Diverticulose colônica

PorJoel A. Baum, MD, Icahn School of Medicine at Mount Sinai;
Rafael Antonio Ching Companioni, MD, HCA Florida Gulf Coast Hospital
Revisado/Corrigido: out. 2022
Visão Educação para o paciente

Diverticulose colônica é a presença de um ou mais divertículos no colo. A grande maioria é assintomática, mas alguns se tornam inflamados ou sangram. O diagnóstico é feito por colonoscopia, endoscopia por cápsula, enema baritado, TC ou RM. A diverticulose assintomática não exige tratamento. Quando os sintomas se desenvolvem, o tratamento varia com base no tipo de apresentação clínica.

Um divertículo colônico é uma bolsa semelhante a um saco da mucosa e submucosa do colo que se projeta através da camada muscular do colo; como não contém todas as camadas do intestino, é considerado um pseudo-divertículo (ver também Definição da doença diverticular).

Embora divertículos possam estar presente em qualquer parte do intestino grosso, geralmente ocorrem na porção sigmoide do colo. Raramente ocorrem abaixo da reflexão peritoneal e envolvem o reto. Divertículos variam em diâmetro, mas normalmente têm 3 a 10 mm de tamanho. Divertículos gigantes, que são extremamente raros, são definidos como divertículos com diâmetro maior do que 4 cm; foram relatados tamanhos de até 25 cm. Pessoas com diverticulose colônica costumam ter vários divertículos.

A diverticulose torna-se mais comum com o aumento da idade; está presente em cerca de 75% das pessoas > 80 anos.

Etiologia da diverticulose colônica

A etiologia da diverticulose colônica é multifatorial e não é totalmente conhecida. Vários estudos sugeriram uma correlação entre doença diverticular sintomática e fatores ambientais, como dieta pobre em fibras ou rica em carne vermelha, estilo de vida sedentário, obesidade, tabagismo, uso de fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), ácido acetilsalicílico, paracetamol, corticoides e opiáceos. Outros possíveis fatores de risco são fatores hereditários e alterações na estrutura e motilidade da parede do colo intestinal (1, 2). Os divertículos possivelmente são causados por maior pressão intraluminal, que provoca extrusão da mucosa ao longo dos pontos mais fracos da camada muscular do intestino—áreas adjacentes a vasos sanguíneos intramurais.

A etiologia dos divertículos gigantes não é clara. Uma das teorias é de que uma abertura estreita na forma de gargalo leva a um efeito de válvula esférica com obstrução intermitente da abertura, fazendo com que o divertículo aumente. Um divertículo gigante muito grande é frequentemente uma perfuração verdadeira de um divertículo menor que foi contido e murado e tornou-se revestido principalmente por tecido granuloso.

Sinais e sintomas da diverticulose colônica

A maioria (80%) dos pacientes com diverticulose é assintomática ou tem apenas obstipação intermitente. Cerca de 20% tornam-se sintomáticos com dor ou sangramento quando surgem complicações inflamatórias ou hemorrágicas.

Pacientes com diverticulose às vezes apresentam sintomas gastrointestinais inespecíficos, como dor, distensão abdominal, obstipação, diarreia e eliminação de muco pelo reto. Essa constelação é por vezes referida como doença diverticular sintomática não complicada (DDSNC). Mas alguns especialistas acreditam que esses sintomas são devidos a outro distúrbio (p. ex., síndrome do intestino irritável) e que a presença de divertículos é coincidente em vez de causal.

Complicações da diverticulose

As complicações da doença diverticular do colo intestinal são mais comuns em tabagistas, pessoas obesas, que têm infecção por HIV, que utilizam fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) ou em quimioterapia contra um câncer. Complicações ocorrem em 15 a 20% dos pacientes e incluem

Diverticulite é a inflamação dolorosa de um divertículo. Pode ser complicada ou não complicada.

O sangramento diverticular ocorre em 10 a 15% dos pacientes com diverticulose.

Colite segmentar associada à diverticulose (CSAD) refere-se a manifestações da colite (p. ex., hematoquezia, dor abdominal, diarreia) que se desenvolvem em alguns pacientes (1%) com diverticulose. O grau em que a diverticulose é causal não está claro.

Sangramento diverticular

Sangramento diverticular é a causa mais comum (até 50%) da sangramento gastrointestinalbaixo em adultos. Um estudo mostrou que a incidência cumulativa de sangramento gastrointestinal baixo por diverticulose foi de cerca de 2% aos 5 anos e 10% aos 10 anos (1).

A fisiopatologia do sangramento diverticular é desconhecida, mas a hipótese é de que vários mecanismos estão envolvidos, incluindo

  • Trauma local por fezes impactadas em um divertículo que pode corroer o vaso adjacente

  • Ampliação do divertículo que pode estender (e, por fim, romper) o vaso

Relatou-se que AINEs aumentam o risco de hemorragia.

