Transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é uma síndrome de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Há 3 tipos de TDAH, os que são predominantemente desatentos, hiperativo/impulsivos e combinados. Os critérios clínicos dão o diagnóstico. O tratamento geralmente inclui farmacoterapia com estimulantes ou outros medicamentos, terapia comportamental e intervenções educacionais.
O transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é considerado um tipo de transtorno do neurodesenvolvimento. Distúrbios de neurodesenvolvimento são condições neurológicas que aparecem precocemente na infância, geralmente antes da idade escolar, e prejudicam o desenvolvimento do funcionamento pessoal, social, acadêmico e/ou profissional. Normalmente envolvem dificuldades na aquisição, retenção ou aplicação de habilidades ou conjuntos de informações específicas. Transtornos no desenvolvimento neurológico podem envolver disfunções em um ou mais dos seguintes: atenção, memória, percepção, linguagem, resolução de problemas ou interação social. Outros distúrbios de neurodesenvolvimento comuns incluem distúrbios do espectro do autismo, distúrbios de aprendizagem (p. ex., dislexia) e deficiência intelectual.
Alguns especialistas anteriormente consideravam o transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) um transtorno comportamental, provavelmente porque as crianças costumam apresentar comportamento negligente, impulsivo e excessivamente ativo, e porque transtornos comportamentais comórbidos, particularmente o transtorno opositivo-desafiador e o transtorno de conduta, são comuns. Entretanto, o transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) tem bases neurológicas bem estabelecidas e não é simplesmente "mau comportamento"
TDAH afeta cerca de 5 a 15% das crianças (1). Entretanto, muitos especialistas acreditam que o TDAH é superdiagnosticado, em grande parte porque os critérios são aplicados de forma imprecisa. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR), há 3 tipos:
Desatenção predominante
Hiperatividade/impulsividade predominante
Combinado
No geral, o transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é cerca de duas vezes mais comum em meninos (2), embora os índices variam de acordo com o tipo. O tipo predominantemente hiperativo/impulsivo ocorre mais entre os meninos (3); embora o tipo predominantemente desatento ocorra com igual frequência em ambos os sexos. O transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) não tem uma única causa específica conhecida.
O transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) não tem uma causa única específica. Potenciais causas do transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) incluem fatores genéticos, bioquímicos, sensório-motores, fisiológicos e comportamentais. Alguns fatores de risco incluem peso < 1.500 g no nascimento, traumatismo cranioencefálico, deficiência de ferro, apneia obstrutiva do sono, exposição ao chumbo e também exposição fetal a álcool, tabaco e possivelmente cocaína (3). O TDAH também está associado a experiências adversas na infância (4). Pouco mais de 5% das crianças portadoras da transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) apresentam evidências de lesão neurológica. Evidências implicam diferenças nos sistemas dopaminérgico e noradrenérgico com redução da atividade ou estimulação no tronco cerebral superior e nas vias fronto-mesencefálicas (5).
Referências gerais
1. Boznovik K, McLamb F, O'Connell K, et al: U.S. national, regional, and state‑specific socioeconomic factors correlate with child and adolescent ADHD diagnoses. Sci Rep 11:22008, 2021. doi: 10.1038/s41598-021-01233-2
2. Ayano G, Demelash S, Gizachew Y, Tsegay L, Alati R: The global prevalence of attention deficit hyperactivity disorder in children and adolescents: An umbrella review of meta-analyses. J Affect Disord 339:860–866, 2023. doi:10.1016/j.jad.2023.07.071
3. Morrow CE, Xue L, Manjunath S, et al: Estimated Risk of Developing Selected DSM-IV Disorders Among 5-Year-Old Children with Prenatal Cocaine Exposure. J Child Fam Stud 18(3):356–364, 2009. doi:10.1007/s10826-008-9238-6
4. Brown N, Brown S, Briggs R, et al: Associations between adverse childhood experiences and ADHD diagnosis and severity. Acad Pediatr 17(4):349–355, 2017. doi: 10.1016/j.acap.2016.08.013
5. Del Campo N, Chamberlain SR, Sahakian BJ, Robbins TW: The roles of dopamine and noradrenaline in the pathophysiology and treatment of attention-deficit/hyperactivity disorder. Biol Psychiatry 69(12):e145–e157, 2011. doi:10.1016/j.biopsych.2011.02.036
Transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) em adultos
Embora o TDAH seja considerado um transtorno de crianças e sempre comece durante a infância, as diferenças neurofisiológicas subjacentes persistem durante a vida adulta e os sintomas comportamentais continuam evidentes na idade adulta em cerca de metade dos casos. Embora o diagnóstico às vezes só possa ser reconhecido na adolescência ou na idade adulta, algumas manifestações deveriam ter ocorrido antes dos 12 anos de idade.
