Considerações gerais sobre a nutrição

PorShilpa N Bhupathiraju, PhD, Harvard Medical School and Brigham and Women's Hospital;
Frank Hu, MD, MPH, PhD, Harvard T.H. Chan School of Public Health
Revisado/Corrigido: fev. 2023 | modificado set. 2023
VISUALIZAR A VERSÃO PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE

A nutrição é o processo de consumo, absorção e utilização dos nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento do corpo, bem como para a manutenção da vida.

Uma alimentação adequada e apropriada só é conseguida por meio de uma dieta saudável, constituída por uma variedade de nutrientes (substâncias químicas presentes nos alimentos que nutrem o nosso organismo). Seguir uma dieta saudável permite manter o peso e a composição corporal (a porcentagem de gordura e de músculo no corpo) desejáveis, realizar as atividades físicas e mentais diárias e minimizar o risco de ter doença ou incapacidade.

As Diretrizes dietéticas para americanos, 2020-2025, do Ministério da Agricultura dos EUA (United States Department of Agriculture, USDA) afirmam que: “Um padrão de dieta saudável é aquele que inclui alimentos e bebidas ricos em nutrientes de todos os grupos alimentares, consumidos nas quantidades recomendadas e dentro dos limites calóricos”. De acordo com essas diretrizes, os principais elementos que compõem um padrão de dieta saudável incluem:

  • Verduras de todos os tipos: verde-escuro, vermelho e alaranjado; feijão, ervilha e lentilha; legumes ricos em amido e outros tipos de verdura

  • Frutas, principalmente fruta com casca

  • Grãos, sendo que, no mínimo, metade deve ser grãos integrais

  • Laticínios, inclusive leite desnatado e semidesnatado, iogurte e queijo e/ou, alternativamente, versões sem lactose e bebidas à base de soja fortificadas e iogurte

  • Alimentos proteicos, incluindo carnes magras, aves e ovos; frutos do mar, feijões, ervilhas e lentilhas e nozes, sementes e produtos à base de soja

  • Óleos, inclusive óleos vegetais e óleos em alimentos, tais como frutos do mar e nozes

O consumo de alimentos em excesso pode levar à obesidade. O consumo de grandes quantidades de certos nutrientes, normalmente vitaminas ou minerais, pode causar efeitos nocivos (toxicidade). Se a pessoa não consumir uma quantidade suficiente de nutrientes, pode ocorrer a desnutrição, dando origem a uma deficiência nutricional.

Avaliação do estado nutricional

Para determinar se uma pessoa consome nutrientes suficientes, o médico faz perguntas sobre os seus hábitos alimentares e a sua dieta e realiza um exame físico para avaliar o funcionamento e a composição corporal.

A altura e o peso são medidos e o índice de massa corporal (IMC) é calculado. O IMC é calculado dividindo o peso (em quilogramas) pela altura (em metros) elevada ao quadrado. Um IMC entre 18,5 e 24,9 costuma ser considerado normal ou saudável para homens e mulheres. Nos Estados Unidos e em outros países com baixos índices de insegurança alimentar, muitas pessoas apresentam um IMC superior a 24. Manter um peso adequado é importante para a saúde física e mental. Uma tabela de valores de referência de altura e peso pode ser utilizada como orientação, porém o IMC é mais confiável.

O IMC, no entanto, não leva em consideração diferenças na composição corporal. Alternativamente, a circunferência da cintura pode ser medida; às vezes, a gordura na seção mediana é uma medida mais exata do excesso de peso ou gordura nociva que é depositada nos órgãos internos e que tende a prever o risco de ter doença cardíaca e doenças metabólicas.

Os níveis de muitos nutrientes podem ser medidos no sangue, dentro das células e, às vezes, nos tecidos. Por exemplo, a medição do nível de albumina, a principal proteína do sangue, pode ajudar a determinar se as pessoas apresentam deficiência de proteína. Os níveis de nutrientes diminuem quando a nutrição não é adequada. No entanto, a confiabilidade sobre essas medidas indicarem o estado nutricional pode depender daquilo que está sendo refletido por aquela medida (por exemplo, se as células são internas ou sanguíneas), uma vez que a concentração celular de nutrientes pode refletir melhor a quantidade de nutrientes utilizável ou disponível em comparação à quantidade que é transportada no sangue.

