Disfunções peroxissomais

PorMatt Demczko, MD, Mitochondrial Medicine, Children's Hospital of Philadelphia
Revisado/Corrigido: mar. 2024
Visão Educação para o paciente

Peroxissomos são organelas intracelulares que contêm enzimas para beta-oxidação. Estas enzimas apresentam funções que se superpõem com as das mitocôndrias, com exceção das enzimas ausentes, para metabolizar ácidos graxos de cadeia muito longa (AGCML), com 20 a 26 carbonos. Portanto, distúrbios dos peroxissomos geralmente se manifestam com níveis elevados de AGCML (exceto a condrodisplasia rizomélica e doença de Refsum). Embora estes níveis de AGCML possam ajudar a triar as disfunções, são necessários, também, outros ensaios (níveis plasmáticos dos ácidos fitânico, pristânico e pipecólico; níveis de reticulócitos plasmalógeno).

Para obter informações sobre outras doenças que afetam o metabolismo de ácidos graxos, ver Visão geral dos ácidos graxos e distúrbios do metabolismo do glicerol. Ver também Abordagem ao paciente com suspeita de distúrbio metabólico hereditário e testes para distúrbios metabólicos hereditários suspeitos.

Há 2 tipos de distúrbios peroxissômicos:

  • Aqueles com formação de peroxissoma defeituosa

  • Aqueles com defeitos em enzimas peroxissômicas individuais

Adrenoleucodistrofia ligada ao X é o transtorno peroxissômico mais comum (incidência de 1/17.000 nascimentos) (1); todas as outras são autossômicas recessivas, com incidência combinada de cerca de 1/50.000 nascimentos (2).

Para informações adicionais, ver a tabela.

Tabela
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Referências

  1. 1. Bezman L, Moser AB, Raymond GV, et al. Adrenoleukodystrophy: incidence, new mutation rate, and results of extended family screening. Ann Neurol. 2001;49(4):512-517.

  2. 2. Global Foundation for Peroxisomal Disorders: Peroxisomal Disorders. Acessado em 20 de fevereiro de 2024.

Doença clássica de Refsum

O acúmulo de ácido fitânico é causado por uma deficiência genética de uma única enzima peroxissomal, a fitanoil-CoA hidroxilase. Essa enzima catalisa o metabolismo do ácido fitânico, o qual é um componente vegetal comum da dieta.

As manifestações clínicas incluem neuropatia periférica progressiva, diminuição da visão devido à retinite pigmentosa, défict auditivo, anosmia, cardiomiopatia, defeitos de condução e ictiose. O acometimento geralmente se dá por volta dos 20 anos.

O diagnóstico da doença de Refsum é confirmado pela elevação do ácido fitânico sérico e diminuição dos níveis do ácido pristânico (a elevação do ácido fitânico é acompanhada por elevações do ácido pristânico em várias outras disfunções peroxissomais).

O tratamento da doença de Refsum é feito com restrição, na dieta, do ácido fitânico (< 10 mg/dia), o que pode ser eficaz na prevenção e retardo dos sintomas, quando iniciado antes de sua manifestação. A plasmaférese também pode ser útil para pacientes com sintomas neurológicos graves (1).

Referência sobre a doença de Refsum

  1. 1. Harari D, Gibberd FB, Dick JP, Sidey MC. Plasma exchange in the treatment of Refsum's disease (heredopathia atactica polyneuritiformis). J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1991;54(7):614-617. doi:10.1136/jnnp.54.7.614

Condrodisplasia risomélica punctada

Este defeito da biogênese do peroxissomo é causado pela mutação do gene PEX7 e caracterizado por alterações do esqueleto, que incluem hipoplasia facial medial, membros proximais notavelmente curtos, bossa frontal, narinas pequenas, cataratas, ictiose e profundo retardo psicomotor. Fendas vertebrais também são comuns.

Suspeita-se do diagnóstico da condrodisplasia rizomélica punctada por achados radiográficos, elevação sérica do ácido ftânico e níveis baixos de plasmalogênio nos eritrócitos; os níveis de AGCML são normais. A confirmação é por exame genético.

