Transtorno de personalidade antissocial (TPAS)

PorMark Zimmerman, MD, South County Psychiatry
Revisado/Corrigido: set. 2023
Visão Educação para o paciente

Transtorno de personalidade antissocial é caracterizado por um padrão generalizado de descaso com as consequências e direitos dos outros. O diagnóstico é por critérios clínicos. O tratamento pode incluir terapia cognitivo-comportamental, medicamentos antipsicóticos e antidepressivos.

(Ver também Visão geral dos transtornos de personalidade.)

Pessoas com transtorno de personalidade antissocial cometem atos ilegais, fraudulentos, exploradores e imprudentes para ganho pessoal ou prazer e sem remorsos; eles podem fazer o seguinte:

  • Justificar ou racionalizar seu comportamento (p. ex., achar que perdedores merecem perder, tomar cuidado com o número um)

  • Culpar a vítima por ser tola ou impotente

  • Ser indiferente aos efeitos exploradores e prejudiciais de suas ações sobre os outros

As estimativas da prevalência ao longo da vida do transtorno de personalidade antissocial variam de 2 a 5%, de acordo com diversos estudos epidemiológicos grandes realizados nos Estados Unidos e no Reino Unido (1, 2). O transtorno de personalidade antissocial é mais comum entre os homens do que entre as mulheres (3:1) (3), e há um forte componente hereditário. A prevalência diminui com a idade (4), sugerindo que os pacientes podem aprender ao longo do tempo a mudar seus comportamentos mal-adaptativos.

Comorbidades são comuns. A maioria dos pacientes também apresenta transtorno por abuso de substâncias (e cerca de metade das pessoas que utilizam fármacos atende aos critérios para transtorno de personalidade antissocial) (3). Pacientes com transtorno de personalidade antissocial muitas vezes também têm transtorno de controle de impulsos, Transtornos de Humor, transtornos de ansiedade, transtorno do jogo, transtorno de deficit de atenção/hiperatividade ou transtorno de personalidade borderline.

Referências gerais

  1. 1. Lenzenweger MF, Lane MC, Loranger AW, et al: DSM-IV personality disorders in the National Comorbidity Survey Replication. Biol Psychiatry 62(6):553-564, 2007. doi: 10.1016/j.biopsych.2006.09.019

  2. 2. Trull TJ, Jahng S, Rachel L Tomko, et al: Revised NESARC personality disorder diagnoses: Gender, prevalence, and comorbidity with substance dependence disorders. J Pers Disord 24(4):412-426, 2010. doi: 10.1521/pedi.2010.24.4.412

  3. 3. Regier DA, Farmer ME, Rae DS, et al: Comorbidity of mental disorders with alcohol and other drug abuse. Results from the Epidemiologic Catchment Area (ECA) Study. JAMA 264(19):2511-2518, 1990. PMID: 2232018.

  4. 4. d'Huart D, Seker S, Burgin D, et al: The stability of personality disorders and personality disorder criteria: A systematic review and meta-analysis. Clin Psychol Rev 102:102284, 2023. doi: 10.1016/j.cpr.2023.102284

Etiologia do transtorno de personalidade antissocial

Tanto fatores genéticos como ambientais (p. ex., abuso durante a infância) contribuem para o desenvolvimento do transtorno de personalidade antissocial. Um mecanismo possível é agressividade impulsiva, relacionada com o funcionamento anormal do transportador de serotonina. Desprezo pela dor dos outros durante a primeira infância foi associada ao comportamento antissocial durante a adolescência tardia.

O transtorno de personalidade antissocial é mais comum em parentes de 1º grau de pacientes com o transtorno do que na população em geral (1). O risco de desenvolver esse transtorno aumenta tanto em filhos adotivos como biológicos dos pais com o transtorno.

E se transtorno de conduta acompanhado por deficit de atenção/hiperatividade se desenvolve antes dos 10 anos de idade, o risco de desenvolvimento do transtorno de personalidade antissocial durante a idade adulta é maior (2). O risco de transtorno de conduta evoluir para transtorno de personalidade antissocial pode ser maior quando os pais abusam ou negligenciam o filho ou são inconsistentes quanto à disciplina ou em estilo parental [p. ex., alternar entre cordial e apoiador para insensível e crítico (3)].

Referências sobre etiologia

  1. 1. Polderman TJC, Benyamin B,  de Leeuw CA, et al: Meta-analysis of the heritability of human traits based on fifty years of twin studies. Nat Genet 47(7):702-709, 2015. doi: 10.1038/ng.3285

  2. 2. Storebø OJ, Simonsen EJ: The association between ADHD and antisocial personality disorder (ASPD): A review. Atten Disord: 20(10):815-24, 2016. doi: 10.1177/1087054713512150

  3. 3. Reti IM, Samuels JF, Eaton WW, et al: Adult antisocial personality traits are associated with experiences of low parental care and maternal overprotection. Acta Psychiatr Scand 106(2):126-133, 2002. doi: 10.1034/j.1600-0447.2002.02305.x

Sinais e sintomas do transtorno de personalidade antissocial

Pacientes com transtorno de personalidade antissocial podem expressar seu descaso pelos outros e pela lei destruindo propriedade, assediando outros ou roubando. Eles podem enganar, explorar, fraudar ou manipular as pessoas para conseguir o que querem (p. ex., dinheiro, poder, sexo). Eles podem utilizar um pseudônimo.

