em 10 a 30% dos pacientes criticamente enfermos, de modo que deve-se estabelecer planos de contingência. Quando a entubação falha, deve-se priorizar a oxigenação e utilizar intervenções alternativas, minimizando a quantidade de intervenções nas vias respiratórias a fim de reduzir traumas e outras complicações do procedimento (1, 2).

Laringoscopia bimanual

Pressão é aplicada sobre o pescoço, no lado oposto ao da elevação do laringoscópio. As setas mostram a direção para elevação do laringoscópio e para a pressão sobre a parte anterior do pescoço.

Referências sobre técnicas de inserção

  1. 1. Frerk C, Mitchell VS, McNarry AF, et al: Difficult Airway Society 2015 guidelines for management of unanticipated difficult intubation in adults. Br J Anaesth 115: 827–848, 2015. https://doi.org/10.1093/bja/aev371

  2. 2. Higgs A, McGrath BA, Goddard C, et al: Guidelines for the management of tracheal intubation in critically ill adults. Br J Anaesth 120:323–352, 2018. doi: 10.1016/j.bja.2017.10.021

Dispositivos alternativos de entubação

Vários dispositivos e técnicas podem ser utilizados para entubação após laringoscopia mal-sucedida ou como um meio principal de entubação. Os dispositivos incluem

  • Videolaringoscópios

  • Máscara laríngea (ML) com uma passagem que permite a entubação traqueal

  • Outras vias respiratórias supraglóticas

  • Fibroscópios e estiletes ópticos

  • Introdutores de tubo

Cada dispositivo tem suas próprias sutilezas; médicos hábeis em técnicas padrão de entubação com laringoscópio não devem presumir que podem utilizar um desses dispositivos (especialmente após o paciente ter recebido relaxantes musculares) sem estar muito bem familiarizados com ele.

Os videolaringoscópios capacitam os médicos a observar por sobre a curvatura da língua e, habitualmente, proporcionam excelentes visualizações da laringe. A videolaringoscopia pode aumentar a taxa de sucesso da entubação e encurtar o tempo de entubação bem-sucedida em adultos com vias respiratórias difíceis (1). Entretanto, alguns videolaringoscópios requerem que o tubo endotraqueal tenha um ângulo de curvatura exagerado para contornar a língua e, portanto, pode ser mais difícil de manipular e inserir. Durante a pandemia de covid-19, muitas diretrizes de sociedades médicas recomendaram o uso de videolaringoscopia (quando disponível) como o principal método para o tratamento das vias respiratórias porque aumentava a distância entre o médico que realiza a entubação e a face do paciente na tentativa de minimizar a transmissão viral (2). Em crianças, a videolaringoscopia reduz o risco de falhas nas primeiras tentativas de entubação em comparação à laringoscopia direta. Entretanto, mais evidências são necessárias para determinar se todos os dispositivos de videolaringoscopia fornecem o mesmo benefício (3).

Algumas máscaras laríngeas têm uma passagem que permite a entubação traqueal. Para inserir um tubo endotraqueal através de dispositivo com máscara laríngea, os médicos precisam entender como posicionar a máscara de maneira ótima sobre a abertura superior da laringe; às vezes ocorrem dificuldades mecânicas ao inserir o tubo endotraqueal.

Pode-se utilizar uma via respiratória supraglótica nos casos em que não houver uma visualização ideal da laringe ou um tubo endotraqueal não puder ser passado pelas pregas vocais (p. ex., anatomia anormal, estenose subglótica).

Dispositivos de fibra óptica flexível e estiletes ópticos são muito manobráveis e podem ser utilizados em pacientes com anatomia anormal. Mas prática é necessária para reconhecer pontos de referência laríngeos pela perspectiva da fibra óptica. Em comparação com os videolaringoscópios, os fibroscópios são mais difíceis de dominar e mais suscetíveis a problemas com sangue e secreções; além disso, não separam e dividem tecidos, precisando ser movidos através de passagens abertas.

Introdutores de sondas são estiletes semirrígidos que podem ser utilizados quando a visualização da laringe é subótima (p. ex., a epiglote é visível, mas o ádito da laringe não). Em tais casos, o introdutor é inserido ao longo da face inferior da epiglote; a partir desse ponto, ele tem probabilidade de entrar na traqueia. A entrada traqueal é sugerida pelo feedback tátil, observado à medida que a ponta salta sobre os anéis traqueais. Avança-se então um tubo endotraqueal ao longo do introdutor. Durante a passagem ao longo de um introdutor de tubo, às vezes a extremidade do tubo atinge a prega ariepiglótica direita. Frequentemente, girar o tubo 90° no sentido anti-horário libera a extremidade do tubo endotraqueal e permite que ele passe suavemente.

