Infarto agudo do miocárdio (IAM)

PorRanya N. Sweis, MD, MS, Northwestern University Feinberg School of Medicine;
Arif Jivan, MD, PhD, Northwestern University Feinberg School of Medicine
Revisado/Corrigido: fev. 2024
Visão Educação para o paciente

Infarto agudo do miocárdio é necrose miocárdica resultante de obstrução aguda de uma artéria coronária. Os sintomas incluem desconforto torácico com ou sem dispneia, náuseas e/ou diaforese. O diagnóstico é efetuado por ECG e pela existência ou ausência de biomarcadores sorológicos. O tratamento consiste em fármacos antiplaquetários, anticoagulantes, nitratos, betabloqueadores, estatinas e terapia de reperfusão. Para infarto do miocárdio com supradesnível do segmento ST, reperfusão de emergência com fármacos fibrinolíticos, intervenção percutânea ou, ocasionalmente, cirurgia de revascularização do miocárdio. Para infarto do miocárdio sem supradesnível do segmento ST, a reperfusão é por meio de intervenção percutânea ou cirurgia de revascularização do miocárdio.

(Ver também Visão geral das síndromes coronárianas agudas.)

Nos Estados Unidos, até 1,0 milhão de infartos do miocárdio ocorrem anualmente (1). O infarto do miocárdio resulta na morte de 300.000 a 400.000 pessoas (ver também Parada cardíaca).

Infarto agudo do miocárdio, e angina instável, são considerados síndromes coronarianas aguda. O infarto agudo do miocárdio pode ser sem supradesnível do segmento ST (IMSST) e com supradesnível do segmento ST (IMCST). A distinção entre IMSST e IMCST é crucial, uma vez que as estratégias de tratamento são diferentes para os dois.

Referência geral

  1. 1. Benjamin EJ, Virani SS, Callaway CW, et al. Heart Disease and Stroke Statistics-2018 Update: A Report From the American Heart Association [published correction appears in Circulation 2018 Mar 20;137(12):e493]. Circulation 2018;137(12):e67-e492. doi:10.1161/CIR.0000000000000558

Fisiopatologia do infarto agudo do miocárdio

O infarto do miocárdio é definido como necrose miocárdica em uma condição clínica consistente com isquemia miocárdica (1). Essas condições podem ser atendidas por meio de elevação de biomarcadores cardíacos (preferencialmente, troponina cardíaca [cTn]) acima do 99th percentil do limite superior de referência (LSR) e pelo menos um dos seguintes:

  • Sintomas da isquemia

  • Alterações eletrocardiográficas indicativas de nova isquemia (alterações significativas no ST/T ou bloqueio de ramo esquerdo)

  • Desenvolvimento de ondas Q patológicas

  • Evidências nas imagens de nova lesão do miocárdio ou nova alteração da contração segmentar da parede

  • Evidências na angiografia ou autópsia de trombo intracoronário

Critérios ligeiramente diferentes são utilizados para diagnosticar IM durante e após intervenção coronariana percutânea ou cirurgia de revascularização do miocárdio, e como causa de morte súbita.

O IM pode ser classificado em 5 tipos com base na etiologia e circunstâncias (1)

  • Tipo 1: IM espontâneo causado por isquemia devido a um evento coronário primário (p. ex., ruptura, erosão ou fissuras na placa; dissecção coronária)

  • Tipo 2: isquemia devido a aumento da demanda de oxigênio (p. ex., hipertensão), ou diminuição do fornecimento (p. ex., espasmo ou embolia arterial coronariana, arritmia, hipotensão)

  • Tipo 3: relacionado com a morte cardíaca inesperada e súbita

  • Tipo 4a: associado com intervenção coronariana percutânea (sinais e sintomas de infarto do miocárdio com valores cTn > 5 × 99º percentil do LSR)

  • Tipo 4b: associado com trombose do stent documentada

  • Tipo 5: associado com revascularização do miocárdio (sinais e sintomas de infarto do miocárdio com valores cTn > 10 × 99º percentil do LSR)

Localização do infarto

O IM compromete predominantemente o ventrículo esquerdo, mas a lesão pode estender-se ao ventrículo direito ou aos átrios.

Infarto do ventrículo direito geralmente resulta de obstrução da coronária direita ou uma artéria circunflexa esquerda dominante; é caracterizado por pressão de enchimento do ventrículo direito elevada, muitas vezes com regurgitação tricúspide grave e redução do débito cardíaco.

O infarto inferoposterior provoca algum grau de disfunção do ventrículo direito em cerca da metade dos pacientes, e provoca alteração hemodinâmica em 10 a 15%. Deve-se considerar a disfunção do ventrículo direito em qualquer paciente que desenvolva infarto inferoposterior e elevação da pressão venosa jugular, com hipotensão ou choque. O infarto do ventrículo direito que complica o infarto do VE aumenta significativamente a taxa de mortalidade (2)

Os infartos anteriores tendem a ser maiores e estão associados de prognóstico pior que os infartos inferoposteriores. Eles geralmente ocorrem por obstrução da artéria coronária esquerda, especialmente da artéria descendente anterior; infartos póstero-inferiores refletem obstrução da artéria coronária direita ou artéria circunflexa esquerda dominante.