Esses pacientes são impulsivos; eles não planejam suas ações nem consideram as consequências ou a segurança de si mesmos ou de outros. Como resultado, eles podem de repente trocar de emprego, casa ou relacionamento. Eles podem dirigir em alta velocidade enquanto embriagados, eventualmente causando acidentes. Eles podem consumir quantidades excessivas de álcool ou utilizar drogas ilícitas.

Pacientes com transtorno de personalidade antissocial são social e financeiramente irresponsáveis. Eles podem trocar de emprego sem um plano para conseguir outro. Eles podem não procurar emprego quando as oportunidades estão disponíveis. Eles podem não pagar suas contas, empréstimos, ou pensão alimentícia.

Esses pacientes são muitas vezes facilmente irritados e fisicamente agressivos; eles podem começar lutas ou abusar do cônjuge ou parceiro. Nas relações sexuais, eles podem ser irresponsáveis e explorar seu parceiro e não conseguirem permanecer monogâmicos.

Não há remorso pelas ações. Pacientes com transtorno de personalidade antissocial podem explicar suas ações culpando aqueles que eles prejudicam (p. ex., eles mereciam) ou a forma como a vida é (p. ex., injusta). Eles estão determinados a não serem intimidados e fazem o que eles acham que é melhor para si mesmos a qualquer custo.

Esses pacientes não têm empatia pelos outros e podem ser desdenhosos ou indiferente aos sentimentos, direitos e sofrimento dos outros.

Pacientes com transtorno de personalidade antissocial podem ser muito teimosos, autoconfiantes ou arrogantes. Eles podem ser charmosos, volúveis e verbalmente superficiais em seus esforços para conseguirem o que querem.

Diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial

  • Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR).

Para o diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial (1), os pacientes devem ter

  • Desprezo persistente pelos direitos dos outros

Esse desprezo mostra-se pela presença de 3 dos seguintes fatores:

  • Desprezar a lei, indicado por atos repetidamente cometidos que são motivo de detenção

  • Ser enganador, indicado por mentiras repetidas, uso de pseudônimos ou ludibriar os outros por ganho pessoal ou prazer

  • Agir impulsivamente ou não planejar com antecedência

  • Ser facilmente irritado ou agressivo, indicado por brigas físicas constantes ou agreção a outros

  • De forma imprudente desprezam sua segurança ou a segurança dos outros

  • Agir consistentemente de forma irresponsável, indicado por deixar um emprego sem planos para outro ou não pagar contas

  • Não sentir remorso, indicado pela indiferença ou racionalização da agreção ou maus-tratos de outros

Além disso, os pacientes devem ter evidências de transtorno de conduta antes dos 15 anos de idade. O transtorno de personalidade antissocial é diagnosticado apenas em pessoas 18 anos.

Diagnóstico diferencial

O transtorno de personalidade antissocial deve ser diferenciado do seguinte:

  • Transtorno por abuso de drogas: determinar se a impulsividade e irresponsabilidade resultam do uso de fármacos ou do transtorno de personalidade antissocial pode ser difícil, mas é possível com base em uma revisão da história do paciente, incluindo história inicial, para verificar se há períodos de sobriedade. Às vezes, o transtorno de personalidade antissocial pode ser diagnosticado mais facilmente após um transtorno coexistente de uso de droga ser tratado, mas transtornos de personalidade antissocial podem ser diagnosticados mesmo quando o transtorno de uso de fármacos está presente.

  • Transtorno de conduta: transtorno de conduta tem um padrão generalizado semelhante de violação de normas sociais e leis, mas o transtorno de conduta deve estar presente antes dos 15 anos de idade.

  • Transtorno de personalidade narcisista: pacientes são igualmente exploradores e não têm empatia, mas eles tendem a não ser agressivos e enganosos como ocorre no transtorno de personalidade antissocial.

  • Transtorno de personalidade borderline: pacientes são igualmente manipuladores, mas fazem isso para que sejam cuidados, em vez de para conseguir o que querem (p. ex., dinheiro, poder), como ocorre no transtorno de personalidade antissocial.

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. American Psychiatric Association: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR). Washington, DC, American Psychiatric Association, 2022, pp 748-752.

Tratamento do transtorno de personalidade antissocial

  • Manejo de contingências

  • Medicamentos em casos específicos

Não há evidências de que qualquer tratamento específico resulte em uma melhoria de longo prazo. Assim, o tratamento visa alcançar outro objetivo a curto prazo, como evitar consequências legais, em vez de mudar o paciente. Manejo de contingência (isto é, dar ou recusar o que os pacientes querem com base em seus comportamentos) pode ser de benefício limitado (1). Comorbidades (p. ex., transtornos do humor, transtornos por uso de substâncias) também devem ser tratados de acordo com sua abordagem preferida.

Pacientes agressivos com impulsividade proeminente e afeto lábil podem se beneficiar do tratamento com medicamentos [p. ex., antipsicóticos atípicos, lítio e valproato (ver Tratamento medicamentoso de transtornos bipolares), inibidores seletivos da recaptação de serotonina].

Referência sobre o tratamento

  1. 1. Gibbon S, Khalifa NR,  Cheung NH-Y, et al: Psychological interventions for antisocial personality disorder. Cochrane Database Syst Rev 9(9):CD007668, 2020. doi: 10.1002/14651858.CD007668.pub3

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