Composição corporal

Em geral, a composição corporal diz respeito ao teor de gordura e de músculo do corpo, e costuma ser expresso na forma de porcentagem de gordura corporal. Às vezes, a composição corporal é estimada por meio da

  • Medição da espessura da prega cutânea

  • Realização de uma análise da impedância bioelétrica

As formas mais exatas de determinar essa porcentagem incluem medir a pessoa debaixo d’água (pesagem hidrostática) e realizar uma absorciometria de raios X de dupla energia (DXA), uma tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM). No entanto, esses métodos mais exatos não são fáceis de usar, podem ser caros, expõem desnecessariamente a pessoa à radiação (TC) e nem sempre estão disponíveis. Elas são usadas principalmente em pesquisa.

Espessura da prega cutânea: A composição corporal pode ser estimada através da medida da quantidade de gordura sob a pele (espessura de uma prega cutânea). A espessura da prega cutânea é medida através de um calibrador numa prega, na parte póstero-superior do braço esquerdo (prega sobre o tríceps). Considera-se normal uma espessura com cerca de 1,25 cm nos homens e de 2,5 cm nas mulheres. Esse valor, em conjunto com a circunferência da parte superior do braço esquerdo, é utilizado para estimar a quantidade de músculo esquelético no corpo (massa magra corporal).

Análise da impedância bioelétrica: Este teste mede a resistência dos tecidos corporais ao fluxo de uma corrente elétrica de baixa voltagem indetectável. Geralmente, a pessoa fica em pé e descalça sobre placas metálicas e é enviada uma corrente elétrica que a pessoa não sente, subindo por um pé e descendo pelo outro. A gordura corporal e os ossos têm uma resistência ao fluxo elétrico muito mais elevada do que o tecido muscular. Medir a resistência através da corrente permite que os médicos estimem a porcentagem de gordura no corpo. Esse exame tem a duração de apenas 1 minuto.

Pesagem hidrostática: A pessoa é pesada debaixo d’água em uma pequena piscina e esse peso é comparado ao seu peso em terra firme. Os ossos e os músculos são mais densos do que a água; assim, uma pessoa com uma porcentagem alta de tecido magro pesa mais submergida na água do que uma pessoa com uma porcentagem mais elevada de gordura. Embora esse método seja considerado o mais exato, é necessário um equipamento especial que pode não estar prontamente disponível, além de bastante tempo e conhecimento especializado.

Absorciometria de raios X de dupla energia (densitometria óssea, DXA): Esse procedimento de imagem determina com precisão a quantidade e a distribuição da gordura no corpo. A DXA emprega uma dose muito baixa de radiação e é segura. No entanto, é muito caro para ser usado rotineiramente.

Embora a TC e a RM não costumem estar disponíveis isoladamente para fins de melhoria da saúde, elas proporcionam a análise mais detalhada e exata da composição corporal, uma vez que elas conseguem determinar com mais exatidão a quantidade de gordura nos tecidos, inclusive no interior dos músculos e órgãos, e conseguem diferenciar entre a gordura abdominal e nos órgãos internos (visceral) que é mais prejudicial e a gordura menos prejudicial sob a pele (gordura subcutânea).

Tabela
Tabela

Componentes da dieta

Geralmente, os nutrientes dividem-se em duas classes:

  • Macronutrientes: Os macronutrientes são necessários diariamente em grandes quantidades. Incluem proteínas, gorduras, carboidratos, alguns minerais e água.

  • Micronutrientes: Os micronutrientes são necessários em pequenas quantidades diárias — em miligramas (a milésima parte de um grama) e microgramas (a milionésima parte de um grama). Os micronutrientes incluem as vitaminas e determinados minerais necessários para que o organismo use os macronutrientes. Esses minerais são chamados de microminerais porque o organismo precisa apenas de quantidades muito pequenas.

A quantidade diária de água necessária é de 1 mililitro para cada caloria de energia gasta, ou seja, aproximadamente 2,7 litros para mulheres e 3,7 litros para homens, por dia. A ingestão necessária de água pode ser atendida pela água naturalmente contida em vários alimentos e através do consumo de sucos de frutas e verduras, café descafeinado ou chá e água. As bebidas alcoólicas e café, chá e refrigerantes cafeinados podem fazer as pessoas urinarem mais; por isso, são menos úteis.

Os alimentos consumidos diariamente podem conter até 100 mil substâncias. Porém, apenas 300 são classificadas como nutrientes, e apenas 45 são classificadas como nutrientes essenciais:

  • Vitaminas

  • Minerais

  • Alguns aminoácidos (componentes da proteína)

  • Alguns ácidos graxos (componentes das gorduras)

Os nutrientes essenciais não podem ser sintetizados pelo organismo e, portanto, devem ser consumidos na dieta.