Extensão do infarto

O infarto pode ser

  • Transmural

  • Não transmural

Infartos transmurais envolvem toda a espessura do miocárdio, do epicárdio ao endocárdio, e costumam ser caracterizados por ondas Q anormais no ECG.

Os infartos não transmurais (como os subendocárdicos) não atravessam a parede ventricular e provocam apenas alterações no segmento ST e na onda T (ST-T). Normalmente, os infartos subendocárdicos envolvem o terço interno do miocárdio, onde a tensão de parede é mais elevada e o fluxo sanguíneo miocárdico é mais vulnerável às alterações circulatórias. Tais infartos podem ocorrer após hipotensão prolongada.

Como a profundidade transmural da necrose não pode ser determinada clinicamente com precisão, os infartos, geralmente, são classificados como IMCST ou IMSST pela presença ou ausência de supradesnível do segmento ST ou ondas Q no ECG. A extensão de miocárdio destruído pode ser aproximadamente estimada pela amplitude e duração do aumento da creatina quinase (CK-MB) ou pelos níveis máximos das troponinas mais dosadas.

Infarto do miocárdio sem supradesnível do segmento ST (IMSST, IM subendocárdico) é necrose miocárdica (evidenciada por biomarcadores cardíacos no sangue; troponina I ou T e CK estarão elevadas) sem elevação aguda do segmento ST. Pode haver outras alterações no ECG, como infradesnível do segmento ST, inversão da onda T ou ambas.

IMCST (transmural) é a necrose miocárdica com alterações do ECG constituídas por supradesnível do segmento ST, as quais não se revertem rapidamente com nitroglicerina. A troponina I ou troponina T e CK-MB são elevados.

Infarto do miocárdio na ausência de doença arterial coronariana (MINOCA)

Infarto agudo do miocárdio na ausência de doença arterial coronariana (MINOCA) é encontrado em cerca de 5 a 6% dos pacientes com IAM agudo que são submetidos à angiografia coronariana (3). Pacientes com MINOCA tendem a ser mais jovens, mulheres e sem dislipidemia. Eles tendem a apresentar necrose miocárdica sem aterosclerose coronariana significativa. Ruptura de placas e vasoespasmos coronarianos são comuns no MINOCA. Trombose ou embolia coronariana e dissecção espontânea da artéria coronária são causas de MINOCA. O tratamento conservador depende do mecanismo subjacente para o MINOCA em cada paciente.

Referências sobre fisiopatologia

  1. 1. Thygesen K, Alpert JS, Jaffe AS, et al: Fourth Universal Definition of Myocardial Infarction (2018). J Am Coll Cardiol 72(18):2231–2264, 2018. doi:10.1016/j.jacc.2018.08.1038

  2. 2. Mehta SR, Eikelboom JW, Natarajan MK, et al. Impact of right ventricular involvement on mortality and morbidity in patients with inferior myocardial infarction. J Am Coll Cardiol 37(1):37–43, 2001. doi:10.1016/s0735-1097(00)01089-5

  3. 3. Tamis-Holland JE, Jneid H, Reynolds HR, et al: Contemporary diagnosis and management of patients with myocardial infarction in the absence of obstructive coronary artery disease: A scientific statement from the American Heart Association. Circulation 139:e891–e908, 2019. doi.org/10.1161/CIR.0000000000000670

Sinais e sintomas do infarto agudo do miocárdio

Os sintomas de IMSST e IMCST são os mesmos. Dias ou semanas antes do evento, cerca de dois terços dos pacientes desenvolvem sintomas prodrômicos, incluindo angina instável ou crescente, dispneia e fadiga.

Em geral, o primeiro sintoma do infarto é a dor subesternal, visceral e profunda, descrita como dor ou pressão, irradiada para dorso, mandíbula, braço esquerdo ou direito, ombros ou todas essas áreas. A dor é semelhante à angina do peito, mas geralmente é mais grave e tem longa duração; mais frequentemente acompanhada de dispneia, diaforese, náuseas e/ou vômitos; e aliviada um pouco ou apenas temporariamente com repouso ou nitroglicerina.

No entanto, o desconforto pode ser leve; aproximadamente 20% dos IMs são silenciosos (1). IMs silenciosos são aqueles assintomáticos ou que causa sintomas vagos que não são reconhecidos como doença pelo paciente. Os IMs silenciosos ocorrem mais comumente em pacientes com diabetes ou história de doença coronariana conhecida. Em geral, os pacientes interpretam o desconforto como indigestão, em especial porque o alívio espontâneo pode ser falsamente atribuído à eructação ou ao consumo de antiácidos. A isquemia silenciosa às vezes se manifesta como anormalidades assintomáticas e transitórias do segmento ST observadas durante teste de estresse ou monitoramento com Holter de 24 horas. Às vezes, estudos com radionuclídeos podem documentar isquemia miocárdica durante estresse físico ou mental. Isquemia silenciosa e angina de peito podem coexistir, ocorrendo em períodos diferentes.

Alguns pacientes desenvolvem síncope.

As mulheres são mais propensas a apresentar desconforto torácico atípico; entretanto, mesmo quando se manifesta com os sintomas típicos, é mais comum que o IM passe despercebido nas mulheres (2). Os pacientes mais idosos podem referir dispneia mais que dor torácica do tipo isquêmica.

