Aterosclerose

PorGeorge Thanassoulis, MD, MSc, McGill University;
Haya Aziz, MD, McGill University
Revisado/Corrigido: abr. 2022
Visão Educação para o paciente

A aterosclerose caracteriza-se por placas intimais irregulares (ateromas) que avançam no lúmem das artérias de médio e grosso calibre. As placas contêm lipídeos, células inflamatórias, células musculares lisas e tecido conjuntivo. Os fatores de risco são dislipidemia, diabetes, tabagismo, história familiar, estilo de vida sedentário, obesidade e hipertensão. Os sintomas surgem quando o crescimento ou a ruptura da placa reduz ou obstrui o fluxo sanguíneo; esses sintomas variam de acordo com a artéria afetada. O diagnóstico é clínico e confirmado por angiografia, ultrassonografia ou outros métodos de imagem. O tratamento abrange modificação de dieta, estilo de vida e fatores de risco, atividade física, fármacos antiplaquetários e antiaterogênicos.

(Ver também Arteriosclerose não ateromatosa.)

Aterosclerose é a forma mais comum da arteriosclerose, que é um termo geral para várias doenças que provocam espessamento e perda da elasticidade da parede arterial. Aterosclerose é também a forma mais grave e clinicamente relevante da arteriosclerose porque causa doença coronariana e doença cerebrovascular. As formas não ateromatosas da arteriosclerose compreendem arteriolosclerose e arteriosclerose de Mönckeberg.

A aterosclerose pode comprometer todas as artérias de médio e grosso calibre, incluindo artérias coronárias, carótidas e cerebrais; aorta e seus ramos; e grandes artérias dos membros. É a causa principal de morbidade e mortalidade nos Estados Unidos e na maioria dos países desenvolvidos. A taxa de mortalidade relacionada com a idade atribuível à aterosclerose tem diminuído, mas em 2019, as doenças cardiovasculares, principalmente ateroscleroses coronariana e cerebrovascular ainda causaram quase 18 milhões de mortes em todo o mundo (> 30% de todas as mortes [1]). Nos Estados Unidos, cerca de 558.000 pessoas morreram de doença cardiovascular em 2019 (2). A prevalência da aterosclerose está aumentando rapidamente em países de baixa e média renda e, à medida que as pessoas vivem mais, a incidência aumentará. Aterosclerose é a principal causa de óbito no mundo todo.

Referências gerais

  1. 1. Global Health Estimates 2020: Deaths by Cause, Age, Sex, by Country and by Region, 2000–2019. Geneva, World Health Organization, 2020.

  2. 2. Virani SS, Alonso A, Aparicio HJ, et al: Heart Disease and Stroke Statistics–2021 Update: A Report From the American Heart Association. Circulation 143(8):e254–e743, 2021. doi: 10.1161/CIR.0000000000000950

Fisiopatologia da aterosclerose

As estrias de gordura são a lesão mais precoce visível na aterosclerose; representam o acúmulo de células espumosas contendo lipídios na camada íntima da artéria.

A placa aterosclerótica é a característica da aterosclerose; é uma evolução da estria gordurosa e tem 3 componentes principais:

  • Lipídios

  • Células musculares lisas e inflamatórias

  • A matriz do tecido conjuntivo que pode conter trombos em vários estágios da organização e depósitos de cálcio

Formação de placas ateroscleróticas

Todos os estágios da aterosclerose — da iniciação e crescimento à complicação da placa (p. ex., infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico) — são considerados uma resposta inflamatória à lesão mediada por citocinas específicas. Considera-se que a lesão endotelial desempenha um papel iniciador ou incitador primário.

O fluxo sanguíneo turbulento ou não laminar (p. ex., em pontos de ramificação da árvore arterial) conduz à disfunção endotelial e inibe a produção endotelial de óxido nítrico, uma molécula vasodilatadora e anti-inflamatória potente. Esse fluxo sanguíneo também estimula as células endoteliais a produzir moléculas de adesão, as quais recrutam e se ligam às células inflamatórias.

Os fatores de risco de aterosclerose (p. ex., dislipidemia, diabetes, tabagismo e hipertensão), estressores oxidativos (p. ex., radicais superóxidos), angiotensina II, infecção e inflamação sistêmicas também inibem a produção de óxido nítrico e estimulam a produção de moléculas de adesão, citocinas pró-inflamatórias, proteínas quimiotáxicas e vasoconstritores; porém, os mecanismos exatos são desconhecidos. O resultado final é a ligação ao endotélio de monócitos e células T, a migração dessas células ao espaço subendotelial e iniciação e perpetuação de resposta inflamatória vascular local.

No subendotélio, os monócitos transformam-se em macrófagos. Os lipídios séricos, particularmente a lipoproteína de baixa densidade (LDL) e a lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL), também se ligam às células endoteliais e são oxidados no subendotélio. A captação de lipídios oxidados e a transformação de macrófagos em células espumosas repletas de lipídios resultam nas lesões ateroscleróticas iniciais típicas, denominadas estrias gordurosas. As membranas de eritrócitos degradados que resultam da ruptura de vasa vasorum e da hemorragia dentro da placa podem ser uma fonte adicional de lipídios dentro das placas.

Os macrófagos elaboram citocinas pró-inflamatórias que acarretam a migração de células musculares lisas da média e que, subsequentemente, atraem e estimulam o crescimento de macrófagos. Vários fatores promovem a replicação de células musculares lisas e o aumento da produção de matriz extracelular densa. O resultado é uma placa fibrosa subendotelial com capa fibrosa, composta por células musculares lisas da íntima, circundadas por tecido conjuntivo e lipídios intra e extracelulares. Um processo semelhante à formação óssea provoca calcificação dentro da placa.