Não há tratamento específico contra condrodisplasia rizomélica punctada.

Adrenoleucodistrofia ligada ao X (ALD)

Adrenoleucodistrofia ligada ao cromossomo X: disfunção causada pela deficiência do transportador de membrana peroxissomal ALDP codificada pelo gene ABCD1. Como esse é um gene ligado ao X, a doença se manifesta principalmente em homens. Atualmente, foram identificadas > 1.380 variantes (ver ALD Info) (1).

A forma cerebral afeta 40% dos pacientes. O início ocorre entre 4 e 8 anos de idade, e os sintomas de deficit de atenção evoluem ao longo do tempo para problemas comportamentais graves, demência e deficits de visão, audição e motores, causando incapacidade total e morte 2 a 3 anos após o diagnóstico. Também foram descritas formas leves entre adolescentes e adultos.

Uma porcentagem significativa de pacientes têm uma forma mais leve, denominada adrenomieloneuropatia (AMN), que se inicia aos 20 ou 30 anos, com paraparesia progressiva e alterações esfincterianas e sexuais. Cerca de 1/3 dos pacientes também desenvolvem sintomas cerebrais.

Pacientes com qualquer das formas desenvolvem, também, insuficiência da suprarrenal e aproximadamente 15% têm doença de Addison isolada sem comprometimento neurológico.

Suspeita-se do diagnóstico da adrenoleucodistrofia ligada ao X pela elevação isolada de AGCML e confirma-se pelo sequenciamento gênico.

Em casos selecionados, o transplante de medula ou de células-tronco pode ajudar a estabilizar os sintomas. Para os pacientes com insuficiência da suprarrenal, é necessária a reposição dos esteroides. Suplementação dietética com uma mistura 4:1 de trioleato de gliceril e trierucato de glicerol (óleo de Lorenzo) pode normalizar os níveis plasmáticos de AGCML, mas parece não interromper a degeneração neurológica nos pacientes sintomáticos. Mas se administrado para os meninos antes do início dos sintomas, pode desacelerar a progressão da doença; o benefício exato não foi determinado. Ensaios de terapia genética estão atualmente em andamento e mostraram algum sucesso preliminar (2).

Referências sobre ALD ligadas ao X

  1. 1. ALD info: The ABCD1 Variant Database. Acessado em 13 de fevereiro de 2024.

  2. 2. Gupta AO, Raymond G, Pierpont EI, et al. Treatment of cerebral adrenoleukodystrophy: allogeneic transplantation and lentiviral gene therapy. Expert Opin Biol Ther. 2022;22(9):1151-1162. doi:10.1080/14712598.2022.2124857

Síndrome de Zellweger (SZ), adrenoleucodistrofia neonatal e doença infantil de Refsum (DIR)

Há 3 expressões sucessivas de doença, que vão desde a mais grave (SZ) até a menos grave (DIR). O defeito genético responsável ocorre em 1 dos pelo menos 12 genes envolvidos na formação do peroxissomo ou da proteína (família do gene PEX).

As manifestações incluem dismorfismo facial, malformações do sistema nervoso central, desmielinização, convulsões no neonato, hipotonia, hepatomegalia, cistos renais, membros curtos com epífises pontilhadas (condrodisplasia pontilhada), catarata, retinopatia, deficiências auditivas, retardo psicomotor e neuropatia periférica.

Suspeita-se do diagnóstico quando são detectados níveis séricos elevados de AGCML, ácido fitânico, ácidos biliares intermediários e ácido pipecólico, o que é confirmado por testes genéticos.

Não há atualmente nenhum tratamento específico para essas doenças. O tratamento é principalmente sintomático.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. ALD Info (adrenoleucodistrofia): um recurso que fornece informações sobre tratamento, diagnóstico e outros aspectos da adrenoleucodistrofia

  2. Online Mendelian Inheritance in Man (OMIM) database: Complete gene, molecular, and chromosomal location information

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