Transtorno da personalidade dependente é caracterizado por uma necessidade generalizada e excessiva de ser cuidado, levando à submissão e comportamentos viscosos. O diagnóstico é por critérios clínicos. O tratamento é com psicoterapia e possivelmente antidepressivos.
(Ver também Visão geral dos transtornos de personalidade.)
Em pacientes com transtorno da personalidade dependente, a necessidade de ser cuidado resulta na perda de sua autonomia e interesses. Como são intensamente ansiosos sobre cuidar de si mesmos, eles se tornam excessivamente dependentes e submissos.
Estima-se que menos de 1% da população norte-americana geralmente tenha transtorno da personalidade dependente (1). É diagnosticado com mais frequência em mulheres.
Comorbidades são comuns. Os pacientes muitas vezes também têm transtorno depressivo (transtorno depressivo maior ou transtorno depressivo persistente), transtorno de ansiedade, transtorno por uso de álcool ou outro transtorno de personalidade (p. ex., transtorno de personalidade borderline, transtorno de personalidade histriônica).
Referência geral
1. Morgan TA, Zimmerman M: Epidemiology of personality disorders. In Handbook of Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment. 2nd ed, edited by WJ Livesley, R Larstone, New York, NY: The Guilford Press, 2018, pp. 173-196.
Etiologia do transtorno da personalidade dependente
Informações sobre as causas do transtorno da personalidade dependente são limitadas. Considera-se que fatores culturais, experiências precoces negativas e vulnerabilidades biológicas associadas com ansiedade contribuam para o desenvolvimento do transtorno da personalidade dependente (1) Traços familiares como submissão, insegurança e comportamento discreto também podem contribuir (2).
Referências sobre etiologia
1. Gjerde LC, Czajkowski N, Røysamb E: The heritability of avoidant and dependent personality disorder assessed by personal interview and questionnaire.Acta Psychiatr Scand 126(6):448-457, 2012. doi: 10.1111/j.1600-0447.2012.01862.x
2. Bornstein RF: The dependent personality: developmental, social, and clinical perspectives. Psychol Bull. 112(1):3-23, 1992. doi: 10.1037/0033-2909.112.1.3
Sinais e sintomas do transtorno da personalidade dependente
Pacientes com transtorno da personalidade dependente não acham que possam cuidar de si mesmos. Eles utilizam a submissão para tentar fazer os outros cuidarem deles.
Pacientes com esse transtorno geralmente exigem muita reafirmação e aconselhamento ao tomar decisões comuns. Eles muitas vezes deixam que outros, geralmente uma única pessoa, assumam a responsabilidade por muitos aspectos de suas vidas. Por exemplo, eles podem depender do cônjuge para dize o que vestir, que tipo de trabalho procurar e com quem se associar.
Esses pacientes se consideram inferiores e tendem a menosprezar suas habilidades; eles tomam qualquer crítica ou desaprovação como prova de sua incompetência, minando ainda mais a sua confiança.
É difícil que eles expressem desacordo com os outros porque temem perder suporte ou aprovação. Eles podem concordar com algo que sabem que é errado, em vez de correr o risco de perder a ajuda dos outros. Mesmo quando a irritação é adequada, eles não ficam com raiva de amigos e colegas de trabalho por medo de perder seu apoio.
Porque eles acreditam que não podem fazer nada por conta própria, eles têm dificuldade em iniciar uma nova tarefa e trabalhar de forma independente, e evitam tarefas que exijam assumir responsabilidade. Eles se apresentam como incompetentes e como precisando de ajuda e reafirmação constantes. Quando assegurados de que uma pessoa competente está supervisionando e aprovando-os, esses pacientes tendem a funcionar de forma adequada. Mas eles não querem parecer muito competentes para que não sejam abandonados. Como resultado, suas carreiras podem ser prejudicadas. Eles perpetuam sua dependência porque evitam aprender habilidades da vida independente.
Esses pacientes fazem de tudo para obter cuidado e suporte (p. ex., realizar tarefas desagradáveis, submeter-se a exigências descabidas, tolerar abuso físico, sexual ou emocional). Estar sozinho faz com que se sintam extremamente desconfortáveis ou com medo porque temem que não possam cuidar de si mesmos
Os pacientes com transtorno da personalidade dependente tendem a interagir socialmente somente com algumas pessoas das quais dependem. Quando um relacionamento íntimo termina, os pacientes com esse transtorno tentam imediatamente encontrar um substituto. Por causa de sua necessidade desesperada de ser cuidado, eles não discriminam ao escolher um substituto.
