Várias técnicas estão disponíveis para remoção de corpo estranho da orelha externa. A seleção da técnica depende da forma, composição e localização do corpo estranho no canal.
Irrigação: para pequenos objetos soltos (menos de 2 mm de diâmetro), como pequenos insetos, areia ou sujeira
Catéteres com ponta de sucção: para objetos moles (como argila de moldagem), que se desintegram à palpação ou são redondos, lisos e difíceis de segurar (p. ex., miçangas pequenas)
Instrumentos manuais (p. ex., curetas em alça, ganchos em ângulo reto para cerume): para remoção de uma grande variedade de objetos, incluindo insetos grandes, pontas de algodão, pilhas-botão e miçangas grandes
Se não for possível remover uma pilha-botão da orelha facilmente, deve-se consultar imediatamente um otorrinolaringologista porque pilhas ou ímãs podem ser difíceis de remover e podem causar danos significativos em apenas algumas horas
(Ver também Corpos estranhos na orelha.)
Indicações para remoção de corpo estranho na orelha
Sempre deve-se remover um corpo estranho do meato acústico.
Pode-se tentar a remoção no ambiente ambulatorial ou pronto-socorro. Entretanto, deve-se considerar uma consulta rápida com um otorrinolaringologista se algumas tentativas falharam.
Contraindicações à remoção de corpo estranho na orelha
Contraindicações absolutas
Não se deve tentar irrigação se há perfuração conhecida ou suspeita da membrana timpânica. Os sintomas sugestivos de perfuração incluem vertigem, zumbido, perda auditiva significativa ou sangramento por trás do objeto.
Não se deve tentar irrigação se o objeto é mole ou no caso de semente ou outra substância vegetal que possa inchar à adição de água.
Não se deve tentar irrigação se o objeto é uma pilha ou ímã, porque a água pode acelerar os danos.
Contraindicações relativas (deve-se consultar um otorrinolaringologista)
Infecção ou edema do meato acústico externo ao redor do objeto
Objeto impactado
Complicações da remoção de corpo estranho na orelha
Perfuração da membrana timpânica
Infecção por matéria orgânica retida ou irrigante
Lesão (p. ex., laceração, sangramento, edema) do meato acústico
Raramente, lesão nas orelhas média e interna
Equipamento para remoção de corpo estranho de orelha
Otoscópio portátil
Otoscopia especular: utilizar o maior espéculo que se encaixe no meato acústico
Para irrigação: seringa de 30 a 60 mL preenchida com água estéril aquecida até a temperatura corporal e conectada a um catéter ou tubo de calibre 16 a 19 (como uma cânula borboleta com a agulha removida)
Catéter de sucção de orelha (Baron nº 5 ou nº 7 com orifício de controle da sucção pelo polegar)
Pinça jacaré
Cureta/gancho em ângulo reto ou em alça para remoção de cerume
Para remoção de insetos: solução de lidocaína ou óleo mineral aquecido
Lanterna de testa e lupas, se disponíveis
Considerações adicionais para remoção de corpo estranho da orelha
Documentar qualquer lesão preexistente no meato acústico externo ou possível perfuração da membrana timpânica antes do procedimento de modo que isso não seja atribuído ao procedimento.
Consultar um otorrinolaringologista se o objeto não tiver sido removido após algumas tentativas; se houver lesão no meato acústico externo ou na membrana timpânica, perfuração da membrana timpânica, infecção do meato acústico externo; se o corpo estranho for liso, arredondado e não impactado; se o objeto estiver encravado na parte medial do meato acústico externo ou contra a membrana timpânica; ou no caso de presença de vidro ou outros corpos estranhos pontiagudos, baterias de disco, ímãs ou outros objetos estranhos.
Considerar sedação e analgesia durante o procedimento, sobretudo em crianças, que raramente cooperam totalmente.
Anatomia relevante para remoção de corpo estranho da orelha
A anatomia do meato acústico externo varia dentre os indivíduos e o meato pode ser tortuoso, tornando a remoção de corpos estranhos duros profundos potencialmente traumática.
O meato se estreita na porção média, onde um corpo estranho pode ficar impactado.
Posicionamento para remoção de corpo estranho da orelha
Utiliza-se a posição sentada ou semirreclinada durante a irrigação para que a água possa fluir para fora da orelha. Essa também costuma ser a posição preferida para as técnicas de sucção e remoção manual, de modo que a gravidade não atue contra o esforço de remover o objeto.
A posição em decúbito dorsal é às vezes necessária em crianças e pacientes sedados para possibilitar que um assistente estabilize a cabeça do paciente e evite reflexos de afastamento.
Considerar a possibilidade de imobilizar certas crianças (p. ex., crianças muito pequenas, aquelas com risco de anestesia ou com pilha na orelha) utilizando uma prancha de contenção ou sentando-a no colo de um adulto de confiança com os braços, pernas e cabeça firmemente restritos; o trauma emocional de ser contido geralmente é menos complicado do que aquele decorrente de um procedimento prolongado, além dos riscos da anestesia geral.
Descrição passo a passo da remoção de corpo estranho da orelha
Considerações gerais
Fazer triagem pré-procedimento para avaliação da audição à beira do leito, dependendo da capacidade do paciente de cooperar e dos equipamentos disponíveis.