Em adultos, os sintomas incluem
Dificuldade de concentração
Dificuldade de concluir tarefas (comprometimento da função executiva)
Oscilações de humor
Impaciência
Dificuldade de manter relacionamentos
A hiperatividade em adultos geralmente se manifesta como agitação e inquietação, no lugar da clara hiperatividade motora que ocorre em crianças pequenas. Adultos com transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) tendem a ter maior risco de desemprego, menor realização educacional e maiores taxas de uso abusivo de substâncias e criminalidade. Acidentes e violações de trânsito são mais comuns.
O transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) pode ser mais difícil de diagnosticar durante a vida adulta. Os sintomas podem ser semelhantes aos de transtornos do humor, transtornos de ansiedade, e transtornos por uso abusivo de substâncias. Como autorrelatos dos sintomas na infância podem não ser confiáveis, os médicos talvez precisem rever os registros escolares ou entrevistar os familiares para confirmar a existência de manifestações antes dos 12 anos.
Adultos com transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) podem se beneficiar dos mesmos tipos de medicamentos estimulantes utilizados pelas crianças com TDAH. Eles também podem se beneficiar do aconselhamento para melhorar o manejo do tempo e outras habilidades de enfrentamento.
Sinais e sintomas de TDAH
O início ocorre geralmente antes dos 4 anos e invariavelmente antes dos 12. O pico para o diagnóstico fica entre 8 e 10 anos, entretanto os que apresentam deficit de atenção predominante só são diagnosticados após a adolescência.
Os sinais e sintomas centrais da transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) envolvem
Desatenção
Impulsividade
Hiperatividade
A desatenção tende a aparecer quando a criança está envolvida em tarefas que necessitam vigilância, reação rápida, investigação visual e perceptiva e atenção sistemática e constante.
Impulsividade refere-se a ações precipitadas com o potencial de um desfecho negativo (p. ex., em crianças, atravessar a rua sem olhar; em adolescentes e adultos, abandonar de repente a escola ou o trabalho sem pensar nas consequências).
A hiperatividade envolve atividade motora excessiva. Crianças, especialmente as mais pequenas, podem ter problemas para permanecer sentadas calmamente quando for esperado que o façam (p. ex., na escola ou igreja). Pacientes idosos podem ser simplesmente agitados, inquietos ou falantes—às vezes ao ponto de fazer com que as outras pessoas se sintam cansadas só de observá-los.
A desatenção e a impulsividade impedem o desenvolvimento de habilidades acadêmicas e estratégias de pensamento e raciocínio, motivação escolar e exigências sociais. Crianças com deficit de atenção predominante tendem a desistir diante de situações que exigem desempenho contínuo para complementação de tarefas.
Em geral, cerca de 20 a 60% das crianças com transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) têm deficits de aprendizagem (1), mas alguma disfunção escolar ocorre na maioria das crianças com TDAH decorrente de falta de atenção (o que resulta em perda de detalhes) e impulsividade (o que resulta em respostas sem pensar na pergunta).
A história do comportamento pode revelar baixa tolerância para frustrações, discordâncias, temperamento teimoso, agressividade, habilidades sociais deficientes e relacionamentos com seus pares, distúrbios do sono, ansiedade, disforia, depressão, temperamento indeciso.