Sugere-se uma ligação entre infecção e aterosclerose para explicar as associações sorológicas entre infecções (p. ex., Chlamydia pneumoniae, citomegalovírus) e doença coronariana. Outros mecanismos prováveis compreendem efeitos indiretos de inflamação crônica na corrente sanguínea, anticorpos de reação cruzada e efeitos inflamatórios de patógenos infecciosos na parede arterial. Entretanto, evidências a favor desse elo são conflitantes, e a infecção provavelmente desempenha um papel menor na aterosclerose.

Estabilidade e ruptura da placa

As placas ateroscleróticas podem ser estáveis ou instáveis.

As placas estáveis regridem, permanecem estáticas ou crescem lentamente ao longo de décadas até que provoquem estenose ou oclusão.

As placas instáveis são vulneráveis à erosão, fissura ou ruptura espontâneas, acarretando trombose, oclusão e infarto agudo muito antes de provocarem estenose hemodinamicamente significativa. A maioria dos eventos clínicos resulta de placas instáveis, que muitas vezes não são hemodinamicamente significativas na angiografia; portanto, a estabilização das placas pode ser uma maneira de reduzir a morbidade e a mortalidade.

A rigidez da capa fibrosa e sua resistência à ruptura dependem do equilíbrio relativo de deposição e degradação de colágeno. A ruptura da placa envolve a secreção de metaloproteinases, catepsinas e colagenases por macrófagos ativados na placa. Essas enzimas digerem a capa fibrosa, especialmente nos membros, causando adelgaçamento da capa e, finalmente, a ruptura. As células T da placa contribuem com a secreção de citocinas. As citocinas inibem síntese e deposição de colágeno pelas células musculares lisas, o que normalmente reforça a placa.

Depois que a placa se rompe, o teor da placa é exposto ao sangue circulante, desencadeando trombose; macrófagos também estimulam trombose porque contêm fator tecidual, que promove a geração de trombina in vivo. Pode ocorrer uma das 5 evoluções:

  • O trombo resultante pode organizar-se e ser incorporado dentro da placa, modificando seu formato e deflagrando o crescimento rápido.

  • O trombo pode ocluir rapidamente o lúmen vascular e precipitar um evento isquêmico agudo.

  • O trombo pode provocar embolia.

  • A placa pode ser preenchida por sangue, acarretando expansão e oclusão imediata da artéria.

  • Os conteúdos da placa (em vez de trombos) podem provocar embolia, ocluindo o vaso a jusante.

A estabilidade da placa depende de múltiplos fatores, envolvendo composição (proporção relativa de lipídios, células inflamatórias, células musculares lisas, tecido conjuntivo e trombo), estresse de parede (fadiga da capa), tamanho e localização do núcleo e configuração da placa em relação ao fluxo sanguíneo. Por contribuir para o crescimento rápido e para a deposição de lipídios, a hemorragia dentro da placa pode desempenhar um papel importante na transformação de placas estáveis em instáveis.

Em geral, as placas instáveis da artéria coronária têm alto conteúdo de macrófagos, um núcleo lipídico espesso e uma capa fibrosa fina; elas estreitam o lúmen do vasos para < 50% e tendem a se romper de forma imprevisível. As placas instáveis das artérias carótidas têm a mesma composição, mas classicamente acarretam problemas por estenose e oclusão graves ou deposição de trombos, que se embolizam em vez de romper. Placas de baixo risco têm uma capa mais espessa e contêm menos lipídios; elas freqüentemente estreitam o lúmen do vaso em > 50% e podem produzir angina estável previsível induzida por exercício.

As consequências clínicas da ruptura da placa dependem não apenas da localização anatômica da placa, mas também do equilíbrio relativo da atividade pró-coagulante e anticoagulante do sangue e da vulnerabilidade do miocárdio a arritmias.

Fatores de risco de aterosclerose

Existem vários fatores de risco de aterosclerose (1 — ver tabela Fatores de risco de aterosclerose). Certos fatores tendem a se agrupar como uma síndrome metabólica. Essa síndrome se caracteriza por obesidade abdominal, dislipidemia aterogênica, hipertensão, resistência à insulina e estados pró-trombótico e pró-inflamatório em pacientes sedentários. A resistência à insulina não é sinônimo de síndrome metabólica, mas pode ser a chave de sua etiologia.

Tabela
Tabela

Dislipidemia (elevação do colesterol total, de LDL ou nível baixo de HDL), hipertensão e diabetes promovem a aterosclerose por ampliação ou intensificação da disfunção endotelial e vias inflamatórias no endotélio vascular.

Na dislipidemia ocorre aumento de captação e oxidação subendoteliais de LDL e, por sua vez, os lipídios oxidados estimulam a produção de moléculas de adesão e citocinas inflamatórias, além da possibilidade de serem antigênicos, incitando a resposta imunomediada por células T e a inflamação na parede arterial. Embora se acreditasse anteriormente que a HDL protegesse contra a aterosclerose por meio do transporte reverso de colesterol e pelo transporte de enzimas antioxidantes, que podem degradar e neutralizar os lipídios oxidados, evidências provenientes de ensaios randomizados e da genética sugerem um papel muito menos importante para a HDL na aterogênese. O papel da hipertrigliceridemia na aterogênese é complexo, apesar de poder ter um pequeno efeito independente (2). O principal determinante do risco de doença cardiovascular aterogênica é a concentração de lipoproteínas aterogênicas, o que é mais bem refletido pela concentração de apolipoproteína B (apoB) (ou pela concentração de colesterol não HDL, se a apoB não estiver disponível).