Nos episódios isquêmicos graves, o paciente muitas vezes tem dor significativa e sente-se inquieto e apreensivo. Podem ocorrer náuseas e vômito, especialmente na vigência de IM inferior. Dispneia e fraqueza podem prevalecer em virtude de insuficiência do VE, edema pulmonar, choque, ou predominar a arritmia significativa.

A pele pode estar pálida, fria e diaforética. É possível identificar cianose central ou periférica. O pulso pode ser filiforme e a pressão arterial é variável, embora, inicialmente, muitos pacientes desenvolvam algum grau de hipertensão durante a dor.

Em geral, as bulhas cardíacas são distantes, e quase sem exceção ausculta-se a B4. Pode-se auscultar sopro sistólico suave no ápice (refletindo disfunção do músculo papilar). Durante o exame inicial, a ausculta de atrito ou de sopros mais nítidos sugere cardiopatia prévia ou outro diagnóstico. A detecção de atrito dentro de algumas horas após o início dos sintomas de IM sugere pericardite aguda, em vez de IM. Entretanto, os atritos, geralmente evanescentes, são comuns nos 2º e 3º dias após IMCST. A parede torácica é sensível quando palpada em alguns pacientes.

No infarto do ventrículo direito, os sinais envolvem a elevação da pressão de enchimento do ventrículo direito, distensão das veias jugulares (geralmente com sinal de Kussmaul), campos pulmonares limpos e hipotensão.

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Parmley WW. Prevalence and clinical significance of silent myocardial ischemia. Circulation 1989;80(6 Suppl):IV68-IV73.

  2. 2. Lichtman JH, Leifheit EC, Safdar B, et al. Sex Differences in the Presentation and Perception of Symptoms Among Young Patients With Myocardial Infarction: Evidence from the VIRGO Study (Variation in Recovery: Role of Gender on Outcomes of Young AMI Patients). Circulation 2018;137(8):781-790. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.117.031650

Diagnóstico do infarto agudo do miocárdio

  • ECG periódicos

  • Biomarcadores cardíacos periódicos

  • Angiografia coronária imediata (a menos que fibrinolíticos sejam administrados) para pacientes com IMCST ou complicações (p. ex., dor torácica persistente, hipotensão, biomarcadores cardíacos acentuadamente elevados, arritmias instáveis)

  • Angiografia coronária tardia (24 a 48 horas) para pacientes com IMSST sem complicações

(Ver também o algoritmo Abordagem ao infarto agudo do miocárdio.)

A avaliação começa com ECG inicial e seriado e dosagens seriadas dos biomarcadores cardíacos para ajudar a diferenciar a angina instável do infarto do miocárdio com supradesnível do segmento ST (IMCST) e do infarto do miocárdio sem supradesnível do segmento ST (IMSST). Essa distinção é a base da estratégia de decisão porque os fibrinolíticos beneficiam os pacientes com IMCST, mas podem aumentar o risco de portadores de IMSST. Além disso, é indicado cateterismo cardíaco urgente para os pacientes com IMCST, mas geralmente não para aqueles com IMSST.

ECG

ECG é o teste mais importante e deve ser realizado o mais rápido possível (p. ex., 10 minutos após a apresentação).

No IMCST, o ECG inicial geralmente fecha o diagnóstico, mostrando supradesnível do segmento ST 1 mm em 2 ou mais derivações contíguas na área da lesão [ver figuras Infarto ventricular lateral esquerdo agudo, Infarto ventricular lateral esquerdo, Infarto ventricular lateral esquerdo (vários dias mais tarde), Infarto ventricular inferior (diafragmático) esquerdo agudo, Infarto ventricular inferior (diafragmático) esquerdo e Infarto ventricular inferior (diafragmático) esquerdo (vários dias mais tarde)].

Infarto agudo lateral do ventrículo esquerdo (traçado obtido poucas horas após o início da doença)

Há um evidente elevação hiperaguda do segmento ST nas derivações D1, aVL, V4 e V6, bem como infradesnível recíproco em outras derivações.

Infarto ventricular esquerdo lateral (após as primeiras 24 horas)

Os segmentos ST estão menos elevados; desenvolvem-se ondas Q significativas e ondas R se perdem nas derivações D1, aVL, V4 e V6.

Infarto ventricular esquerdo lateral (vários dias mais tarde)

Persistem as ondas Q significativas e a perda de voltagem da onda R. Os segmentos ST agora estão essencialmente isoelétricos. O ECG provavelmente se alterará apenas de forma lenta nos meses subsequentes.

Infarto ventricular esquerdo (diafragmático) inferior agudo (traçado obtido poucas horas após o início da doença)

Há elevação hiperaguda do segmento ST nas derivações D2, D3 e aVF e infradesnível recíproco em outras derivações.

Infarto ventricular esquerdo (diafragmático) inferior (após as primeiras 24 horas)

Persistem as ondas Q significativas com diminuição da supradesnível do segmento ST nas derivações D2, D3 e aVF.

Infarto ventricular esquerdo (diafragmático) inferior (vários dias depois)

Os segmentos ST agora estão isoelétricos. Ondas Q anormais nas derivações D2, D3 e aVF indicam que persistem cicatrizes miocárdicas.

