Feocromocitoma

PorAshley B. Grossman, MD, University of Oxford; Fellow, Green-Templeton College
Revisado/Corrigido: fev. 2024
Visão Educação para o paciente

Feocromocitoma é um tumor secretor de catecolaminas das células cromafins, tipicamente localizado nas suprarrenais. Causa hipertensão paroxística ou persistente. O diagnóstico se faz pela medida dos produtos das catecolaminas no sangue ou na urina. Os exames de imagem, em especial TC e RM, auxiliam a localizar o tumor. O tratamento envolve a remoção do tumor, quando possível. Alfabloqueio, geralmente combinado com betabloqueio, é utilizado para controlar a pressão arterial.

(Ver também Visão geral da função suprarrenal.)

As catecolaminas secretadas incluem noradrenalina, adrenalina, dopamina e dopa em proporções variadas.

A maioria dos feocromocitomas localiza-se na

Os feocromocitomas também podem estar localizados em outros tecidos derivados de células da crista neural. Os locais possíveis incluem:

  • Paragânglios da cadeia simpática

  • Retroperitonealmente ao longo da aorta

  • Corpo carotídeo

  • Órgão de ZuckerkandL (na bifurcação da aorta)

  • Tuberculose geniturinária

  • Cérebro

  • Saco pericárdico

  • Cistos dermoides

Feocromocitomas na medula suprarrenal ocorrem igualmente em ambos os sexos, são bilaterais em 10% dos casos (20% em crianças) e malignos em < 10% (1). Dos feocromocitomas extra-suprarrenais, conhecidos como paragangliomas, 30% são malignos. Embora os feocromocitomas ocorram em qualquer idade, o pico de incidência é entre 20 e 40 anos. Acredita-se que cerca de 50% estejam associados a mutações de células germinativas. Feocromocitomas extra-suprarrenais têm maior probabilidade de serem malignos e metastáticos.

Os feocromocitomas variam de tamanho, mas têm em média de 5 a 6 cm de diâmetro. Pesam 50 a 200 g, mas já foram descritos tumores pesando vários quilos. Raramente, são grandes o suficiente para serem palpados ou causarem sintomas, em razão da compressão ou obstrução. Independentemente do aspecto histológico, o tumor é considerado benigno se não invadiu a cápsula e se não forem encontradas metástases, apesar de existirem exceções. Em geral, tumores maiores tendem a ser recorrentes ou metastáticos.

Os feocromocitomas podem ser parte das neoplasias endócrinas múltiplas (NEM) familiares, tipos IIA e IIB, em que outros tumores endócrinos (carcinoma de paratireoide ou carcinoma medular da tireoide) coexistem ou se desenvolvem subsequentemente. O feocromocitoma ocorre em 1% dos pacientes com neurofibromatose e pode cursar com hemangioblastomas e carcinomas de células renais, como na doença de von Hippel-Lindau. Feocromocitomas familiais e tumores do corpo carotídeo podem decorrer de mutações nos genes que codificam a enzima succinato desidrogenase ou outras moléculas de sinalização.

Paragangliomas que surgem na cabeça ou no pescoço se originam de células cromafins nos gânglios parassimpáticos, podem secretar catecolaminas e são chamados paragangliomas de cabeça e pescoço.

Referência geral

  1. 1. Pacak K, Tella SH. Feocromocitoma e paraganglioma. [Atualizado em 4 de janeiro de 2018]. In: Feingold KR, Anawalt B, Blackman MR, et al., editors. Endotext [Internet]. South Dartmouth (MA): MDText.com, Inc.; 2000-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK481899/

Sinais e sintomas do feocromocitoma

Hipertensão, que é paroxística em 45% dos pacientes, ocorre na maioria dos pacientes com feocromocitomas e é proeminente. Por outro lado, cerca de 0,2% a 0,6% dos pacientes hipertensos têm feocromocitoma (1). Os sinais e sintomas mais comuns são

  • Taquicardia

  • Diaforese

  • Hipotensão postural

  • Taquipneia

  • Pele fria e pegajosa

  • Cefaleia intensa

  • Angina

  • Palpitação

  • Náuseas e vômitos

  • Dor epigástrica

  • Distúrbios visuais

  • Dispneia

  • Parestesias

  • Obstipação

  • Sensação de colapso iminente

As crises paroxísticas podem ser provocadas por palpação do tumor, alterações posturais, compressão ou massagem abdominal, indução anestésica, trauma emocional, beta-bloqueio sem oposição (o que, paradoxalmente, aumenta a pressão arterial pelo bloqueio da vasodilatação beta-mediada) ou polaciúria (se o tumor estiver localizado na bexiga). Em pacientes idosos, grande perda ponderal com hipertensão persistente sugere feocromocitoma.