Embora não haja exame físico ou laboratorial específico associado ao transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH), os sinais e sintomas podem incluir
Incoordenação motora, postura desajeitada
Disfunções neurológicas leves não localizadas
Disfunções de percepção motora
Referência sobre sinais e sintomas
1. Czamara D, Tiesler CM, Kohlböck G, et al: Children with ADHD symptoms have a higher risk for reading, spelling and math difficulties in the GINIplus and LISAplus cohort studies. PLoS One 8(5):e63859, 2013. doi:10.1371/journal.pone.0063859
Diagnóstico de TDAH
Critérios clínicos com base no DSM-5-TR
O diagnóstico do TDAH é clínico e baseia-se em avaliações médicas, desenvolvimentais, educacionais e psicológicas abrangentes (1).
Critérios diagnósticos do DSM-5-TR para transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH)
Os critérios diagnósticos do DSM-5-TR incluem 9 sinais e sintomas de desatenção e 9 de hiperatividade e impulsividade. O diagnóstico que utiliza esses critérios requer ≥ 6 sinais e sintomas de um ou ambos os grupos. Além disso, é necessário que os sintomas
Estejam presentes muitas vezes por ≥ 6 meses
Sejam mais pronunciados do que o esperado para o nível de desenvolvimento da criança
Ocorram em pelo menos 2 situações (p. ex., casa e escola)
Estejam presentes antes dos 12 anos de idade (pelo menos alguns sintomas)
Interfiram em sua capacidade funcional em casa, na escola ou no trabalho
Sintomas de desatenção:
Não presta atenção a detalhes ou comete erros descuidados em trabalhos escolares ou outras atividades
Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas na escola ou durante jogos
Não parece prestar atenção quando abordado diretamente
Não acompanha instruções e não completa tarefas
Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades
Evita, não gosta ou é relutante no envolvimento em tarefas que requerem manutenção do esforço mental durante longo período de tempo
Frequentemente perde objetos necessários para tarefas ou atividades escolares
Distrai-se facilmente
É esquecido nas atividades diárias
Sintomas de hiperatividade e impulsividade:
Movimenta ou torce mãos e pés com frequência
Frequentemente movimenta-se pela sala de aula ou outros locais
Corre e faz escaladas com frequência excessiva quando esse tipo de atividade é inapropriado
Tem dificuldades de brincar tranquilamente
Frequentemente movimenta-se e age como se estivesse "ligada na tomada"
Costuma falar demais
Frequentemente responde às perguntas de modo abrupto, antes mesmo que elas sejam completadas
Frequentemente tem dificuldade de aguardar sua vez
Frequentemente interrompe os outros ou se intromete
O diagnóstico do tipo desatenção predominante exige ≥ de 6 sinais e sintomas de desatenção. O diagnóstico do tipo hiperativo/impulsivo exige ≥ 6 sinais e sintomas de hiperatividade e impulsividade. O diagnóstico do tipo combinado requer ≥ 6 sinais e sintomas de cada critério de desatenção e hiperatividade/impulsividade.
Outras considerações diagnósticas
A diferenciação entre transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e outras condições podem ser desafiadora. O sobrediagnóstico deve ser evitado, e outras condições devem ser identificadas com precisão. Muitos sinais de transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) expressos no período da pré-escola podem refletir um problema de comunicação que também ocorre em outras disfunções do neurodesenvolvimento (p. ex., doenças do espectro autista) ou em certos distúrbios de aprendizado, ansiedade, depressão ou distúrbios de comportamento.
O médico precisa observar se a criança está distraída por fatores externos (isto é, ocorrências no ambiente) ou por fatores internos (isto é, pensamentos, ansiedades, preocupações). Entretanto, no período da infância tardia, os sinais do TDAH tornam-se mais qualitativamente distintos; crianças com o tipo hiperativo/impulsivo ou o tipo combinado frequentemente exibem continuamente movimentos motores persistentes dos membros inferiores (p. ex., movimentos desorientados e contorção das mãos), falar compulsivamente e aparente falta de atenção com o ambiente. Crianças com o tipo predominantemente desatento podem não ter sinais físicos.
