Hipoglicemia

(Baixos valores de glicemia)

PorErika F. Brutsaert, MD, New York Medical College
Revisado/Corrigido: out. 2023 | modificado nov. 2023
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Fatos rápidos

A hipoglicemia é a presença de níveis excepcionalmente baixos de açúcar (glicose) no sangue.

  • A causa mais comum da hipoglicemia são os medicamentos tomados para controlar o diabetes. Causas muito menos comuns da hipoglicemia incluem outros medicamentos, doença crítica ou insuficiência de órgão, uma reação a carboidratos (em pessoas suscetíveis), um tumor produtor de insulina no pâncreas e alguns tipos de cirurgia bariátrica (para perda de peso).

  • A queda da glicose no sangue provoca sintomas, como fome, sudorese, tremores, fadiga, fraqueza e incapacidade de pensar claramente, enquanto a hipoglicemia grave provoca sintomas, como confusão, convulsões e coma.

  • O diagnóstico toma por base a presença de níveis baixos de glicose no sangue enquanto a pessoa está apresentando sintomas.

  • Os sintomas da hipoglicemia são tratados com o consumo de açúcar em qualquer forma.

  • Talvez seja necessário diminuir a dose dos medicamentos que causam hipoglicemia

(consulte também Diabetes Mellitus).

Geralmente, o organismo mantém o nível de glicose no sangue dentro do intervalo de 70 a 110 miligramas por decilitro (mg/dl) ou 3,9 a 6,1 milimoles por litro (mmol/l) de sangue. Na hipoglicemia, o nível de glicose se torna muito baixo. Embora o diabetes mellitus, uma doença envolvendo os níveis de glicose no sangue, se caracterize por um valor de glicemia elevado (hiperglicemia), muitos diabéticos periodicamente apresentam hipoglicemia devido aos efeitos colaterais do tratamento do diabetes. A hipoglicemia não é comum entre pessoas sem diabetes.

Níveis muito baixos de glicose no sangue podem interferir com o funcionamento de determinados sistemas de órgãos. O cérebro é particularmente sensível aos baixos níveis de glicose, porque o açúcar é sua principal fonte de energia. Para evitar que os níveis de glicose no sangue caiam muito abaixo do intervalo habitual, o cérebro responde estimulando

  • As glândulas adrenais para liberar adrenalina (epinefrina)

  • As glândulas adrenais para liberar cortisol

  • O pâncreas para liberar glucagon

  • A glândula hipófise para liberar hormônio do crescimento

Todos esses hormônios fazem com que o fígado secrete glicose no sangue, mas, às vezes, esses hormônios não causam uma elevação no nível de glicose no sangue suficiente para superar a hipoglicemia. Se o nível de glicose no sangue permanecer muito baixo, o cérebro não recebe energia suficiente, o que resulta em confusão, convulsões ou perda de consciência.

Causas da hipoglicemia

Medicamentos

A maioria dos casos de hipoglicemia ocorre em pessoas com diabetes e são causados por insulina ou por outros medicamentos (sobretudo as sulfonilureias, tais como a gliburida, a glipizida e a glimepirida, consulte Tratamento medicamentoso do diabetes mellitus: medicamentos hipoglicemiantes orais) que elas tomam para diminuir os níveis de glicose no sangue. A hipoglicemia costuma ocorrer quando a pessoa se dedica intensamente a manter o valor da glicemia o mais próximo possível ao nível normal ou em pessoas que tomam insulina, mas não medem a glicemia o suficiente. A pessoa com diabetes que reduz o consumo de alimentos ou que apresenta doença renal crônica está mais propensa a apresentar hipoglicemia. Os idosos são mais suscetíveis que os jovens à hipoglicemia causada por medicamentos à base de sulfonilureia.

Se, após a ingestão de uma dose de medicamento para diabetes, a pessoa comer menos que o normal ou estiver mais ativa fisicamente que o normal, é possível que o medicamento diminua excessivamente o nível de glicose no sangue. Pessoas com diabetes tipo 1 ou com diabetes tipo 2 de longa data (no mínimo 10 anos) são mais propensas a ter hipoglicemia nessas situações, porque é possível que elas não produzam uma quantidade suficiente de glucagon ou adrenalina para compensar o baixo nível de glicose no sangue.

Determinados medicamentos, além daqueles que são receitados para diabetes, principalmente pentamidina, usada para tratar uma forma de pneumonia que surge com mais frequência como parte da AIDS, e a quinina usada para tratar cãibras musculares, podem ocasionalmente provocar hipoglicemia.

Um tipo raro de hipoglicemia relacionada a medicamentos ocorre, às vezes, em pessoas que tomam em segredo insulina ou outros medicamentos para tratar o diabetes por terem um distúrbio psiquiátrico, como o transtorno factício imposto a si próprio (antigamente denominado síndrome de Munchausen).

Hipoglicemia de jejum

Por outro lado, pessoas saudáveis em jejum prolongado (até mesmo de vários dias) que estão praticando atividade física intensa e prolongada (mesmo depois de um período de jejum) não estão propensas a apresentar hipoglicemia.

No entanto, há várias doenças ou quadros clínicos em que o organismo não consegue manter níveis adequados de glicose no sangue após um período sem alimentação (hipoglicemia de jejum). Nas pessoas que consomem muito álcool sem se alimentarem, o álcool pode bloquear formação da glicose no fígado. Em pessoas com doença hepática avançada, como hepatite viral, cirrose ou câncer, é possível que o fígado não consiga armazenar e nem produzir uma quantidade suficiente de glicose. Os bebês e crianças que têm uma alteração nos sistemas enzimáticos que controlam a glicose (por exemplo, a doença do armazenamento de glicogênio) também podem ter hipoglicemia em jejum.

Uma causa rara de hipoglicemia de jejum é um insulinoma, que é um tumor produtor de insulina no pâncreas. Os distúrbios que reduzem a produção de hormônios pela hipófise e pelas glândulas adrenais (principalmente a doença de Addison) podem causar hipoglicemia. Outras doenças, como doença renal crônica, insuficiência cardíaca, câncer e sepse também podem causar hipoglicemia, especialmente em pessoas gravemente doentes.

Reação à alimentação

A hipoglicemia pode ocorrer depois de a pessoa comer uma refeição contendo uma grande quantidade de carboidratos (hipoglicemia reativa), se o organismo produzir mais insulina do que é necessário. No entanto, esse tipo de reação é raro. Em alguns casos, as pessoas com níveis normais de glicose no sangue apresentam sintomas que podem ser confundidos com hipoglicemia.

Depois de determinados tipos de cirurgia gástrica, como a cirurgia de bypass gástrico, os açúcares são rapidamente absorvidos e estimulam a produção excessiva de insulina que, por consequência, pode causar a hipoglicemia.

Problemas raros de metabolização de alguns tipos de açúcar (frutose e galactose) e aminoácidos (leucina) também podem causar hipoglicemia caso a pessoa afetada consuma alimentos que contêm essas substâncias.

Sintomas de hipoglicemia

  • Hipoglicemia leve: Sudorese, nervosismo, tremores, tontura, palpitações e fome

  • Hipoglicemia grave: Tontura, fadiga, fraqueza, dores de cabeça, incapacidade de concentração, confusão, fala arrastada, visão borrada, convulsões e coma

Os sintomas de hipoglicemia raramente se manifestam antes de o nível de glicose no sangue ter caído para menos de 60 mg/dl (3,3 mmol/l). Algumas pessoas manifestam sintomas quando o valor fica ligeiramente mais alto, especialmente quando os níveis de glicose no sangue diminuem rapidamente, e algumas não apresentam sintomas até que os valores da glicemia estejam muito mais baixos.

O organismo primeiramente responde à queda no nível de glicose no sangue pela liberação de adrenalina pelas glândulas adrenais. A adrenalina é um hormônio que estimula a liberação de glicose de depósitos do organismo, mas também causa sintomas semelhantes aos de um ataque de ansiedade: sudorese, nervosismo, tremores, desmaios, palpitações e fome.

A hipoglicemia mais grave reduz o fornecimento de glicose para o cérebro e provoca tonturas, fadiga, fraqueza, dores de cabeça, incapacidade de concentração, confusão, comportamento inadequado que pode ser confundido com embriaguez, alterações da fala, visão turva, convulsões e coma. A hipoglicemia grave e prolongada pode causar danos permanentes ao cérebro.

Os sintomas podem ter início lento ou repentino, que evolui em poucos minutos de desconforto leve até confusão grave ou pânico em minutos. Às vezes, as pessoas que tiveram diabetes durante muitos anos (especialmente se elas apresentaram episódios frequentes de hipoglicemia) já não conseguem mais sentir os sintomas iniciais da hipoglicemia e elas podem desmaiar ou até mesmo entrar em coma sem qualquer outro aviso.

Em uma pessoa com um insulinoma, é mais provável que os sintomas apareçam nas primeiras horas da manhã após uma noite em jejum, sobretudo se os depósitos glicêmicos no sangue estiverem esgotados ainda mais devido à prática de atividade física antes do café da manhã. No início, as pessoas com tumor sofrem apenas episódios ocasionais de hipoglicemia, mas com o passar dos meses ou anos os episódios podem se tornar mais frequentes e graves.

Diagnóstico da hipoglicemia

  • Exames de sangue para medir o nível de glicose

Em alguém com diabetes conhecido, o médico pode suspeitar de hipoglicemia quando os sintomas forem descritos. O diagnóstico pode ser confirmado quando os exames indicarem níveis baixos de glicose no sangue enquanto a pessoa estiver apresentando os sintomas.