O exame físico, exceto pela presença de hipertensão, costuma ser normal, a menos que seja realizado durante uma crise paroxística. Retinopatia e cardiomegalia geralmente são menos graves do que se poderia esperar pelo grau de hipertensão, mas pode ocorrer cardiomiopatia específica por catecolaminas. Entretanto, eventos cardíacos e cerebrovasculares são mais frequentes em pacientes com feocromocitomas do que em outros com níveis semelhantes de pressão arterial.

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Wang X, Zhao Q, Sang H, Dong J, Bai M. Research on the Damage of Adrenal Pheochromocytoma to Patients' Cardiovascular Vessels and Its Correlation with Hypertension. J Oncol 2022;2022:3644212. Publicado em 11 de fevereiro de 2022. doi:10.1155/2022/3644212

Diagnóstico do feocromocitoma

  • Metanefrinas plasmáticas livres ou urinárias

  • Exames de imagem do tórax e abdome (TC ou RM) se o rastreamento para catecolaminas for positivo

  • Imagem nuclear com PET-dotatato de gálio-68

Suspeita-se de feocromocitoma em pacientes com sintomas típicos ou particularmente hipertensão súbita, grave ou intermitente inexplicável, especialmente em pacientes mais jovens e naqueles com hipertensão resistente. O diagnóstico envolve a demonstração de altas concentrações dos produtos de catecolaminas no plasma e na urina.

Exames de sangue

Até 99% das metanefrinas livres no plasma são sensíveis, com elevação na metanefrina ou, mais frequentemente, na normetanefrina. Esse teste tem sensibilidade superior para as medições de adrenalina e noradrenalina circulantes porque as metanefrinas plasmáticas estão continuamente elevadas, diferentemente da adrenalina e noradrenalina, que são secretadas de forma intermitente. Noradrenalina plasmática excessivamente elevada torna o diagnóstico altamente provável. A 3-metoxitiramina plasmática é um metabólito da dopamina e é indicativa de tumor mais agressivo.

Exame de urina

Os níveis urinários de metanefrina e normetanefrina são ligeiramente menos específicos para feocromocitoma do que a metanefrina livre no plasma, mas a elevação de qualquer um dos metabólitos tem sensibilidade de cerca de 95%. Dois ou 3 resultados normais, estando o paciente hipertenso, tornam o diagnóstico muito pouco provável. A medição de adrenalina e noradrenalina na urina é menos precisa.

Os principais produtos metabólicos urinários da adrenalina, noradrenalina e dopamina são

  • Metanefrinas (metanefrina e normetanefrina)

  • Ácido vanilmandélico (VMA), que é outro metabólito da adrenalina e da noradrenalina

  • Ácido homovanílico (HVA), que é um metabólito da dopamina

Indivíduos saudáveis excretam apenas quantidades muito pequenas dessas substâncias. Os valores normais para 24 horas são:

  • Adrenalina e noradrenalina livres < 100 mcg (< 582 nmol)

  • Metanefrina total < 1,3 mg (< 7,1 micromoles), mas metanefrina e normetanefrina fracionadas são preferíveis

  • VMA < 10 mg (< 50 micromoles), que agora é raramente utilizado

  • HVA < 15 mg (< 82,4 micromoles), que é utilizado principalmente para detectar neuroblastoma em crianças

Na feocromocitoma, aumento da excreção urinária da adrenalina e noradrenalina e seus produtos metabólicos são intermitentes. A excreção elevada desses compostos também pode ocorrer em

  • Outras doenças (p. ex., neuroblastoma, coma, desidratação, apneia do sono)

  • Estresse extremo

  • Pacientes em tratamento com alcaloides de rauwolfia, metildopa, inibidores da monoamina oxidase ou, em certa medida, várias classes de antidepressivos, como tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e inibidores da recaptação de serotonina- noradrenalina (IRSNs)

  • Pacientes em uso de algumas drogas ilícitas ou recreativas

  • Ingestão de alimentos que contenham grandes quantidades de VMA, como chocolate, café, chá, bananas, alimentos contendo baunilha.