Para pacientes com desconforto significativo (normalmente causado pela presença de um inseto vivo ou edema por tentativas anteriores de remoção), aplicar um anestésico tópico no canal auditivo, como lidocaína a 4%, ou administrar anestesia local como um bloqueio auricular regional. A lidocaína tópica tem o benefício adicional de matar o inseto, o que pode facilitar a remoção.
Aconselhar o paciente a não mover a cabeça, para minimizar qualquer trauma que possa resultar de movimento súbito enquanto o instrumento está no meato acústico.
Puxar (ou pedir que um assistente o faça) a agulha para cima e para trás (em adultos) ou para baixo e para trás (em crianças), a fim de endireitar o meato.
Visualizar o meato acústico externo e o objeto estranho antes e depois da remoção em todas as técnicas descritas a seguir.
Irrigação
Utilizar irrigação para objetos pequenos soltos, como areia ou sujeira, mas não para objetos que podem inchar quando molhados (p. ex., sementes).
A dor à irrigação é um sinal de laceração do meato acústico ou perfuração da membrana timpânica e deve levar à interrupção imediata do procedimento de irrigação.
Encher a seringa com água na temperatura corporal e anexar o catéter de irrigação.
Segurar uma cuba rim (de êmese) sob a orelha para capturar a água.
Injetar um jato de água na face superior do meato acústico externo atrás do corpo estranho utilizando pressão moderada.
Injetar água suficiente para remover o objeto da orelha; tentar começar com 30 a 60 mL.
Sucção
Começar com sucção para remover pequenos insetos ou objetos moles, arredondados e lisos que não estão impactados.
Otimizar a visualização utilizando lanterna de testa e lupas, se disponíveis.
Com a válvula de controle pelo polegar descoberta, inserir a ponta de sucção sob visualização direta; evitar contato com a pele do meato acústico.
Colocar a ponta do catéter contra a superfície do objeto.
Cobrir a válvula de controle com o polegar para iniciar a sucção pelo catéter.
Retirar lentamente o catéter de sucção para puxar o objeto para fora da orelha.
Técnica manual com instrumentos
Otimizar a visualização utilizando lanterna de testa e lupas, se disponíveis.
Utilizar pinça jacaré para objetos agarráveis como papel, insetos ou algodão.
Utilizar cureta de ângulo reto em gancho ou em alça para objetos mais duros.
Inserir o instrumento na borda do objeto sob visualização direta.
Ao utilizar uma cureta de ângulo reto em gancho ou em alça, deslizar o instrumento atrás do objeto e puxá-lo delicadamente para fora do meato acústico.
A remoção de insetos é mais bem realizada matando-os primeiro, instilando óleo mineral ou lidocaína no meato acústico.
Segurar delicadamente o corpo, a asa ou a perna do inseto com uma pinça jacaré e puxar delicadamente todo o inseto para fora da orelha. O corpo do inseto pode se fragmentar se for utilizada muita pressão na pinça, dificultando a extração.
Pode ser necessário utilizar as técnicas de sucção ou irrigação para remover quaisquer fragmentos que permaneçam após o uso do método manual.
Cuidados posteriores para remoção de corpo estranho da orelha
Se a audição pré-procedimento foi avaliada, repetir o exame para assegurar não haver perda auditiva.
Se há qualquer lesão no meato acústico ou na membrana timpânica, peça ao paciente que mantenha a orelha seca até a reavaliação (são necessárias precauções na orelha por 1 semana no caso de membrana timpânica perfurada); considerar a prescrição de gotas de suspensão de ciprofloxacino/corticoide por 3 a 5 dias.
Para remoção de corpo estranho atraumático, nenhum acompanhamento ou cuidados posteriores especiais são necessários.
Alertas e erros comuns para remoção de corpo estranho da orelha
Se a manipulação de um possível corpo estranho resultar em sangramento, interromper outras tentativas de remoção e consultar imediatamente um otorrinolaringologista. O sangramento pode indicar uma laceração da pele do canal ou que o corpo estranho é na verdade um pólipo na orelha média.
Com cada uma das técnicas, ter cuidado para não empurrar o objeto ainda mais para dentro do meato acústico.
Antes de começar o procedimento, considerar a definição de um limite para a quantidade e/ou duração das tentativas de remoção.
Certificar-se de remover imediatamente pilhas-botão; encaminhar como indicado.
Recomendações e sugestões para remoção de corpo estranho na orelha
Em crianças, deve-se examinar a outra orelha e nariz para excluir corpos estranhos adicionais.
Como a primeira tentativa é a melhor chance de remoção atraumática simples, obter cooperação ideal explicando o procedimento ao paciente e acompanhantes em detalhes, enfatizando que o paciente precisará permanecer muito imóvel durante todo o procedimento, mesmo durante o desconforto esperado.
Para objetos arredondados duros, as técnicas de sucção e remoção com cureta de ângulo reto em gancho funcionam melhor.
Múltiplas tentativas de remoção podem causar rapidamente edema no meato acústico. Planeje a abordagem, recrute um assistente e limite a quantidade de tentativas para minimizar o trauma.