A hipertensão pode acarretar inflamação vascular via mecanismos mediados por angiotensina II. A angiotensina II estimula células endoteliais, células musculares lisas vasculares e macrófagos a produzir mediadores pró-aterogênicos, incluindo citocinas pró-inflamatórias, ânions superóxidos, fatores pró-trombóticos, fatores de crescimento e receptores de LDL oxidados semelhantes à lecitina.

O diabetes conduz à formação de produtos finais de glicação avançada, o que aumenta a produção de citocinas pró-inflamatórias pelas células endoteliais. O estresse oxidativo e os radicais reativos de oxigênio, gerados por diabetes, lesam diretamente o endotélio e promovem a aterogênese.

Doença renal crônica promove o desenvolvimento da aterosclerose por meio de várias vias, incluindo a piora da hipertensão e da resistência à insulina, diminuição dos níveis de apolipoproteína A-I e aumento de lipoproteína (a), homocisteína, fibrinogênio e níveis de proteína C reativa.

Os estados trombogênicos (ver Visão geral das doenças por trombose) aumentam a probabilidade de aterotrombose.

O cigarro contém nicotina e outros produtos químicos que são tóxicos ao endotélio vascular. O tabagismo, incluindo o tabagismo passivo, aumenta a reatividade plaquetária (possivelmente promovendo trombose plaquetária), níveis plasmáticos de fibrinogênio e hematócrito (aumentando a viscosidade sanguínea). O tabagismo aumenta a LDL e diminui a HDL, além de promover vasoconstrição, que é especialmente prejudicial às artérias já obstruídas por aterosclerose. HDL aumenta rapidamente 1 mês após a cessação do tabagismo.

Lipoproteína (a) [Lp(a)] é pró-aterogênica e é um fator de risco independente para doença cardiovascular, como infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico e estenose da valva aórtica (3, 4). Tem uma estrutura semelhante à LDL, mas também possui um componente hidrofílico da apolipoproteína (a) que é covalentemente ligado a uma apolipoproteína B100 hidrofóbica (5). Níveis de Lp(a) são geneticamente determinados e permanecem razoavelmente estáveis ao longo da vida. Consideram-se os níveis de Lp(a) acima de 50 mg/dL patogênicos.

Apolipoproteína (B) (apoB) é uma partícula com duas isoformas: apoB-100, que é sintetizada no fígado, e apoB-46, que é sintetizada no intestino. ApoB-100 é capaz de se ligar ao receptor de LDL e é responsável pelo transporte de colesterol. Também é responsável pelo transporte de fosfolipídios oxidados e tem propriedades pró-inflamatórias. Presume-se que a partícula de apoB dentro da parede arterial seja o evento inicial para o desenvolvimento de lesões ateroscleróticas.

O nível elevado de LDL densa e pequena, característico de diabetes, é altamente aterogênico. Os mecanismos podem incluir aumento da suscetibilidade à oxidação e ligação inespecífica ao endotélio.

O nível elevado de proteína C reativa não prediz confiavelmente a extensão da aterosclerose, mas pode predizer a probabilidade de eventos isquêmicos. Na ausência de outras doenças inflamatórias, níveis elevados podem indicar aumento do risco de ruptura da placa aterosclerótica, ulceração ou trombose em curso ou maior atividade de linfócitos e macrófagos. A proteína C reativa por si só não parece desempenhar um papel direto na aterogênese.

Transplante de coração costuma ser seguido de aterosclerose coronariana acelerada, que provavelmente está relacionada com lesão endotelial imunologicamente mediada. A aterosclerose coronária acelerada também é observada após radioterapia torácica e provavelmente é resultado de lesão endotelial induzida por radiação.

C. pneumoniae ou outras infecções (p. ex., viral, por Helicobacter pylori) pode provocar disfunção endotelial por meio de infecção direta, exposição à endotoxina ou estimulação de inflamação sistêmica ou subendotelial.

Muitas variantes genéticascomuns e raras (p. ex., próximo do lócus 9p21, genes LPA e LDLR) foram fortemente associadas à aterosclerose e a eventos cardiovasculares. Embora cada variante tenha um efeito pequeno individualmente, os classificações de risco genético que somam o número total de variantes de risco mostraram estar fortemente associados à aterosclerose mais avançada, bem como eventos cardiovasculares primários e recorrentes

Pacientes com hiper-homocisteinemia (p. ex., devido à deficiência de folato ou defeito metabólico genético) têm maior risco de aterosclerose. No entanto, por causa dos resultados de ensaios randomizados das terapias de redução de homocisteína que não mostram uma diminuição na doença aterosclerótica, bem como evidências de ensaios de randomização mendeliana, não se acredita mais que a própria hiper-homocisteinemia cause aterosclerose. A razão para a associação entre níveis elevados de homocisteína e aterosclerose não está clara.

Doença vascular documentada

A presença de doença aterosclerótica em um território vascular aumenta a probabilidade de doença em outros territórios vasculares. Pacientes com doença vascular aterosclerótica não coronariana têm taxas de evento cardíaco comparáveis àquelas dos pacientes com doença coronariana conhecida, e são considerados como tendo risco de doença coronariana equivalente e devem ser tratados agressivamente.

Referências sobre fatores de risco

  1. 1. Yusuf S, Hawken S, Ounpuu S, et al: Effect of potentially modifiable risk factors associated with myocardial infarction in 52 countries (the INTERHEART study): case-control study. Lancet 364: 937–952, 2004.