A avaliação médica tem por foco a identificação de condições que possam contribuir potencialmente e sejam tratáveis, ou identificar sinais e sintomas que possam piorar. A avaliação deve incluir pesquisar a história da exposição pré-natal (p. ex., fármacos, álcool, tabaco), complicações ou infecções perinatais, infecções do sistema nervoso central, traumatismo cranioencefálico, doença cardíaca, distúrbios respiratórios do sono, falta de apetite e/ou alimentação seletiva e história familiar de TDAH.
A avaliação do desenvolvimento focaliza a determinação do início e da evolução dos sinais e sintomas. A avaliação inclui a verificação dos marcos de desenvolvimento, particularmente marcos da linguagem e o uso de escalas de avaliação específicas do transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) (p. ex., Vanderbilt Assessment Scale, Conners Comprehensive Behavior Rating Scale, ADHD Rating Scale IV) (2). Versões dessas escalas estão disponíveis tanto para famílias quanto para funcionários de escolas, possibilitando a avaliação ao longo de diferentes situações, como exigido pelos critérios do DSM-5-TR. Observar que as escalas não devem ser utilizadas isoladamente para fazer um diagnóstico.
A avaliação educacional documenta sinais e sintomas centrais que possam envolver a revisão de registros educacionais e o uso de escalas de avaliação. Entretanto, estas escalas, isoladamente, não conseguem distinguir transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) de outros distúrbios do desenvolvimento ou de comportamento.
Referências sobre diagnóstico
1. Wolraich ML, Hagan JF Jr, Allan C, et al: Clinical Practice Guideline for the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children and Adolescents [published correction appears in Pediatrics 2020 Mar;145(3):]. Pediatrics 144(4):e20192528, 2019. doi:10.1542/peds.2019-2528
2. Izzo VA, Donati MA, Novello F, Maschietto D, Primi C: The Conners 3-short forms: Evaluating the adequacy of brief versions to assess ADHD symptoms and related problems. Clin Child Psychol Psychiatry 24(4):791–808, 2019. doi:10.1177/1359104519846602
Tratamento de TDAH
Terapia comportamental
Terapia medicamentosa com estimulantes como metilfenidato ou dextroanfetamina (em preparações de curta e longa ação)
As recomendações de tratamento para crianças com TDAH variam de acordo com a idade (1):
Crianças em idade pré-escolar: o tratamento inicial é com terapia comportamental. Pode-se considerar o uso de medicamentos se a resposta a intervenções comportamentais é inadequada ou se os sintomas são moderados a graves (p. ex., corrida impulsiva, explosões agressivas, outro comportamento que coloca a criança ou outras pessoas em risco de lesão).
Crianças em idade escolar: o tratamento inicial é terapia comportamental combinada com medicamentos.
Estudos randomizados mostram que em crianças em idade escolar, a terapia comportamental por si só é menos eficaz do que a terapia apenas com medicamentos estimulantes, embora a combinação seja melhor (2, 3, 4). Também há dados para apoiar o uso de metilfenidato em crianças em idade pré-escolar que não respondem apenas à terapia comportamental, embora o benefício geral pareça ser menor do que para crianças em idade escolar (5). Embora a correção das diferenças neurofisiológicas de base, em pacientes com TDAH, não ocorra com medicamentos, estes são eficientes no alívio dos sintomas do TDAH e permitem a participação em atividades anteriormente inacessíveis por causa da atenção deficiente e impulsividade. Os medicamentos muitas vezes interrompem os sintomas comportamentais, melhorando as intervenções comportamentais e acadêmicas, a motivação e a autoestima.
O tratamento do TDAH em adultos segue princípios semelhantes, mas, como em crianças, a seleção e a dosagem do medicamento precisam ser individualizadas, dependendo dos benefícios, efeitos colaterais e outras condições médicas (2).
