Escabiose

PorJames G. H. Dinulos, MD, Geisel School of Medicine at Dartmouth
Revisado/Corrigido: out. 2023
Visão Educação para o paciente

É uma infestação na pele por ácaro Sarcoptes scabiei. A escabiose causa lesões com intenso prurido, representada por pápulas eritematosas e túneis nos espaços interdigitais, antebraços, genitais e na região da cintura. O diagnóstico baseia-se no exame dos raspados. O tratamento é feito com escabicidas tópicos ou, às vezes, ivermectina oral.

Etiologia da escabiose

A escabiose é causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis, um parasito humano obrigatório que vive em túneis fazendo sulcos na camada córnea. É facilmente transmitida de pessoa a pessoa pelo contato físico; a transmissão por animal e fômites provavelmente também acontece. O risco primário é em condições de aglomerações (como escolas, barracas, abrigos e nas residências); não há uma clara evidência em relação à pouca higiene.

Por motivos não conhecidos, a escabiose crostosa é mais comum em pacientes que estão imunossuprimidos (p. ex., infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, neoplasias hematológicas, corticoterapia prolongada ou uso de outros imunossupressores), pacientes com retardo mental e graves deformidades e finalmente em aborígenes australianos. A infestação ocorre mundialmente (1). Nos climas quentes, desenvolvem-se pequenas pápulas eritematosas com poucos túneis. A gravidade é relacionada ao estado imunitário do paciente, não pela geografia.

Referência sobre etiologia

  1. 1. Romani L, Steer AC, Whitfeld MJ, et al: Prevalence of scabies and impetigo worldwide: a systematic review. Lancet Infect Dis15(8):960-967, 2015. doi: 10.1016/S1473-3099(15)00132-2

Sinais e sintomas da escabiose

O sintoma primário da escabiose é prurido intenso, que classicamente piora à noite, embora o momento não seja específico à escabiose.

Escabiose clássica

Pápulas eritematosas surgem inicialmente nos espaços entre os dedos das mãos, superfícies flexoras do punho, cotovelos, axilas, região da cintura ou na região inferior dos glúteos. As pápulas podem afetar qualquer área do corpo, incluindo mamas e pênis. A face não é acometida em adultos. Os túneis, normalmente nos pulsos, mãos e pés, são patonogmônicos, manifestando-se como finas linhas sinuosas descamativas de diversos milímetros a 1 cm de comprimento. Uma discreta pápula escura — o ácaro — é frequentemente visível em uma das extremidades. Na escabiose clássica, as pessoas geralmente têm apenas 10 a 12 ácaros. Infecção bacteriana secundária ocorre comumente.

Escabiose clássica
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Um exantema pruriginoso pustuloso na membrana entre os quirodáctilos é a principal característica da escabiose clássica.
Imagem cedida por cortesia de the Public Health Image Library of the Centers for Disease Control and Prevention.

Os sinais da escabiose clássica podem ser atípicos. Nos negros e outros com pele escura, a escabiose pode se manifestar como nódulos granulomatosos. Em crianças, as palmas, plantas, face e couro cabeludo estão acometidos, especialmente nas dobras posteriores das orelhas. Em pacientes idosos, escabiose pode causar prurido intenso com achados cutâneos sutis, fazendo com que o diagnóstico seja um desafio. Em pacientes que estão imunossuprimidos, pode haver descamação disseminada não pruriginosa (particularmente nas palmas e nas plantas dos adultos e couro cabeludo nas crianças).

Escabiose infantil
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Na escabiose infantil, pústulas nas plantas dos pés e palmas das mãos são comuns.
© Springer Science+Business Media

Outras formas

A escabiose crostosa (escabiose norueguesa) decorre de resposta imunitária prejudicada do hospedeiro, permitindo a proliferação de até milhões de ácaros; manchas eritematosas escamosas frequentemente envolvem as mãos, pés e o couro cabeludo e podem se disseminar.

Escabiose crostosa (norueguesa)
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Esta foto mostra escamação difusa e placas hiperceratóticas em um paciente com HIV e escabiose crostosa.
© Springer Science+Business Media

A escabiose nodular é mais comum em neonatos e crianças e poder ser decorrente da hipersensibilidade a organismos retidos; nódulos normalmente são eritematosos, 5 a 6 mm, e envolvem a virilha, genitais, axilas e glúteos. Nódulos são reações de hipersensibilidade e podem persistir por meses após a erradicação dos ácaros.

Escabiose nodular
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A escabiose nodular é mostrada nessa foto como múltiplas pápulas vermelho-acastanhadas na axila.
© Springer Science+Business Media

A escabiose bolhosa ocorre mais comumente em crianças. Quando ocorre em idosos, pode simular o penfigoide bolhoso, retardando assim o diagnóstico.

Escabiose do couro cabeludo ocorre em lactentes e pessoas imunossuprimidas e pode mimetizar dermatite, principalmente dermatite atópica ou dermatite seborreica.

A escabiose incógnita parece um eczema generalizado e ocorre em pacientes que usam corticosteroides tópicos.