  2. 2. White J, Swedlow DI, Preiss D, et al: Association of lipid fractions with risks for coronary artery disease and diabetes. JAMA Cardiol 1: 692–699, 2016.

  3. 3. Emerging risk factors collaboration, Eroquo S, Kaptoge S, Perry PL, et al: Lipoprotein(a) concentration and the risk of coronary heart disease, stroke, and nonvascular mortality. JAMA 302: 412–423, 2009.

  4. 4. Thanassoulis, G, Campbell CY, Owens DS, et al for the CHARGE Extracoronary Calcium Working Group: Genetic associations with valvular calcification and aortic stenosis. N Engl J Med 368: 503–512, 2013.

  5. 5. Nordestgaard BG, Chapman MJ, Ray K, et al and the European Atherosclerosis Society Consensus Panel: Lipoprotein(a) as a cardiovascular risk factor: current status. Eur Heart J 31: 2844–2853, 2010.

Sinais e sintomas da aterosclerose

Inicialmente, a aterosclerose é assintomática por décadas. Os sinais e sintomas desenvolvem-se quando as lesões impedem o fluxo sanguíneo. Pode haver desenvolvimento de sintomas isquêmicos transitórios (p. ex., angina estável por esforço, episódios isquêmicos transitórios e claudicação intermitente) quando as placas estáveis crescem e reduzem o lúmen arterial em > 70%. Vasoconstrição pode alterar uma lesão que não limita o fluxo sanguíneo para uma estenose grave ou completa.

Podem surgir sintomas de angina instável ou infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico isquêmico ou dor em repouso nos membros inferiores pode se desenvolver quando placas instáveis se rompem e causam oclusão aguda de artéria principal, com superposição de trombose ou embolia. A aterosclerose também pode causar morte súbita, sem angina de peito estável ou instável pregressa.

O envolvimento aterosclerótico da parede arterial pode acarretar aneurismas e dissecção arterial, que podem se manifestar por dor, massa pulsátil, ausência de pulsos ou morte súbita.

Diagnóstico da aterosclerose

O diagnóstico da aterosclerose depende da existência ou ausência de sintomas.

Pacientes sintomáticos

Avaliam-se os pacientes com sinais e sintomas de isquemia para determinar a magnitude e a localização da oclusão vascular, com vários exames invasivos e não invasivos, dependendo do órgão comprometido (ver em outras seções deste Manual). Esses pacientes também devem ser avaliados para a determinação da existência de fatores de risco de aterosclerose por

  • História e exame físico

  • Perfil lipídico de jejum

  • Níveis de hemoglobina A1C

Os pacientes com doença documentada em um local (p. ex., artérias periféricas) devem ser submetidos à investigação clínica para identificação dessa doença em outros locais (p. ex., artérias coronárias e carótidas).

Os exames de imagem não invasivos que podem avaliar a morfologia e as características da placa são

  • Ultrassonografia vascular tridimensional, que pode ser utilizada para avaliar placas na artéria carótida e outras artérias

  • Angiografia por tomografia computadorizada (TC), utilizada clinicamente para identificar lesões significativas nas artérias coronárias

  • Angiografia por ressonância magnética (RM), que às vezes é utilizada para visualizar grandes artérias (p. ex., aorta)

Exames invasivos por cateterismo também são utilizados. Esses incluem

  • Ultrassonografia intravascular, que utiliza um transdutor de ultrassom na ponta de um catéter para gerar imagens da luz e da parede da artéria

  • Angioscopia, que utiliza catéteres especiais de fibra óptica que podem visualizar diretamente a superfície arterial

  • Termografia das placas, que é utilizada para detectar o aumento da temperatura nas placas com processo inflamatório em atividade

  • Tomografia de coerência óptica, que utiliza laser com luz infravermelha para geração de imagens

  • Elastografia, utilizada para identificar placas moles ricas em lipídios

A imunocintilografia é uma alternativa não invasiva que utiliza traçadores radioativos para localizar placas vulneráveis. Exame de imagem do tipo positron emission tomography (PET) da vasculatura é outra abordagem emergente para avaliar placa vulnerável.

Como nem todas as placas ateroscleróticas têm risco semelhante, investigam-se várias tecnologias para testes de imagem (p. ex., positron emission tomography, PET) como uma forma de identificar placas especialmente vulneráveis à ruptura; mas ainda não se utilizam essas técnicas na prática clínica.

Além de lipidograma, glicemia plasmática e hemoglobina A1C de jejum, alguns médicos dosam os marcadores séricos de inflamação. Níveis de proteína C reativa de alta sensibilidade ≥ 3,1 mg/L (≥ 29,5 nmol/L) são altamente preditivos de eventos cardiovasculares.

Pacientes assintomáticos (triagem)

Em paciente com fatores de risco para aterosclerose, mas nenhum sinal ou sintoma de isquemia, o papel dos testes adicionais para além do perfil lipídico não está claro. Embora exames de imagem como ultrassonografia carotídea para medir a espessura das camadas íntima e média e outros estudos que podem detectar placa aterosclerótica estejam sob investigação, eles não melhoram de maneira confiável a previsão de eventos isquêmicos em relação à avaliação dos fatores de risco ou ferramentas de previsão consagradas e não são recomendados. Uma exceção é imagem por TC para detectar calcificação das artérias coronárias (isto é, obter uma classificação de cálcio), para a qual há evidências mais robustas de reclassificação do risco; pode ser útil para refinar as estimativas de risco e para decidir sobre o tratamento com estatina para determinados pacientes (p. ex., pacientes com risco intermediário e/ou história familiar de doença cardiovascular precoce).

