A distocia do ombro ocorre durante uma tentativa de parto vaginal (no segundo estágio do trabalho de parto [empurrar]) quando a cabeça do feto sai, mas o parto não progride porque o ombro anterior fica preso atrás da sínfise púbica ou o ombro posterior é obstruído pelo promontório sacral. Trata-se de uma emergência obstétrica que pode resultar em lesão ou morte fetal, ou lesão materna.
A distocia do ombro é uma emergência obstétrica que ocorre em aproximadamente 0,2% a 3,0% dos partos vaginais (em apresentação cefálica) (1). Os fatores de risco para distocia de ombro devem ser observados durante o pré-natal; se a paciente tiver risco aumentado, deve-se fazer os preparativos para uma potencial distocia de ombro. Se o risco for muito alto, pode ser apropriado planejar um parto cesárea eletivo.
Referência geral
1. Practice Bulletin No 178: Shoulder Dystocia. Obstetrics & Gynecology 129(5):p e123-e133, 2017. doi: 10.1097/AOG.0000000000002043
Fatores de risco de distocia do ombro
Os fatores de risco incluem
Obesidade materna
Distocia de ombro em uma gestação prévia
Trabalho de parto rápido
O risco de morbidade (p. ex., lesão do plexo braquial, fraturas ósseas) e mortalidade neonatal é maior. A morbidade materna pode incluir hemorragia pós-parto, lacerações perineais, lesões esfincterianas, separação da sínfise púbica e neuropatia femoral lateral associada à hiperflexão das pernas.
O diagnóstico da desproporção fetopélvica é sugerido por estimativas clínicas pré-natais das dimensões pélvicas, ultrassonografia e trabalho de parto prolongado.
Sinais e sintomas da distocia do ombro
Um sinal precoce de uma potencial distocia de ombro é um prolongamento do segundo estágio do trabalho de parto, particularmente em um feto com fatores de risco.
Se houver suspeita de feto grande (> 4.000 g) e o progresso do trabalho de parto for lento, a equipe obstétrica deve se preparar para uma potencial distocia do ombro.
Diagnóstico de distocia do ombro
A distocia do ombro é diagnosticada quando a cabeça do feto é liberada, mas então se retrai contra o períneo materno (sinal da tartaruga) e, em seguida, o ombro anterior não sai apesar de uma suave tração para baixo na cabeça do feto.
Tratamento de distocia do ombro
Avisar à equipe clínica que há uma distocia de ombro e chamar equipe adicional de obstetrícia, pediatria e anestesiologia, conforme necessário.
Posicionar a gestante em litotomia dorsal.
Realizar manobras (McRoberts, pressão suprapúbica, parafuso de Wood, Rubin, liberação do ombro ou braço posterior).
Às vezes, fratura intencional da clavícula fetal.
Se todas as outras medidas falharem, realizar a manobra de Zavanelli (flexão e reintrodução da cabeça do feto na pelve materna, seguida de parto cesárea).
Se o segundo estágio do trabalho de parto for demorado, ele pode ser acelerado com a administração de ocitocina, se apropriado. Se a ocitocina restaura o progresso normal e o peso fetal for < 5.000 g em mulheres sem diabetes ou < 4.500 g em mulheres com diabetes, o trabalho de parto pode continuar com segurança. As pacientes também podem ser avaliados para determinar se parto vaginal operatório (por fórceps ou ventosa obstétrica) é seguro e apropriado. No entanto, tentar dar à luz um feto muito grande utilizando fórceps ou ventosa obstétrica pode causar complicações.
Depois de reconhecida a distocia de ombro, a equipe auxiliar é convocada para a sala de parto e várias manobras são realizadas sequencialmente para se desprender o ombro anterior:
As coxas são abduzidas e hiperflexionadas para alargar a pelve (manobra de McRobert) e aplica-se pressão suprapúbica auxiliar para rotacionar e desprender o ombro anterior. Evita-se pressão sobre o fundo uterino porque pode piorar a situação ou causar ruptura uterina.
O obstetra insere uma mão na parede vaginal posterior e pressiona o ombro posterior ou anterior para girar o feto em qualquer direção que seja mais fácil (Manobra de Wood [saca-rolhas] ou manobra de Rubin).
O obstetra insere uma mão pela concavidade do sacro, pressiona o cotovelo posterior em direção ao sacro e apreende o antebraço e a mão, puxando-os para fora para desprender a totalidade do membro superior posterior.
Se o obstetra não conseguir alcançar o braço posterior, pode-se utilizar tração axilar (colocando os dedos na axila posterior) para tentar liberar o ombro posterior.
Pode-se realizar episiotomia em qualquer momento para facilitar as manobras. Se outras manobras não forem eficazes, ocasionalmente os médicos auxiliam a paciente a virar e ficar na posição de quatro apoios (sobre as mãos e joelhos; manobra de Gaskin), embora isso seja considerada a última opção (1).
Essas manobras aumentam o risco de fratura do úmero ou clavícula. Algumas vezes, a clavícula é intencionalmente fraturada em direção oposta ao pulmão fetal para desprender o ombro.
Se todas as manobras forem ineficazes, o obstetra flexiona a cabeça do feto e inverte os movimentos cardinais do trabalho de parto, reposicionando a cabeça do feto de volta na vagina ou útero (manobra de Zavanelli); então é realizado o parto por cesárea. Em situações em que um parto cesárea seguro e rápido não é possível, pode-se considerar a realização de uma sinfisiotomia (alargamento do canal pélvico pela incisão cirúrgica da cartilagem da sínfise púbica). Esse procedimento é raramente utilizado porque resulta em alto risco de morbidade materna a longo prazo, incluindo fístulas obstétricas e incontinência urinária (2).
Referências sobre tratamento
1. Lau SL, Sin WTA, Wong L, et al: A critical evaluation of the external and internal maneuvers for resolution of shoulder dystocia. Am J Obstet Gynecol Published online August 17, 2023. doi:10.1016/j.ajog.2023.01.016
2. Wilson A, Truchanowicz EG, Elmoghazy D, et al: Symphysiotomy for obstructed labour: a systematic review and meta-analysis. BJOG 123(9):1453-1461, 2016. doi:10.1111/1471-0528.14040
Pontos-chave
Preparar para distocia de ombro se houver suspeita de feto grande (> 4.000 g) e o progresso do trabalho de parto for lento.
Em caso de distocia do ombro, convocar pessoal extra para a sala de parto.
Tentar várias manobras sequencialmente para liberar o ombro anterior.
Se essas manobras não forem bem-sucedidas, colocar a cabeça do feto de volta na vagina ou no útero e fazer um parto cesárea.