Diagnóstico da escabiose

  • Avaliação clínica

  • Raspado dos túneis

Suspeita-se do diagnóstico de escabiose pelos achados físicos, especialmente túneis, e prurido desproporcional aos achados físicos e sintomas similares entre contatos domésticos.

A confirmação é encontrar ácaros, óvulos ou pelotas fecais no exame microscópico dos raspados nos túneis; não encontrar ácaros é comum e não exclui escabiose. Esses raspados são obtidos colocando-se glicerol, óleo mineral ou óleo de imersão sobre o túnel ou pápula (para prevenir a dispersão de ácaros e materiais durante a raspagem) e removendo o teto com a borda de uma lâmina de bisturi. O material é então colocado em uma lâmina microscópica e recoberto por uma lamínula; o hidróxido de potássio não deve ser utilizado, pois dissolve as fezes dos ácaros.

Pode-se realizar testes de imagem e ampliação da pele utilizando um instrumento portátil (dermatoscopia) para ajudar a identificar a escabiose.

Tratamento da escabiose

  • Permetrina tópica ou outros escabicidas tópicos

  • Algumas vezes, ivermectina oral

O tratamento indicado é com escabicidas de uso tópico ou oral (1) (ver tabela Opções de tratamento para escabiose). A permetrina é o medicamento de escolha.

Em crianças maiores e adultos, deve-se aplicar permetrina em todo o corpo, do pescoço para baixo, removendo-a com água após 8 a 14 horas. O lindano não é mais recomendado porque pode ser neurotóxico (2). Repetir o tratamento em 7 dias.

Em neonatos e crianças menores, a permetrina é aplicada na cabeça e no pescoço, evitando-se as regiões periorbital e perioral. Atenção especial é recomendada em áreas intertriginosas, unhas das mãos, artelhos e umbigo. O uso de luvas em crianças pode manter permetrina fora da boca.

Para adultos e crianças com 4 anos de idade ou mais, deve-se aplicar suspensão tópica de espinosade a 0,9% à toda a superfície cutânea do pescoço para baixo, incluindo as plantas dos pés e os pés. Em pacientes calvos, deve-se aplicar a suspensão ao couro cabeludo, testa, linha do cabelo e têmporas. Deve-se deixar a suspensão secar por 10 minutos antes de se vestir e então mantê-la na pele por 6 horas antes de tomar banho. O tratamento deve ser repetido em 1 semana (3).

O enxofre precipitado a 6 a 10% em petrolato é uma terapia alternativa tipicamente reservada para lactentes < 2 meses de idade ou gestantes. É aplicado por 24 horas por 3 dias consecutivos, é seguro e eficaz.

A ivermectina é indicada para pacientes que não respondem ao tratamento tópico, não obedecem as orientações locais ou são imunossuprimidos, com sarna norueguesa. Tem sido utilizada, com sucesso, em epidemias em que há contato íntimo, como em casas de repouso.

Contatos íntimos também devem ser tratados simultaneamente e itens pessoais (toalhas, roupas normais e roupas de cama) devem ser lavados em água quente e colocados na secadora quente ou isolados (p. ex., em um saco plástico fechado) por pelo menos 3 dias.

O prurido é tratado com pomadas de corticoides e/ou anti-histamínicos orais (p. ex.; hidroxizina, 25 mg por via oral 4 vezes ao dia). Infecção secundária ocorre quando as lesões são exsudativas ou amarelo-crostosas e tratadas com antibióticos tópicos ou sistêmicos antiestafilocócicos e antiestreptocócicos.

Os sintomas e as lesões demoram até 3 semanas para desaparecer, mesmo com a morte dos ácaros, tornando o tratamento malsucedido em razão da resistência, baixa penetração, terapia aplicada de maneira incompleta, reinfecção ou escabiose nodular difícil de ser reconhecida. O raspado da pele realizado periodicamente diagnostica a escabiose persistente.

Tabela
Tabela

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Al-Dabbagh J, Younis R, Ismail N: The current available diagnostic tools and treatments of scabies and scabies variants: An updated narrative review. Medicine 102(21): p e33805. doi: 10.1097/MD.0000000000033805

  2. 2. Nolan K, Kamrath J, Levitt J: Lindane toxicity: A comprehensive review of the medical literature. Pediatr Dermatol 29(2):141-146, 2012. doi: 10.1111/j.1525-1470.2011.01519.x

  3. 3. Seiler JC, Keech RC, Aker JL, et al: Spinosad at 0.9% in the treatment of scabies: Efficacy results from 2 multicenter, randomized, double-blind, vehicle-controlled studies. Am Acad Dermatol Aug 12:S0190-9622(21)02290-8, 2021. doi: 10.1016/j.jaad.2021.07.074

Pontos-chave

  • Fatores de risco de escabiose incluem situações em que há muita proximidade entre as pessoas e imunossupressão; falta de higiene não é um fator de risco.

  • Achados sugestivos incluem túneis em locais característicos, prurido intenso (especialmente à noite) e vários casos entre pessoas que moram juntas.

  • Confirmar a escabiose, quando possível, encontrando ácaros, óvulos ou pelotas fecais.

  • Tratar a escabiose com permetrina tópica e, quando necessário, ivermectina oral.

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