A maioria das diretrizes recomenda triagem pelo perfil lipídico em pacientes com qualquer uma das seguintes características:

  • Homens ≥ 40 anos

  • Mulheres ≥ 40 anos e mulheres na pós-menopausa

  • História familiar de hipercolesterolemia familiar ou doença cardiovascular precoce (isto é, idade de início < 55 anos para parente de 1º grau do sexo masculino ou < 65 anos para parente de 1º grau do sexo feminino)

  • Diabetes tipo 2

  • Hipertensão

  • Síndrome metabólica

  • Doença renal crônica [taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) ≤ 60 mL/minuto/1,73 m2 ou razão albumina/creatinina (RAC) ≥ 3 mg/mmol]

  • Tabagismo atual

  • Doenças inflamatórias crônicas

  • Infecção pelo HIV

  • História distúrbios hipertensivos da gestação (pré-eclâmpsia e eclâmpsia)

Atualmente, a American Heart Association (AHA) recomenda utilizar equações de avaliação de risco baseado em de dados de coorte (ver Downloadable AHA Risk Calculator) para estimar o risco em 10 anos de doença cardiovascular aterosclerótica. Essa calculadora substituiu as ferramentas prévias de cálculo de risco (p. ex., classificação de Framingham). A nova calculadora de risco é baseada em sexo, idade, raça, colesterol total e HDL, pressão arterial sistólica (e se a pressão arterial está sendo tratada), diabetes e tabagismo (1). A diretriz da European Cardiovascular Society (ESC) e da European Atherosclerosis Society (EAS) de 2016 sugere a utilização da Estimativa de Risco Coronariano Sistêmico (SCORE), que calcula o risco com base em idade, sexo, tabagismo, pressão arterial sistólica e colesterol total, para estimar o risco em 10 anos do primeiro evento aterosclerótico fatal (2). Para pacientes considerados de risco intermediário, sugeriu-se a medição de lipoproteína (a) para ajudar a refinar a classificação (3, 4).

Albuminúria urinária (> 30 mg de albumina/24 horas) é um marcador de doença renal e de sua progressão, bem como de grande valor preditivo de morbidade e mortalidade cardiovascular e não cardiovascular; porém, não está estabelecida a relação direta entre albuminúria e aterosclerose.

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. Arnett DK, Blumenthal RS, Albert MA, et al: 2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease: Executive Summary: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol 74:1376–1414, 2019.

  2. 2. Catapano AL, Graham I, De Backe G, et al: 2016 ESC/EAS guidelines for the management of dyslipidaemias: The task force for the management of dyslipidaemias of the European Society of Cardiology (ESC) and European Atherosclerosis Society (EAS) developed with the special contribution of the European Association for Cardiovascular Prevention and Rehabilitation (EACPR). Eur Heart J 37: 2999–3058, 2016. doi:10.1093/eurheartj/ehw272

  3. 3. Pearson GJ, Thanassoulis G, Anderson TJ, et al: 2021 Canadian Cardiovascular Society Guidelines for the Management of Dyslipidemia for the Prevention of Cardiovascular Disease in Adults. Can J Cardiol 37:1129–1150, 2021.

  4. 4. Willeit P, Kiechl S, Kronenberg F, et al: Discrimination and net reclassification of cardiovascular risk with lipoprotein(a): prospective 15-year outcomes in the Bruneck Study. J Am Coll Cardiol 64: 851–860, 2014. doi: 10.1016/j.jacc.2014.03.061

Tratamento da aterosclerose

  • Mudanças no estilo de vida (dieta, interrupção do tabagismo, atividade física)

  • Tratamento medicamentoso de fatores de risco diagnosticados

  • Antiplaquetários

  • Estatinas, possivelmente inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA), betabloqueadores

O tratamento envolve a modificação agressiva de fatores de risco de progressão lenta e indução de regressão de placas existentes. Não mais se recomenda a redução do colesterol LDL abaixo de certo alvo, e atualmente a abordagem "quanto mais baixo, melhor" é a preferida.

As modificações do estilo de vida envolvem dieta, interrupção do tabagismo e atividade física regular. Com frequência, é necessária a utilização de fármacos para dislipidemia, hipertensão e diabetes. Tais fármacos e as modificações do estilo de vida melhoram direta ou indiretamente a função endotelial, reduzem a inflamação e melhoram a evolução clínica. Estatinas podem reduzir a morbidade e mortalidade relacionadas com a aterosclerose mesmo com níveis de colesterol normais ou discretamente aumentados. Antiplaquetários auxiliam todos os pacientes com aterosclerose. Pacientes com doença coronariana podem se beneficiar dos inibidores da ECA e betabloqueadores.

Dieta

Várias mudanças são benéficas:

  • Menos gordura saturada

  • Excluir gordura trans

  • Menos carboidratos refinados

  • Mais frutas e verduras

  • Mais fibras

  • Ingestão moderada (se for utilizar) de álcool

Diminuições substanciais na gordura saturada e carboidratos refinados e processados e aumento de carboidratos com fibras (p. ex., frutas, legumes) são recomendados. Essas modificações dietéticas constituem pré-requisito para o controle de lipídios e redução do peso e são essenciais para todos os pacientes. Deve-se limitar a ingestão de calorias para a manutenção do peso dentro de limites normais.