Esses pacientes temem o abandono por parte daqueles de que dependem, mesmo quando não há nenhuma razão para isso.
Diagnóstico do transtorno de personalidade dependente
Critérios clínicos (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição [DSM-5-TR])
Para o diagnóstico do transtorno da personalidade dependente (1), os pacientes devem ter
Uma necessidade persistente e excessiva de ser cuidado, resultando em comportamento submisso e dependente, juntamente com medos de separação.
Essa necessidade persistente manifesta-se pela presença de ≥ 5 dos seguintes:
Dificuldade em tomar decisões diárias sem uma quantidade excessiva de conselhos e asseguramento por outras pessoas
Necessidade de fazer com que outros sejam responsáveis por muitos aspectos importantes das suas vidas
Dificuldade para expressar discordância com os outros porque eles temem perder suporte ou aprovação
Dificuldade para iniciar projetos por conta própria porque eles não estão confiantes em seu julgamento e/ou habilidades (não porque não têm motivação ou energia)
Disposição de fazer tudo (p. ex., realizar tarefas desagradáveis) para obter o apoio de outros
Sentimentos de desconforto ou desamparo quando estão sozinhos porque temem não poderem cuidar de si mesmos
Necessidade urgente de estabelecer um novo relacionamento com alguém que fornecerá cuidados e suporte quando um relacionamento íntimo termina
Preocupação irrealista com medo de serem abandonados para cuidar de si mesmos
Além disso, os sintomas devem ter ocorrido no início da idade adulta.
Diagnóstico diferencial
Vários outros transtornos de personalidade são caracterizados por hipersensibilidade à rejeição. Mas eles podem ser distinguidos do transtorno da personalidade dependente com base em aspectos característicos, como a seguir:
Transtorno de personalidade borderline: pacientes com esse transtorno têm muito medo de submeterem-se ao mesmo grau de controle que os pacientes com transtorno da personalidade dependente. Pacientes com transtorno de personalidade borderline, diferentemente daqueles com transtorno da personalidade dependente, vacilam entre submissão e hostilidade raivosa.
Transtorno da personalidade esquiva: os pacientes com esse transtorno também têm muito medo de se submeter ao mesmo grau de controle a que os pacientes com transtorno da personalidade dependente se submetem. Pacientes com transtorno da personalidade esquiva se afastam até que tenham certeza de que eles serão aceitos sem críticas; em comparação, aqueles com transtorno da personalidade dependente procuram e tentam manter relacionamentos com os outros.
Transtorno de personalidade histriônica: pacientes com esse transtorno buscam atenção em vez de asseguramento (como fazem aqueles com transtorno da personalidade dependente), mas eles são mais desinibidos. Eles são mais exuberantes e buscam ativamente atenção; aqueles com transtorno da personalidade dependente são discretos e tímidos.
O transtorno da personalidade dependente deve ser diferenciado da dependência que está presente em outros transtornos psiquiátricos (p. ex., transtornos depressivos, transtorno do pânico, agorafobia).
Referência sobre diagnóstico
1. American Psychiatric Association: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR). Washington, DC, American Psychiatric Association, 2022, pp 768-771.
Tratamento do transtorno da personalidade dependente
Terapia cognitivo-comportamental
Psicoterapia psicodinâmica
Possivelmente, antidepressivos
Os princípios gerais para tratamento do transtorno da personalidade dependente são semelhantes àqueles para todos os transtornos de personalidade.
Psicoterapia psicodinâmica e terapia cognitivo-comportamental que foquem no exame dos medos de independência e dificuldades com assertividade podem ajudar os pacientes com transtorno da personalidade dependente. Os médicos devem ter o cuidado de evitar promover a dependência no relacionamento terapêutico.
Há poucas evidências sobre a farmacoterapia para transtorno da personalidade dependente. Não há ensaios clínicos controlados por placebo acerca do transtorno de personalidade dependente.
Benzodiazepinas não são utilizadas porque pacientes com transtorno da personalidade dependente têm maior risco de abuso da medicação.