As ondas Q patológicas não são necessárias ao diagnóstico. O ECG deve ser analisado cautelosamente porque a supradesnível do segmento ST pode ser sutil, particularmente nas derivações inferiores (D2, D3 e aVF), às vezes, a atenção do interpretador focaliza erroneamente as derivações com supradesnível do segmento ST. Se os sintomas forem característicos, a supradesnível do segmento ST no ECG tem especificidade de 90% e sensibilidade de 45% para diagnóstico de infarto do miocárdio. Os traçados seriados (obtidos a cada 8 horas no 1º dia e, a seguir, diariamente), os quais revelam a evolução gradual para um padrão mais normal e estável, ou o desenvolvimento de ondas Q anormais no decorrer de poucos dias tende a confirmar o diagnóstico.

Se houver suspeita de infarto do ventrículo direito (VD), geralmente registra-se um ECG de 15 derivações; derivações adicionais são colocadas em V4-6R (ver figura Derivações do ventrículo direito (VR) de VR1 aVR6), e, para detectar infarto posterior, V8 e V9.

Derivações do ventrículo direito (VR) de VR1 a VR6

O diagnóstico de IM por ECG é mais difícil quando existe padrão de bloqueio de ramo esquerdo, pois ele se assemelha às alterações do IMCST. A supradesnível do segmento ST concordante com o complexo QRS sugere fortemente IM da mesma forma que a supradesnível do segmento ST > 5 mm em pelo menos 2 derivações precordiais. Mas, geralmente, qualquer paciente com sintomas suspeitos e BRE de desenvolvimento recente (ou que não se sabe que é antigo) é tratado como se apresentasse IMCST.

Biomarcadores cardíacos

Os marcadores cardíacos (biomarcadores séricos de lesão celular miocárdica) são

  • Enzimas cardíacas [p. ex., CK-MB (isoenzima MB creatinoquinase)]

  • Conteúdo celular (p. ex., troponina I, troponina T, mioglobina)

Esses biomarcadores são liberados na corrente sanguínea após a necrose das células do miocárdio. Os biomarcadores surgem em períodos diferentes após a lesão e os níveis diminuem em proporções diferentes. A sensibilidade e especificidade para lesão miocárdica celular variam significativamente entre esses biomarcadores. Testes que medem troponinas cardíacas (cTn), que já são utilizados há muitos anos, são sensíveis e específicos. Ensaios mais recentes e altamente sensíveis de troponina cardíaca (hs-cTn) que também são muito precisos são preferidos. Esses ensaios podem medir de forma segura os níveis de cTN (T ou I) em níveis tão baixos quanto 0,003-0,006 ng/mL (3 a 6 pg/mL); alguns ensaios de pesquisa alcançam níveis tão baixos quanto 0,001 ng/mL (1 pg/mL).

É improvável que testes menos sensíveis de cTn detectem troponinas cardíacas, exceto em pacientes com doença cardíaca aguda. Assim, uma cTn "positivo" (isto é, acima do limite de detecção) era muito específico. Entretanto, os testes para hs-cTn podem detectar pequenas quantidades de troponina em muitas pessoas saudáveis. Assim, os níveis de troponina detectados pelos testes de hs-cTn precisam ser referenciados em relação ao intervalo normal, e são definidos como "elevados" apenas quando estão acima de 99% da população de referência. Além disso, embora um nível de troponina elevada indique lesão celular miocárdica, ele não indica a causa do dano (embora qualquer elevação da troponina aumente o risco de resultados adversos em muitas doenças). Além das síndromes coronarianas agudas, muitas outras doenças cardíacas e não cardíacas podem aumentar os níveis do complexo de troponina cardíaca (ver tabela Causas da elevação de troponina); nem todos os aumentos dos níveis da troponina significam infarto agudo do miocárdio, e nem todas as necroses miocárdicas resultam de um evento de síndrome coronariana aguda, mesmo quando a etiologia é isquêmica. Entretanto, ao detectar níveis mais baixos de troponina, ensaios hs-cTn permitem a identificação mais precoce do IM do que outros ensaios, e substituíram outros testes de biomarcador cardíaco em muitos centros.

Pacientes com suspeita de infarto do miocárdio devem ser submetidos à análise de hs-cTn na apresentação e 2 a 3 horas mais tarde. Deve-se dosar a troponina em 0 e 6 horas se for utilizado o teste convencional de cTn.

Deve-se interpretar todos os exames laboratoriais tendo como perspectiva a probabilidade de doença anterior ao exame (ver também Entendendo os exames complementares e seus resultados). Isso é especialmente relevante para a dosagem de hs-cTn, dada a sensibilidade muito alta desse teste, mas se aplica a todos os ensaios de cTn.

Um ensaio de hs-cTn deve ser interpretado com base naprobabilidade pré-teste de doença do paciente, a qual é estimada clinicamente combase em:

  • Fatores de risco de síndrome coronariana aguda

  • Sintomas

  • ECG

Alta probabilidade pré-teste associada a um nível elevado de troponina detectado com um ensaio de hs-cTn é altamente sugestivo de infarto do miocárdio, enquanto uma baixa probabilidade pré-teste associada a um resultado normal do ensaio de hs-cTn é improvável representar um infarto do miocárdio. (1). O diagnóstico é mais complexo quando os resultados dos testes são discrepantes em relação à probabilidade anterior ao teste; nestes casos a dosagem seriada de hs-cTn costuma ajudar. Um paciente com baixa probabilidade anterior ao teste e discreto aumento inicial da troponina detectado pelo hs-cTn, cujos outros exames se mantêm estáveis, provavelmente tem outra doença cardíaca e não síndrome coronariana aguda(p. ex., insuficiência cardíaca ou doença arterial coronariana estável). Mas se o nível de repetição aumentar significativamente (isto é, > 20 a 50%) a probabilidade de infarto do miocárdio torna-se muito mais alta. Se um paciente com alta probabilidade anterior ao teste tem nível normal de troponina pelo hs-cTn que aumenta > 50%, o infarto do miocárdio é provável; níveis normais mantidos (muitas vezes 6 horas depois e além, quando a suspeita for alta) sugerem a necessidade de buscar um diagnóstico alternativo.