Referências sobre dispositivos alternativos de entubação

  1. 1. Su YC, Chen CC, Lee YK, Lee JY, Lin KJ: Comparison of video laryngoscopes with direct laryngoscopy for tracheal intubation: a meta-analysis of randomised trials. Eur J Anaesthesiol 28(11):788–795, 2011. doi:10.1097/EJA.0b013e32834a34f3

  2. 2. Perkins EJ, Begley JL, Brewster FM, Hanegbi ND, Ilancheran AA, Brewster DJ: The use of video laryngoscopy outside the operating room: A systematic review. PLoS One 17(10):e0276420, 2022. doi:10.1371/journal.pone.0276420

  3. 3. de Carvalho CC, Regueira SLPA, Souza ABS, et al: Videolaryngoscopes versus direct laryngoscopes in children: Ranking systematic review with network meta-analyses of randomized clinical trials. Paediatr Anaesth 32(9):1000–1014, 2022. doi:10.1111/pan.14521

Confirmação da inserção do tubo

Remove-se o estilete e o manguito do balão é inflado com ar utilizando-se uma seringa de 10 mL; quando disponível, pode-se utilizar um manômetro para verificar que a pressão do balão seja < 30 cm de água. O tamanho do tubo endotraqueal e o tamanho do manguito afetam o volume de ar necessário para a pressão correta.

Após a insuflação do balão, a colocação do tubo deve ser verificada por um ou mais dos seguintes métodos:

  • Inspeção e auscultação

  • Detecção de dióxido de carbono

  • Dispositivos detectores esofágicos

  • Às vezes, radiografia de tórax

Quando um tubo é corretamente colocado, a ventilação manual deve produzir elevação simétrica do tórax, bons sons respiratórios nos dois pulmões e ausência de gorgolejo na parte superior do abdome.

O ar exalado deve conter dióxido de carbono e o ar gástrico não; a detecção de dióxido de carbono com capnografia de forma de onda quantitativa confirma a inserção traqueal. Pode-se utilizar a capnografia colorimétrica para medir o nível expirado de dióxido de carbono (ETCO2) se as ondas de capnografia não estiverem disponíveis, mas a capnografia colorimétrica é menos confiável. As ondas da capnografia quantitativa podem não detectar o ETCO2 inicialmente se a parada cardíaca for prolongada antes da entubação. O ETCO2, no entanto, pode ser detectado mais tarde se os esforços de reanimação forem bem-sucedidos. A detecção do ETCO2 ou um aumento dos níveis de ETCO2 reflete compressões torácicas e ventilação eficazes.

Na parada cardíaca prolongada (isto é, com pouca ou nenhuma atividade metabólica), o dióxido de carbono pode não ser detectável mesmo com a colocação correta do tubo. Nesses casos, pode-se utilizar um dispositivo de detecção esofágica. Esses dispositivos utilizam um bulbo inflável ou uma seringa grande para aplicar pressão negativa ao tubo endotraqueal. O esôfago flexível colaba e pouco ou nenhum ar flui para o dispositivo; em contraposição, a traqueia rígida não colaba e o fluxo de ar resultante confirma a inserção traqueal.

Na ausência de parada cardíaca, a colocação do tubo é, tipicamente, também confirmada com uma radiografia de tórax.

Após a confirmação da colocação correta, o tubo deve ser fixado utilizando-se um dispositivo comercialmente disponível ou fita adesiva. Adaptadores conectam o tubo endotraqueal a uma bolsa de reanimação, com um acoplador em T suprindo umidade e oxigênio, ou um respirador mecânico.

Sondas endotraqueais podem deslocar-se, particularmente em situações caóticas de reanimação; por isso, a posição do tubo deve ser verificada com frequência. Se sons respiratórios estiverem ausentes no lado esquerdo, entubação do brônquio-fonte direito é mais provável do que um pneumotórax hipertensivo esquerdo, mas ambos devem ser considerados.