Outros testes

Ocorre constrição do volume sanguíneo com falsa elevação de hemoglobina e hematócrito. Hiperglicemia, glicosúria e diabetes mellitus evidente podem estar presentes, com concentrações elevadas de ácidos graxos livres e glicerol em jejum. As concentrações plasmáticas de insulina são inapropriadamente baixas para a glicemia. Após a remoção do feocromocitoma, pode ocorrer hipoglicemia, em especial nos pacientes tratados com anti-hiperglicêmicos orais.

Os testes de provocação com histamina ou tiramina são perigosos e não devem ser utilizados. A administração de glucagon 0,5 a 1 mg IV por injeção rápida provoca aumento da pressão arterial > 35 x 25 mmHg em 2 minutos nos pacientes normotensos com feocromocitoma, mas agora geralmente é desnecessária. Fentolamina deve estar disponível para interromper qualquer crise hipertensiva.

Dicas e conselhos

  • Testes provocativos com histamina ou tiramina são perigosos e desnecessários.

Um teste de supressão com clonidina oral ou pentolínio IV pode ser utilizado em pacientes com elevação nos níveis séricos de catecolaminas, mas raramente é necessário.

Exames de imagem para localizar tumores são geralmente realizados em pacientes com resultados anormais de exames de sangue e urina. Os testes devem incluir CT e RM do tórax e abdome com e sem contraste. Com meios de contraste isotônicos, nenhum bloqueio adrenoceptor é necessário. Fluorodeoxiglicose (FDG)-PET também foi utilizada com sucesso, especialmente em pacientes com mutações de succinato desidrogenase, mas PET com dotatato de Gálio-68 provou-se mais sensível.

Durante cateterismo da veia cava, amostragem repetida das concentrações plasmáticas de catecolaminas em diferentes locais, incluindo as veias suprarrenais, pode ajudar a localizar o tumor; haverá aumento do nível de noradrenalina em uma veia de drenagem do tumor. As proporções de noradrenalina:adrenalina na veia suprarrenal podem ajudar a buscar uma pequena origem suprarrenal, mas a determinação dessas proporções agora é raramente necessária.

Radiofármacos com técnicas de imagem nuclear também pode ajudar a localizar feocromocitomas. A cintilografia está avançando rapidamente e cada vez mais o metaiodobenzilguanidina (MIBG I-123) está sendo substituído por PET com dotatato de Gálio-68.

Sinais de doenças genéticas associadas (p. ex., manchas café-com-leite em neurofibromatose) devem ser pesquisados. Os pacientes devem ser examinados quanto a neoplasias endócrinas múltiplas com medição da calcitonina sérica e quaisquer outros testes, conforme sugerido pelos achados clínicos. A maioria dos centros médicos fazem rotineiramente testes genéticos, sobretudo quando o feocromocitoma envolve paragânglios simpáticos e em pacientes mais jovens, mas provavelmente todos os pacientes com feocromocitoma devem ser submetidos a testes genéticos.

Tratamento do feocromocitoma

  • Controle da hipertensão com uma combinação de alfabloqueadores e então betabloqueadores

  • Remoção cirúrgica do tumor com controle perioperatório cuidadoso da pressão arterial e estado do volume

A remoção cirúrgica é o tratamento de escolha. A cirurgia costuma ser postergada até que a hipertensão seja controlada por uma associação de alfa e beta-bloqueadores (em geral, fenoxibenzamina, 20 a 40 mg por via oral 3 vezes ao dia, e propranolol, 20 a 40 mg por via oral 3 vezes ao dia).

A pressão arterial alvo é < 130/80 mmHg; alguns sugerem que o alvo também deve incluir alcançar uma certa queda postural da pressão arterial, mas isso não é essencial. O reequilíbrio do sistema cardiovascular exige cerca de 10 a 14 dias, após os quais se presume que o bloqueio seja eficaz. Não devem ser utilizados betabloqueadores até a obtenção do alfa-bloqueio adequado. Alguns alfa-bloqueadores, como doxazosina, podem ser igualmente eficazes, porém mais tolerados.