Angiografia coronariana

A angiografia coronariana, na maioria das vezes, combina diagnóstico e intervenção coronária percutânea (ICP — isto é, angioplastia, implante de stent). Quando possível, angiografia coronária de emergência e ICP são realizadas o mais rápido possível após o início do infarto agudo do miocárdio (ICP primária). Em muitos centros terciários, essa abordagem reduziu significativamente a morbidade e mortalidade e melhorou os resultados a longo prazo. Frequentemente, o infarto é realmente evitado quando o tempo entre a dor e a ICP é curto (< 3 a 4 horas).

A angiografia é obtida urgentemente para os pacientes com IMCST, dor torácica persistente apesar de tratamento médico máximo, e pacientes com complicações (p. ex., biomarcadores cardíacos acentuadamente elevados, presença de choque cardiogênico, regurgitação mitral aguda, CIV arritmias instáveis). Os pacientes com IMSST sem complicação, cujos sintomas foram resolvidos, normalmente se submetem a angiografia nas primeiras 24 ou 48 horas de hospitalização para detectar lesões que podem requerer tratamento.

Após avaliação e terapêutica iniciais, a angiografia coronária pode ser utilizada em pacientes que apresentam isquemia em evolução (resultados do ECG e sintomas), instabilidade hemodinâmica, taquiarritmias ventriculares recorrentes e outras anormalidades que sugerem a recorrência de eventos isquêmicos. Alguns especialistas também recomendam que a angiografia deve ser feita antes da alta hospitalar para os pacientes com IMCST com isquemia induzida por teste de esforço por imagem ou fração de ejeção < 40%.

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. Badertscher P, Boeddinghaus J, Nestelberger T, et al. Effect of Acute Coronary Syndrome Probability on Diagnostic and Prognostic Performance of High-Sensitivity Cardiac Troponin. Clin Chem 2018;64(3):515-525. doi:10.1373/clinchem.2017.279513

Tratamento infarto agudo do miocárdio

  • Cuidados pré-hospitalares: oxigênio, aspirina, nitratos, e encaminhamento para um centro médico apropriado

  • Tratamento medicamentoso: medicamentos antiplaquetários, medicamentos antianginosos, anticoagulantes e, em alguns casos, outros medicamentos

  • Terapia de reperfusão: fibrinolíticos ou angiografia com intervenção coronária percutânea ou cirurgia de revascularização do miocárdio

  • Reabilitação depois da alta hospital e tratamento médico da doença coronariana

A escolha da terapia medicamentosa e escolha da estratégia de reperfusão são discutidas em outros locais.

Cuidado pré-hospitalar

  • Oxigênio

  • Ácido acetilsalicílico

  • Nitratos

  • Encaminhamento para um centro médico apropriado

Deve-se estabelecer uma via IV confiável, administrar oxigênio (tipicamente 2 L por cânula nasal) e instalar monitoramento contínuo de ECG de derivação única. Intervenções pré-hospitalares pela equipe médica de emergência [incluindo ECG, ácido acetilsalicílico mastigável (160-325 mg) e tratamento da dor com nitratos] podem reduzir o risco de mortalidade e complicações. Dados diagnósticos precoces e resposta ao tratamento podem ajudar a determinar a necessidade e a escolha do momento adequado para revascularização.

Internação hospitalar

  • Estratificação de risco do paciente e seleção da estratégia de reperfusão

  • Terapia medicamentosa com medicamentos antiplaquetários, anticoagulantes e outros medicamentos com base na estratégia de reperfusão

Na chegada à sala de emergência, o diagnóstico do paciente é confirmado. A terapia medicamentosa e o momento da revascularização dependem do quadro clínico e diagnóstico.

Para IMCST, a estratégia de reperfusão pode incluir terapia fibrinolítica ou ICP imediata. Para pacientes com IMSST, a angiografia pode ser realizada entre 24 e 48 horas após a internação se o paciente estiver clinicamente estável. Se o paciente estiver instável (p. ex., mantendo os sintomas, com hipotensão ou arritmias sustentadas), então fazer angiografia imediatamente (ver figura Abordagem ao infarto do miocárdio).

Abordagem ao infarto do miocárdio

*A administração de morfina deve ser criteriosa (p. ex., se nitroglicerina for contraindicada ou se o paciente apresentar sintomas apesar da nitroglicerina). Dados sugerem que a morfina compromete a atividade de alguns inibidores do receptor P2Y12 e pode contribuir para piores desfechos do caso.

†Complicado significa que a internação hospitalar foi complicada por angina recorrente ou infarto, insuficiência cardíaca ou arritmias ventriculares recorrentes sustentadas. A ausência de qualquer um desses eventos é chamada não complicado.