Embora a maioria dos divertículos esteja no colo distal (esquerdo), metade do sangramento diverticular ocorre a partir dos divertículos no colo proximal (direito). Pacientes com diverticulose pancolônica têm maior incidência de sangramento.

O sangramento diverticular se manifesta como hematoquezia indolor. Como o vaso sangrante é uma arteríola, a quantidade de perda de sangue geralmente é moderada a grave. Sangue fresco ou fezes de cor marrom é a manifestação típica; raramente, o sangramento diverticular no lado direito pode se manifestar como melena. O sangramento diverticular costuma ocorrer sem diverticulite concomitante.

A maioria (75%) dos episódios de sangramento cessa espontaneamente. Os demais exigem intervenção, geralmente endoscópica (ver também as diretrizes práticas de 2016 do American College of Gastroenterology acerca do tratamento de pacientes com hemorragia gastrointestinal baixa).

Pacientes que tiveram um episódio de sangramento diverticular têm maior risco de ressangramento. Após um segundo episódio de hemorragia diverticular, o risco de nova hemorragia é de 50%.

Referência sobre sangramento diverticular

  1. 1. Niikura R, Nagata N, Shimbo T, et al: Natural history of bleeding risk in colonic diverticulosis patients: A long-term colonoscopy-based cohort study. Aliment Pharmacol Ther 41(9):888–894, 2015. doi: 10.1111/apt.13148

Diverticulose colônica

  • Geralmente colonoscopia ou TC

Em geral, divertículos assintomáticos são encontrados incidentalmente durante colonoscopia, endoscopia com cápsula, enema baritado, TC ou RM.

Diverticulose (TC)
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Essa imagem de TC transversal axial ao longo da pelve mostra o aspecto típico da diverticulose (as áreas escuras na parede do colo sigmoide).
LIVING ART ENTERPRISES, LLC/SCIENCE PHOTO LIBRARY

Suspeita-se de sangramento gastrointestinal baixo devido à diverticulose quando há sangramento retal indolor, particularmente em paciente idoso ou paciente que tem história de doença diverticular. A avaliação do sangramento gastrointestinal baixo normalmente é feita por colonoscopia, que pode ser realizada após um rápido preparo do colo: administrar 4 a 6 L de solução de polietilenoglicol por via oral idealmente por sonda nasogástrica, e durante 3 a 4 horas até que a eliminação retal esteja sem sangue nem fezes. Se não for possível visualizar a origem por meio de colonoscopia e o sangramento for rápido o suficiente (> 0,5 a 1 mL/minuto), angiografia por TC ou cintilografia podem localizar a origem.

Tratamento da diverticulose colônica

  • Nenhum tratamento para diverticulose assintomática

  • Tratamento dos sintomas específicos

  • Sangramento diverticular tratado como sangramento gastrointestinal baixo

Diverticulose assintomática não requer tratamento ou alterações dietéticas. Não há associação entre consumo de oleaginosas, sementes, milho ou pipoca e diverticulite, hemorragia diverticular ou diverticulose não complicada, e não mais se recomenda evitar esses alimentos. AINEs e analgésicos opioides podem aumentar o risco de perfuração diverticular e sangramento, assim deve-se utilizar esses fármacos somente com bastante cautela e após extensa discussão com o paciente sobre os riscos.

Para diverticulose com sintomas gastrointestinal inespecíficos, o tratamento visa reduzir espasmos de um segmento do colo. Frequentemente recomenda-se uma dieta rica em fibras, que pode ser suplementada com preparações de psílio ou farelo de trigo juntamente com ingestão hídrica adequada. Mas o papel das fibras no tratamento da diverticulose é limitado. Em geral, não há dados adequados para confirmar os efeitos benéficos das fibras. Deve-se considerar laxantes formadores de massa em pessoas com obstipação (ver também diretrizes de 2019 para o diagnóstico e tratamento de doença diverticular do National Institute for Health and Care Excellence). Antiespasmódicos (p. ex., beladona) não são benéficos e podem provocar efeitos adversos. Dietas pobres em fibras não são úteis. A cirurgia não tem indicação em doença não complicada, exceto para divertículos gigantes.

Dicas e conselhos

  • Não há associação entre consumo de oleaginosas, sementes, milho ou pipoca e diverticulite, hemorragia diverticular ou diverticulose não complicada, e não mais se recomenda evitar esses alimentos.