Pequenas reduções na ingestão de gordura não parecem diminuir ou estabilizar a aterosclerose. Alterações efetivas requerem a limitação da ingestão de gordura para 20 g por dia, consistindo em 6 a 10 g de gordura poli-insaturada, com ácidos graxos ômega-6 (ácido linoleico) e ômega-3 (ácido eicosapentaenoico e ácido docosaexaenoico) em proporções iguais, gordura saturada 2 g e o restante de gordura monoinsaturada. Ácidos graxos trans devem ser evitados, pois são altamente aterogênicos.

O aumento dos carboidratos para compensar a diminuição das gorduras saturadas da dieta eleva os níveis de triglicerídios plasmáticos e reduz os níveis de HDL. Assim, qualquer deficiência calórica deve ser compensada com proteínas e gorduras insaturadas, em vez de carboidratos. A ingestão excessiva de gordura e açúcar refinado deve ser evitada, especialmente em pessoas com risco de diabetes, embora a ingestão de açúcar não esteja diretamente relacionada ao risco cardiovascular. Em contrapartida, deve-se incentivar o consumo de carboidratos complexos (p. ex., verduras e grãos integrais).

Frutas e verduras (5 porções diárias) parecem diminuir o risco de aterosclerose coronariana; porém, não está esclarecido se esse efeito é decorrente de substâncias químicas vegetais ou da diminuição proporcional da ingestão de gordura saturada e do aumento da ingestão de fibras e vitaminas. Substâncias fitoquímicas chamadas flavonoides (existentes em uvas vermelhas e roxas, vinho tinto, chás pretos e cervejas escuras) parecem ser especialmente protetoras; as concentrações elevadas em vinhos tintos podem ajudar a explicar por que a incidência de aterosclerose coronariana na França é relativamente baixa, embora os franceses fumem mais e consumam mais gordura do que os americanos. No entanto, não existem dados clínicos que indiquem que a ingestão de alimentos com teor elevado de flavonoides ou a utilização de suplementos em vez de alimentos sejam capazes de prevenir a aterosclerose.

O aumento da ingestão de fibras diminui o colesterol total e pode ter efeito benéfico nos níveis de glicose e insulina. Recomenda-se a ingestão diária de pelo menos 5 a 10 g de fibras solúveis (p. ex., farelo de cereais, produtos de soja e psílio), uma vez que essa quantidade diminui a LDL em aproximadamente 5%. A fibra insolúvel (p. ex., celulose e lignina) parece não afetar o colesterol, mas pode conferir benefícios salutares adicionais (p. ex., redução do risco de câncer de colo, possivelmente pela estimulação do trânsito intestinal ou pela redução do tempo de contato de carcinógenos dietéticos). Entretanto, o excesso de fibras interfere na absorção de certos minerais e vitaminas. Em geral, os alimentos com altos teores de substâncias químicas vegetais e vitaminas também são ricos em fibras.

O álcool aumenta a HDL e tem propriedades antitrombóticas, antioxidantes e anti-inflamatórias pouco definidas. Esses efeitos parecem ser os mesmos para vinho, cerveja e bebidas destiladas, e ocorrem em níveis moderados de consumo; cerca de 30 mL de álcool (30 mL em aproximadamente 2 doses médias de bebidas alcoólicas típicas) 5 a 6 vezes por semana protegem contra aterosclerose. Entretanto, em doses mais elevadas, o álcool pode acarretar problemas de saúde significativos. Assim, a relação entre álcool e taxa total de mortalidade tem configuração em forma de J; a taxa de mortalidade é mais baixa para homens que consomem < 14 drinques/semana e para mulheres que consomem < 9 drinques/semana. Pessoas que ingerem quantidades maiores de álcool devem reduzir o consumo. Mas os médicos não costumam recomendar que abstêmios comecem a consumir álcool com base em qualquer efeito protetor aparente.

Existem poucas evidências de que a suplementação dietética com vitaminas, substâncias químicas vegetais e elementos minerais reduzam o risco de aterosclerose. A única exceção é suplementos de óleo de peixe. Apesar de fármacos e dietas alternativas estarem se tornando mais populares, e alguns podem até ter efeito discreto na pressão arterial e colesterol, não há provas de que estes tratamentos são seguros ou efetivos e estes podem, inclusive, ter interação negativa com fármacos de eficácia já comprovada. Os níveis da coenzima Q10, que é necessária para o funcionamento básico das células, tendem a aumentar com a idade e podem ser baixos em pacientes com certas doenças cardíacas e outras doenças crônicas; portanto, a suplementação da coenzima Q10 é utilizada ou recomendada, mas seu benefício terapêutico continua controverso.

Atividade física

Atividade física regular (p. ex., 30 a 45 minutos de caminhada, corrida, natação ou ciclismo 3 a 5 vezes por semana) reduz a incidência de alguns fatores de risco (hipertensão, dislipidemia e diabetes), doença coronariana (p. ex., infarto do miocárdio) e óbito atribuível à aterosclerose em pacientes com ou sem eventos isquêmicos anteriores. Não está esclarecido se a associação é casual ou simplesmente indica que pessoas mais saudáveis têm maior probabilidade de realizar esforços regularmente.

Também não estão definidos intensidade, frequência e tipo de esforço mais adequados, mas a maioria das evidências sugere uma relação inversa linear entre atividade física aeróbica e risco. A caminhada regular aumenta a distância que os portadores de doença vascular periférica conseguem andar sem dor.

Um programa de exercícios que envolva atividade aeróbica tem papel definido na prevenção da aterosclerose e no favorecimento da perda ponderal. Antes de ingressar em um novo programa de esforço, idosos e indivíduos com fatores de risco de aterosclerose ou portadores de eventos isquêmicos recentes devem ser avaliados por um médico. A avaliação é feita por meio de anamnese, exame físico e avaliação do controle de fatores de risco.

