Giardíase é a infecção causada pelo protozoário flagelado Giardia duodenalis (G. lamblia, G. intestinalis). A infecção pode ser assintomática ou provocar sintomas que variam de flatulência intermitente a má absorção crônica. O diagnóstico é feito identificando o organismo nas fezes a fresco ou conteúdo duodenal, ou por ensaios de antígeno de Giardia ou teste molecular para o DNA do parasita nas fezes. O tratamento é feito com metronidazol, tinidazol, secnidazol ou nitazoxanida oral.
(Ver também Visão geral das infecções intestinais por protozoários e microsporídios.)
Trofozoítos de Giardia prendem-se firmemente à mucosa duodenal e ao jejuno proximal e multiplicam-se por divisão binária. Alguns parasitas transformam-se no ambiente em cistos resistentes, que são disseminados pela via fecal-oral.
Infecção por Giardia é prevalente em todo o mundo particularmente em regiões com condições sanitárias precárias. A transmissão pela água é a principal fonte de infecção (1), mas a transmissão também pode ocorrer pela ingestão de alimentos contaminados ou pelo contato direto entre uma pessoa e outra. Em 2018, houve 15.579 casos de giardíase nos Estados Unidos notificados ao Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (ver CDC: Giardiasis NNDSS Summary Report for 2018).
Cistos de Giardia permanecem viáveis na superfície da água e são resistentes aos níveis rotineiros de cloração da água potável. Dessa forma, corredeiras provenientes de montanhas, assim como a cloração de sistemas de abastecimento de água municipais com filtração deficiente, foram implicadas nas epidemias transmitidas pela água. Infecções também estão associadas à puericultura, especialmente envolvendo crianças com fraldas; contato próximo com familiares ou membros do agregado familiar que têm giardíase; ingestão de água ou gelo de água não tratada ou tratada inadequadamente de lagos, córregos ou poços; mochileiros, andarilhos e campistas que bebem água insegura ou não praticam boa higiene das mãos; ingerir água ao nadar ou brincar em lagos, lagoas, rios ou córregos; ou exposição a fezes durante contato sexual.
Há 8 grupos genéticos (conjuntos) de G. duodenalis. Dois infectam seres humanos e animais; os outros só infectam animais. As manifestações clínicas parecem variar de acordo com o genótipo.
Referência geral
1. Schnell K, Collier S, Derado G, et al: Giardiasis in the United States - an epidemiologic and geospatial analysis of county-level drinking water and sanitation data, 1993-2010. J Water Health 14(2):267–279, 2016. doi: 10.2166/wh.2015.283.
Sinais e sintomas de giardíase
Muitos casos de giardíase são assintomáticos. Contudo, pessoas assintomáticas podem eliminar cistos infecciosos.
Os sintomas da giardíase aguda geralmente se manifestam 1 a 14 dias (média de 7 dias) depois da infecção. São normalmente leves e incluem diarreia aquosa fétida, cólicas e distensão abdominais, flatulência e eructação, náuseas intermitentes, desconforto epigástrico e, algumas vezes, leve grau de mal-estar, fadiga e anorexia. A giardíase aguda normalmente dura 1 a 3 semanas. A giardíase costuma ser acompanhada de intolerância à lactose adquirida. A má absorção de gordura e açúcar pode provocar perda ponderal significante em casos graves. Não são encontrados sangue ou leucócitos nas fezes.
Um subgrupo de pacientes infectados desenvolve diarreia crônica com fezes fétidas, distensão abdominal e eructação fétida. Perda ponderal significativa e fatiga podem ocorrer. A giardíase crônica ocasionalmente provoca má evolução ponderal em crianças.
Diagnóstico da giardíase
Imunoensaio enzimático à procura de antígenos ou teste molecular do DNA do parasita nas fezes
Exame microscópico das fezes
O EIA para detectar antígeno de parasita em fezes é mais sensível que o exame microscópico. Trofozoítos característicos ou cistos em fezes confirmam o diagnóstico, mas a eliminação de parasita é intermitente e em baixos níveis nas infecções crônicas. Portanto, o diagnóstico microscópico pode requerer exames de fezes repetidos.
A amostra dos conteúdos intestinais superiores também pode apresentar trofozoítos, mas é raramente necessária.
Há testes moleculares disponíveis para DNA do parasita nas fezes.
Tratamento da giardíase
Tinidazol, metronidazol, secnidazol ou nitazoxanida
Para giardíase sintomática, pode-se utilizar tinidazol, metronidazol, secnidazol, o nitazoxanida. Resistência e falhas do tratamento podem ocorrer com qualquer um deles.
O tinidazol é tão eficaz quanto o metronidazol, mas o tinidazol é tomado em dose única e o metronidazol por 5 a 7 dias. Em termos de efeitos adversos gastrointestinais, o tinidazol geralmente é mais bem tolerado do que o metronidazol; efeitos adversos do metronidazol incluem náuseas e dores de cabeça.
Secnidazol é administrado por via oral em dose única.
Nitazoxanida está disponível em solução oral que é útil para crianças e como comprimidos. Administra-se por 3 dias.
Furazolidona, quinacrina ou albendazol são raramente utilizados por causa da potencial toxicidade, baixa eficácia ou custo.
A desidratação decorrente de diarreia é um risco particular para gestantes e lactentes. A terapia de reidratação é especialmente importante para esses grupos.
Mesmo após a cura parasitológica, os pacientes podem experimentar intolerância à lactose, síndrome do intestino irritável ou fadiga que duram semanas a meses. Se Giardia não for detectado em 3 exames de fezes com concentração, ou por teste repetido de fezes, é altamente provável que o paciente não esteja mais infectado. Há diretrizes para o tratamento de infecções recorrentes por giardíase e falhas no tratamento (ver CDC: Giardia: Diagnosis and Treatment Information for Medical Professionals).
Prevenção da giardíase
A prevenção da giardíase exige
Tratamento adequado de água pública
Preparação higiênica de alimentos
Higiene fecal-oral adequada
Lavagem minuciosa das mãos após contato com fezes
A água pode ser descontaminada por meio de fervura. Cistos de Giardia resistem a níveis rotineiros de cloração. A eficácia da antissepsia com compostos contendo iodo é variável e depende da turvação e da temperatura da água e da duração do tratamento. Alguns dispositivos portáteis de filtração podem remover cistos de Giardia da água contaminada, mas a eficácia de vários sistemas de filtragem não foi avaliada completamente.
(Ver também Centers for Disease Control and Prevention [CDC]: Parasites - Giardia: Prevention & Control e CDC Yellow Book: Giardiasis).
Pontos-chave
A principal fonte da giardíase é a transmissão por via aquática, incluindo riachos de montanhas em que a água parece limpa e filtragem insuficiente do abastecimento municipal de água.
Cistos de Giardia resistem a níveis rotineiros de cloração, e a antissepsia com componentes contendo iodo tem eficácia variável.
O EIA para detectar antígeno de parasita em fezes é preferível, porque é mais sensível do que o exame microscópico.
Para pacientes assintomáticos, tinidazol, metronidazol, secnidazol, ou nitazoxanida.
Os sintomas podem persistir após a eliminação do parasita.