Medicamentos estimulantes
Os mais largamente utilizados são os sais de metilfenidato e anfetamina. As respostas são muito variáveis e as doses dependem da gravidade do comportamento e da tolerância ao medicamento. Ajusta-se a quantidade e frequência da dose até alcançar um equilíbrio ótimo entre a resposta e os efeitos adversos.
O metilfenidato é geralmente iniciado na dose mais baixa por via oral uma vez por dia (forma de liberação imediata) para crianças e aumenta sua frequência semanalmente, geralmente para aproximadamente 2 a 3 vezes por dia ou a cada 4 horas durante as horas de vigília; muitos médicos tentam utilizar a dose matinal e ao meio-dia. A dose pode ser aumentada se ela foi inadequada, mas é bem tolerada. O objetivo é encontrar um equilíbrio ideal entre os benefícios e os efeitos adversos para cada indivíduo. Doses muito baixas e que não fornecem benefícios adequados podem levar as famílias a abandonar o tratamento precocemente, enquanto doses muito altas podem causar efeitos colaterais graves com ou sem benefício clínico adequado. O isômero dextro do metilfenidato é a porção ativa e está disponível para prescrição na metade da dose.
A dextroanfetamina (forma de liberação imediata) é geralmente iniciada (frequentemente em combinação com anfetamina racêmica) por via oral uma vez ao dia, podendo ser aumentada para 2 ou 3 vezes ao dia ou a cada 4 horas durante as horas de vigília. Deve-se balancear a eficácia vs. efeitos adversos ao titular a dose; as doses reais variam significativamente entre os indivíduos, mas, geralmente, doses mais altas aumentam a probabilidade de efeitos adversos inaceitáveis. Em geral, as doses de dextroanfetamina são cerca de dois terços das doses de metilfenidato.
Uma vez alcançada a dose ideal, uma dose equivalente do mesmo medicamento é substituído por uma forma de longa ação para evitar a necessidade de administrar o medicamento na escola. As preparações de ação prolongada incluem comprimidos de liberação lenta, cápsulas bifásicas contendo o equivalente de 2 doses e pílulas de liberação osmótica, adesivos transdérmicos que permitem uma cobertura de até 12 horas. Estão disponíveis preparações líquidas tanto de ação rápida quanto de ação prolongada. Preparações dextro puras (p. ex., dextrometilfenidato) são muitas vezes utilizadas para minimizar efeitos adversos como ansiedade; as doses normalmente são metade daquelas das preparações mistas. Preparações pró-fármacos também são às vezes utilizadas devido à sua liberação mais harmoniosa, maior duração de ação, menor quantidade de efeitos adversos e menor potencial de uso abusivo. O aprendizado melhora com doses baixas, mas os sintomas comportamentais requerem doses mais altas.
Os esquemas das doses dos fármacos estimulantes podem ser ajustados para cobrir dias e horários especiais (p. ex., horário de escola e das tarefas escolares). Pausas na medicação podem ser tentadas nos fins de semana, feriados ou durante os intervalos mais longos da escola. Recomendam-se períodos de placebo (por 5 a 10 dias letivos para minimizar a variabilidade do dia-a-dia) para determinar se os medicamentos ainda são necessários.
Os efeitos colaterais mais comuns são
Distúrbios do sono (p. ex., insônia)
Cefaleia
Dor de estômago
Perda de apetite
Taquicardia e elevação da pressão arterial e frequência cardíaca
A depressão é um efeito adverso menos comum e muitas vezes pode representar uma incapacidade de mudar facilmente o foco (hiperfoco). Pode se manifestar como um comportamento entorpecido (às vezes descrito pelos familiares como "semelhante ao de um zumbi") em vez de uma verdadeira depressão infantil clínica em si. Na verdade, às vezes utilizam-se fármacos estimulantes como tratamento adjuvante para a depressão. Um comportamento entorpecido pode, às vezes, ser abordado diminuindo a dose do medicamento estimulante ou tentando um medicamento diferente. Indivíduos com transtornos de ansiedade também podem experimentar exacerbações dos sintomas de ansiedade.