Antiplaquetários

Os fármacos antiplaquetários orais são essenciais porque a maioria das complicações resulta de fissura ou ruptura da placa, ocasionando ativação plaquetária e trombose. As seguintes fármacos são utilizados:

  • Ácido acetilsalicílico

  • Fármacos tienopiridínicos como clopidogrel, prasugrel e ticagrelor

O ácido acetilsalicílico é o mais utilizado, mas, apesar de seus benefícios já comprovados, permanece subutilizado. Indicado para a prevenção secundária e pode se considerado para prevenção primária da aterosclerose coronariana para os pacientes de alto risco (p. ex., pacientes com diabetes com ou sem aterosclerose, pacientes com 20% de risco de eventos cardíacos em 10 anos entre os quais o risco de sangramento não é proibitivo e pacientes com risco intermediário de 10% a 20% de eventos cardíacos em 10 anos e baixo risco de sangramento). Evidências recentes sugerem que o benefício real do ácido acetilsalicílico na prevenção primária é questionável, especialmente entre as pessoas de baixo risco, e que é necessária uma escolha criteriosa dos pacientes de acordo com as preferências do paciente e após considerar os potenciais riscos e benefícios do ácido acetilsalicílico para cada indivíduo (isto é, potencial de dano nos pacientes > 70 anos ou nos pacientes com maior risco de sangramento).

A dose e a duração ideais são desconhecidas, mas comumente utiliza-se 81 a 325 mg de ácido acetilsalicílico via oral uma vez ao dia indefinidamente para prevenção primária e secundária. No entanto, 81 mg são preferíveis porque essa dose pode minimizar o risco de sangramento, particularmente quando ácido acetilsalicílico é utilizada em combinação com outros fármacos antitrombóticos. Em cerca de 10 a 20% de pacientes que tomam ácido acetilsalicílico para prevenção secundária, há recorrência de eventos isquêmicos. A razão pode ser a resistência ao ácido acetilsalicílico; estudam-se testes que podem ser utilizados na prática clínica para detectar a falta de supressão do tromboxano (indicada por 11-desidrotromboxano B2 urinário elevado).

Algumas evidências sugerem que o ibuprofeno pode interferir no efeito antitrombótico da ácido acetilsalicílico, assim outros AINEs são recomendados para pacientes tomando ácido acetilsalicílico para prevenção. Mas todos os AINEs, alguns mais do que outros, como inibidores seletivos de ciclo-oxigenase 2 (COX-2) parecem aumentar os riscos cardiovasculares.

Substitui-se o ácido acetilsalicílico por clopidogrel (em geral, 75 mg por dia por via oral uma vez ao dia) quando há recorrência de eventos isquêmicos em pacientes que tomam ácido acetilsalicílico e em pacientes intolerantes a ele. Clopidogrel em combinação com ácido acetilsalicílico é eficaz para tratar infarto do miocárdio agudo com ou sem supradesnível do segmento ST; essa combinação também é prescrita por 12 meses após intervenção percutânea (ICP) para reduzir o risco de eventos isquêmicos recorrentes. Também ocorre resistência ao clopidogrel. Prasugrel e ticagrelor são fármacos mais recentes e mais eficazes do que o clopidogrel para a prevenção de doença coronariana em grupos de pacientes selecionados.

A ticlopidina não é mais utilizada amplamente, pois provoca neutropenia grave em 1% dos usuários e tem efeitos colaterais gastrointestinais graves.

Estatinas

Estatinas reduzem principalmente o colesterol LDL. Outros potenciais efeitos benéficos incluem maior produção de óxido nítrico endotelial, estabilização das placas ateroscleróticas, redução do acúmulo de lípides na parede arterial e regressão das placas. Recomenda-se estatinas como terapia preventiva em 4 grupos de pacientes (1), constituídos por aqueles com qualquer um dos seguintes:

  • Doença cardiovascular aterosclerótica clínica

  • Colesterol LDL ≥ 190 mg/dL (≥ 4,92 mmol/L)

  • Idade de 40 a 75 anos, com diabetes e LDL de 70 a 189 mg/dL (1,81 a 4,90 mmol/L)

  • 40 a 75 anos de idade, com colesterol LDL 70 a 189 mg/dL e risco estimado em 10 anos de doença cardiovascular arteriosclerótica ≥ 7,5%

Há também suporte para o uso de estatinas em pacientes com outros fatores de risco, incluindo história familiar de doença cardiovascular arteriosclerótica precoce (isto é, idade de início < 55 em parentes de 1º grau do sexo masculino ou < 65 em parentes de 1º grau do sexo feminino), proteína C-reativa de alta sensibilidade ≥ 2 mg/L (19,05 nmol/L), classificação de cálcio na artéria coronária ≥ 300 unidades de Agatston (ou ≥ 75º percentil para a demografia do paciente), índice de pressão arterial tornozelo-braquial < 0,9, ou doença renal crônica não tratada com diálise ou transplante de rim.

O tratamento com estatina é classificado como sendo de intensidade baixa, moderada ou alta, sendo administrado de acordo com a faixa etária e grupo terapêutico (ver tabela Estatinas para a prevenção de DCVA). Não mais se recomendam valores alvos específicos para colesterol LDL a fim de orientar a terapia hipolipemiante. Em vez disso, a resposta à terapia é determinada pelo fato de se os níveis de colesterol LDL diminuem como esperado com base na intensidade de terapia (isto é, pacientes que recebem terapia de alta intensidade devem ter uma diminuição ≥ 50% no colesterol LDL).