‡CRM é geralmente preferida à ICP para pacientes com o seguinte:

  • Acometimento de tronco da coronária esquerda ou equivalente

  • Disfunção ventricular esquerda

  • Diabetes

Além disso, para lesões extensas ou próximas de pontos de bifurcação, a ICP frequentemente não é apropriada.

CRM = cirurgia de revascularização do miocárdio; GP = glicoproteína; IMSST = infarto do miocárdio sem supradesnível do segmento ST; ICP = intervenção coronariana percutânea; IMCST = infarto do miocárdio com supradesnível do segmento ST.

Tratamento medicamentoso de infarto agudo do miocárdio

Todos os pacientes devem receber fármacos antiplaquetários, anticoagulantes e, se houver dor torácica, fármacos antianginos. O uso de medicamentos específicos depende da estratégia de reperfusão e de outros fatores; sua seleção e uso são discutidos em Medicamentos para síndrome coronariana aguda. Deve-se administrar outros medicamentos, como betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) e estatinas (ver tabela Medicamentos para doença coronariana).

Os pacientes com infarto agudo do miocárdio devem receber o seguinte (a menos que contraindicado):

  • Fármacos antiplaquetários: aspirina, clopidogrel, ou ambos (prasugrel ou ticagrelor são alternativas ao clopidogrel)

  • Anticoagulantes: heparina (não fracionada ou heparina de baixo peso molecular) ou bivalirudina

  • Inibidor da glicoproteína IIb/IIIa quando a ICP é realizada

  • Terapia antianginosa, geralmente nitroglicerina

  • Betabloqueador

  • Inibidor da ECA

  • Estatina

Prescrevem-se 160 a 325 mg de ácido acetilsalicílico (sem revestimento entérico) para todos os pacientes para os quais não há contraindicação, que são administrados no início das manifestações e, em seguida, prescrevem-se 81 mg, uma vez ao dia, indefinidamente. A mastigação da primeira dose antes da deglutição acelera a absorção. O ácido acetilsalicílico reduz a taxa de mortalidade em curto e longo prazos.

Em pacientes submetidos à ICP, uma dose inicial de clopidogrel (300 a 600 mg por via oral 1 vez por dia), prasugrel (60 mg por via oral em dose única) ou ticagrelor (180 mg por via oral em dose única) melhora os resultados, particularmente quando administrados com 24 horas de antecedência. Para ICP urgente, prasugrel e ticagrelor têm início mais rápido e podem ser preferidos.

Administra-se heparina de baixo peso molecular (HBPM), heparina não fracionada ou bivalirudina para pacientes, a menos que haja contraindicação (p. ex., sangramento ativo). O uso de heparina não fracionada é mais complicado porque requer ajustes frequentes na dosagem (a cada 6 horas) para alcançar um tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) alvo. As HBPM têm melhor biodisponibilidade, são administradas por dosagem simples, baseada no peso sem monitoramento do TTPa e sem titulação de dose, sendo menor o risco de trombocitopenia induzida por heparina. Bivalirudina é recomendada para aqueles com história conhecida ou suspeito de trombocitopenia induzida por heparina. Os anticoagulantes são mantidos para:

  • Duração da ICP nos pacientes fazendo esse procedimento

  • Duração da internação hospitalar (nos pacientes recebendo HBPM) ou por 48 horas (nos pacientes recebendo heparina não fracionada) em todos os outros casos

Considerar um inibidor da glicoproteína IIb/IIIa durante a ICP para lesões de alto risco (alta carga de trombo, sem refluxo). Abciximabe, tirofibana e eptifibatide parecem ter eficácia equivalente e a escolha do fármaco deve depender de outros fatores (p. ex., custo, disponibilidade, familiaridade). Os inibidores de glicoproteína IIb/IIIa são mantidos por 6 a 24 horas.

É possível tratar a precordialgia com nitroglicerina ou, algumas vezes, morfina. A nitroglicerina é preferível à morfina, que deve ser utilizada criteriosamente (p. ex., se o paciente tiver contraindicação à nitroglicerina ou sentir dor apesar da nitroglicerina). Inicialmente, a nitroglicerina é administrada via sublingual, seguida por infusão IV contínua se necessário. A morfina, 2 a 4 mg, IV repetida a cada 15 minutos, se necessário, é altamente efetiva, mas pode deprimir a respiração e reduzir a contratilidade miocárdica, sendo um potente dilatador venoso. As evidências também sugerem que o uso de morfina interfere em alguns inibidores do receptor P2Y12. Um grande ensaio retrospectivo mostrou que a morfina pode aumentar a letalidade do infarto agudo do miocárdio (1, 2). Hipotensão e bradicardia secundárias à morfina podem ser geralmente superadas pela elevação imediata dos membros inferiores.

O tratamento convencional de todos os pacientes com angina instável é feito com betabloqueadores, inibidores da ECA e estatinas. Betabloqueadores são recomendados, a menos que contraindicados (p. ex., bradicardia, bloqueio atrioventricular, hipotensão ou asma), especialmente para pacientes de alto risco. Os betabloqueadores reduzem frequência cardíaca, pressão arterial e contratilidade, diminuindo assim a carga de trabalho cardíaco e a demanda de oxigênio. Inibidores de ECA podem fornecer proteção cardíaca em longo prazo melhorando a função endotelial. Se um inibidor de ECA não é tolerado por causa de tosse ou exantema (mas não angioedema ou disfunção renal), pode-se substituí-lo por um bloqueador do receptor da angiotensina II. As estatinas também são o tratamento convencional, independentemente dos níveis lipídicos (3) e se o IM é causado por DCVA, e devem ser mantidas indefinidamente.