Estudos mostraram que o crescimento na altura diminui ao longo de 2 anos de uso de medicamentos estimulantes, e o potencial de altura do adulto pode ser diminuído com o uso crônico de estimulantes (6).
Medicamentos não estimulantes
Atomoxetina, um inibidor seletivo da recaptação da noradrenalina, também é utilizado. O medicamento é eficaz, mas os dados são ambíguos quanto à sua eficácia em comparação o medicamentos estimulantes (7). Algumas crianças apresentam náuseas, sedação, irritabilidade, crises de birra; raramente toxicidade hepática e ideação suicida. A dose inicial é titulada semanalmente. Sua longa meia-vida permite o uso de uma dose única diária, mas requer uso continuado para ser eficaz.
Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da noradrenalina como bupropiona e venlafaxina, agonistas alfa-2 como clonidina e guanfacina, e outros medicamentos psicoativos são às vezes utilizados quando os estimulantes são ineficazes ou causam efeitos adversos inaceitáveis, mas são menos eficazes e não são recomendados como medicamentos de primeira linha. Algumas vezes esses medicamentos são utilizados em combinação a estimulantes para alcançar efeitos sinérgicos; é essencial monitorar atentamente se há efeitos adversos.
Interações medicamentosas adversas são uma preocupação no tratamento do transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH). Medicamentos que inibem a enzima metabólica CYP2D6, incluindo certos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) que às vezes são utilizados em pacientes com transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH), podem potencializar o efeito dos medicamentos estimulantes. Revisar as potenciais interações medicamentosas é uma parte importante do tratamento farmacológico de pacientes com transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH).
Controle do comportamento
Aconselhamento, incluindo terapia cognitiva- comportamental (p. ex., definição de objetivos, automonitoramento, modelagem, interpretação de papéis), é geralmente eficiente e ajuda a criança a entender o transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e como enfrentá-lo. Organização e rotina são essenciais.
O comportamento na sala de aula melhora com o controle do barulho no ambiente e estimulação visual, duração apropriada de tarefas, novidades, treinamento e proximidade com o professor.
Quando em casa as dificuldades persistem, os pais devem ser encorajados a pedir assistência profissional e treinamento em técnicas de controle comportamental. Além disso, incentivos e recompensas simbólicas reforçam as condutas e são geralmente eficientes. No ambiente de casa, as crianças portadoras de transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) com predomínio da hiperatividade e mau controle dos impulsos são ajudadas quando o ambiente é organizado, as técnicas dos pais são firmes e os limites são bem definidos.
Restrições dietéticas, tratamento multivitaminado, uso de antioxidantes, ou outros compostos, intervenções nutricionais e bioquímicas (p. ex., administração de produtos químicos) não têm o menor efeito. A biorretroação pode ser útil em alguns casos, mas não é recomendada rotineiramente porque faltam evidências de benefícios sustentáveis.