Entubação nasotraqueal

Se o paciente estiver respirando espontaneamente, é possível fazer entubação nasotraqueal em certas situações de emergência — p. ex., quando o paciente tem problemas orais ou cervicais graves (p. ex., lesões, edema e/ou restrição de movimentos) que dificultem a laringoscopia. A entubação nasotraqueal é absolutamente contraindicada em pacientes com fraturas no terço médio da face ou fraturas da base do crânio suspeitas. A entubação nasal também era utilizada quando os relaxantes musculares não estavam disponíveis ou eram restritos (p. ex., fora do escopo da prática para a equipe pré-hospitalar e alguns departamentos de emergência) e em pacientes insuficiência cardíaca descompensada e insuficiência respiratória em pé. Entretanto, a disponibilidade de meios não invasivos de ventilação (p. ex., pressão positiva em dois níveis nas vias respiratórias) aprimorou o acesso à entubação e o treinamento em adjuntos farmacológicos a ela, e dispositivos atuais de via respiratória diminuíram pronunciadamente o uso de entubação nasal. Considerações adicionais são problemas com entubação nasal, incluindo sinusite (universal após 3 dias), e o fato de tubos suficientemente calibrosos para permitir broncoscopia (p. ex., 8 mm) raramente conseguirem ser inseridos por via nasotraqueal.

Quando é efetuada entubação nasotraqueal, um vasoconstritor (p. ex., fenilefrina) e um anestésico tópico (p. ex., benzocaína, lidocaína) precisam ser aplicados à mucosa nasal e à laringe para evitar sangramento e embotar os reflexos de proteção. Alguns pacientes podem também necessitar de sedativos, opioides ou medicamentos dissociativos, por via IV.

Após a preparação da mucosa nasal, deve-se inserir uma cânula nasofaríngea macia para assegurar a patência adequada da passagem nasal selecionada e para servir como condutor de fármacos tópicos para a faringe e laringe. Pode-se inserir a cânula nasofaríngea utilizando um lubrificante simples ou anestésico (p. ex., lidocaína). Remove-se a cânula nasofaríngea após a aplicação de spray à mucosa faríngea.

A sonda nasotraqueal é, então, inserida até cerca de 14 cm de profundidade (imediatamente acima do ádito da laringe na maioria dos adultos); nesse ponto, o movimento do ar deve ser audível. Quando o paciente inspira, abrindo as pregas vocais, a sonda é prontamente inserida na traqueia. Frequentemente, uma tentativa de inserção inicial mal sucedida faz o paciente tossir. Profissionais devem prever esse evento, o que permite uma segunda oportunidade de passar o tubo através de uma glote bem aberta. Sondas endotraqueais mais flexíveis com extremidade controlável aumentam a probabilidade de sucesso. Alguns médicos amolecem as sondas colocando-as em água quente, para reduzir o risco de sangramento e facilitar a inserção. Um pequeno apito comercialmente disponível também pode ser acoplado ao conector proximal da sonda para acentuar o ruído do movimento do ar quando o tubo está na posição correta, acima da laringe e na traqueia.

Complicações da entubação traqueal

Complicações da entubação traqueal são

  • Trauma direto

  • Entubação do esôfago

  • Erosão ou estenose da traqueia

A laringoscopia pode lesar lábios, dentes, língua, e áreas supraglóticas e infraglóticas.

A colocação do tubo no esôfago, se não reconhecida, resulta em incapacidade de ventilação e, potencialmente, morte ou lesão hipóxica. Insuflação de uma sonda no esôfago provoca regurgitação, que pode resultar em aspiração, comprometer subsequente ventilação com dispositivo bolsa-válvula-máscara e obscurecer a visualização em tentativas subsequentes de entubação.

Qualquer sonda translaríngea lesiona as pregas vocais; às vezes, ocorrem ulceração, isquemia e paralisia prolongada das pregas vocais. Estenose subglótica pode ocorrer depois (habitualmente, 3 a 4 semanas).

Erosão da traqueia é incomum. Resulta mais comumente da pressão excessivamente alta do manguito (> 30 cm de água).

É rara a ocorrência de hemorragia de grandes vasos (p. ex., tronco braquiocefálico), fístulas (especialmente traqueoesofágicas) e estenose traqueal. O uso de manguito de grande volume e baixa pressão com tubos de tamanho adequado, e a medição frequente da pressão do manguito (a cada 8 horas) para mantê-la < 30 cm de água, diminuem o risco de necrose isquêmica por pressão, mas pacientes em choque, com baixo débito cardíaco ou com sepse permanecem especialmente vulneráveis.

Em pacientes pediátricos, o laringoespasmo pode ocorrer ocasionalmente e pode ser prevenido com lidocaína tópica ou intravenosa e tratado com propofol e/ou succinilcolina (1).

Referência sobre complicações da entubação

  1. 1. von Ungern-Sternberg B, Sims C: Airway Management in Children. In: Sims C, Weber D, Johnson C (eds). A Guide to Pediatric Anesthesia. Springer, Cham. 2020. pp. 77–114. https://doi.org/10.1007/978-3-030-19246-4_4

quizzes_lightbulb_red
Test your KnowledgeTake a Quiz!
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS