Considerações gerais sobre transplantes

PorMartin Hertl, MD, PhD, Rush University Medical Center
Revisado/Corrigido: ago. 2022 | modificado ago. 2023
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Um transplante consiste na remoção de células, tecidos ou órgãos vivos, em funcionamento, de um organismo e sua transferência de volta ao mesmo organismo ou em um organismo diferente.

O tipo mais comum de transplante é a transfusão de sangue. As transfusões de sangue são usadas para tratar milhões de pessoas por ano. Normalmente, um transplante se refere à transferência de órgãos (transplante de órgãos sólidos) ou de tecidos.

Transplantes podem consistir de

  • Tecidos da própria pessoa

  • Tecidos de um gêmeo idêntico, cujos genes são exatamente iguais aos da pessoa

  • Tecidos de alguém cujos genes não são exatamente iguais aos da pessoa

  • Raramente, tecidos de uma espécie diferente (como um porco)

Os tecidos transplantados podem ser

Ao contrário de uma transfusão de sangue, o transplante de órgãos pressupõe uma intervenção cirúrgica de maior complexidade, o uso de fármacos para inibir o sistema imunológico (imunossupressores, incluindo corticosteroides) e a possibilidade de infecção, rejeição do transplante assim como outras complicações graves, incluindo a morte. No entanto, o transplante de órgãos pode constituir a única possibilidade de sobrevivência para as pessoas cujos órgãos vitais funcionam mal de forma irreversível.

Alguns procedimentos, como o transplante de mãos ou de rosto, podem melhorar drasticamente a qualidade de vida de um indivíduo, mas não são feitos para salvar uma vida. Estes procedimentos têm a maior parte dos riscos de um transplante de órgãos. Eles são altamente especializados e realizados com pouca frequência, mas não são mais considerados experimentais.

Doadores de transplante

Um doador de tecido ou órgão pode ser

  • Uma pessoa viva – familiar do receptor ou não

  • Alguém que faleceu recentemente (doador morto)

São preferíveis os tecidos ou os órgãos de indivíduos vivos pois normalmente são mais saudáveis. As células-tronco (da medula óssea, do sangue do cordão umbilical ou do sangue de uma veia) e os rins constituem os tecidos doados com maior frequência por doadores vivos. Geralmente, um rim pode ser doado sem perigo, pois o corpo tem dois rins e pode funcionar bem com apenas um. Doadores vivos também podem doar apenas uma parte do fígado ou de um pulmão ou do pâncreas. O órgão de um doador vivo é transplantado minutos depois de ser extraído. Nos Estados Unidos, é ilegal receber um pagamento para doar órgãos, mas é permitido o reembolso pela doação de células e tecidos.

No entanto, existem órgãos, como o coração, que não podem ser obviamente obtidos de doadores vivos.

Os órgãos dos doadores falecidos normalmente são de indivíduos que previamente concordaram em doar os órgãos. Em muitos estados, indivíduos podem indicar a sua vontade de doar órgãos na carteira de motorista, mas os familiares também são consultados mesmo quando indicado que o indivíduo é doador. A autorização para a doação também pode ser adquirida a partir dos familiares mais próximos no caso de a vontade do falecido não ser conhecida. Doadores falecidos podem ser indivíduos saudáveis, mas que estiveram envolvidos em um grande acidente, assim como aqueles que faleceram por uma doença que não afete o órgão sendo doado. O médico não leva em consideração o potencial de doação de órgãos quando decide recomendar a retirada de medidas de suporte de vida dos indivíduos com doenças terminais ou que tenham tido morte cerebral.

Por vezes, um doador falecido pode fornecer tecidos para transplante a vários indivíduos. Por exemplo, um doador pode fornecer duas córneas, um pâncreas, dois rins, duas partes do fígado, dois pulmões, intestino delgado e um coração. Quando um indivíduo morre, os órgãos deterioram-se rapidamente. Alguns órgãos subsistem poucas horas fora do corpo. Outros órgãos, se mantidos no frio, duram alguns dias.

Você sabia que...

  • Um doador morto pode fornecer duas córneas, um pâncreas, dois rins, duas partes do fígado, intestino delgado, dois pulmões e um coração.

Compatibilidade e distribuição de órgãos

Nos Estados Unidos, uma organização nacional (United Network for Organ Sharing [Rede Unida para Doação de Órgãos]) verifica a compatibilidade dos doadores e dos receptores do transplante graças a um banco de dados computadorizado. Esse banco de dados inclui todos os indivíduos que se encontram em lista de espera para um transplante, juntamente com informações sobre o seu tipo sanguíneo e de tecido, a distância do hospital do doador e a gravidade de sua doença. Outras informações são incluídas com base no órgão que o indivíduo precisa. Quando os órgãos se encontram disponíveis, registra-se a informação correspondente e cruzam-se os dados. Os órgãos são, então, distribuídos logo que os critérios para transplante de um órgão específico tenham sido atendidos.

Triagem pré-transplante

Considerando que um transplante é algo um tanto arriscado e a doação de órgãos é escassa, os potenciais receptores passam por uma triagem de fatores que possam afetar a probabilidade de sucesso.

Compatibilidade dos tecidos

O sistema imunológico normalmente ataca os tecidos estranhos, incluindo transplantes. Essa reação recebe o nome de rejeição. A rejeição é desencadeada quando o sistema imunológico reconhece como estranhas certas moléculas na superfície da célula. Estas moléculas de superfícies de células são chamadas de antígenos.

Nas transfusões de sangue, a rejeição é relativamente simples de se evitar, pois os glóbulos vermelhos apenas possuem três antígenos principais na sua superfície. Estes antígenos determinam o tipo sanguíneo e são chamados de A, B e Rh. O médico faz um teste para se certificar que os antígenos no sangue do doador e no sangue do receptor são totalmente compatíveis.

No caso do transplante de órgãos, entretanto, existem inúmeros antígenos presentes. Esses antígenos são denominados antígenos de leucócitos humanos (HLA) ou complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Eles ocorrem na superfície de cada célula no organismo. Cada pessoa tem um HLA único, que determina o tipo de tecido. O tipo de tecido do doador deveria, idealmente, ser totalmente compatível com o tipo de tecido do receptor. Entretanto, uma combinação perfeita de HLA é extremamente rara e alguns indivíduos estão muito doentes para esperar por um doador altamente compatível. Nestes casos, os médicos, por vezes, utilizam o tecido do doador que não é uma combinação exata, mas é uma combinação mais compatível. Uma melhor combinação de HLA entre o doador e o receptor diminui a probabilidade e a gravidade de rejeição e melhora os resultados de longo prazo. No entanto, considerando que a terapia de imunossupressores tem se tornado mais eficaz, o grau de compatibilidade tem um efeito menor no sucesso de um transplante.

Antes do transplante, o sangue do receptor é triado para anticorpos contra os tecidos do doador. O organismo pode produzir estes anticorpos como resposta a uma transfusão de sangue, a um transplante anterior ou a uma gravidez. Se estes anticorpos estiverem presentes, o transplante não será possível pois ocorrerá uma rejeição imediata e severa. A plasmaferese e a imunoglobulina intravenosa (IGIV) têm sido usadas para retirar ou inibir os anticorpos e, assim, viabilizar o transplante quando não está disponível uma combinação quase exata. (IGIV são anticorpos obtidos do sangue que é coletado de pessoas com um sistema imunológico normal.)

Triagem de doadores

É feita uma triagem de câncer e infecções nos doadores, pois estes podem ser transmitidos durante o transplante. O médico faz a triagem de câncer ao rever minuciosamente o histórico médico e verificar cuidadosamente o órgão na sala de cirurgia no momento da recuperação do órgão. Obviamente órgãos com câncer não são utilizados para transplante. A decisão de usar ou não órgãos de doadores que tenham tido câncer anteriormente em outro órgão tem como base a probabilidade de as células cancerígenas ainda estarem presentes ou terem se propagado ao órgão a ser transplantado.

A maioria das infecções bacterianas é evidente para o médico com base na saúde geral do doador, sendo frequentemente diagnosticadas e tratadas mesmo antes de se decidir sobre a doação. Se o tratamento tiver sido adequado, o transplante de órgão é seguro, mesmo que o receptor receba um tratamento adicional de antibióticos.

Para se evitar a transmissão de infecções virais, que muitas vezes não são tão óbvias, o médico normalmente faz o teste de sangue do doador para verificar certas infecções virais. Nestas infecções estão os citomegalovírus (CMV), o vírus Epstein-Barr (EBV), os vírus da hepatite B e C, o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV). Algumas infecções virais no doador, como a infecção por HIV, inviabilizam o transplante, a não ser que a infecção possa ser controlada. Outras infecções virais, como o CMV e o EBV e, mais recentemente, a hepatite C, não impedem o transplante, mas o receptor deve tomar fármacos antivirais posteriormente.

Além de uma avaliação completa da saúde física, os doadores vivos também passam por uma avaliação psicossocial abrangente para problemas de saúde mental; tabagismo passado e presente; uso de álcool ou abuso de substâncias; capacidade de entender os riscos da doação e fornecer consentimento livre e esclarecido sem coerção e recursos e apoio suficientes durante a recuperação.

Triagem do receptor

A triagem para verificar câncer e infecções é feita também nos receptores, além de seu estado geral de saúde ser avaliado. Considerando que os receptores de órgãos de transplante tomam altas doses de imunossupressores na época do transplante, os receptores que tenham infecções ativas ou câncer não podem ser transplantados até que esta condição esteja controlada ou curada. Tomar imunossupressores pode piorar uma infecção ou um câncer.

Indivíduos com uma saúde geral precária, com certas infecções virais ou outros problemas médicos, além da disfunção do órgão que necessita de transplante, têm menor probabilidade de sucesso de um transplante. A decisão para se fazer um transplante é baseada nas circunstâncias específicas dos indivíduos, inclusive a idade.

É feita uma triagem psicológica, pois o fato de se ter que tomar fármacos pelo resto da vida, fazer tratamentos e ter que fazer as visitas de acompanhamento necessárias para manter um órgão transplantado é bastante exigente e nem todos os indivíduos estão dispostos ou são capazes de assim fazer. Além de enfermeiros e médicos, psiquiatras e assistentes sociais também estão envolvidos para ajudar os indivíduos e suas famílias a compreender o compromisso de longo prazo, assim como as dificuldades presentes na aceitação de um transplante. O empenho de todos é importante para determinar se um transplante de órgãos é adequado para um indivíduo.

Supressão do sistema imunológico

Ao contrário do sangue transfundido, os órgãos transplantados, mesmo quando os tipos de tecidos são altamente compatíveis, são geralmente rejeitados, a menos que se tomem medidas para evitar a rejeição. A rejeição ocorre a partir de um ataque do sistema imunológico do receptor ao órgão transplantado, que o sistema imunológico reconhece como corpo estranho. A rejeição pode ser leve e facilmente controlada ou grave, o que resulta na destruição do órgão transplantado.

A rejeição pode ser controlada através do uso de fármacos denominados imunossupressores, que inibem o sistema imunológico e a capacidade do organismo de reconhecer e destruir as substâncias estranhas. O uso de imunossupressores aumenta a probabilidade de sobrevivência do órgão transplantado.

Os imunossupressores devem ser administrados indefinidamente. No entanto, as doses elevadas só são necessárias normalmente durante as primeiras semanas depois do transplante ou durante um episódio de rejeição. Depois disto, doses menores normalmente conseguem evitar a rejeição (denominada imunossupressão de manutenção). As doses dos imunossupressores podem ser reduzidas ainda mais se os receptores desenvolverem infecções graves ou se o fármaco causar efeitos colaterais prejudiciais, mas a redução da dose dos imunossupressores aumenta o risco de rejeição.

O médico aumenta a dose, altera o tipo ou usa mais do que um imunossupressor ao primeiro sinal de rejeição.

Os diferentes tipos de imunossupressores visam partes diferentes do sistema imunológico. Deste modo, muitos fármacos podem ser usados em conjunto. Alguns fármacos, como os corticosteroides, inibem o sistema imunológico como um todo. Outros têm modos distintos de inibir a produção e a atividade dos glóbulos brancos. Os glóbulos brancos ajudam o organismo a reconhecer e a destruir células estranhas, como as de um órgão transplantado.

Tabela
Tabela

Gravidez e transplante

Não se podem fazer transplantes durante uma gravidez, pois muitos imunossupressores não são seguros para os fetos. No entanto, algumas mulheres que receberam um transplante podem engravidar e ter bebês saudáveis uma vez que a função do órgão transplantado esteja estável. Os imunossupressores que elas tomam podem ser especialmente adaptados ou trocados se necessário.

Complicações após o transplante

Complicações que ocorrem após um transplante incluem

  • Rejeição

  • Infecções

  • Câncer

  • Aterosclerose

  • Problemas renais

  • Gota

  • Doença do enxerto contra o hospedeiro

  • Osteoporose

O uso de imunossupressores pode causar algumas complicações. Para além de inibirem a reação do sistema imunológico em relação ao órgão transplantado, os imunossupressores reduzem também a capacidade do sistema imunológico de combater as infecções e até de destruir as células cancerígenas. Consequentemente, os receptores de transplantes correm um risco mais elevado de desenvolverem infecções e determinados tipos de câncer.

Rejeição

A rejeição, quando ocorre, começa pouco depois do transplante, mas pode desencadear-se semanas, meses ou mesmo anos depois.

Os sintomas de rejeição variam dependendo do órgão transplantando e quando ocorre a rejeição. A rejeição aguda ocorre logo após o transplante e causa sintomas que podem incluir febre, calafrios, náusea, fadiga e mudanças bruscas na pressão arterial. A rejeição crônica geralmente ocorre mais tarde e pode causar danos contínuos de baixo nível ao órgão doado.

Infecções

Vários fatores aumentam o risco de infecções em receptores de transplantes:

  • Cirurgia

  • Uso de imunossupressores

  • Distúrbios que debilitam o sistema imunológico (distúrbios decorrentes de imunodeficiência)

  • Problemas no sistema imunológico causados pelo mau funcionamento do órgão que tornou o transplante necessário

As infecções que podem se desenvolver em receptores de transplantes são as mesmas que podem se desenvolver em qualquer pessoa se recuperando de uma cirurgia. Estas infecções incluem as infecções do local de cirurgia ou no órgão transplantado, pneumonia e infecções no trato urinário.

Os receptores de transplante também correm o risco de infecções anormais (oportunistas) que afetam principalmente os indivíduos com o sistema imunológico enfraquecido. Infecções oportunistas podem ser causadas por

  • Bactérias (como Listeria ou Nocardia)

  • Vírus (como citomegalovírus, vírus BK ou vírus Epstein-Barr)

  • Fungos (como Pneumocystis jirovecii ou Aspergillus)

  • Parasitas (como Toxoplasma)

Após o transplante, a maioria dos indivíduos toma fármacos antimicrobianos para ajudar a evitar as infecções. Depois de 6 meses, o risco de infecção retorna ao nível anterior ao do transplante em cerca de 80% dos indivíduos.

Câncer

O desenvolvimento de certos cânceres é mais provável quando imunossupressores são tomados por muito tempo, como ocorre após um transplante. Esses cânceres incluem certos tipos de câncer de pele, linfoma, câncer do colo do útero e sarcoma de Kaposi.

O tratamento é parecido ao dado a indivíduos que não passaram por transplantes. Mas, por vezes, durante o tratamento de câncer, os imunossupressores são interrompidos ou as doses são diminuídas.

Aterosclerose

Aterosclerose (depósitos de gordura nas artérias) pode se desenvolver, pois alguns imunossupressores aumentam os níveis de colesterol e de outras gorduras (lipídios). Estas gorduras acumulam-se nas paredes das artérias e reduzem ou entopem a corrente sanguínea, causando um ataque cardíaco ou um derrame.

Normalmente desenvolve-se aterosclerose cerca de 15 anos após um transplante de rim.

Problemas renais

Problemas renais se desenvolvem em cerca de 15 a 20% dos indivíduos com um órgão transplantado; em especial, intestino delgado. Os rins tornam-se menos capazes de remover os resíduos, que então se acumulam no sangue.

Fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de problemas renais incluem

  • Doses altas de imunossupressores (particularmente ciclosporina e tacrolimo)

  • O stress físico da cirurgia para transplante

Gota

Gota é comum, especialmente após um transplante de coração ou de rim. Pode ser grave e progredir rapidamente, especialmente se o indivíduo tiver tido gota antes do transplante ou se tomou ciclosporina ou tacrolimo.

Doença do enxerto contra o hospedeiro

A doença do enxerto contra o hospedeiro ocorre quando os glóbulos brancos (o enxerto) do doador atacam os tecidos do receptor (o hospedeiro). Esta doença ocorre com frequência em receptores de transplante de células-tronco, mas pode ocorrer em receptores de transplantes de fígado e do intestino delgado.

Os sintomas podem incluir febre, erupção cutânea, icterícia, vômitos, diarreia, dores abdominais, perda de peso e aumento do risco de infecções. Essas reações podem ser fatais. Alguns fármacos, no entanto, como o metilprednisolona, podem eliminar ou reduzir a gravidade da doença do enxerto contra o hospedeiro no receptor.

Osteoporose e diminuição do crescimento

O uso de imunossupressores (especialmente corticosteroides) pode resultar em osteoporose em pessoas em risco de desenvolver osteoporose antes do transplante. Estas pessoas incluem aquelas com estilo de vida sedentária, que usam tabaco e álcool ou que têm uma doença renal.

Em crianças, o uso de imunossupressores pode resultar em diminuição do crescimento.

O médico faz o teste de osteoporose na maioria dos indivíduos antes do transplante ser feito. Às vezes, os médicos administram vitamina D ou medicamentos que previnem a perda óssea a receptores de transplante (como bifosfonatos) para ajudar na prevenção da perda óssea.

Complicações do doador

Doadores vivos também correm risco de complicações. Algumas dessas complicações são aquelas que podem ocorrer após qualquer cirurgia, como infecção e hemorragia. Algumas outras complicações dependem do órgão que está sendo removido. Os doadores também correm risco de complicações mentais e emocionais, de tal modo que as equipes de transplante avaliam possíveis doadores, cuidadosamente, antes de selecionar uma pessoa como doadora.

Mais informações

O seguinte é um recurso em inglês que pode ser útil. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. United Network for Organ Sharing (rede unida para doação de órgãos): Informações sobre como é determinada a compatibilidade dos órgãos doados com os candidatos a transplante

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