Por outro lado, em uma pessoa saudável que não apresenta diabetes, o médico pode reconhecer a hipoglicemia, de forma geral, com base nos sintomas, histórico clínico, exame físico e em alguns exames simples.

Primeiramente, o médico mede o nível de glicose no sangue. Um baixo nível de glicose no sangue encontrado no momento em que a pessoa estiver apresentando sintomas típicos de hipoglicemia confirma o diagnóstico em um não diabético, especialmente se a relação entre o baixo nível de glicose no sangue e os sintomas ocorrerem mais de uma vez. Se os sintomas melhorarem quando o valor da glicemia aumentar poucos minutos após a ingestão de açúcar, o diagnóstico é confirmado.

Outros exames podem ser necessários quando a relação entre os sintomas e o nível de glicose no sangue permanecer incerta em uma pessoa que não é diabética. Frequentemente, a etapa seguinte é a medição do nível de glicose no sangue após um período de jejum em um hospital ou em outro ambiente rigorosamente supervisionado. É possível que exames mais abrangentes também sejam necessários.

Caso um medicamento, como a pentamidina ou a quinina, seja considerado a causa da hipoglicemia, ele será suspenso e o valor da glicemia será medido para determinar se ele aumentou. Outros exames de laboratório podem ser necessários se a causa permanecer incerta.

Se houver suspeita de insulinoma, pode ser necessário medir os níveis de insulina no sangue em jejum (às vezes por até 72 horas). Se os níveis de insulina estiverem elevados e sugerirem a presença de um tumor, o médico tentará localizá-lo antes de iniciar o tratamento.

Você sabia que…

  • Às vezes, um erro laboratorial (por exemplo, quando uma amostra de sangue é armazenada por muito tempo) pode resultar em níveis de glicose que são artificialmente baixos, uma condição denominada pseudohipoglicemia.

Tratamento da hipoglicemia

  • Consumo de açúcar para aumentar o nível de glicose no sangue

  • Alteração das doses do medicamento

  • Alimentar-se de diversas pequenas refeições durante o dia

  • Às vezes, cirurgia para remover um tumor

As pessoas com tendência à hipoglicemia devem transportar ou usar identificação clínica para informar o seu quadro clínico aos profissionais de saúde.

Tratamento imediato da hipoglicemia

Os sintomas de hipoglicemia melhoram poucos minutos após a ingestão de açúcar em qualquer uma de suas formas, tal como doces, comprimidos de glicose ou bebidas doces, como um copo de suco de frutas. As pessoas com episódios recorrentes de hipoglicemia, sobretudo os diabéticos, muitas vezes preferem levar consigo comprimidos de glicose porque os comprimidos têm efeito rápido e fornecem uma quantidade consistente de açúcar. Essas pessoas talvez se beneficiem do consumo de açúcar seguido de alimento que forneça carboidratos de longa duração (por exemplo, pão ou bolachas). Quando a hipoglicemia for grave ou prolongada e não for possível ingerir açúcar por via oral, o médico administra rapidamente glicose por via intravenosa para evitar danos cerebrais.

As pessoas com risco conhecido de episódios de hipoglicemia grave devem ter à mão glucagon para ser usado em caso de emergência. A administração de glucagon estimula o fígado a liberar grandes quantidades de glicose. Ele é administrado por injeção ou por meio de um inalador nasal e geralmente normaliza os níveis de glicose no sangue no prazo de cinco a 15 minutos. Os kits de glucagon são fáceis de usar, e familiares e outras pessoas de confiança podem receber treinamento sobre como administrar o glucagon.

Tratamento da causa da hipoglicemia

Se o medicamento estiver causando hipoglicemia, a dose deve ser ajustada ou o medicamento deve ser trocado.

Os insulinomas devem ser removidos cirurgicamente. No entanto, um especialista deve realizar a cirurgia, uma vez que os tumores serem pequenos e de difícil localização. Antes da cirurgia, é possível que a pessoa receba um medicamento, como octreotida ou diazóxido, para controlar os sintomas. Às vezes, mais de um tumor está presente e, se o cirurgião não encontrar todos, talvez seja necessária uma segunda operação.

As pessoas que não apresentam diabetes, mas com predisposição para hipoglicemia, frequentemente podem evitar episódios pela ingestão frequente de pequenas refeições em vez das três habituais refeições diárias.

A limitação da ingestão de carboidratos, especialmente açúcares simples, é às vezes recomendada para evitar a hipoglicemia que ocorre após a refeição (denominada hipoglicemia reativa). Inibidores da alfa-glicosidase, tais como a acarbose, que retardam a velocidade de absorção dos carboidratos, também já foram utilizados com sucesso por pessoas com hipoglicemia reativa e hipoglicemia pós-cirurgia bariátrica.

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