Tratamento do sangramento diverticular

O sangramento diverticular para espontaneamente em 75% dos pacientes. O tratamento inicial é o do sangramento gastrointestinal baixo. Em geral, o tratamento do sangramento diverticular ocorre durante o procedimento diagnóstico. Contudo, vários artigos mostraram que, durante uma colonoscopia, identificam-se os estigmas de hemorragia recente (sangramento ativo, coágulo aderente e vaso visível) em apenas 8 a 15% dos pacientes (1). A identificação colonoscópica dos estigmas de hemorragia recente permite opções endoscópicas controlem o sangramento, como injeção de adrenalina, aplicação de endoclipes ou selante de fibrina, sonda de aquecimento ou coagulação bipolar e ligadura elástica. Dados sugerem que tanto as taxas de sangramento recorrente precoce como tardio são mais baixas em pacientes com sangramento diverticular colônico definitivo tratado endoscopicamente do que naqueles com sangramento diverticular colônico presuntivo tratado de maneira conservadora (1).

Angiografia pode ajudar no diagnóstico da origem do sangramento e no tratamento do sangramento em curso. Durante a angiografia, pode-se utilizar algumas técnicas para controlar o sangramento, particularmente embolização e, menos frequentemente, injeção de vasopressina. A embolização é bem sucedida em cerca de 80% das vezes. Complicações angiográficas da isquemia ou infarto do intestino são menos comuns (< 5%) com as atuais técnicas de cateterização supersseletivas.

Cirurgia é raramente necessária, mas recomenda-se para pacientes que tiveram episódios múltiplos ou persistentes de sangramento diverticular refratários à terapia ou que apresentam instabilidade hemodinâmica, apesar de reanimação volêmica agressiva.

Se a angiografia ou cirurgia for considerada, identificar endoscopicamente o divertículo sangrante específico ou realizar um exame de medicina nuclear durante o sangramento ativo orienta o radiologista intervencionista e pode limitar o tamanho de uma possível ressecção cirúrgica. Quando conhece-se o local do sangramento, a necessidade de colectomia subtotal (com sua maior morbidade e mortalidade associadas) é marcadamente reduzida, porque uma hemicolectomia ou colectomia segmentar pode em vez disso ser feita. Entretanto, pacientes que apresentam hemorragia sustentada e potencialmente fatal e nos quais o divertículo sangrante não é identificável podem exigir colectomia subtotal. [Pacientes com sangramento diverticular em que o local do sangramento não está claro têm uma taxa de mortalidade de 43% após cirurgia colônica, enquanto aqueles com sangramento em local definido têm uma taxa de mortalidade pós-cirúrgica de 7% (2).

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Gobinet-Suguro M, Nagata N, Kobayashi K, et al: Treatment strategies for reducing early and late recurrence of colonic diverticular bleeding based on stigmata of recent hemorrhage: A large multicenter study. Gastrointest Endosc 95(6):1210–1222.e12, 2022. doi: 10.1016/j.gie.2021.12.023 

  2. 2. Schultz JK, Azhar N, Binda GA, et al: European Society of Coloproctology: Guidelines for the management of diverticular disease of the colon. Colorectal Dis 22 (supplement 2):S5–S28, 2020. doi: 10.1111/codi.15140

Pontos-chave

  • Divertículos colônicos são bolsas da mucosa em forma de saco que se projetam a partir do colo.

  • A diverticulose é cada vez mais comum com a idade; está presente em cerca de 75% das pessoas > 80 anos.

  • A diverticulose geralmente é assintomática, mas cerca de 20% dos pacientes desenvolvem sintomas e/ou complicações, incluindo inflamação (diverticulite) e sangramento gastrointestinal inferior.

  • A diverticulose assintomática não exige tratamento.

  • O sangramento diverticular cessa espontaneamente em cerca de 75% dos pacientes; controlar o remanescente durante colonoscopia ou angiografia ou, raramente, com cirurgia.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. American College of Gastroenterology: Practice guidelines on management of adults with acute lower GI bleeding (2016)

  2. National Institute for Health and Care Excellence (NICE): Guidelines for diagnosis and management of diverticular disease (2019)

Doença diverticular sintomática não complicada (DDSNC)

Algumas autoridades médicas consideram a doença diverticular sintomática não complicada (DDSNC) uma forma da síndrome do intestino irritável que ocorre coincidentemente em pacientes com diverticulose.

Pacientes com DDSNC têm dor abdominal no quadrante inferior esquerdo com distensão abdominal, obstipação, diarreia ou eliminação de muco pelo reto. Em geral, os pacientes têm incidência muito baixa de complicações.

O diagnóstico da DDSNC é difícil porque a diferença entre a síndrome do intestino irritável e DDSNC não está bem definida.

Não há dados fortes e baseados em evidências sobre o tratamento de pacientes com DDSNC (1, 2).

Referências gerais

  1. 1. Elisei W, Tursi A: Recent advances in the treatment of colonic diverticular disease and prevention of acute diverticulitis. Ann Gastroenterol 29(1):24–32, 2016. PMID: 26752946

  2. 2. Boynton W, Floch M: New strategies for the management of diverticular disease: Insights for the clinician. Therap Adv Gastroenterol 6(3):205–213, 2013. doi: 10.1177/1756283X13478679

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