As tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos que se ligam à subunidade 30S do ribossomo, inibindo desta forma a síntese proteica bacteriana. Tetraciclinas específicas são
Doxiciclina
Eravaciclina (somente IV)
Minociclina
Omadaciclina (aminometilciclina recente)
Tetraciclina
Farmacocinética das tetraciclinas
Cerca de 60 a 80% de tetraciclina e ≥ 90% de doxaciclina e minociclina são absorvidos após a administração oral. Mas em razão de a absorção ser diminuída na presença de cátions metálicos (p. ex., alumínio, cálcio, magnésio e ferro), não se recomenda sua ingestão com preparações contendo estas substâncias (p. ex., antiácidos, muitas vitaminas e suplementos nutricionais). Deve-se tomar a tetraciclina e omadaciclina com bastante água e estômago vazio. Os alimentos também diminuem a absorção de outras tetraciclinas, mas esse efeito é menos significativo para a doxaciclina e a minociclina.
As tetraciclinas penetram na maioria dos tecidos e líquidos corporais. Todos se concentram na bile não obstruída. Contudo, níveis liquóricos não são confiavelmente terapêuticos. A minociclina é a única tetraciclina que penetra nas lágrimas e na saliva em níveis suficientes para erradicar o estado de portador de meningococo.
As tetraciclinas e a minociclina são excretadas principalmente na urina, podem exacerbar a azotemia e devem ser evitadas em pacientes com insuficiência renal. Doxaciclina, eravaciclina e omadaciclina são excretadas principalmente no trato intestinal.
Indicações para tetraciclinas
As tetraciclinas são ativas contra infecções causadas por:
Espiroquetas (Treponema pallidum, Borrelia burgdorferi)
Vibrio spp
Brucella spp
Plasmodium falciparum
Mycoplasma spp
Chlamydia e Chlamydophila spp
Alguns Staphylococcus aureus resistentes à meticilina
Cerca de 5% a 10% das cepas de pneumococos e quantidades substanciais de estreptococos beta-hemolíticos do grupo A, muitos bacilos Gram-negativos patógenos urinários e gonococos produtores de penicilinase são resistentes.
As tetraciclinas são intercambiáveis para a maioria das infecções, embora a minociclina tenha sido a mais estudada para infecções por S. aureus meticilina-resistentes.
A doxaciclina é comumente preferida por sua melhor tolerabilidade e administração em duas vezes ao dia para tratamento de:
Contraindicações às tetraciclinas
Tetraciclinas são contraindicados para os pacientes com história de reação alérgica a estes fármacos.
O uso foi restrito em crianças < 8 anos de idade devido à preocupação com a coloração dos dentes, mas isso não foi demonstrado em estudos clínicos com o uso de curto prazo de doxiciclina. Portanto, a maioria dos especialistas agora considera o uso de curto prazo (< 21 dias) de doxiciclina aceitável para todas as idades (1). Um estudo com crianças < 8 anos de idade que foram tratadas com um curso curto de doxiciclina por suspeita de febre maculosa das Montanhas Rochosas não encontrou nenhuma evidência de manchas nos dentes ou defeitos no esmalte em comparação com crianças que não receberam doxiciclina (2, 3).
Referências sobre contraindicações
1. Stultz JS, Eiland LS: Doxycycline and Tooth Discoloration in Children: Changing of Recommendations Based on Evidence of Safety. Ann Pharmacother 53(11):1162-1166, 2019. doi: 10.1177/1060028019863796
2. Todd SR, Dahlgren FS, Traeger MS, et al: No visible dental staining in children treated with doxycycline for suspected Rocky Mountain spotted fever. J Pediatr 166(5):1246–1251, 2015. doi: 10.1016/j.jpeds.2015.02.015
3. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Research on doxycycline and tooth staining. Acessado em 20 de fevereiro de 2024.
Uso de tetraciclinas durante a gestação e o aleitamento
Tetraciclinas são evitadas na gestação por causa do risco de acúmulo nos ossos e dentes fetais; entretanto, ciclos curtos de doxiciclina (≤ 10 dias) não parecem aumentar o risco de descoloração dos dentes. Mesmo assim, gestantes e lactantes devem evitar tetraciclinas quando houver alternativas mais seguras disponíveis.
Pode ocorrer hepatotoxicidade em gestantes, particularmente depois de administração intravenosa e naquelas com azotemia ou pielonefrite. Tomar altas doses durante a gestação pode provocar degeneração gordurosa do fígado, que pode ser fatal.
Efeitos adversos das tetraciclinas
Os efeitos adversos das tetraciclinas são
Distúrbios gastrointestinais
Candidíase
Fotossensibilidade
Efeitos nos ossos e nos dentes de crianças
Esteatose hepática
Disfunção vestibular (com minociclina)
Todas as tetraciclinas administradas por via oral produzem náuseas, vômitos e diarreia e podem causar superinfecções por cândida. Podem provocar erosões esofágicas se não forem ingeridas com água.
Fotossensibilidade decorrente de tetraciclinas pode se manifestar como uma queimadura de sol exagerada.
Os efeitos ósseos e dentários incluem a coloração dos dentes (não observada com o uso de curto prazo de doxiciclina; ver Contraindicações), hipoplasia do esmalte dental e crescimento ósseo anormal em crianças < 8 anos. Em lactentes, podem ocorrer hipertensão intracraniana idiopática e abaulamento de fontanelas.
Níveis séricos excessivos por ingestão de altas doses ou insuficiência renal podem provocar degeneração gordurosa aguda fatal, em especial na gestação.
A minociclina causa comumente disfunção vestibular, limitando seu uso. O uso de minociclina tem sido associado ao desenvolvimento de distúrbios autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico e poliartrite nodosa, que pode ser reversível. A minociclina também pode causar reação ao fármaco com eosinofilia e sintomas sistêmicos (DRESS), que é caracterizada por febre, exantema, linfadenopatia, hepatite, linfocitose atípica, eosinofilia e trombocitopenia.
Tetraciclinas (exceto doxiciclina) podem exacerbar a azotemia, a hiperfosfatemia e a acidose metabólica em pacientes com insuficiência renal. Embora a doxiciclina tenha muitas das propriedades metabólicas do grupo das tetraciclinas, geralmente não causa níveis sanguíneos tóxicos por causa da sua via extrarrenal de excreção.
Pílulas vencidas de tetraciclinas podem se degenerar, causando a síndrome de Fanconi se ingeridas. Os pacientes devem ser orientados a descartarem os antibióticos quando seu prazo de validade expirar.
Considerações sobre a dosagem das tetraciclinas
Doxiciclina, eravaciclina e omadaciclina são primariamente excretadas no trato intestinal e não exigem redução da dose na insuficiência renal, ao passo que a tetraciclina e a minociclina requerem ajuste da dose em pacientes com função renal reduzida.
As tetraciclinas podem diminuir a eficácia de contraceptivos orais e potencializar os efeitos de anticoagulantes orais.