O transtorno de personalidade esquizotípica é caracterizado por um padrão generalizado de desconforto intenso com relacionamentos íntimos e com capacidade reduzida para tal, por cognição e percepções distorcidas e por comportamento excêntrico. O diagnóstico é por critérios clínicos. O tratamento é feito com medicamentos (p. ex., antipsicóticos, antidepressivos), terapia cognitivo-comportamental e, às vezes, psicoterapia de suporte.
(Ver também Visão geral dos transtornos de personalidade.)
No transtorno de personalidade esquizotípica, experiências cognitivas refletem um distanciamento mais florido da realidade (p. ex., ideias de referência, ideias paranoides, ilusões corporais, pensamento mágico) e uma maior desorganização do pensamento e da fala do que aqueles que ocorrem em outros transtornos de personalidade.
Estima-se que a mediana da prevalência seja de 0,6%, mas pode chegar a 3,9% (1, 2). Esse transtorno pode ser ligeiramente mais comum entre homens.
Comorbidades são comuns. Mais da metade dos pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica tiveram ≥ 1 episódio de transtorno depressivo maior, e 30 a 50% deles têm transtorno depressivo maior quando o transtorno de personalidade esquizotípica é diagnosticado. Esses pacientes muitas vezes também têm transtorno de dependência química.
Referências gerais
1. Pulay AJ, Stinson FS, Dawson DA, et al: Prevalence, correlates, disability, and comorbidity of DSM-IV schizotypal personality disorder: Results from the wave 2 national epidemiologic survey on alcohol and related conditions. Prim Care Companion J Clin Psychiatry 11(2):53-67, 2009. doi: 10.4088/pcc.08m00679
2. Morgan TA, Zimmerman M: Epidemiology of personality disorders. In Handbook of Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment. 2nd ed, edited by WJ Livesley, R Larstone, New York, NY: The Guilford Press, 2018, pp. 173-196.
Etiologia do transtorno de personalidade esquizotípica
Considera-se que a etiologia do transtorno de personalidade esquizotípica seja essencialmente biológica porque ele compartilha muitas das anormalidades cerebrais características da esquizofrenia. É mais comum em parentes de 1º grau de pessoas com esquizofrenia ou outro transtorno psicótico.
Sinais e sintomas do transtorno de personalidade esquizotípica
Pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica não têm amigos ou confidentes, exceto parentes de 1º grau. Eles se sentem muito desconfortáveis em se relacionar com pessoas. Eles interagem com as pessoas como se fosse uma obrigação, mas preferem não interagir porque acham que são diferentes e não são bem-vindos. Mas eles podem dizer que a falta de relacionamentos torna-os infelizes. Eles ficam muito ansiosos em situações sociais, especialmente aquelas desconhecidas. Passar mais tempo em uma situação não alivia a ansiedade.
Esses pacientes muitas vezes interpretam incorretamente ocorrências comuns como tendo um significado especial para eles (ideias de referência). Eles podem ser supersticiosos ou achar que têm poderes paranormais especiais que lhes permitem detectar eventos antes que aconteçam ou ler a mente das outras pessoas. Eles podem achar que têm controle mágico sobre os outros, achando que podem levar outras pessoas a fazer coisas comuns (p. ex., alimentar o cão), ou que a realização de rituais mágicos pode impedir danos (p. ex., lavar as mãos 3 vezes pode prevenir doenças).
A fala pode ser estranha. Pode ser excessivamente abstrata ou concreta ou conter frases estranhas ou utilizar frases ou palavras de formas bizarras. Os pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica costumam se vestir de maneira estranha ou descuidada (p. ex., utilizando roupas de tamanho errado ou sujas) e têm maneirismos estranhos. Eles podem ignorar convenções sociais comuns (p. ex., não fazer contato visual) e, como não entendem as dicas sociais habituais, eles podem interagir com os outros de forma inadequada ou rígida.
Pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica muitas vezes têm suspeitas e podem achar que os outros estão tentando interferir em suas vidas.
Diagnóstico do transtorno de personalidade esquizotípica
Critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR)
Para o diagnóstico do transtorno da personalidade esquizotípica (1), os pacientes devem ter
Padrão persistente de desconforto intenso e capacidade reduzida de estabelecer relacionamentos íntimos
Distorções cognitivas ou perceptivas e excentricidades comportamentais
Esse padrão se caracteriza por ≥ 5 dos seguintes:
Ideias de referência (noções de que ocorrências diárias têm um significado especial ou significado pessoalmente intencional ou direcionado para eles mesmos), mas não delírios de referência (que são semelhantes, mas mantidos com maior convicção)
Crenças estranhas ou pensamento mágico (p. ex., acreditar em clarividência, telepatia ou sexto sentido; estar preocupado com fenômenos paranormais)
Experiências de percepção incomuns (p. ex., ouvir uma voz sussurrando seus nomes)
Pensamento e fala estranhos (p. ex., que é vago, metafórico, excessivamente complexo ou estereotipado)
Suspeitas ou pensamentos paranoicos
Afeto incongruente ou limitado
Comportamento e/ou aparência estranho, excêntrico ou peculiar
Falta de amigos íntimos ou confidentes, exceto para parentes de 1º grau
Ansiedade social excessiva que não diminui com a familiaridade e está relacionada principalmente com medos paranoicos
Além disso, os sintomas devem ter ocorrido no início da idade adulta.
Diagnóstico diferencial
O principal desafio do diagnóstico é diferenciar o transtorno da personalidade esquizotípica de
Transtornos de pensamento maior: esses transtornos (p. ex., esquizofrenia, transtorno bipolar ou transtorno depressivo com características psicóticas) tipicamente têm manifestações mais graves e são acompanhados de delírios e alucinações.
O diagnóstico diferencial também compreende:
Transtorno de personalidade paranoicae transtorno de personalidade esquizoide: o transtorno de personalidade esquizotípica pode ser diferenciando dos transtornos de personalidade paranoide e esquizoide porque os pacientes com esses transtornos de personalidade não têm pensamentos e comportamentos estranhos e desorganizados.
Referência sobre diagnóstico
1. American Psychiatric Association: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR). Washington, DC, American Psychiatric Association, 2022, pp 744-748.
Tratamento do transtorno de personalidade esquizotípica
Antipsicóticos atípicos (de 2ª geração) e antidepressivos
Terapia cognitivo-comportamental
Psicoterapia de apoio
Os princípios gerais para tratamento do transtorno de personalidade esquizotípica são os mesmos que os de todos os transtornos de personalidade.
Transtorno de personalidade esquizotípica é comumente tratado com medicamentos. Antipsicóticos atípicos diminuem a ansiedade e os sintomas psicóticos (1); os antidepressivos também podem ajudar a diminuir a ansiedade social nos pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica.
Terapia cognitivo-comportamental que focaliza a aquisição de habilidades sociais e o tratamento da ansiedade pode ajudar. Essa terapia também pode aumentar a conscientização dos pacientes de como seus próprios comportamentos podem ser percebidos.
Psicoterapia de apoio também é útil. O objetivo é estabelecer um relacionamento emocional, encorajador e solidário com o paciente e, assim, ajudá-lo a desenvolver mecanismos de defesa saudáveis, especialmente nos relacionamentos interpessoais.
Referência sobre o tratamento
1. Jakobsen KD, Skyum E, Hashemi N, et al: Antipsychotic treatment of schizotypy and schizotypal personality disorder: A systematic review. J Psychopharmacol. 31(4):397-405, 2017. doi: 10.1177/0269881117695879