Os nutrientes que o organismo consegue fabricar a partir de outros compostos são chamados não essenciais. No entanto, em determinadas situações, como, por exemplo, doença ou estresse, é possível que o organismo não consiga produzir uma quantidade suficiente de nutrientes não essenciais. Nesse caso, eles precisam ser consumidos na dieta, o que os torna nutrientes condicionalmente essenciais.

Os alimentos contêm muitos outros compostos úteis, incluindo algumas fibras (como celulose, pectinas e mucilagens).

Os alimentos também contêm aditivos (como conservantes, emulsionantes, antioxidantes e estabilizadores) que melhoram a produção, o processamento, o armazenamento e o acondicionamento dos alimentos.

Destaque para Idosos: Nutrição

Uma dieta é tudo o que a pessoa consome, independentemente do objetivo. Ainda não foi determinada a melhor dieta para idosos. Contudo, é possível que mudar alguns aspectos da dieta seja benéfico para as pessoas conforme envelhecem, com base na maneira pela qual o corpo muda com o avanço da idade. Nenhuma mudança é necessária para alguns nutrientes, como carboidratos e gorduras.

  • Calorias: Com a idade, as pessoas tendem a ser menos ativas e, assim, gastam menos energia, facilitando o aumento de peso. Se tentarem consumir menos calorias para evitar o aumento de peso, as pessoas podem não consumir todos os nutrientes necessários – principalmente as vitaminas e os minerais. Se os idosos se mantiverem fisicamente ativos, suas necessidades de energia podem não mudar.

  • Proteína: Com a idade, as pessoas tendem a perder músculo. Se não consumirem uma quantidade suficiente de proteína, os idosos podem perder mais músculo ainda. No caso de idosos com problemas para se alimentar (por exemplo, com dificuldade de engolir ou problemas dentários), a proteína pode ser consumida em alimentos mais fáceis de mastigar do que as carnes, como peixes, laticínios, ovos, manteiga de amendoim, feijões e produtos de soja.

  • Fibras: A ingestão de uma boa quantidade de fibras pode ajudar a combater a desaceleração do trato digestivo que ocorre com a idade. Os idosos devem consumir diariamente 8 a 12 porções de alimentos com alto teor de fibra. É melhor ingerir fibras dos alimentos, mas o uso de suplementos de fibra, como o psílio, também pode ser necessário.

  • Vitaminas e minerais: Os idosos podem precisar tomar suplementos de vitaminas e minerais específicos, além de um suplemento multivitamínico. Por exemplo: cálcio, vitamina D e vitamina B12. É difícil obter da dieta o nível suficiente de cálcio e vitamina D. Esses nutrientes são necessários para manter os ossos fortes, que são importantes principalmente para os idosos. Alguns idosos não absorvem o nível necessário de vitamina B12, mesmo consumindo o suficiente nos alimentos, porque o estômago e o intestino perdem a capacidade de extrair a vitamina B12 dos alimentos ou de absorvê-la. Os idosos com esse problema podem absorver a vitamina B12 melhor na forma de suplemento.

  • Água: Com a idade, as pessoas apresentam maior probabilidade de ficarem desidratadas porque sua capacidade de sentir sede diminui. Dessa forma, os idosos precisam fazer um esforço consciente para ingerir líquidos, e não esperar até se sentirem com sede. No entanto, em geral, as pessoas mais velhas não precisam beber mais água que as pessoas mais jovens.

Os idosos apresentam maior probabilidade de ter distúrbios ou ter que tomar medicamentos para mudar as necessidades nutricionais do organismo ou mudar a capacidade do organismo de atender a essas necessidades. Os distúrbios e os medicamentos podem diminuir o apetite ou influenciar a absorção de nutrientes. Na visita ao médico, os idosos devem perguntar ao médico se os distúrbios que eles têm ou os medicamentos que tomam afetam a nutrição de alguma forma.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Diretrizes nutricionais para americanos, 2020-2025: Recomendações nutricionais por estágio de vida, desde o nascimento até idade mais avançada, do Ministério da Agricultura dos EUA (U.S. Department of Agriculture, USDA) e do Ministério da Saúde e Serviços Humanos dos EUA (U.S. Department of Health and Human Services)

  2. MyPlate Plan: Sistema de recomendações alimentares do USDA que promove uma rotina de alimentação saudável com uma variedade de frutas, legumes e verduras, grãos, proteína, laticínios e alimentos alternativos fortificados à base de soja

quizzes_lightbulb_red
Test your KnowledgeTake a Quiz!
ANDROID iOS
ANDROID iOS
ANDROID iOS