Neuropatias ópticas hereditárias resultam de defeitos genéticos que causam perda de visão e ocasionalmente anormalidades cardíacas ou neurológicas. Não há tratamento eficaz.
Neuropatias ópticas hereditárias incluem atrofia óptica dominante e neuropatia óptica hereditária de Leber, ambas citopatias mitocondriais (1). Essas doenças tipicamente se manifestam na infância ou adolescência com perda de visão central bilateral simétrica. A lesão do nervo óptico é normalmente permanente e, em alguns casos, progressiva. No momento em que se identifica a atrofia do nervo óptico, um significativo acometimento deste já está instalado.
Atrofia óptica dominante
Atrofia óptica dominante é herdada de modo autossômico dominante. Acredita-se ser a neuropatia óptica hereditária mais comum, com prevalência em 1:10.000 a 1:50.000 (2). Acredita-se ser abiotrofia óptica, uma degeneração prematura do nervo óptico que leva à perda de visão progressiva. O início geralmente ocorre na primeira década de vida, mas pode ser detectado pela primeira vez mais tarde na vida.
Neuropatia óptica hereditária de Leber
Neuropatia óptica hereditária de Leber envolve uma anormalidade mitocondrial do ácido desoxirribonucleico (DNA) que afeta a respiração celular. Embora todo o DNA mitocondrial do corpo seja acometido, a manifestação primária é a perda da visão. A maioria dos casos ocorre em homens (3). O padrão de herança é materno, ou seja, toda a prole de uma mulher que carrega o gene o herdará, mas somente mulheres podem transmiti-lo, pois o zigoto recebe mitocôndrias apenas da mãe.
Referências gerais
1. Kisilevsky E, Freund P, Margolin E: Mitochondrial disorders and the eye. Surv Ophthalmol 65(3):294-311, 2020. doi: 10.1016/j.survophthal.2019.11.001
2. Yu-Wai-Man P, Chinnery PF: Dominant optic atrophy: Novel OPA1 mutations and revised prevalence estimates. Ophthalmology 20(8):1712-1712.e1, 2013. doi: 10.1016/j.ophtha.2013.04.022. Erratum in: Ophthalmology 120(12):2448, 2013.
3. Yu-Wai-Man P, Griffiths PG, Brown DT, et al: The epidemiology of Leber hereditary optic neuropathy in the North East of England. Am J Hum Genet 72(2):333-339, 2003. doi: 10.1086/346066
Sinais e sintomas das neuropatias ópticas hereditárias
Atrofia óptica dominante
A maioria dos pacientes com atrofia óptica dominante não apresenta alterações neurológicas associadas, embora nistagmo e perda auditiva tenham sido relatados. O único sintoma é a perda bilateral e progressiva da visão, geralmente leve até mais tarde na vida. Todo o disco óptico ou, às vezes, somente a região temporal é pálido sem vasos visíveis. Defeito na visão das cores azul e amarelo é frequente.
Neuropatia óptica hereditária de Leber
A perda de visão em pacientes com neuropatia óptica hereditária de Leber normalmente manifesta-se entre os 15 e 35 anos (variando de 1 a 80 anos). A perda visual indolor e central em um olho normalmente atinge o outro semanas ou meses mais tarde. Há relatos de perda visual simultânea. A maioria dos pacientes perde a visão e desenvolve acuidade menor que 20/200. Ao exame oftalmológico podem-se observar microangiopatias teleangiectásicas, edema das fibras nervosas ao redor do disco óptico e ausência de vazamento na angiografia com fluoresceína. Por fim, ocorre atrofia óptica.
Alguns pacientes com neuropatia óptica hereditária de Leber apresentam defeitos de condução cardíaca. Outros pacientes podem apresentar alterações neurológicas leves, como tremores posturais, perda dos reflexos do tornozelo, distonia, espasmos ou uma condição semelhante à esclerose múltipla.
Diagnóstico das neuropatias ópticas hereditárias
Avaliação clínica
Testes de genética molecular
Se houver suspeita clínica do diagnóstico de atrofia óptica dominante ou atrofia óptica hereditária de Leber, testes de genética molecular são apropriados para confirmar muitas mutações responsáveis por ambas as doenças. Entretanto, os resultados podem ser falsos negativos porque podem existir mutações que os testes moleculares ainda não detectam.
Se há suspeita de neuropatia óptica hereditária de Leber, deve-se fazer uma eletrocardiografia (ECG) para diagnosticar defeitos ocultos da condução cardíaca.
Tratamento das neuropatias ópticas hereditárias
Tratamento sintomático
Não há tratamento comprovado para neuropatias ópticas hereditárias. Aparelhos para visão subnormal (p. ex., lupas, dispositivos de impressão grande, relógios falantes) podem ser úteis. O aconselhamento genético é sugerido.
Em pacientes com neuropatia óptica hereditária de Leber, foram testados corticoides, suplementação vitamínica e antioxidantes sem sucesso. Um pequeno estudo mostrou alguns benefícios do uso de análogos das quinonas (ubiquinona e idebenona) nos estágios iniciais (1, 2). Ensaios genéticos para mutações 11778 estão em andamento e mostraram um possível aumento leve na recuperação da visão em ambos os olhos, mesmo após uma injeção intravítrea unilateral (3). Sugestões para evitar agentes que podem estressar a produção energética mitocondrial (p. ex., tabaco, álcool, especialmente em excesso) não provaram ser benéficas, mas são razoáveis. Pacientes com anormalidades cardíacas e neurológicas devem ser encaminhados a um especialista.
Referências sobre o tratamento
1. Peragallo JH, Newman NJ: Is there treatment for Leber hereditary optic neuropathy? Curr Opin Ophthalmol 26(6):450-457, 2015. doi: 10.1097/ICU.0000000000000212
2. Klopstock T, Yu-Wai-Man P, Dimitriadis K, et al: A randomized placebo-controlled trial of idebenone in Leber's hereditary optic neuropathy. Brain 134(Pt 9):2677-2686, 2011. doi: 10.1093/brain/awr170
3. Newman NJ, Yu-Wai-Man P, Carelli V, et al: Intravitreal gene therapy vs. natural history in patients with Leber hereditary optic neuropathy carrying the m.11778G>A ND4 mutation: Systematic review and indirect comparison. Front Neurol 12:662838, 2021. doi: 10.3389/fneur.2021.662838