Terapia de reperfusão no infarto agudo do miocárdio

  • Para pacientes com IMCST: intervenção coronariana percutânea imediata ou fibrinolíticos

  • Para pacientes com IMSST: intervenção coronariana percutânea imediata para pacientes instáveis ou entre 24 e 48 horas para pacientes estáveis

Para pacientes com IMCST, ICP de emergência é o tratamento preferível para infarto do miocárdio com supradesnível do segmento ST quando disponível de uma maneira oportuna (tempo entre a entrada e inflação do balão < 90 minutos) por um cirurgião experiente (4). Se for provável um atraso significativo na disponibilidade da ICP, deve ser realizada trombólise para pacientes com IMCST que preencham os critérios (ver Extensão do infarto). A reperfusão com o uso de fibrinolíticos é mais eficiente se estes forem administrados nos primeiros minutos ou horas depois do começo do infarto do miocárdio. Quanto mais cedo os fibrinolíticos começarem a agir, melhor. O objetivo é que o tempo de entrada até a aplicação da injeção seja de 30 a 60 minutos. O benefício é maior dentro de 3 horas, mas os fármacos podem surtir efeito até em 12 horas. As características e a seleção das fármacos fibrinolíticos foram discutidas anteriormente neste capítulo.

Pacientes instáveis com IMSST (isto é, aqueles com sintomas persistentes, hipotensão ou arritmias sustentadas) devem ser encaminhados diretamente ao laboratório de cateterismo cardíaco para identificar lesões coronarianas que exigem ICP ou cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM).

Para pacientes com IMSST sem complicações, a reperfusão imediata não é tão urgente porque é incomum haver uma artéria totalmente obstruída relacionada com o infarto na apresentação. Tais pacientes tipicamente se submetem a angiografia nas primeiras 24 a 48 horas de internação a fim de identificar lesões coronarianas que requeiram ICP ou CRM.

Os fibrinolíticos não são indicados para nenhum paciente com IMSST. Os riscos excedem os potenciais benefícios.

A escolha da estratégia de reperfusão é discutida em Revascularização para síndromes coronárianas agudas.

Reabilitação e tratamento após alta hospitalar

  • Avaliação funcional

  • Mudanças no estilo de vida: exercícios regulares, modificação da dieta, perda ponderal, cessação do tabagismo

  • Medicamentos: continuação dos medicamentos antiplaquetários, betabloqueadores, inibidores de ECA e estatinas

Os pacientes que não fizeram a angiografia coronariana durante a internação, não têm características de alto risco (p. ex., insuficiência cardíaca, angina recorrente, taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular após 24 horas, complicações mecânicas como novos sopros e/ou choque), com fração de ejeção > 40%, tendo ou não recebido fibrinolíticos, geralmente devem fazer algum tipo de teste de esforço antes ou logo depois de receber alta (ver tabela Avaliação funcional após o infarto do miocárdio).

Tabela

Doença aguda e tratamento do infarto do miocárdio devem ser utilizados para motivar fortemente o paciente a modificar os fatores de risco. O prognóstico pode ser melhorado pela avaliação dos estados físico e mental, assim como pela discussão desses aspectos com o paciente, a fim de aconselhá-lo sobre estilo de vida (p. ex., tabagismo, dieta, trabalho, lazer e exercícios) e modificação decisiva em tais fatores de risco.

Na alta hospitalar, todos os pacientes devem continuar a terapia com medicamentos antiplaquetários apropriados, estatinas, antianginosos e outros medicamentos com base nas comorbidades.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Meine TJ, Roe MT, Chen AY, et al: Association of intravenous morphine use and outcomes in acute coronary syndromes: results from the CRUSADE Quality Improvement Initiative. Am Heart J 149(6):1043–1049, 2005. doi 10.1016/j.ahj.2005.02.010

  2. 2. Kubica J, Adamski P, Ostrowska M, et al: Morphine delays and attenuates ticagrelor exposure and action in patients with myocardial infarction: the randomized, double-blind, placebo-controlled IMPRESSION trial. Eur Heart J 37(3):245–252, 2016. doi: 10.1093/eurheartj/ehv547

  3. 3. Wang WT, Hellkamp A, Doll JA, et al. Lipid Testing and Statin Dosing After Acute Myocardial Infarction. J Am Heart Assoc. 2018;7(3):e006460. Publicado em 25 de janeiro de 2018. doi:10.1161/JAHA.117.006460

  4. 4. Lawton JS, Tamis-Holland JE, Bangalore S, et al: 2021 ACC/AHA/SCAI guideline for coronary artery revascularization: a report of the ACC/AHA Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol 79(2):e21–e129, 2022. doi: 10.1016/j.jacc.2021.09.006

Prognóstico do infarto agudo do miocárdio

O risco deve ser estimado por meio de classificações clínicas formais de risco (p. ex., Trombose no infarto do miocárdio [TIMI] - ver tabelas Risco de mortalidade em 30 dias no IMCST e Risco de eventos adversos aos 14 dias em angina instável ou IMSST) ou uma combinação dos seguintes recursos de alto risco:

  • Angina/isquemia recorrente em repouso ou durante esforço leve

  • Insuficiência cardíaca

  • Agravamento de regurgitação mitral

  • Resultado de teste de estresse de alto risco (teste interrompido em ≤ 5 minutos devido a sintomas, alterações acentuadas no ECG, hipotensão ou arritmias ventriculares complexas)

  • Instabilidade hemodinâmica

  • Taquicardia ventricular persistente

  • Diabetes mellitus

  • ICP nos últimos 6 meses

  • Cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) prévia

  • Fração de ejeção do VE < 0,40

A mortalidade geral antes da era moderna do tratamento com fibrinolíticos e intervenção coronariana percutânea era de cerca de 30%, com 25% a 30% pacientes que não receberam fibrinolíticos ou ICP morrendo antes de chegar ao hospital (geralmente por fibrilação ventricular). A mortalidade intra-hospitalar é geralmente decorrente de choque cardiogênico, que se correlaciona com a gravidade da insuficiência ventricular esquerda. A classificação de Killip categoriza os pacientes com IM de acordo com achados do exame físico sugestivos de insuficiência ventricular esquerda; pontuações mais altas predizem um risco mais alto de mortalidade (1) (ver tabela Classificação de Killip e taxa de mortalidade do IAM). A maioria dos pacientes que morrem de choque cardiogênico tem um infarto ou a combinação de cicatriz e infarto recentes afetando 50% da massa do VE.

Para pacientes que recebem reperfusão (fibrinólise ou ICP), a mortalidade hospitalar é de aproximadamente 5% (2). A mortalidade intra-hospitalar por IMSST geralmente é mais baixa do que por IMCST.

O número de mortes tende a ser mais elevado entre as mulheres e os pacientes com diabetes.

A maioria das mortes entre os pacientes que sobrevivem à hospitalização inicial ocorre nos primeiros 3 a 4 meses. Arritmia ventricular persistente, insuficiência cardíaca, baixa função ventricular e isquemia recorrente indicam risco elevado. Muitas autoridades recomendam ECG de esforço antes da alta hospitalar ou dentro de 6 semanas do IM. O bom desempenho no esforço sem alterações do ECG associa-se a prognóstico favorável, não exigindo, normalmente, avaliação ulterior. O baixo desempenho no esforço acompanha-se de prognóstico desfavorável.

O desempenho cardíaco após a recuperação depende amplamente da proporção de miocárdio operante que sobrevive ao episódio agudo. Lesão aguda contribui para cicatrizes de infartos prévios. Quando a disfunção ventricular esquerda é significativa, a sobrevida a longo prazo é menor.

Tabela
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Referências sobre prognóstico

  1. 1. De Luca G, van 't Hof AW, de Boer MJ, et al. Impaired myocardial perfusion is a major explanation of the poor outcome observed in patients undergoing primary angioplasty for ST-segment-elevation myocardial infarction and signs of heart failure. Circulation 2004;109(8):958-961. doi:10.1161/01.CIR.0000120504.31457.28

  2. 2. Roe MT, Messenger JC, Weintraub WS, et al. Treatments, trends, and outcomes of acute myocardial infarction and percutaneous coronary intervention. J Am Coll Cardiol. 2010;56(4):254-263. doi:10.1016/j.jacc.2010.05.008

Pontos-chave

  • Infarto agudo do miocárdio (IM) é a necrose miocárdica do tecido muscular do coração devido à obstrução aguda de uma artéria coronária.

  • A aterosclerose coronariana está presente em 95% dos pacientes com IM agudo.

  • A localização do infarto (ventrículo direito, ínfero-posterior ou anterior) e a extensão (transmural ou não transmural) afetam os sintomas, o tratamento e o prognóstico.

  • Os sintomas geralmente incluem dor subesternal ou pressão (com ou sem irradiação para pescoço, costas ou braços), dispneia, diaforese, náuseas e/ou vômitos.

  • Mulheres, idosos e pacientes com diabetes são mais propensos a ter sintomas atípicos, e 20% dos IMs agudos são silenciosos (assintomáticos).

  • Diagnosticar com ECGs seriado e biomarcadores cardíacos (troponina preferida).

  • Tratar imediatamente com oxigênio, antiplaquetários, nitratos e anticoagulantes.

  • Para pacientes com IM com elevação do segmento ST (IMCST), tratar com angiografia imediata e intervenção coronariana percutânea (ICP); se a ICP imediata não estiver disponível, administrar fibrinolíticos intravenosos.

  • Para pacientes com supradesnível do segmento ST, realizar angiografia e ICP em 24 a 48 horas se estável; fazer ICP imediata para pacientes instáveis (dor torácica persistente, hipotensão, arritmias instáveis ou biomarcadores acentuadamente elevados).

  • Iniciar ou continuar antiplaquetários, betabloqueadores, inibidores da ECA (ou bloqueadores dos receptores da angiotensina II) e estatinas após o tratamento inicial.

  • Após a alta hospitalar, organizar a avaliação funcional, controlar os fatores de risco (p. ex., hipertensão, diabetes, tabagismo) e promover dieta e exercícios saudáveis.

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