Outros fármacos

Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA), bloqueadores do receptor da angiotensina II (BRA), ezetimiba, inibidores da pró-proteína convertase subtilisina/kexina tipo 9 (PCSK9) e tiazolidinedion têm propriedades anti-inflamatórias que reduzem o risco de aterosclerose independentemente dos seus efeitos na pressão arterial, nos níveis de lipídios e na glicemia. O inibidor do fator Xa, rivaroxabana, também diminui o risco de eventos cardiovasculares, embora o mecanismo desse efeito seja desconhecido.

Os inibidores da ECA e os bloqueadores do receptor da angiotensina II inibem os efeitos da angiotensina na disfunção endotelial e no processo inflamatório.

Ezetimiba também reduz o colesterol LDL bloqueando a captação de colesterol do intestino delgado por meio da inibição da proteína 1 semelhante a Niemann-Pick C1. A ezetimiba acrescentada ao tratamento convencional com estatinas, demonstrou reduzir os eventos cardiovasculares em pacientes com história de eventos cardiovasculares e LDL > 70 mg/dL (1,8 mmol/L).

Os inibidores de PCSK9 anticorpos monoclonais que impedem que a PCSK9 se ligue aos receptores de LDL, levando ao aumento da reciclagem desses receptores para a membrana plasmática e resultando em maior depuração do colesterol LDL no plasma para o fígado. O colesterol LDL é reduzido em 40 a 70%. Ensaios clínicos a longo prazo mostraram redução da aterosclerose e de eventos cardiovasculares. Esses fármacos são mais úteis em pacientes com hipercolesterolemia familiar, pacientes com eventos cardiovasculares prévios cuja LDL não está no nível ideal apesar de tratamento médico máxima com estatinas e pacientes que exigem redução lipídica, mas têm evidência objetiva documentada de intolerância a estatinas.

O inibidor do fator Xa, rivaroxabana, na dose de 2,5 mg por via oral duas vezes ao dia diminui o risco de eventos cardiovasculares (morte de origem cardiovascular, acidente vascular encefálico ou infarto do miocárdio) nos pacientes com doença vascular aterosclerótica estável quando acrescentado a 100 mg por dia de ácido acetilsalicílico. O risco de sangramento importante foi mais alto nos pacientes em uso de rivaroxabana e ácido acetilsalicílico do que nos pacientes em uso de ácido acetilsalicílico isoladamente (2).

Demonstrou-se que o etil icosapente, uma forma altamente purificada do ácido eicosapentaenoico, um dos principais ácidos graxos ômega-3, reduz os eventos cardiovasculares, o que também ocorre com o uso de estatinas, em pacientes com doença cardiovascular prévia e triglicerídeos elevados. O mecanismo parece multifatorial (p. ex., inflamação reduzida, reatividade plaquetária reduzida, efeitos antiaterogênicos diretos).

As tiazolidinedionas podem controlar a expressão de genes pró-inflamatórios, embora estudos sugiram que elas aumentem o risco de eventos coronários.

O ácido fólico, 0,8 mg por via oral duas vezes ao dia era utilizando anteriormente para tratar e prevenir hiper-homocisteinemia; mas não parece reduzir o risco de evento coronariano agudo. As vitaminas B6 e B12 também reduzem os níveis de homocisteína, mas dados atuais não justificam seu uso isolado ou em conjunto com folato.

Macrolídeos e outros antibióticos dados para o tratamento de infecções ocultas e crônicas por C. pneumoniae (e assim suprimem a inflamação e, teoricamente, alteram o curso e as manifestações da aterosclerose) não se mostraram úteis.

Terapias de RNA, uma nova classe de fármacos, bloqueiam a produção das principais proteínas atuando no RNAm, frequentemente nos hepatócitos. Exemplos desses fármacos incluem o inclisiran (bloqueia a PCSK9), o pelacarsen (bloqueia a LPA), olpasiran (bloqueia a LPA) e o volanesorsen (bloqueia a apoC3), que estão sendo atualmente avaliados por ensaios clínicos randomizados de prevenção cardiovascular.

Referências sobre tratamento

  1. 1. Grundy SM, Stone NJ, Bailey AL, et al: 2018 AHA/ACC/AACVPR/AAPA/ABC/ACPM/ADA/AGS/APhA/ASPC/NLA/PCNA Guideline on the Management of Blood Cholesterol: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Circulation 139(25):e1082–e143, 2019.

  2. 2. Eikelboom JW, Connolly SJ, Bosch J, et al: Rivaroxaban with or without aspirin in stable cardiovascular disease. N Engl J Med 377:1319–1330, 2017. doi: 10.1056/NEJMoa1709118

Pontos-chave

  • Os fatores de risco para aterosclerose são dislipidemia, diabetes, hipertensão, obesidade, estilo de vida sedentário, tabagismo, história familiar e fatores psicossociais.

  • Placas instáveis muitas vezes causam < 50% de estenose, mas são mais propensas a romper e causar trombose aguda ou fenômenos embólicos do que as placas mais largas e estáveis.

  • Em pacientes assintomáticos, exames de imagem para detectar aterosclerose provavelmente não ajudam a prever eventos isquêmicos melhor do que a avaliação padrão dos fatores de risco.

  • Parar de fumar, fazer exercícios, consumir uma dieta baixa em gorduras saturadas e carboidratos refinados e rica em fibras e, possivelmente, consumir ácidos graxos ômega-3 e quantidades moderadas de álcool ajudam na prevenção e no tratamento.

  • Fármacos antiplaquetários e, dependendo dos fatores do paciente, estatinas e/ou inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) também são úteis.

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