Referências sobre o tratamento
1. Wolraich ML, Hagan JF Jr, Allan C, et al: Clinical Practice Guideline for the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children and Adolescents [published correction appears in Pediatrics 2020 Mar;145(3):]. Pediatrics 144(4):e20192528, 2019. doi:10.1542/peds.2019-2528
2. Cortese S, Adamo N, Del Giovane C, et al: Comparative efficacy and tolerability of medications for attention-deficit hyperactivity disorder in children, adolescents, and adults: a systematic review and network meta-analysis. Lancet Psychiatry 5(9):727–738, 2018. doi:10.1016/S2215-0366(18)30269-4
3. Storebø OJ, Storm MRO, Pereira Ribeiro J, et al: Methylphenidate for children and adolescents with attention deficit hyperactivity disorder (ADHD). Cochrane Database Syst Rev 3(3):CD009885, 2023. doi:10.1002/14651858.CD009885.pub3
4. Pelham WE Jr, Fabiano GA: Evidence-based psychosocial treatments for attention-deficit/hyperactivity disorder. J Clin Child Adolesc Psychol 37(1):184–214, 2008. doi:10.1080/15374410701818681
5. Greenhill L, Kollins S, Abikoff H, et al: Efficacy and safety of immediate-release methylphenidate treatment for preschoolers with ADHD [published correction appears in J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 2007 Jan;46(1):141]. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 45(11):1284–1293, 2006. doi:10.1097/01.chi.0000235077.32661.61
6. Greenhill LL, Swanson JM, Hechtman L, et al: Trajectories of Growth Associated With Long-Term Stimulant Medication in the Multimodal Treatment Study of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 59(8):978–989, 2020. doi:10.1016/j.jaac.2019.06.019
7. Schwartz S, Correll CU: Efficacy and safety of atomoxetine in children and adolescents with attention-deficit/hyperactivity disorder: results from a comprehensive meta-analysis and metaregression. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 53(2):174–187, 2014. doi: 10.1016/j.jaac.2013.11.005
Prognóstico de TDAH
As tradicionais salas de aula e atividades acadêmicas exacerbam os sinais e sintomas da criança com transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) não tratada ou inadequadamente tratada. A imaturidade social e emocional pode ser persistente. A má aceitação pelos pares e a solidão tendem a aumentar com a idade e com a exposição dos sintomas. O transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) pode levar a uso abusivo de substâncias se aquele não for identificado e tratado adequadamente porque muitos adolescentes e adultos com transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) se automedicam tanto com substâncias legais (p. ex., cafeína) quanto ilegais (p. ex., cocaína, anfetaminas).
Embora os sinais e sintomas da hiperatividade tendam a diminuir com a idade, adolescentes e adultos podem exteriorizar dificuldades residuais. Indicadores de maus resultados no adolescente e adultício incluem
Coexistência de pouca inteligência
Agressividade
Problemas sociais e de relacionamento
Transtornos mentais ou comportamentais dos pais
Os problemas entre os adolescentes e adultos se manifestam predominantemente como deficiências acadêmicas, baixa autoestima e dificuldades para assimilar um comportamento social adequado. Adolescentes e adultos que apresentam transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) predominantemente impulsivo podem ter incidência aumentada de distúrbios de personalidade e comportamento antissocial, podem continuar a exteriorizar impulsividade, agitação e deficientes habilidades sociais. Pessoas portadoras de transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) parecem ajustar-se melhor no trabalho do que em situações acadêmicas e caseiras, particularmente se encontrarem trabalho que não exige atenção para realizar.
Pontos-chave
O transtorno de deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) envolve desatenção, hiperatividade/impulsividade, ou uma combinação; ele normalmente aparece antes dos 12 anos, inclusive na idade pré-escolar.
A causa é desconhecida, mas há vários fatores de risco suspeitos.
Diagnosticar utilizando critérios clínicos e estar alerta para outros transtornos (p. ex., transtorno do espectro autista, certos transtornos de aprendizagem ou comportamentais, ansiedade, depressão), bem como experiências adversas na infância que podem inicialmente se manifestar de forma semelhante.
As manifestações tendem a diminuir com a idade, mas adolescentes e adultos podem ter dificuldades residuais.
Tratar com medicamentos estimulantes e terapia cognitivo-comportamental; somente terapia comportamental pode ser apropriada para crianças em idade pré-escolar.
Informações adicionais
Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.
American Academy of Pediatrics: Clinical Practice Guideline for the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children and Adolescents (2019)
National Institute for Children's Health Quality: Vanderbilt Assessment Scale (used for diagnosing ADHD)
Attention Deficit Disorder Association (ADDA): An organization providing resources for adults with ADHD
Children and Adults with Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder (CHADD): An organization providing educational, support, and treatment resources for all people with ADHD
Learning Disabilities Association of America (LDA): An organization providing educational, support, and advocacy resources for people with learning disabilities