Nitroprussiato de sódio pode ser utilizado para crises hipertensivas no pré e intraoperatório.

Dicas e conselhos

  • Administrar alfa-bloqueadores primeiro, antes dos betabloqueadores. O uso de betabloqueadores 2 sem oposição pode causar aumento paradoxal da pressão arterial pelo bloqueio da vasodilatação de mediação beta.

Quando forem documentados ou houver suspeita de tumores bilaterais [como em pacientes com neoplasias endócrinas múltiplas (NEM)], administra-se hidrocortisona suficiente (100 mg, IV duas vezes ao dia) antes e depois da cirurgia, para evitar a insuficiência aguda de glicocorticoides decorrente da adrenalectomia bilateral. Às vezes, cirurgia com preservação do tecido cortical é uma alternativa.

A maioria dos feocromocitomas pode ser removida por via laparoscópica. A pressão arterial deve ser acompanhada continuamente por meio de um catéter intra-arterial e o volume deve ser monitorado com rigor. Induzir a anestesia com um fármaco não arritmogênico e manter com um fármaco inalatório (p. ex., enflurano, isoflurano). Durante a cirurgia, a hipertensão paroxística deve ser controlada com injeções de fentolamina (1 a 5 mcg, IV), ou infusão de nitroprussiato (2 a 4 mcg/kg/minuto), e as taquiarritmias com propranolol ou esmolol. Se for necessário um relaxante muscular, preferem-se fármacos que não liberam histamina. Atropina não deve ser utilizada no pré-operatório.

Transfusão sanguínea pré-operatória (1 a 2 unidades) pode ser dada antes de o tumor ser removido como uma antecipação da perda de sangue. Se a pressão arterial foi bem controlada antes da cirurgia, uma dieta rica em sal é recomendada para aumentar o volume de sangue. Pode-se considerar infusão de noradrenalina 4 a 12 mg/L em uma solução contendo dextrose começando com 0,05 mcg/kg/minuto e titulada até fazer o efeito se ocorrer hipotensão. Alguns pacientes cuja hipotensão responde mal à noradrenalina podem se beneficiar de hidrocortisona, 100 mg, IV mas a substituição adequada de líquidos geralmente é tudo o que é necessário.

Feocromocitoma metastático maligno deve ser tratado com alfa e betabloqueadores. O tumor pode ser indolor e a sobrevida longa. Entretanto, mesmo com crescimento tumoral rápido, a pressão arterial pode ser controlada. O I-131 MIBG ou, mais recentemente, lutécio-177, podem ajudar a aliviar os sintomas em pacientes com doença residual. Metirosina, um inibidor de tirosina-hidroxilase, pode ser utilizada para diminuir a produção de catecolaminas em pacientes cuja pressão arterial é difícil de controlar. Radioterapia pode reduzir a dor óssea decorrente de metástases. Quimioterapia é raramente eficaz, mas o regime mais comum experimentado é a combinação de ciclofosfamida, vincristina e dacarbazina. O agente quimioterápico temozolomida e a terapia alvo com sunitinibe ou, possivelmente, cabozantinibe também podem ser eficazes. O belzutifan, um inibidor do fator induzido por hipoxia usado no tratamento de cânceres associados em pacientes com doença de von Hippel-Lindau, está atualmente sendo submetido a ensaios clínicos em pacientes com feocromocitoma metastático maligno.

Pontos-chave

  • A hipertensão pode ser constante ou episódica.

  • O diagnóstico envolve a demonstração de altas concentrações dos produtos de catecolamina (tipicamente sem a presença de metanefrinas no plasma ou de metanefrinas séricas na urina de 24 horas).

  • Os tumores devem ser localizados com exames de imagem, geralmente incluindo o uso de compostos radiomarcados.

  • Uma combinação de alfa-bloqueadores e betabloqueadores é administrada durante a remoção do tumor.

  • Deve-se fazer uma avaliação genética para planejar o acompanhamento ideal para o paciente e identificar familiares em risco.

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